Alípio Ribeiro
Nos bancos dos jardins, nos corredores das repartições, nas mesas dos cafés, nos transportes públicos, através de conversas ao telemóvel ou de mensagens electrónicas, seres imbuídos de uma poderosa intuição política, muito louvada no Portugal democrático, falam de tudo e mais alguma coisa. Esta introdução não permite caracterizar os portugueses como seres diferentes dos restantes. Com mais ou menos sofisticação de meios, mais ou menos liberdade cidadã e política, aqui, e em toda a parte, os seres emitem opiniões, elaboram juízos, julgam, lavram sentenças, condenam inocentes, absolvem criminosos, investigam, denunciam, louvam e condecoram, enfim, emitem opinião. Os responsáveis políticos eleitos e os dirigentes da administração, aos vários níveis, também são cidadãos e, como tal, livres de emitir opinião. Algumas escolas de gestão apontam mesmo como um benefício para a transparência e o desempenho da administração a liberdade de criação de canais de comunicação através dos quais os responsáveis políticos, eleitos ou não, tornem públicas as suas opiniões pessoais mesmo tratando-se de matérias sobre as quais incida a sua própria responsabilidade profissional. Tal processo carece, está bem de ver, do estabelecimento de regras. A mesquinhez de muitas apreciações da opinião pública, a mor das vezes anónimas, transmitidas sob a forma de boato, acerca das decisões, e da vida pessoal dos políticos, assim como dos dirigentes da administração, tantas vezes ampliadas pela comunicação social, não encontrará espaço para o contraditório se não for possível a criação de canais de comunicação onde esses mesmos responsáveis, dando a cara, expliquem o sentido das suas decisões, defendam as suas opções e ripostem às criticas e aos ataques dos seus detractores. Isto vale para todos seja qual for a sua cor política ou textura ideológica. Tudo isto vem a despropósito do ainda Director da Polícia Judiciária. Assim que o dito veio a público lançar uma ideia, que parece possuída de toda a lógica, se abateram sobre ele raios e coriscos. As corporações revolveram-se em indignadas proclamações como se tivesse sido dita alguma indignidade. O ainda director da Polícia Judiciária, que não conheço pessoalmente, tem um problema, do qual não se consegue desembaraçar: é um homem probo, culto e sensível. Disse publicamente o que pensava dando a cara. Vai embora e o mais certo é que nunca mais faça ouvir a sua voz em defesa das suas ideias e opiniões. Fez-me lembrar um anterior Director daquela mesma polícia que, ao que dizem, fazia passar mais do que duvidosas ideias e opiniões, através de conversas sigilosas, com jornalistas do género conversa de café. Ah, portugueses, essa memória!
Nos bancos dos jardins, nos corredores das repartições, nas mesas dos cafés, nos transportes públicos, através de conversas ao telemóvel ou de mensagens electrónicas, seres imbuídos de uma poderosa intuição política, muito louvada no Portugal democrático, falam de tudo e mais alguma coisa. Esta introdução não permite caracterizar os portugueses como seres diferentes dos restantes. Com mais ou menos sofisticação de meios, mais ou menos liberdade cidadã e política, aqui, e em toda a parte, os seres emitem opiniões, elaboram juízos, julgam, lavram sentenças, condenam inocentes, absolvem criminosos, investigam, denunciam, louvam e condecoram, enfim, emitem opinião. Os responsáveis políticos eleitos e os dirigentes da administração, aos vários níveis, também são cidadãos e, como tal, livres de emitir opinião. Algumas escolas de gestão apontam mesmo como um benefício para a transparência e o desempenho da administração a liberdade de criação de canais de comunicação através dos quais os responsáveis políticos, eleitos ou não, tornem públicas as suas opiniões pessoais mesmo tratando-se de matérias sobre as quais incida a sua própria responsabilidade profissional. Tal processo carece, está bem de ver, do estabelecimento de regras. A mesquinhez de muitas apreciações da opinião pública, a mor das vezes anónimas, transmitidas sob a forma de boato, acerca das decisões, e da vida pessoal dos políticos, assim como dos dirigentes da administração, tantas vezes ampliadas pela comunicação social, não encontrará espaço para o contraditório se não for possível a criação de canais de comunicação onde esses mesmos responsáveis, dando a cara, expliquem o sentido das suas decisões, defendam as suas opções e ripostem às criticas e aos ataques dos seus detractores. Isto vale para todos seja qual for a sua cor política ou textura ideológica. Tudo isto vem a despropósito do ainda Director da Polícia Judiciária. Assim que o dito veio a público lançar uma ideia, que parece possuída de toda a lógica, se abateram sobre ele raios e coriscos. As corporações revolveram-se em indignadas proclamações como se tivesse sido dita alguma indignidade. O ainda director da Polícia Judiciária, que não conheço pessoalmente, tem um problema, do qual não se consegue desembaraçar: é um homem probo, culto e sensível. Disse publicamente o que pensava dando a cara. Vai embora e o mais certo é que nunca mais faça ouvir a sua voz em defesa das suas ideias e opiniões. Fez-me lembrar um anterior Director daquela mesma polícia que, ao que dizem, fazia passar mais do que duvidosas ideias e opiniões, através de conversas sigilosas, com jornalistas do género conversa de café. Ah, portugueses, essa memória!
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