sábado, março 10

François Bayrou

Posted by PicasaFrançois Bayrou

Nas eleições presidenciais francesas François Bayrou sobe nas sondagens. O resultado final – mesmo o da primeira volta – vai depender da capacidade de Bayrou em atrair o voto do eleitorado do centro.

Ver aqui, aqui e aqui.
.

LEITURAS

Posted by Picasa“O Primeiro Homem”

Por estes dias conclui a releitura de “O Primeiro Homem”, obra póstuma de Albert Camus, cujo manuscrito foi encontrado ao lado do corpo aquando da sua morte num acidente de automóvel.

O Primeiro Homem” é a única obra de Camus com um cariz marcadamente autobiográfico e esta nova leitura, na tradução portuguesa, fez-me provar o gosto da transfiguração. Como se fosse a primeira vez que a tivesse lido, ou fosse uma outra obra ou, porventura, um outro leitor.

Com muitas outras leituras de permeio a releitura de uma obra é, afinal, uma leitura inaugural. É muito interessante sentir esta transfiguração do entendimento de uma obra a cada nova leitura.

Desta vez fui capaz de reconhecer, quase ao detalhe, os meandros da vida que respira por detrás das palavras.
.

À MESA

Posted by PicasaFotografia de Família (clicar para ampliar)

Esta fotografia, publicada no “A Defesa de Faro”, tem a particularidade de mostrar o meu irmão Dimas à mesa com um grupo de amigos nalguma comemoração. É o sexto, mais debruçado sobre a mesa e, na sua expressão tranquila, ostenta a transparência do seu carácter. O perfil do seu rosto traz-me à memória o perfil dos rostos da família: todos diferentes, todos iguais.

sexta-feira, março 9

”COMUNICAÇÃO A UMA ACADEMIA”

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Os cães espreguiçavam-se nos campos muito frios
que levavam a um rio de peixes muito nítidos.
A manhã cumpria-se e os salgueiros,
evidentemente os salgueiros seriam imprescindíveis.
Como devia ser o moço que pescava
não com cana de prata e anzol de ouro,
mas cabelos revoltos, rosto talvez sardento
antes do “Acidente”, muito antes
da “Morte em Veneza”, de Visconti.
(falo já se vê de Dirk Bogard)

A senhora passou pelo rapaz,
sorriu-lhe de passagem.
Um pássaro arrepiado nesse instante,
pipilaria entre as folhas de um choupo,
uma pequena aranha iniciaria
o trabalho da teia,
seu excessivo momento de glória,
e a luz, cristal estilhaçado,
pararia, de súbito, no rosto de Virgínia.

Dona Virgínia Woolf que levava nos bolsos,
cheios de âncoras, pedras,
talvez alguns papéis e se tornava água.

António Rebordão Navarro
.

f,world

.

SIM

Posted by PicasaImagem daqui

O PS conduziu a elaboração da nova “lei do aborto” no sentido do consenso com a oposição de esquerda. A votação da lei correspondeu a esta orientação e ainda obteve a adesão de 21 deputados do PSD. Para um “governo de direita” não está nada mal. O PS fez a separação das águas, honrou um compromisso e fez coincidir a aprovação da lei com o “Dia Internacional da Mulher”. “Jack-pot político”. Fim de um capítulo negro da nossa história contemporânea.

quinta-feira, março 8

8 DE MARÇO


"Há cidades cor de pérola onde as mulheres
existem velozmente. Onde
às vezes param, e são morosas
por dentro. Há cidades absolutas,
trabalhadas interiormente pelo pensamento
das mulheres.
Lugares límpidos e depois nocturnos,
vistos ao alto como um fogo antigo,
ou como um fogo juvenil.
Vistos fixamente abaixados nas águas
celestes.
Há lugares de um esplendor virgem,
com mulheres puras cujas mãos
estremecem. Mulheres que imaginam
num supremo silêncio, elevando-se
sobre as pancadas da minha arte interior.
(…)
.

PASCOELA BARRETO

Posted by PicasaPascoela Barreto

Um dia fui convidado para presidir a uma comissão que o governo achou necessário criar para cuidar do “Acolhimento e Inserção Social da Comunidade Timorense em Portugal”. Vivia-se a época difícil da chegada a Portugal, em vagas sucessivas, de timorenses resultante, em grande medida, das ocupações de embaixadas no âmbito da luta do povo timorense pela independência.

Assumi e desempenhei a função durante alguns anos, a título gracioso, em acumulação com a Presidência do INATEL. Senti-me a cumprir um dever e, além disso, foi um prazer trabalhar com os restantes membros da Comissão, representantes de diversos ministérios, e com os timorenses que foram destacados para colaborar com a Comissão.

Uma das pessoas que se juntou aos trabalhos, em funções técnicas, foi a Pascoela Barreto que era quadro técnico do estado, se não erro, da área dos Transportes Terrestres, e que muito se destacou na tarefa complexa de aplacar as dificuldades da comunidade timorense em Portugal que, de um dia para o outro, cresceu de forma exponencial.

Lembrei-me dela hoje, “Dia Internacional da Mulher”, ao receber este email:

A Pascoela Barreto teve hoje uma grande surpresa quando, devido ao fim do seu posto como Embaixadora da República Democrática de Timor-Leste em Portugal, foi apresentar cumprimentos de despedida ao Presidente da República e o Sr. Prof. Cavaco Silva a agraciou com a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Ora aqui está como o Estado português, de quando em vez, faz justiça agraciando aqueles que o merecem. Pela parte que me toca associo-me à distinção e manifesto o meu júbilo por ela.

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Posted by PicasaFlorbela Espanca

No Dia Internacional da Mulher rendo a minha homenagem a todas as mulheres através de Florbela Espanca e da sua poesia.

Estava visitando os meus favoritos quando descobri no “Reino de Copas”, surpresa minha, um link que me levou a Florbela Espanca.
.

ANTÓNIO RAMOS ROSA

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Esta é a hora. Mas nunca é a hora.
Só quando os braços se entrelaçam e o vermelho ascende
entre a folhagem. Há uma clareira
metade verde metade branca. E os nomes que se dizem
são felizes em consonância com as folhas.

Não é a hora mas é a hora, mas a hora é esta.
Que poderemos fazer? Um sopro de sílabas
de água ou de um fogo azul pode acender a página
e iluminar o espaço da morada.

A palavra aleatória virá ou não da nascente
mas será sóbria e atenta à nudez da existência
para além da sua opacidade. E será tão frágil
como a teia de espuma sobre um rosto de areia.

António Ramos Rosa
.

quarta-feira, março 7

EDUCAÇÃO: MAIS MEDIDAS OU MEDIDAS NOVAS?

Posted by PicasaPhilippe Pache

Este programa destina-se a cumprir a primeira das dez prioridades que o governo estabeleceu no âmbito do QREN:

“Preparar os jovens para o futuro e modernizar o nosso ensino” correspondendo, aliás, a uma das prioridades estabelecidas no próprio programa do governo: “Queremos um país em que todos os nossos jovens concluam o ensino secundário. Um país que vença o abandono escolar. Um país que dê a todos os jovens uma educação de qualidade, a oportunidade para se qualificarem e para triunfarem num mundo global e exigente. Para serem cidadãos conscientes, activos, participativos, inovadores.”

Já pratiquei e escrevi acerca destas medidas que exigem, para que tenham sucesso, no mínimo, três condições: coordenação efectiva entre os Ministérios da Educação e do Trabalho e Solidariedade Social, uma criteriosa aplicação dos fundos comunitários que lhes estão afectos e a adopção de um modelo exigente de monitorização e auditoria ao longo do tempo face a objectivos qualitativos e quantitativos previamente definidos.

De qualquer forma tudo parece apontar para que o governo socialista quebre uma estranha tradição de segregação do ensino profissional e enverede pela montagem de uma oferta educativa, na rede pública, que o considere e valorize, aproveitando os recursos disponíveis em instalações, equipamentos e competências profissionais.

Esta oferta não é a panaceia universal capaz de resolver todos os males da educação em Portugal mas, em conjunto com outras medidas, pode ajudar muito na luta contra o abandono escolar precoce e o insucesso escolar que em Portugal atingem níveis inaceitáveis.

É preciso, por último, deixar um alerta e uma pergunta. O alerta vem ao desencontro de uma “exigência” recente do Presidente da República reclamando resultados no final de 2007. Ora é uma verdade reconhecida por todos que na área das políticas da educação/formação os resultados carecem de tempo e de estabilidade política. A pergunta resulta da consciência da erosão das expectativas públicas acerca do sucesso das reformas da educação que, de tão anunciadas sem cumprir seu ideal, geram as maiores interrogações e perplexidades entre todos os agentes envolvidos: estamos perante mais medidas ou medidas novas?

A CASA

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Um pátio vazio, inúteis carregamentos de pedras,
sobrescritos rasgados,
eis a minha casa.

Noites a fio leituras até altas horas
uvas
sonhos que pouco a pouco se aproximam de
escarpas
sem pronunciar palavra.

Chegaste. Na televisão alguém
parecia muito só
ao sorrir para os teus olhos.

Jorge Gomes Miranda
.

PENA DE MORTE

Posted by PicasaPaula RegoPieta, 2002

Todas as pessoas têm uma vida para viver e não merecem, seja qual for a sua atitude perante ela, que lha tirem. Seja qual for o seu comportamento social cada um merece que a sociedade lhe reconheça a inocência antes que se prove, com o máximo de prudência, a culpa.

Todos os seres humanos merecem a vida mesmo que, nos limites do desespero ou do ódio, a não respeitem. Os julgamentos na praça pública, antes circunscritos ao diz que se disse na rua, no bairro ou no trabalho são hoje, impune e sistematicamente, executados pela comunicação social tornando-se na maior vergonha da nossa vida pública dita civilizada.

A pena de morte foi abolida em muitos países, e no nosso em primeiro lugar, mas subsiste um extraordinário sucedâneo da pena capital, aplicada com crueldade e cinismo, a notícia assassina que uma vez proclamada, e repetida à saciedade, visando eliminar alguém, permite a sobrevivência do corpo mas mata a liberdade do espírito. Lembrei-me, vezes sem conta, por estes dias, desta realidade macabra a propósito dos chamados processos judiciais mediáticos.

Escrevo a propósito do que diz CATATAU e acrescento, alargando ao universo das condenações mediáticas do nosso tempo, o que Camus escreveu, no seu tempo, acerca da pena de morte nas “Reflexões acerca da Guilhotina”: “Il éclate au contraire qu’elle [la peine de mort] n’est pas moins révoltante que le crime, et que ce nouveau meurtre, loin de réparer l’offense faite au corps social, ajoute une nouvelle souillure à la première […]

Nos nossos dias as notícias publicadas que insinuam ou acusam de criminoso alguém antes de qualquer acto probatório da justiça formal são, mais do que calúnias, novas formas de pena de morte que os cidadãos livres devem combater por todos os meios e com todas as suas forças.
.

terça-feira, março 6

Os Políticos e as Políticas

Posted by PicasaImagem daqui

A ler o artigo de Teodora Cardoso: Os Políticos e as Políticas. Deixo a abertura e a parte final.

Num artigo de há alguns anos, o Banco Mundial interrogava-se sobre a razão que levaria tantos bons políticos – isto é, os que compreendem, tanto intuitiva como substantivamente, o que são as boas práticas e têm as melhores intenções com respeito a proporcionar uma vida melhor aos seus concidadãos...
(…)
É particularmente impressionante o facto de, ao longo dos anos, Portugal não ter feito qualquer progresso em matéria de distribuição do rendimento, permanecendo o país mais desigual dos 15 (e só marginalmente ultrapassado pela Polónia entre os novos Estados membros para que existe informação), a despeito do crescimento da riqueza do país e do aumento da carga fiscal.
É claro que o problema é difícil e é também evidente que não é possível resolvê-lo procurando manter os condicionalismos passados, que levam a que tudo corra bem apenas quando as conjunturas e os apoios externos são de tal modo favoráveis que ocultam o que está mal. Na situação actual, persistir nesse caminho apenas reduz a capacidade de crescimento do emprego e do rendimento e agrava as ineficiências, os desperdícios e as desigualdades. Alterá-los pressupõe, contudo, o aumento da confiança e da coesão social.
Para retomar o raciocínio dos técnicos do Banco Mundial, os bons políticos portugueses – no governo ou na oposição – serão os que se mostrarem capazes de actuar sobre estas variáveis e de compreender que elas são mais importantes que a conquista do poder no curto prazo. Por um lado, já se tornou claro que, em democracia – felizmente! – o poder (ou a oposição) nunca duram muito; por outro, é tempo de perceber que o impacto duradouro das políticas não pode basear-se apenas na sua popularidade imediata, mas tem de contribuir para a construção de modelos eficientes e sustentáveis. Tais modelos têm, mais do que nunca, de assumir o carácter compassivo das políticas e a luta contra a exclusão, mas isso implica o combate sem tréguas à captura do Estado por grupos de interesses que há muito se especializaram em tirar partido da fragilidade e da desconfiança inerentes à sociedade para perpetuarem os seus privilégios.
(Sublinhados meus.)
.

O ROCEIRO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

No clarear do dia vou para o roçado
A capinar.
Até de tarde eu tiro o meu eito.
Arranco inços, tranqueiras, juás e bosta de macaco
que não serve nem pra esterco.
Abro a terra e boto as sementes.
Deixo as sementes para a chuva enternecer.
Dou um tempo.
Retiro de novo as pragas, dejetos de anta,
adjectivos.
Retiro os adjectivos porque eles enfraquecem
as plantas.
E deixo o texto a germinar sobre o papel: em
pura masturbação com as pedras e rãs.

Manoel de Barros

Campo Grande (Brasil)
.

segunda-feira, março 5

JEAN-DANIEL E AS PRESIDENCIAIS


A mais recente reflexão de Jean-Daniel acerca das eleições presidenciais francesas. Para aqueles que tiverem paciência de a ler vale a pena dar atenção – por contraste – ao valor inestimável para a esquerda, na situação actual da Europa e do Mundo, de dispor, em Portugal, de um governo de maioria PS.

Esta reflexão de Jean-Daniel fez-me pensar nas dificuldades de governar afrontando todas as exigências do cumprimento de reformas profundas do estado num contexto de crise económica ou, pelo menos, de crescimento incipiente, na volúpia de todos os populismos – aí está o regresso de Portas para o comprovar – e de ocaso das ideologias.

Aqui deixo transcrito o último parágrafo que culmina com aquela frase de Camus que citei, em tempos, a propósito da notícia, que correu mundo, de Bush leitor de Camus: « je mourrai dans la gauche malgré elle, malgré moi ».

Maintenant, je voudrais faire partager mon émerveillement devant l’accord qui s’établit autour de certaines idées et surtout de certains noms. A entendre les intellectuels réunis vendredi dernier par Guillaume Durand et pour y avoir indirectement participé, il m’a semblé que le temps était immobile. Les références par eux tous évoquées, notamment par Bernard-Henri Lévy, rejoignaient tous les combats au début de notre journal. Il n’en était pas un seul, si éloignés qu’ils fussent les uns des autres, pour oublier d’évoquer les noms de Jaurès, de Marc Bloch, de Pierre Mendès France, de Michel Foucault et aussi, ô surprise !, de Camus. Ce journal n’a cessé de se réclamer de l’enseignement de ces maîtres, notamment lorsque nous dénoncions le danger des utopies meurtrières et la prétention de détenir une vérité politique universelle. Si bien que, à cette étape avancée de ma vie, je me sens réintroduit dans l’Histoire plutôt que d’être rejeté par elle. On devine que la vigilance et la lucidité invitent les hommes de ma génération à imputer à l’âge certaines des préventions qui pourraient n’être que des nostalgies. Déjà, une partie du monde nouveau, surtout dans ses fulgurantes audaces technologiques et ses moyens de communication, me devient étrangère. Mais je ne me suis jamais senti aussi contemporain de tous ces Français qui se trouvent victimes des dérives que nos maîtres avaient prévues et dénoncées. C’est pourquoi, bien sûr, à la fin des fins, et comme Camus, « je mourrai dans la gauche malgré elle, malgré moi ».
.

TIMOR-LESTE

.