domingo, junho 25

GANHAR, AINDA OUTRA VEZ

Posted by Picasa Fotografia daqui

Este Portugal-Holanda, para o mundial, foi mais do que um jogo de futebol. A selecção portuguesa, mesmo para os que não prezam o futebol, mostrou a faceta vencedora de um país que se relaciona mal com o sucesso.

Espírito de equipa, saber assumir os riscos, coragem, capacidade de sofrer e vontade de vencer. Além da qualidade dos verdadeiros protagonistas de qualquer jogo: os jogadores. Muitos portugueses ainda não entenderam quanto vale esta imagem para a promoção de Portugal no mundo.

Os críticos de Scolari, o “Sargentão”, já perderam seja qual for o resultado do próximo jogo. É que não serve de nada espalhar o perfume de uma arte de mágicos e, no fim, chorar a derrota. Mais vale empunhar as armas que as regras do jogo colocam à nossa disposição e, enfrentando as adversidades, ganhar.

No próximo sábado, depois do Portugal-Inglaterra, volto ao tema.

VIDA E OBRAS

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Hesita a mão, a voz, o pensamento;
Vacila o querer, o próprio desejar
Nem sequer exprime o lamento
De às cegas algo procurar.
Se preciso paz, desejo guerra;
Dão-me batalha, tréguas peço;
Vendo certo que meu pensar erra
Calculo em zero o erro que meço.
Que vejo em volta sempre julgo estranho,
Admiro muito, e maravilhado,
Mas avassala-me o enorme tamanho
Da podridão do mundo afogado
Em busca de terrena vã fortuna:
Ri-se de mim a vida inoportuna.

Até agora o que fiz
Em tempos mais descuidados?
Livrinhos que por um triz
Não ficaram embrulhados
Na papelada que jaz
Pela casa baralhada
Onde só descansa em paz
Essa mesma papelada.

Mais mil linhas de escrituras
Que valem mais do que nada:
O que sobra às criaturas
Depois de bem depenada
A invenção que tiveram,
Quando meiada par´cer
Vida que de ter houverem
Conta bem pouco avondada.
Dos trigais orlados de olivedo
Aos imbondeiros para além do mar,
Do jardim das donas e seu lago ledo,
Ao charco dos jacarés a atravessar
Da Estrela às serras onde nasce o Nilo
Arderam meus pés na força da sazão.

O que havia de fazer eu fi-lo
Certo no rumo, incerto na razão
Das rotas que a sorte me indicava:
Debuxo dos Fados bem traçado
Faltava-lhe a linha que o terminava
Quando o portulano me foi dado.
……............................................

José Blanc de Portugal

In “ENÉADAS – 9 Novenas”
Imprensa Nacional – Casa da Moeda



sábado, junho 24

XANANA GUSMÃO

Posted by Picasa Xanana Gusmão

Discurso de Xanana Gusmão ao Povo Amado e Sofredor e aos Líderes e Membros da FRETILIN

Discurso de Xanana Gusmão aos timorenses no dia 22 de Junho de 2006. Um discurso histórico, explosivo e decisivo para a compreensão do que se está a passar em Timor e que aqui publicamos na integra. Na ausência de uma tradução oficial, o PÚBLICO recorreu a uma tradução do escritor e professor de tétum Luís Cardoso a quem agradece. (Foto António Dasiparu/EPA)

Seja qual for o curso dos acontecimentos em Timor, Xanana Gusmão, como Presidente da República e como herói da luta de resistência que conduziu à criação do estado independente de Timor, será sempre a referência determinante no processo político timorense.

Além do mais, como este discurso revela, estamos na presença de um líder natural que incorpora, na sua acção e no seu discurso, o que há de mais profundo na identidade cultural do seu povo.

sexta-feira, junho 23

CAMUS E OS MANDARINS

«12 décembre
Un journal me tombe dans les mains. La comédie parisienne que j´avait oubliée. La farce Goncourt. Aux Mandarins* cette fois. Il paraît que j´en suis le héros. En fait l´auteur pris en situation (directeur d´un journal issu de la résistance) et tout le reste est faux, les pensées, les sentiments et les actes. Mieux : les actes douteux de la vie de Sartre me sont généreusement collés sur le dos. Ordure à part ça. Mais pas volontaire, comme on respire en quelque sorte.
État meilleur. Journée grise. Il pleut sur Rome dont les coupoles bien lavées brillent faiblement. Déjeuner chez F. G. Soir, seul, fièvre passée.»


* Le roman de Simone de Beauvoir.

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard


(Curiosidade rara deste excerto : as relações com Sartre e o grupo dos «Temps Modernes» tinha atingido a ruptura e Camus demonstra, face à atribuição do prémio Goncourt aos « Mandarins », de forma explícita e violenta, os seus sentimentos face aquele grupo a partir de uma obra na qual ele próprio se sente retratado.)

CHOQUE FRONTAL

Posted by Picasa GM informou trabalhadores da Azambuja que irá encerrar a fábrica em Outubro

O que a GM merecia era que o povo português, a partir do dia do encerramento da fábrica da Azambuja, boicotasse os seus produtos.

Uma campanha com um slogan mais ou menos assim: “NEM MAIS UM OPEL NAS ESTRADAS DE PORTUGAL”.

quinta-feira, junho 22

ORDENS E ORÁCULO

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Disse a ave esconjurada:
Vai tu aos confins da Lunda
Não metas pedras na funda
Nem carregues a lingada
Vê a bela desterrada
Incendeia a cidadela
Não olhes p´ra ele nem ela
Depois da praça esturrada.

Foge que o mal não é teu
O que fizeste te escapa
Põe-no debaixo da lapa
O que lá vai já ardeu.
Tens para ti o futuro
Deixa-os lá que eles não acabam
Quando as paredes desabam
Fique apenas o teu muro.

O que a ave disse fiz.
Só não disse o que não quis.

13.12.56

José Blanc de Portugal
In “ENÉADAS – 9 Novenas”
Imprensa Nacional – Casa da Moeda

MULHERES

Posted by Picasa Livros sobre a igualdade e direitos das mulheres

Cidadania, Género e Educação: (in)visibilidades e (des)igualdades

No dia 22 de Junho de 2006, pelas 15.00 horas, a Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular promove, no "Espaço Noesis", Av. 24 de Julho, 140 - C, a Sessão Cidadania, Género e Educação: (in)visibilidades e (des)igualdades, com a presença do Director-Geral da DGIDC e a Presidente da CIDM.

sem título XXXII

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

Passar o tempo ver passar o passado no presente
Sonhar com as longínquas memórias nas doridas
Noites anoitecidas a ver passar o tempo sedento
De nos devorar o corpo ainda quente dos afagos
Esquecidos de mãos que vagamente escorregam
Pelo esquecimento como todas as mãos milhões
De sinais passaram e deles já todos esqueceram
Os ensinamentos, o toque, a música, o desespero
Passar o tempo deixar em herança esquecimento
Sabendo que mais nada restará senão só o tempo

18 de Junho de 2006

quarta-feira, junho 21

GANHAR, OUTRA VEZ!

Posted by Picasa Foto©Reuters

Pois é! Ganhamos. É difícil habituarmo-nos a ganhar! Desde o muito bom ao suficiente houve de tudo. Jogamos quanto baste. Terminamos o jogo com 7 ou 8 suplentes a gerir o tempo. O México é a 4ª selecção no ranking mundial.

Dois pormenores que não me passaram despercebidos: depois de uma defesa apertada de Ricardo, Caneira caído sobre ele, abraça-o e beija-lhe a face. Miguel é substituído por Paulo Ferreira e este, ao entrar, beija-o na face. O mesmo gesto entre Figo e Boa Morte! Duas mensagens, subtis e espontâneas, a primeira de solidariedade a segunda de anti-racismo.

Os críticos vão ter de esperar até domingo para desancar Scolari. Se ganharmos vão penar mais uns anos!

terça-feira, junho 20

JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - GALVÃO TELES E CÉSAR DE OLIVEIRA

Posted by Picasa Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)

José Manuel Galvão Teles e César de Oliveira

Nesta fotografia o César canta (ou discursa?) sob a benévola aquiescência do José Manuel. Dois pesos pesados do MES originário que haveriam de sair dele em momentos diferentes. Galvão Teles logo na primeira leva, aquando do I Congresso, em Dezembro de 1974, com o chamado grupo de Jorge Sampaio, para constituir o GIS (Grupo de Intervenção Socialista) e César de Oliveira, posteriormente, para aderir ao MSU (Movimento de Unidade Socialista), à “Fraternidade Operária” e, finalmente, à UEDS, de Lopes Cardoso. Todos, por fim, acabariam por aderir ao PS.

O César de Oliveira era uma figura peculiar por associar um perfil de académico, com obra de mérito reconhecido, ao de “homem do povo”. Lembro-me das suas fúrias tremendas no seio de debates acalorados, batendo com a porta e saindo da sala para, logo de seguida, voltar a entrar. Da sua áurea de “historiador do movimento operário” e o que essa condição representava para os nossos sonhos de jovens aprendizes de revolucionários numa época em que pensávamos ser possível transformar o mundo.

Curiosamente ainda não há muito tempo veio a descobrir-se, através de uma convocatória do Tribunal Constitucional, que o MES, afinal, não tinha sido formalmente extinto. Foi um momento de perplexidade, em particular, para o Nuno Teotónio Pereira que, como primeiro subscritor do processo da constituição do partido, recebeu a dita convocatória.

Deve ter sido o José Manuel Galvão Teles a desembrulhar o imbróglio no qual não estivemos sozinhos pois, ao que parece, o Nuno se encontrou no Tribunal com Magalhães Mota que andava ao mesmo mas pela parte da ASDI (Associação Social Democrata Independente – é assim?).

Ainda houve, no meio deste episódio pitoresco quem se tivesse enxofrado argumentando que o Nuno não tinha nada de “dar baixa” do partido sem antes convocar uma assembleia-geral ou assembleia com poderes para o acto. “Dar cabo” de um Partido dá mais trabalho do que parece!

... e variegados tons ostentam em seus rostos ...

(…)
sem servir de pretexto às mais sentidas manifestações de pesar
quando continuemos já nas casas fabricavam os primeiros licores de frutas
e as jovens concubinas eram simples e sensíveis insolentes mesmo
fiéis a uma moral própria nunca normativa
mas nascida dos actos ou então de decisões a longo prazo
quando em salões aveludados se teciam considerações sobre temas vários
como o da alma o da diversidade e quantidade das flores existentes
enquanto pelas bermas secas se formavam miosótis com um mínimo de cor
e a cúpula das áleas lembraria um dossel de folhas encarnadas
em castelos talvez de paredes ou muros devorados pela hera
onde os cães de indefinidos olhos circundavam e sugavam as pessoas
com uns gestos domésticos não descritos nas palavras dos profetas
invariavelmente loquazes sempre que alguém falava de leões
onde as donzelas ingressavam em silêncios tão cingidos como certas árvores
nalguns finais de tardes com o sol envolto já em nuvens
sobre a terra indecisa agressiva porém nos seus perfumes penetrantes
à hora em que magníficas mulheres como a de sacher-masoch põem pentes nos cabelos
e variegados tons ostentam os seus rostos
(…)
Ruy Belo

A Margem da Alegria [6]

segunda-feira, junho 19

"... ser julgado sem lei."

Posted by Picasa Fotografia de Angèle

"Aquele que adere a uma lei não teme o julgamento que o reinstala numa ordem em que crê. Mas o maior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei. Nós vivemos, porém, neste tormento."

Albert CamusA Queda (Sublinhados de Ana Alves)

In CADERNOS DE CAMUS

domingo, junho 18

JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - INÊS E JOSÉ CARLOS

(Clique na fotografia para ampliar)

Inês Cordovil e José Carlos Albino

Uma conversa amena entre duas pessoas dialogantes, amigas do seu amigo. Rostos serenos que não perderam nunca as suas expressões de afabilidade autêntica. Olhando-os retratados e escrevendo os seus nomes não evoco o passado, anuncio o presente.
(Alerta-me o António Pais que é a Isabel e não a sua irmã Inês. As minhas desculpas a ambas mas mantenho tudo o que escrevi.)

LULA

SANTA MARIA DEL POPOLO

Posted by Picasa Crucifixion de Saint Pierre Le Caravage,1600 Huile sur toile, 230 x 175 cm Chapelle Costa, Santa Maria del Popolo, Rome

«13 décembre
Caravage encore. Santa Maria del Popolo. Tristesse de Rome aussi avec ses rues trop hautes trop tendues. C´est pourquoi les places y sont si belles, elles délivrent, le baroque triomphe alors du romain. Comme ses couples romains figés dans la pierre et qui n´ont en commun que d´avoir avalé leur canne. L´heure entre chien et loup qui se glisse entre les palais et fait crouler les fières façades. Le soir M. me parle de Brancati* et de sa mort. Dîner seul.»

* Vitaliano Brancati (1907-1954), romancier sicilien.

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard

sábado, junho 17

RONDEL AU BESOIN

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

Quem pode arder a vida inteira
E tudo calar desta maneira
Que ninguém veja o seu cuidar?
Que amizade mais verdadeira
Pode sentir-se só de a guardar?

Grande é o céu, a terra, o mar …
Grande dos sábios o pensar …
Quem contar pode os grãos da eira?
Quem pode?

Não tens de ir longe para me encontrar:
De onde guardas teu pensar
Ao coração que sobranceira
Guardas no peito a vida inteira
Quem senão tu me pode encontrar?
Quem pode?

28.8.61

José Blanc de Portugal

In “ENÉADAS – 9 Novenas”
Imprensa Nacional – Casa da Moeda

GANHAR

Posted by Picasa Fotografia de “Sissi”

O futebol de novo. Hoje Scolari, ou o “Sargentão”, colocou Portugal a ganhar no mundial. Segunda vez seguida. Uma maçada! Desta vez, como que para mostrar a sua teimosia, começou com a equipa de sua predilecção.

Os críticos, no íntimo, esperam pelo dia da vingança. Mas está difícil a concretização do grande desígnio português de perder e chorar sobre o leite derramado. Ainda bem!

Quarta-feira, após, o Portugal-México volto ao tema. Hoje queria, no fundo, era mostrar aquela magnífica fotografia.

REENCONTROS

Posted by Picasa No monte de Santo Estêvão – Tavira – com vista para o mar

A terra algarvia vista do terraço erguido no alto do monte estende-se até ao mar.

O verde das árvores e o azul do mar resplandecem entrecortados por vozes longínquas que soam abafadas.

O manto branco das amendoeiras em flor perfuma o ar na época da floração.

O caminho estreito até à estrada de curto se faz longo ladeado pelas silvas e pelas pernadas das velhas alfarrobeiras.

A música rara da água ecoa ziguezagueando nas levadas da horta.

O sol greta as romãs e amadurece o trigo. Amanhã vai chover!

Esperanças de abundância na luta pela sobrevivência. Esperanças sustentadas pelo pão escuro amassado por gerações esquecidas.

Como aprendi a compreender a revolta e a admirar a luta do homem contra a adversidade e a escassez!

(Aos meus amigos de infância Carlos Diogo (USA) e João Brito de Sousa (PORTO) reencontrados no espaço virtual após décadas de separação.)

ACTUALIDADE POLÍTICA - 100 DIAS

Posted by Picasa Laetitia Casta

A moça, sempre atenta, assinala a passagem dos 100 primeiros dias sobre a tomada de posse do Presidente da República ocorrida, sem pompa nem circunstância, no dia 8 de Março de 2006.

Tempos atrás afirmei que li o seu programa eleitoral que é, no essencial, fundado nos princípios da social-democracia. O seu discurso de tomada de posse em nada altera a matriz do programa eleitoral. A sua acção política, até ao momento, não se desvia das bases programáticas a que obedeceu a sua candidatura à presidência.

Conheço alguns membros das casas civis e militar, consultores e adjuntos do PR. O chefe da casa civil, o Liberato, é um homem decente, sejamos justos, nada mau sinal. O David Justino é competente para a função (e mantém a tradição de haver na presidência sempre alguém que tenha sido do MES). O Espada é um liberal em trânsito continuado da esquerda para a direita – apreciado por Mário Soares anos atrás – e adquiriu uma sólida cultura política.

Além do mais já escrevi acerca das minhas expectativas da magistratura presidencial de Cavaco. Não interessa, nesta fase, a Cavaco descolar do governo na justa medida em que não interessa ao governo descolar de Cavaco. Mas não tenhamos ilusões acerca da divisão dos campos. É só uma questão de tempo e, em consonância com a evolução da situação económica e social, abrir-se-á o conflito entre Belém e S. Bento. 100 dias é só o tempo mínimo para os adversários se reconheçam nos respectivos papéis!

sexta-feira, junho 16

... sem servir de pretexto às mais sentidas manifestações de pesar...

Posted by Picasa Fotografia de Philippe Pache

(…)
e ao menos um amigo se tornava o adversário imprescindível
quando colher rosas nas sebes se tornara já um ritual
para as flores mortais mortais às vezes para quem as colhe
rosas vermelhas as mais olorosas as que mais depressa morrem
as que são um instante apenas ó rosa solitária e rubra que espero encontrar
no quarto onde eu morrer sozinho e donde sozinho sairei
sem servir de pretexto às mais sentidas manifestações de pesar
(…)

Ruy Belo

A Margem da Alegria [5]

quinta-feira, junho 15

JANTAR DE EXTINÇÃO DO MES - MOSCAVIDE

Posted by Picasa Fotografia de António Pais
(Clique na fotografia para ampliar)

Identifico, em baixo, à direita, o Francisco Farrica (de óculos), logo seguido do Marcolino Abrantes. Ajudem-me a identificar os restantes para não errar os nomes.

A propósito desta fotografia, que retrata um grupo de Moscavide, transcrevo um post de Março de 2004 que intitulei “Independentes e rebeldes”.

Este é um pequeno contributo para que todos os que se admiram pela minha persistência em publicar estas imagens, mais ou menos arqueológicas, entendam o sentido do percurso de uma geração que está longe de se esgotar no MES. Neste caso versando acerca da demarcação do Partido Comunista.

A nossa visão do papel da luta operária e do movimento sindical era muito diferente da perspectiva do PCP. Defendíamos a “auto organização” dos trabalhadores e a emancipação do movimento sindical, fora do controle político partidário do PCP ou de qualquer outra formação partidária.

A raíz da nossa concepção da organização operária e sindical bebia na tradição anarco-sindicalista e nos ideais auto-gestionários.

A natureza das nossas concepções da vida, da luta de emancipação dos trabalhadores e da organização do Estado, tornaria muito difícil qualquer tentação de aliança estratégica com o PCP e, por maioria de razão, tornava-nos imunes a ser absorvidos pela sua reconhecida vocação hegemónica.

No MES confluíram quadros intelectuais e operários cujos destinos pessoais não eram compatíveis com a submissão a qualquer autoridade. Éramos (e somos!) ferozmente independentes e rebeldes.

Por isso não admira que o MES tenha sido o único Partido, criado na aurora do 25 de Abril, que se extinguiu, por vontade da maioria dos seus militantes, com uma festa.

Nem sequer admira que sejam raros os ex-activistas do MES que tenham, algum dia, aderido ao PCP, ou às teses neo-conservadoras, ao contrário do que aconteceu com muitos ex-activistas dos movimentos políticos marxistas-leninistas que se reivindicavam do maoismo.

Anti-autoritários e de esquerda toda a vida...

MARIA VELEDA

Posted by PicasaMaria Veleda

O nome de Maria Veleda não deve ser conhecido na sua terra natal que, por acaso, também é a minha. Por isso me lembrei de a evocar no A Defesa de Faro. O tempo apaga da memória das gentes mesmo os seus mais ilustres ancestrais. Os exercícios de memória fazem bem às nossas sociedades e ajudam-nos a lidar melhor com a contemporaneidade.

Nasceu em Faro, a 26 de Fevereiro de 1871, pseudónimo de Maria Carolina Frederico Crispin. 1955 – morre em Lisboa. É uma das mais notáveis mulheres farenses de todos os tempos. Natividade Monteiro escreveu uma breve biografia de Maria Veleda disponível na Colecção “fio de ariama” publicada pela “Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres”.

quarta-feira, junho 14

...e ao menos um amigo se tornava o adversário imprescindível ...

Posted by PicasaFotografia de Philippe Pache

(…)
quando entre a noite e nós se estabelecia um parentesco cúmplice
visível em mansões quadradas devassadas por inumeráveis ventanais
quando a magnólia branca e concentrada concentradamente branca
exibia esse branco como uma bandeira da paz íntima da terra
e o sol conspirava na suspeita mansidão de alguns quintais
e os piões quadrados já rodopiavam sobre as mesas
quando nas grandes salas de família as mãos multiplicadoras das mulheres
às vezes desdobravam as alvas de linho ocultas quase sempre em arcas
muito velhas arrancadas às vezes às arcas pelas sucessivas gerações e eram
temporais misteriosas cheias de leves cheiros e capazes de repente
de congregar os mortos mais recentes os mortos mais antigos numa
assembleia nocturna dispersos de repente pela luz de mais uma manhã
especialmente no dia da senhora das candeias quando o sol além de sol
era prenúncio de que se sucederiam sete meses prósperos e secos
quando as mulheres movendo-se moviam os cabelos populosos
e conheciam incontáveis nomes e eram conhecidas por nomes incontáveis
e nunca esses nomes as continham quando as mulheres sabiam
coisas que muitos homens pensaram no passado mas depois esqueceram
e elas repetindo-as iam de uma sala para outra ao sabor das situações
quando as pessoas já eram mortais mas não o eram assim excessivamente
e se reconheciam a si próprias nuns olhos alheios
e a sua pele humedecia e se tornava cada vez mais fina
sem deixar de ser pele sem passar a ser cútis a não ser nos anúncios
ou nos salões de cabeleireiras onde sempre se fala só dos outros
da vida privada dos outros dos pequenos escândalos diários
e fora disso havia a barba que crescia e que cobria a cara
com que uns homens outros homens encaravam
e a vida era vivida quase sempre como coisa súbita
quando a ociosidade fazia o tempo demorar e quase que parar
e sempre acentuar a densa duração dos dias
e ao menos um amigo se tornava o adversário imprescindível
(…)

Ruy Belo

A Margem da Alegria [4]

ACTUALIDADE POLÍTICA - SINDICATOS

Posted by Picasa Laetitia Casta

Um olhar transparente lançado hoje sobre a actualidade política nacional pode resumir-se numa frase: mesmo quando não parece a luta aquece. A sorte do futuro da educação está na sua reforma profunda, a cargo do governo; a sorte do investimento estrangeiro em Portugal está na capacidade negocial do governo, legitimamente eleito. Este governo, ou outro qualquer, seria sempre obrigado a opções impopulares e a negociações difíceis. Basta saber que o deficit tem que baixar de 6%, em 2005, para 4,8%, em 2006! Os sindicatos parecem desconhecer a realidade e tendem a ocupar o lugar de aliados dos seus verdadeiros adversários.

terça-feira, junho 13

Caravaggio

Posted by Picasa Caravaggio - Narciso - Galleria Nazionale di Arte Antica, Roma

«Les Caravage, non ceux de St Louis des Français, vus dans l´après- midi, décidément superbes par le contraste de la violence et de l´épaisseur muette de la lumière. Avant Rembrandt. Surtout la Vocation de St Matthieu : superbe. C. me fait remarquer la constance du thème de la jeunesse et de l´âge mûr.

(Alberto) Moravia m´avait déjà parlé de l´homme q´était Caravage : plusieurs fois criminel, fuyant la Toscane sur un bateau où il est dévalisé, puis jeté sur une plage, il y meurt, dément (1573- 1610).»

Albert Camus

“Carnets – III” - Cahier nº VIII (Août 1954/Juillet 1958)
Gallimard