sexta-feira, julho 10

A VERDADE

Por vezes é penoso escrever acerca de políticos de que não gostamos. Não tanto por esses políticos se situarem num campo que não é o nosso. Porque há políticos que se situam no campo oposto e dos quais gostamos. E outros que se situam no nosso campo e que nos repugnam. Em democracia nada nos pode levar a dizer definitivamente que determinado politico é nosso inimigo. Como sói dizer-se em democracia não há inimigos, há adversários. Mas no caso em apreço estamos no domínio do desconcertante, a raiar o surreal. Durante o dia de ontem já deve ter sido tudo dito acerca do assunto. Eu pela parte que me toca estou a ler a encíclica «Caritas in veritate». Tomar como lema de uma campanha eleitoral – ou de uma política - “a verdade” coloca a Dra. Manuela no lugar de aspirante à santidade. Ontem foi o seu dia da caridade face às políticas sociais do governo, mas que logo revelou a sua infidelidade à verdade … é urgente ler a “Caritas in veritate”…
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quarta-feira, julho 8

"AS EVIDÊNCIAS" - VIII


Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena

22-2-1954
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A CAMINHO DO FIM ...


Será possível que o egoísmo dos velhos e novos “senhores do mundo”, emergentes e não emergentes, reunidos no chamado g8, sacrifiquem o futuro de todos em nome de um modelo de desenvolvimento que sabem, e reconhecem, ter entrado em falência… em benefício de quem?
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terça-feira, julho 7

ALFREDO DE SOUSA

Um dia no âmbito do INATEL, a cuja direcção presidi durante sete (7) anos, foi-me aplicada uma multa pelo Tribunal de Contas por uma razão qualquer, suponho decorrente de um atraso, tendo-me sido sugerido, por um quadro da casa, um expediente que evitaria que suportasse pessoalmente o encargo. Recusei e fiz questão de pagar do meu bolso o que era devido. Assim foi. As Contas do INATEL, desde 1996 a 2002, forma presentes ao Tribunal de Contas que a todas visou dando-lhes, dessa forma, a sua aprovação. Durante a vigência da minha direcção foi realizada uma auditoria pelo TC, o que nunca antes tinha acontecido (pois é preciso que as organizações apresentem um padrão mínimo de organização para que alguém as possa inspeccionar o que, até 1996, não era uso) e tudo foi feito, de ambas as partes, com rigor e correcção. No dia da minha saída - precipitada - do INATEL ainda tive tempo de enviar umas cartas de despedida e uma delas teve como destinatário o Presidente do TC, Alfredo de Sousa, com o qual nunca falei pessoalmente. Alfredo de Sousa foi dos poucos que teve a gentileza, e decência, de responder, ao contrário, por exemplo, dos representantes das Centrais Sindicais, com os quais havia estabelecido múltiplos e, por vezes, intensos contactos, conversas e negociações. A carta de resposta do Conselheiro Alfredo de Sousa, não deixando de ser protocolar, revela um reconhecimento e simpatia pessoais que nunca mais esqueci. Será ele o próximo Provedor de Justiça e tenho a certeza que, no fim de tantas hesitações e desencontros, a escolha não poderia ser melhor. Bom trabalho.
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ANTINOMIAS

Esta é uma verdadeira manifestação de mesquinhez, sectarismo e ingratidão. Aprendam, enquanto é tempo, o significado profundo do desprezo pela tolerância e pelo diálogo.
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segunda-feira, julho 6

CRISTIANO

Hoje, dia 6 de Julho do ano da graça de 2009, tem lugar em Madrid um evento dos mais repugnantes para a consciência de grande parte dos intelectuais pátrios. António Filomeno Pereira, nome de um intelectual que me deu para inventar, considera que pior do que o dia de S. Cristiano, só mesmo uma vitória do Eng.º Sócrates nem que seja por um voto. O mundo embasbacado com um português de ascendência popular, oriundo de família humilde, especializado no culto do amor-próprio e nas técnicas da sua profissão. Não é recomendável para um português que se preze. E um poster com a imaculada imagem do santo ostentando publicidade ao Banco Espírito Santo … tinha que ser o Espírito Santo … mais tarde um estádio cheio de castelhanos a aplaudir em delírio um português que, ao que consta não manifestou, nos últimos dias, interesse em emigrar para o Brasil. É triste. Um sinal, mais do que evidente, da decadência lusitana. O povo de Castela e Leão ajoelhado aos pés de um rei português … o que ocorre, pela primeira vez, na milenar história das nações ibéricas! O assunto é da maior gravidade e espera-se, a todo o momento, um comentário do senhor Presidente da República!
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Muito interessante.
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Urumqi

Urumqi é a capital da região autónoma de Xinjiang da República Popular da China. Pelas razões que se podem encontrar, genericamente, aqui, ocorreu uma rebelião popular que foi reprimida com grande violência. Por coincidência inicia-se na próxima sexta feira uma visita do Presidente da República Popular da China a Portugal. Espera-se que o Senhor Presidente da República portuguesa diga de sua justiça …
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domingo, julho 5

MANUEL PINHO

Manuel Pinho: pode não se gostar do estilo, das políticas, ou de algumas políticas, mas o futuro dirá do alcance da sua acção. Como o próprio expressou na última entrevista à SIC Notícias é muito difícil fazer política debaixo de uma chuva de enxovalhos. Não é o primeiro, nem será o último, a passar por essa provação. Mas com ele o governo adoptou uma estratégia para a economia, no sentido amplo, que parece manter plena actualidade. Haja saúde!
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sábado, julho 4

O TESOURO DA DANÇA


Fui assistir, ontem, ao espectáculo dos finalistas da Escola de Dança do Conservatório Nacional. Curiosamente Telmo Monteiro foi um dos finalistas mas deu para entender que a qualidade média dos finalistas, e não só, é muito elevada. Para além dos prémios internacionais, que têm sido ganhos por alguns alunos, como dar visibilidade pública a este tesouro?
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sexta-feira, julho 3

SOLENIDADES E RITUAIS

Fotografia de Hélder Gonçalves

O exercício de caminhar através das memórias mais distantes, e profundas, é um acto de libertação. Partilhá-las com a comunidade que se dispõe a acolhê-las para nelas se rever, ou não, é um acto de comunhão. São razões que bastam para retomar alguns escritos antigos do tempo em que o Absorto era um mero espelho das palavras que nele desenhava.

Não queria ir. Não me sentia bem na minha pele. Mas estava tudo preparado. A teoria e o ritual. Sabia de cor as orações e o resto. Mas não queria ir. No dia dos actos solenes sempre me sinto com vontade de fugir. Não gosto de actos solenes. Depende das circunstâncias sofrer mais ou menos. Com os anos aprendi a defender-me e sofro menos. Porque não podemos fugir a todos os actos solenes.

Mas naquele dia fugi mesmo. A minha mãe correu atrás de mim. Fui à força a caminho da Sé. Cumpri, como sempre, com a minha obrigação. Percorri todos os caminhos de uma autêntica formação católica. Ficaram-me marcados na memória os personagens, os rostos e os cheiros. Alguns admiráveis e repousantes como os padres Patrício e Henrique. Outros execráveis e repugnantes. Aprendi a olhar para dentro e a falar comigo próprio.

Gosto de ler a poesia de Adélia Prado. E de ouvir o silêncio solene do interior de um templo vazio. De olhar as capelas e os altares. De admirar as obras de arte que os habitam. E de observar a crença dos que os frequentam. No fim da vida o meu pai, que eu julgava agnóstico, rezava. Mas não gosto de participar em rituais. Não gosto de seitas. Nem de associações secretas. Sejam religiosas, políticas ou outras. As suas obediências e silêncios não se conjugam com o meu conceito de liberdade. Isso explica muita coisa.

Fiz a comunhão solene. Tenho até uma fotografia, muito impressiva, acompanhado pelos meus pais e padrinhos (ou será do crisma?). Não me lembro, ao certo, como regressei da Sé. Mas lembro-me de nunca ter acreditado na confissão. Nunca ninguém, de verdade, se confessa. O que retenho, com nitidez, foram a vista e o cheiro das laranjeiras do largo da Sé de Faro. E um sorvete que comi, na Brasileira, às escondidas. Em pecado. Capital.
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Jobs and Energy Innovation

Curiosamente no mesmo dia da demissão do ministro Manuel Pinho:
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terça-feira, junho 30

Pina Bausch

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ANA GOMES

Apresentação da candidatura de Ana Gomes. Ouvi ontem o Nuno Teotónio Pereira falar na qualidade de mandatário da candidatura de Ana Gomes, pelo PS, à autarquia de Sintra. Assumiu a cegueira que, recentemente, o acometeu. É grande a sua coragem no contexto de uma candidatura de gente corajosa a começar pela Ana Gomes. A política, por vezes, reserva-nos surpresas agradáveis… e quem sabe o futuro ?…
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segunda-feira, junho 29

MILLÔR FERNANDES

Descoberto aqui: o Twitter parece ter sido criado à medida de Millôr Fernandes.

Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.

Canalhas melhoram com o passar do tempo (ficam mais canalhas.)

Pontual é alguém que resolveu esperar muito.

Todo homem nasce original e morre plágio.
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O "CARRO ELÉCTRICO"

O projecto do “carro eléctrico” avança e ameaça tornar-se uma realidade de um dia para o outro. Como todas as inovações terá os seus detractores que, em breve, iniciarão a produção de contra indicações, defeitos, erros e omissões. Como no caso das novas tecnologias de informação - Magalhães, “banda larga” - … o governo aposta na massificarão - fazer muito em pouco tempo, criando infra-estruturas e parcerias – pois, no passado, já perdemos muito tempo e o futuro não espera por nós. É mais um projecto difícil de mandar pela janela fora …
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domingo, junho 28

UMA COLUNISTA QUE ME INTRIGA


É claro que os jornais têm o direito de dar voz aos colunistas que bem entendam. Mas há uma coluna de opinião num jornal de referência que me intriga: a de Manuela Ferreira Leite, no Expresso. Um verdadeiro espaço de propaganda partidária preenchido pela líder do maior partido da oposição. A continuar a publicar, sem mais, aquela coluna de opinião o Expresso terá que assumir, à semelhança da tradição americana, o apoio político expresso ao PSD. Não virá daí mal ao mundo e será uma vitória da transparência democrática. Pois não basta clamar por ela …
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sábado, junho 27

NO INFERNO DOS KHMER VERMELHOS


Acabei de ler o terrível testemunho de Denise Affonço, contido no livro “No Inferno dos Khmer Vermelhos”, acerca de um dos mais sanguinários regimes políticos do século XX, de natureza comunista. Recomendo.

“Esses utopistas selvagens destruíram tudo. Já não há escolas, hospitais, dinheiro, actividade comercial, tudo tem de ser reconstruído. Como se pôde conceber uma loucura destas? E pensar que esses doentes foram aconselhados e assistidos no seu delírio assassino pelo “grande irmão comunista”! E que durante todo esse tempo a comunidade internacional não mexeu nem um dedinho para parar o massacre! Porquê? Como conseguiram os Khmer Vermelhos manter tanto tempo o país hermeticamente fechado a qualquer intervenção exterior? Como fizeram para que o mundo inteiro acreditasse que tudo corria bem no país e que os seus habitantes viviam felizes num paraíso?"
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sexta-feira, junho 26

A «Nova Esquerda» que eu conheci morrreu – Uff!


Surgiu recentemente o anúncio da criação de um movimento político que se auto intitula de Nova Esquerda. Trata-se, ao que parece, de uma “dissidência” do movimento que Manuel Alegre criou após a sua candidatura presidencial e do qual o próprio já se demarcou. O Araújo Pereira, dos Gatos Fedorentos, caracterizou, com acutilância, a natureza das motivações dos seus criadores:

Apesar do nome com que se quer registar como partido, é de temer que o Movimento Nova Esquerda não seja nem novo nem de esquerda. O que há a reter é o facto de se detectar tristeza entre os amigos de Alegre. Desiludidos com o facto do histórico deputado socialista não criar um novo partido, vão criá-lo eles. É normal que os partidos, ao longo da sua história, revejam a sua ideologia, mas desta vez os amigos de Alegre vão mais longe ao afirmarem que apesar de alegristas estão desiludidos com o seu próprio patrono.

Tem razão Araújo Pereira, pelo menos, quando diz recear que o novo movimento não seja novo. Sem querer beliscar, nem ao de leve, a legitimidade de grupos de cidadãos criarem os movimentos, ou partidos, que lhes aprouver, gostaria de dar testemunho acerca da criação, em 1984, do movimento Nova Esquerda que, apesar de nunca se ter formalizado (ainda bem!), nem ter registado a sigla, foi bastante longe nos preliminares, através da elaboração de uma “Declaração de Princípios”, de tomada de posições públicas…. Os tempos eram difíceis!...

Reproduzo, de seguida, o meu testemunho, acerca do contexto em que esse movimento surgiu, numa posta que escrevi, em Abril de 2004, sob o título “Do MES à Nova Esquerda”, lavrando o meu quixotesco protesto, não tanto pela utilização da sigla, “ipsis verbis”, mas pela aparente ignorância de certa esquerda acerca da sua própria memória o que a levará, inevitavelmente, à irrelevância. Convenhamos que o caminho da renovação da esquerda carece de um pouco mais de estudo e imaginação.

Nas reuniões e discussões prévias ao I Congresso [do MES] lembro-me de ter, em diversos momentos, divagado a sós, angustiado pela percepção da "quadratura do círculo" que constituía, naquelas circunstâncias, conciliar a democracia representativa com a democracia directa, ou "poder popular".
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Uma síntese impossível. Era necessário ganhar tempo, mas a gestão do tempo não era o nosso forte, nem o "espírito da época" favorecia as esperas sábias e pacientes.
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As revoluções criam uma especial escala do tempo em que nos sentimos atraídos pela acção e a acção exige mais acção. A única saída possível para tornar o MES um Partido útil, na construção da democracia representativa e participativa, tinha-se esfumado com o desenlace daquele Congresso.
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Os que romperam prepararam pacientemente a sua integração no PS. Os que ficaram, por convicção ideológica ou devoção a amizades autênticas, forjadas nas lutas do passado, foram absorvidos pela voragem dos acontecimentos e foram saindo, em levas sucessivas, até à extinção do movimento no célebre jantar do Mercado do Povo.
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Após a extinção do MES alguns de nós dinamizaram, no início dos anos 80, a criação da "Nova Esquerda" em cuja declaração de princípios se preconizava o "desenvolvimento de um novo pensamento de esquerda que, assentando fundamentalmente na ideia do socialismo democrático, clarifique as suas fronteiras, encare os valores da liberdade individual, da solidariedade social e da iniciativa modernizadora (tanto ao nível económico como cultural), como elementos constitutivos essenciais."
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Defendia-se, num notável documento de Julho de 1984, que mantém plena actualidade, entre outros objectivos, o debate "aberto e inconformista que envolva todos os sectores interessados na modernização do país", o "reforço da democracia" e a "adesão à CEE".
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Esse documento preparado para a criação de uma abortada "Cooperativa Nova Esquerda" foi assumido por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça, Eurico de Figueiredo, Jofre Justino, José Leitão, Júlio Dias, Margarida Marques, Sara Amâncio, Tereza de Sousa e Vitor Wengorovius.
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Em 21de Abril de 1986 a Comissão Coordenadora da "Nova Esquerda", constituída por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça e Vitor Wengorovius anuncia que, após seis anos, a "atitude de solidariedade crítica externa ao PS se esgotou e deve ser superada por uma intervenção política concreta que, para a maioria dos membros desta comissão, pode e deve ser realizada, desde já, dentro do PS."
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Em consequência, no decurso do ano de 1986, todos os membros da Comissão da "Nova Esquerda", com excepção de Vitor Wengorovius, entre outros ex-activistas do MES, aderiram colectivamente ao PS.
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... é altamente recomendável ler um apontamento de Eduardo Graça, no seu Absorto, intitulado A «Nova Esquerda» que eu conheci morrreu – Uff! . Trata-se de um relato, por dentro, de um episódio da história da democracia portuguesa - o qual, ao espelho, dá a ver a ignorância chapada (ou então a arrogância) de alguns sábios renovadores da esquerda que chegaram no último minuto junto ao balcão de serviço e começaram logo a pedir bebidas que não sabem o que sejam só por vagamente lhes terem ouvido chamar o nome.Do texto do Eduardo, atrevo-me a recortar apenas isto: «Convenhamos que o caminho da renovação da esquerda carece de um pouco mais de estudo e imaginação.» Aplaudo. Doendo-me as mãos só de pensar no que a vida é, mas aplaudo.
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quinta-feira, junho 25

Michael Jackson

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É PRECISO MANTER O EQUILÍBRIO!


Assino por baixo. O assunto é grave. Estava a matutar acerca do alarido que os mesmos fizeram quando a empresa detentora da TVI foi comprada pela PRISA (empresa espanhola) rugindo ameaças acerca dos perigos dessa mesma TVI ser instrumentalizada pelo PS, açulados pela nomeação do inefável Pina Moura para a sua administração. Hoje parece que a PRISA (espanhola) está vendedora e a PT (portuguesa) está compradora de parte do capital da Media capital, detentora da TVI. Tanto quanto se possa considerar que o capital tem Pátria devia ecoar entre os portugueses, do topo à base, uma alegria moderadamente suave em nome daquele valor antigo que dá pelo nome de patriotismo. Mas eis que os mesmos que se queixaram do perigo do PS se apropriar da TVI (foi o que se viu!) agora se queixam exactamente do mesmo e sempre que a Media capital, detentora da TVI, mudar de mãos aqui d’el rei. E já agora o que dirão os sempre alerta para os perigos dos espanhóis, de uma PRISA qualquer, um dia destes comprarem a SIC (já esteve mais longe, dizem as minhas fontes – também tenho fontes, ah!ah!ah!). São demasiados pesos para diferentes medidas. Demasiadas desmemórias. É preciso manter o equilíbrio e quanto mais acima mais necessário é manter o equilíbrio!
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quarta-feira, junho 24

A ROUBAR?


Eu sei que os tempos estão mais para as manchetes do género secretário de Sócrates, ou adjunto de Sócrates, uma verdadeira manipulação pois, na verdade, se trata de um Secretário de Estado mas talvez seja tempo de denúncias públicas como esta de Berardo despertarem o interesse de quem de direito. Se quando Vital Moreira, em campanha política eleitoral, falou em roubalheira no BPN caiu o Carmo e a Trindade, quando Berardo, accionista de peso de um banco, afirma que o dito banco “continua a roubar e posso provar” não acontece nada? Com respeito às suspeitas que, justa ou injustamente, continuem a recair, como é o caso, sobre entidades do sistema financeiro é bom que o governo, o BP e a justiça não assobiem para o lado pois o que está em causa é a própria credibilidade das instituições democráticas.
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AI, LIBERDADE, LIBERDADE!


Em breve o Presidente da China visita Portugal. Fico sentado à espera das palavras do ocidente democrático – já nem falo de acções – em favor dos princípios básicos da democracia na China (e a Coreia do Norte ali tão perto!). E lembro-me do Irão (a Pérsia), e da contestação ao resultado das eleições, sabendo de quantas vezes o Ocidente democrático apoiou ditaduras e conspirou para derrubar democracias (não precisamos senão de olhar para nós próprios!). Na verdade o ocidente democrático preocupa-se sempre com a posse dos recursos naturais e o domínio das rotas comerciais e nem sempre com a defesa da liberdade e da democracia.
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terça-feira, junho 23

PROJECTAR (III)

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UMA ALFACINHA EM NATAL

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LIBERDADE DE IMPRENSA


Dei-me conta que o Pacheco Pereira meteu trancas à porta por não ter gostado da chamada à primeira página de uma qualificação assassina com que Menezes o mimoseou - a “loura do regime" - numa entrevista publicada num jornal que nunca l´I. O assunto só me interessa porque permite reflectir acerca da velha questão da liberdade de imprensa!
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segunda-feira, junho 22

PROJECTAR (II)


Sou dos que acham que nunca é demais actualizar e aperfeiçoar os estudos e os projectos, questionar a pertinência e oportunidade dos grandes investimentos, manifestar-se contra ou a favor, debater, dialogar, estar atento, avaliar, questionar e por aí fora … Apesar de a verdadeira política ir além das obras aceito que os grandes investimentos públicos sejam um tema fracturante na sociedade portuguesa. Afinal o tema dos grandes investimentos públicos é, há séculos, em Portugal, um tema fracturante. Mas será vantajoso para o PS, e para a esquerda, assumir a defesa dos grandes investimentos públicos. Não tanto por razões de conjuntura (a crise) mas por razões estratégicas (a Europa). Não tanto por razões de táctica política (o curto prazo) mas por razões de estratégia de desenvolvimento do país (o médio e longo prazo). E por razões de cuidar da independência de Portugal … um tema dos antigos e fora de moda. É saudável para a esquerda assumir os desafios da modernidade que, no caso das infra-estruturas de transportes, envolvem a assumpção, no essencial, do destino europeu de Portugal mantendo a sua capacidade de participar, de parte inteira, na construção da Europa. A deriva anti-obreira, assumida pela direita, pode até fazer vencimento, no curto prazo, e abrir espaço para mais encomendas de estudos e projectos. Mas é um objectivo meramente eleitoralista pois a direita, que se revê no PSD, também se revê nos grandes investimentos públicos. Logo não pode, com autenticidade, estar contra a sua concretização. É muito útil tomar nota do que se tem dito acerca do assunto, de quem tem dito o quê, e no fim do ano de 2009, passado o período eleitoral, fazer um balanço. Aposto que as obras públicas, em particular, as mais excitantes, (TGV, Aeroporto …), - mais estudo, menos estudo, mais mês, menos mês, vão todas avançar.

À laia de resposta a alguns comentários com todo o respeito e consideração pelos pequenos, médios e grandes estudiosos e projectistas, que fazem pela vida … Viva a liberdade de expressão do pensamento: Em entrevista ao Diário Económico, Augusto Mateus, signatário do manifesto de 27 economistas que pedem a reavaliação das grandes obras públicas, define como prioridade o aeroporto, mas pede mais estudos.
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sexta-feira, junho 19

PROJECTAR


Eu sei, tenho a certeza, que alguns destes ilustres economistas já ganharam grosso dinheiro com estudos, projectos e pareceres acerca das chamadas grandes obras públicas cuja oportunidade questionam. Caso vença a tese anti-obreira alguém lhes baterá à porta com novas encomendas para que as voltem a estudar, projectar e interpretar, de preferência, as mesmíssimas grandes obras públicas. É um lobby como outro qualquer!
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JORGE DE SENA

Devolver Jorge de Sena aos portugueses - Parte do espólio que foi doado pela família de Jorge de Sena já está na Biblioteca Nacional de Portugal. Em Setembro, os restos mortais do escritor, que há 50 anos partiu para o exílio no Brasil e nos Estados Unidos, serão transladados para o cemitério dos Prazeres em Lisboa.

Uma notícia importante, embora com erros, pois os restos mortais serão trasladados, … será feita justiça, compreenda quem compreender … eu continuarei, modestamente, a pugnar pela divulgação da sua obra …
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quinta-feira, junho 18

ANTÓNIO PEDRO RUELLA RAMOS

Foi este homem que permitiu que o jornal “Esquerda Socialista”, órgão do extinto MES, se tornasse realidade. Após o 25 de Abril, quase certamente a pedido do José Manuel Galvão Teles, a Renascença Gráfica compôs e imprimiu aquele jornal e alguns dos mais interessantes cartazes de autoria do Robin Fior. Nada era interdito e lembro-me de ter andado pelas instalações do Bairro Alto a acompanhar a produção de alguns trabalhos. A certa altura, no contexto das vicissitudes da chamada imprensa do MES, as dívidas contraídas exigiram um grande esforço de saneamento financeiro que permitiu saldá-las quase todas o que não impediu, quer-me parecer, que tivesse ficado alguma por pagar à Renascença Gráfica. Nunca mais ninguém falou nisso. Mais tarde, quando fui presidente do INATEL, foi adjudicada, por concurso público, à Lisgráfica a impressão da Revista “Tempo Livre”. Era, e continua a ser, uma encomenda de razoável dimensão, física e financeira, para o nosso meio editorial. Os concursos eram anuais. Lembro-me que num dos anos a Lisgráfica perdeu o concurso para outro fornecedor que apresentou melhores condições. O António Pedro Ruella Ramos deve ter ficado aborrecido. Não mexeu uma palha, não mandou recado, nem recriminação. Um grande Senhor!
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AUTOEUROPA

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quarta-feira, junho 17

O Nuno Teotónio Pereira e as desventuras eleitorais do MES


Nuno Teotónio Pereira foi, recentemente, evocado numa cerimónia comemorativa do 85º aniversário da Associação de Inquilinos Lisbonenses. Um dia, pelos idos de 2004, numa série de postas, fiz-lhe uma breve, e escassa, referência considerando que é uma das personalidades mais marcantes da história do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Fiquei com uma dívida por pagar.

O Arquitecto Nuno Teotónio Pereira é uma daquelas personalidades raras na qual se juntam um notável curriculum profissional e uma postura de intervenção cívica, persistente e pertinente, assumida desde os tempos da oposição à ditadura. Ele é, na verdade, um dos arquitectos portugueses contemporâneos que foi capaz, como poucos, de integrar, sem cedências à facilidade, as preocupações sociais e a arte de «arquitectar». Há por esse país muitas obras de sua autoria, ou co-autoria, que testemunham esta simbiose.

Nos tempos de brasa do 25 de Abril foi um dos mais proeminentes dirigentes do MES, posição que saiu reforçada aquando da ruptura do grupo de Jorge Sampaio, ocorrida no 1º Congresso de Dezembro de 1974. O MES, na sua curta existência, só participou, de parte inteira, nas duas primeiras eleições da nossa III República: as eleições para a Assembleia Constituinte, disputadas em 25 de Abril de 1975, e as primeiras eleições para a Assembleia da República disputadas em 25 de Abril de 1976.

As nossas esperanças iniciais eram muitas elevadas. A lista do MES, pelo círculo de Lisboa, às eleições para a Assembleia Constituinte, foi encabeçada pelo Afonso de Barros a que se seguiram o Eduardo Ferro Rodrigues, o Augusto Mateus e o Luís Martins (padre, ainda a exercer…). A lista candidata às primeiras eleições legislativas, realizadas em 25 de Abril de 1976, foi encabeçada pelo Nuno Teotónio Pereira, seguido do subscritor destas linhas.

Poder-se-ia pensar que o MES havia encontrado o seu líder. Puro engano. Ao contrário dos restantes partidos, sem excepção, a personalidade que encabeçava a lista por Lisboa nunca foi, no caso do MES, o líder do partido pela simples razão de que no MES nunca existiu um líder. O que hoje penso é que, por incrível que pareça, sempre assumimos, do princípio ao fim, o que poderia designar-se como uma obsessão pelo colectivo.

Estávamos perante as primeiras eleições, verdadeiramente, livres e democráticas, após quase 50 anos de ditadura. Ainda hoje me interrogo como foi possível que tenhamos, no MES, encarado essas eleições, cuja transcendência política era inegável, como meros actos de pedagogia, mais do que actos destinados à disputa do poder. Ainda hoje me questiono acerca das raízes da concepção que permitiram à UDP (com o BE ainda tão longe!) ter obtido, nas eleições para a Assembleia Constituinte, menos votos do que o MES, a nível nacional, e feito eleger um deputado.

Existem muitas evidências dessa atitude de participação «não interesseira» do MES, desde o discurso anti-eleitoralista, que emanava de uma desconfiança, de raiz ideológica, acerca da verdadeira natureza da democracia representativa que, na verdade, aceitávamos como um mal menor, até à ausência de sinais de personalização nas campanhas eleitorais nas quais nunca foram utilizadas sequer fotografias dos cabeças de lista pelo círculo de Lisboa. A participação nas campanhas, embora tenha utilizado todos os meios, à época disponíveis, nunca cedeu um milímetro à personalização.

Após o fracasso da candidatura do MES à constituinte, ainda mais me parece estranho, à distância de 35 anos, a abdicação de personalizar na figura do Nuno Teotónio Pereira a campanha para as eleições destinadas a eleger a 1ª Assembleia da República. A sua participação como cabeça de lista pode ser interpretada, não me lembrando dos detalhes do processo decisório, como uma tentativa de credibilizar o MES jogando na refrega eleitoral a figura do seu mais proeminente dirigente.

Mas, ao contrário do que aconselharia a mais elementar lógica eleitoral, a campanha não valorizou a figura do Nuno Teotónio Pereira o que acabou por constituir o haraquiri político eleitoral do MES. Lembro-me de ter ocupado o segundo lugar nessa lista e do desconforto que senti quando, chegada a hora de votar, numa secção de Benfica, no meio da multidão, comovido até às lágrimas, sozinho, pressenti a derrota inevitável. E essa derrota foi ainda mais pesada do que aquela que averbámos nas eleições para a Assembleia Constituinte.

Se há uma personalidade que não merecia sair derrotada da aventura política do MES é o Nuno Teotónio Pereira a quem, como escrevi, em 2004 , devemos todos, os jovens quadros dos anos 60 e 70, uma imensidade de ensinamentos, gestos de desprendida solidariedade e humanidade que jamais poderemos retribuir com a mesma intensidade e sentido de dádiva.

Que viva!
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segunda-feira, junho 15

Mi triste Italia

Herbert List - Milan. Italian sculptor, Marino MARINI, in his studio on one of his horses. 1952

Un país que fue bandera de libertad y cultura es presidido hoy por un político que censura la información que no le interesa. ¿Qué le ha pasado a Italia? ¿Por qué es tan difícil de reconocer para quienes la aman?

JUAN ARIAS – El Pais/ Ir ao Fundo e Voltar
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JORGE DE SENA - "AS EVIDÊNCIAS"

Jorge de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919. Engenheiro de profissão dedicou a sua vida à literatura, sendo grande como poeta, romancista, contista, tradutor e estudioso de obras alheias e é, para mim, com Pessoa, o poeta mais importante do século XX português.

Li finalmente, este fim-de-semana, os “Diários” livro no qual a sua mulher Mécia reuniu os escritos do género ao qual Sena dedicou pouca importância. Além dos textos acerca da sua viagem, como cadete, na Sagres, o livro vale a pena por duas peças, uma referente a um período do ano de 1953/54 e outra referente ao ano de 1968 que permitem conhecer, além das circunstâncias da época, os seus gostos pessoais, processos de trabalho, amizades e ódios de estimação.

Retive, do período de 1953/54, um conjunto de referências à escrita dos 21 sonetos que compõem “As Evidências”, com data de publicação de 1955, que mais tarde viriam a integrar “Poesia I” em cujo prefácio, à 2ª edição, escrito pouco antes da sua morte, lhes faz referência:

“… Nos princípios de 1954, entre Fevereiro e Abril, escrevi os 21 sonetos de As Evidências, sequência que não queria publicar como parte de um livro de poemas, aonde ficasse submersa, mas para a qual não encontrava editor. Foi quando, nesse ano, me foi oferecida, se não estou em erro, paralelamente por Armindo Rodrigues e por João José Cachofel, a possibilidade de uma edição daqueles sonetos na série “Cancioneiro Geral” do Centro Bibliográfico. O livrinho ficou impresso nos primeiros dias de Janeiro de 1955, foi logo apreendido pela PIDE que assaltou então o dito Centro, e só pôde ser distribuído um mês depois de repetidas visitas à Censura, para onde se entrava por uma portinha da Calçada da Glória, embora os censores estivessem realmente instalados no Palácio Foz ocupado pelo SNP ou SNI, ou lá como se chamava na altura. O livro era, além de subversivo, pornográfico, segundo me repetia sistematicamente, com um sorriso ameno e algum sarcasmo nos olhos pontilhados de ramela branca, por trás de uns óculos de aro finamente metálico, suponho que o subdirector que era um major ou tenente-coronel. Eu contestava que o livro, ora essa, não era nem uma coisa nem outra, e ele, dando-me palmadinhas no joelho mais próximo, dizia: - Ora, ora … nós sabemos -. Ao fim de um mês destas periódicas sessões, o livro foi libertado, e para dizer a pura verdade evidente, era realmente subversivo e, se não propriamente pornográfico, sem dúvida que respeitavelmente obsceno. …”

Integrado num conjunto de iniciativas pessoais, em homenagem a Jorge de Sena, pelo 90º aniversário do seu nascimento, que agora inicio, e que terminarei com uma surpresa para os meus amigos, publicarei os 21 sonetos de “As Evidências” fazendo anteceder cada um deles com as referências, mais ou menos detalhadas, que o autor lhes faz nos “Diários”. Este primeiro texto será publicado, em simultâneo, no Caderno de Poesia e os seguintes somente nesse blogue. No Diário referente ao período de 23 de Agosto de 1953 a 20 de Outubro de 1954, no dia 12 de Fevereiro de 1954, escreveu:

“Hoje, pela manhã, surgiram-me vários fragmentos de versos ou versos inteiros, que se me organizaram num poema e num soneto, que espero seja o primeiro da sequência por que anseio há tanto. Julgo-os do melhor que tenho feito, e satisfazem-me em comparação com o que, e raramente, andava fazendo.”

I

Ao desconcerto humanamente aberto
entendo e sinto: as coisas são reais
como meus olhos que as olharam tais
a luz ou treva que há no tempo certo.

De olhá-las muito não as vejo mais
que a luz mutável com que a treva perto
sempre outras as confunde: entreaberto,
menos que humano, só verei sinais.

E sinta que as pensei, ou que as senti
eu pense, ou julgue nos sinais que vi
ler a harmonia, como ali surpresa,

oculta que era para eu vê-la agora,
meu desconcerto é o desconcerto fora,
e Deus um só pudor da Natureza.

12-2-1954
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domingo, junho 14

NOVA VOLTA ... NOVA CORRIDA ..


Coligação com CDS "é o cenário mais provável", diz Paulo Rangel

Ainda bem que o aviso foi feito, com antecedência, para que ninguém, quando chegar a hora de votar nas legislativas, possa invocar que não foi avisado. No caso de o PSD ganhar as legislativas, sem maioria absoluta, teremos o Dr. Portas como vice-primeiro-ministro, ministro da defesa ou … sei lá o quê … e ainda a tempo de tratar de muitos dossiers que continuam por encerrar da sua anterior passagem pelo governo … Mas, desta vez, acredito que seria confrontado com uma oposição de novo tipo, quer no parlamento, quer fora do parlamento … O meu sentimento é que tal cenário, passados poucos meses, tornaria a imagem da governação socialista actual um verdadeiro oásis de paz e concórdia nacional …
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sábado, junho 13

O que vêem os olhos quando já não podem ver


convencidos que estás a brincar e não estás a brincar, é no meio desta gente que te sentes bem, deste canto que ninguém a não ser nós sabe onde fica, é para eles, que te não lêem, que escreves. O senhor Ribeiro, que ainda não saiu da guerra na Guiné, a dona Fernanda que te enrolava salsichas em couve lombarda, a esplanadazinha com as empregadas brasileiras do cabeleireiro? O teu avô nasceu em Belém do Pará, o teu bisavô nasceu em Belém do Pará, ao teu trisavô, filho de camponeses da Póvoa do Lanhoso, meteram-no num veleiro faz-te à vida, e ele fez-se à vida, que remédio, e lá andou na borracha, aguentou-se. Chamava-se Bernardo António Antunes e aguentou-se. Aguenta-te tu. Isto que escrevo é o quê? O trineto do senhor Antunes a aguentar-se, a nobreza dele um casinhoto que deixou de existir há séculos, na Póvoa do Lanhoso. Todo o Minho do sangue do senhor Antunes está no teu, é uma criança num veleiro, a fazer-se à vida. Faz-te à vida, miúdo. António Antunes, mais o Lobo da nora do senhor Antunes, Leopoldina claro, como a imperatriz. O teu pai tinha retratos dela, morreu nova. Isto que escreves é Belém do Pará a tremer ao longe nas histórias que te contavam em pequeno, mamãe diz ao papai que eu quero ir para a guerra do Paraguai. E vou. Pensando bem já lá cheguei há que tempos.
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Mahmoud Ahmadinejad

A democracia tem esta vantagem extraordinária de nem sempre ganharem os candidatos de quem gostamos. A democracia tem os seus riscos - todos o sabemos - pelo menos desde a eleição de Hitler. Mas as suas virtualidades suplantam, de forma avassaladora, os seus defeitos. Assim o prova a eleição de Obama. No caso das eleições no Irão, nas quais se defrontaram vários candidatos, parece que a afluência às urnas atingiu os 82%. Se isto não é uma democracia, o que é uma democracia? O The New York Times está com dificuldades em “engolir” esta realidade, ao contrário do El Pais e do Público.
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sexta-feira, junho 12

O «Salto» – só a minha voz me atraiçoou

Fotografia de Hélder Gonçalves

O último lustro da década de 60 foi uma época de pesadelo. Lutas e mais lutas. Duras lutas. Crises e mais crises. O Maio de 68. A crise de 69, em todas as academias, não esquecendo as «eleições». No meio estudantil vivia-se um ambiente pesado de vigilância e repressão policiais. Os activistas eram especialmente seguidos e provocados.

Quem se expunha na actividade associativa legal, tolerada, era inevitavelmente referenciado pela polícia política do regime. Corriam-se riscos. Temia-se a prisão a qualquer momento.Abundavam os rumores e choviam os avisos. Aqueles que, como eu, acreditavam, e acreditam, no progresso nunca se deixaram intimidar. A cada um de nós coube a sua sorte.

Um dia alguém me convenceu que a minha prisão estava iminente. Pois bem, havia que tomar uma decisão. Manter a actividade? Entrar na clandestinidade? Ficar ou partir? Não pertencia, nem nunca pertenci, ao Partido Comunista que era a única organização verdadeiramente organizada em termos de clandestinidade. Não podia arriscar uma caricatura de vida clandestina sem rede. Optei por «dar o salto». Destino: Paris.

Combinei com uns amigos os detalhes. Fizeram-se os contactos com quem havia de nos «passar». Tomámos as providências necessárias. A despedida de quem mais amava foi discreta mas dramática. Levantar todo o dinheiro do banco. Rapar a barba. Tomar o comboio na direcção do Porto. Ponto de encontro: restaurante «Ché-Lapin», à hora de almoço. Almoçámos e esperámos uma eternidade pelo contacto. Não apareceu ninguém. O contacto falhara. Ainda hoje não sei a razão. Nunca mais falei com o dito.

Regresso a Lisboa. Reencontros inesperados. Ao tomar o meu lugar habitual na «Esplanada do Jardim da Estrela», sem barba, senti a extraordinária sensação de não ser reconhecido por ninguém. Nem sequer pelo empregado que me servia todos os dias. Só a minha voz me atraiçoou. Sempre me reconhecem pela voz.

Nunca cheguei a ser preso. Segui o meu caminho. Por um triz estive para engrossar a fileira dos exilados, no caso, de um falso exilado. Felizmente o destino protegeu-me e nem os meus pais chegaram a saber da aventura.
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quarta-feira, junho 10

DIA DE PORTUGAL

Luís de Camões

Quanta incerta esperança, quanto engano!
Quanto viver de falsos pensamentos,
Pois todos vão fazer seus fundamentos
Só no mesmo em que está seu próprio dano!
Na incerta vida estribam de um humano;
Dão crédito a palavras que são ventos;
Choram depois as horas e os momentos
Que riram com mais gosto em todo o ano.
Não haja em aparências confianças;
Entendei que o viver é de emprestado;
Que o de que vive o mundo são mudanças.
Mudai, pois, o sentido e o cuidado,
Somente amando aquelas esperanças
Que duram pera sempre co´o amado.

Sonetos da Edição de D. António Álvares da Cunha, de 1668
In Lírica – Terceiro Volume das Obras Completas - Círculo de Leitores

SALGUEIRO MAIA

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terça-feira, junho 9

CALOR ABAFADO ...


Esta notícia é extraordinária. Assim como esta ideia do governo legítimo da Nação passar a governo de gestão. Eu dava-lhes a resposta mas não me apetece, nem posso … Hoje fui a Santarém e havia polícias por todo o lado … E lá vamos numa de sapataria …
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QUE VENHAM AS LEGISLATIVAS!


Curiosa a coincidência dos ataques aos ex secretários gerais do PS. Como quem não quer a coisa abriu, oficialmente, a época de “caça ao socialista”. Preparemo-nos! Vítor Constâncio é atacado, e condenado na praça pública, por suposta inacção! Jorge Sampaio é acusado por engano (!) e Ferro Rodrigues é apagado da história silenciando o seu papel na vitória esmagadora do PS nas europeias de 2004. Quanto ao ciclo eleitoral venham as legislativas o mais depressa possível: por mim podem ser já a 20 de Setembro.
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