quinta-feira, junho 27

AS EVIDÊNCIAS - XVI






































Livres de ser o que os acasos tecem
na teia de eras que aumentando os muda,

não sendo vamos contrição desnuda,
e como nós as coisas acontecem.


E porque acontecidas logo cessem
de ser a liberdade ponteaguda
que de entre teias como gota exsuda,
mudam-se em nós as que a mudança esquecem.


E um sentimento, a máquina, um abraço,
um filho, a estátua, as dimensões do espaço
- pensado ou não, sentido ou não, talhado
ou não – fado serão do próprio fado,
qual como em fios luminosos vemos
o gecto igual com que outra fronte erguemos.

15-3-1954

Jorge de Sena

segunda-feira, junho 24

AS EVIDÊNCIAS - XV


Manhã de glória! – ó deuses, ó imagens,
palavras, gestos, silenciosa crença,
ó plácida ternura das paisagens,
brincar das crianças na convalescença,

lembrado vento das remotas viagens,
saber perpétuo das ciências novas,
sereno deslisar de astrais paragens,
mentiras, crimes, proclamadas provas

de tudo contra tudo: universal
visão que sois, só porque sois tão mal

a mão que toca e que a si própria sente;
nessa mentira veramente ouvida,
nessa verdade que, de o ser, já mente,
o mal que sois é o bem de haver só vida.

9-3-1954

Jorge de Sena

Anjani Thomas

sábado, junho 22

AS EVIDÊNCIAS - XIV

Nenhuma voz me atinge por destino
dela, e nenhuma me procura ansiosa.
Se o espaço cruzam num murmúrio fino
ou gritam seu destino, a mais formosa

é sempre aquela que eu encontro agora,
apenas porque a encontro e por mais nada.
E para ouvi-las não existo, embora
as ouça claramente, na humilhada,

ténue, profunda, vasta e dolorosa,
conquanto doce, humanidade alheia,
que em mim se alberga tímida e receosa.

Assim se escutam vozes. Delicada,
sopra no espírito a formosa ideia,
e encrespam-se as palavras na alvorada.

 
9-3-1954

Jorge de Sena
 

quarta-feira, junho 19

AS EVIDÊNCIAS - XIII

                                                                               XIII

Quando me encontro sempre sem poesia
do ritmo ouvindo o cadenciar perfeito
em que as palavras passam como um dia
que é fluído e pálido, gelado e estreito,

sempre uma voz, que eu antes não ouvia,
me preenche o espaço entre o destino e o leito
de fogo e de cristal em que me deito
na música sem dor nem alegria.

Alguém que eu fui ou não cheguei a ser,
que alguém não teve tempo de viver
na ondulação do transitório acaso,

é por acaso que em mim próprio escuto,
qual do vazio ocasional refuto
a vacuidade inane do seu vaso.

9-3-1954

Jorge de Sena

NAPOLEÃO BONAPARTE

                                                  As grandes frases de Napoleão.


“A felicidade é o maior desenvolvimento das minhas faculdades.”

Antes da ilha de Elba: “Um malandro vivo vale mais do que um imperador morto”.

“Um homem realmente grande colocar-se-á sempre acima dos acontecimentos que originou.”

“É necessário querer viver e saber morrer.”


Albert Camus, in Caderno n.º 4

segunda-feira, junho 17

POLÍTICA (10)

Correm-se as notícias de uma a outra ponta e o que vemos? Um diário de conflitos, de violência, de guerra! Cá e lá, por todo o lado, não é só o que mais convém à indústria das notícias mas um reflexo da realidade nua e crua. O que há pouco tempo atrás era um devaneio de lunáticos - a guerra – passou a ser um presságio de realistas. Talvez um pouco mais de espirito de paz no G8, no lugar da volúpia da guerra, em mangas de camisa, menos usura e mais compaixão, menos manobra e mais política, mais grandeza e menos subserviência. Apetece-me citar Camus em “Núpcias, O Verão”: "
(...) A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. “O trágico”, dizia Lawrence, “deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade”.

sábado, junho 15

AS EVIDÊNCIAS XII

XII

Uma outra vida espera em vosso peito.
Dentro do meu que em gestos se condensa
a carne fala e vibra, a carne pensa
por vós como por mim, que não aceito

mais que a linguagem de ter sido eleito
igual aos outros: tão igual, que sou
a identidade vária com que vou
sendo a diferença dolorosa – o jeito

de uma pura perda celebrar o amor,
sagrando-vos humanos e lembrados
na plena luz a que viveis os fados.

Beijemo-nos então. Língua na língua,
essa outra vida que trazeis, distingo-a,
e como liberdade aceito a dor.


Jorge de Sena

6-3-1954

sexta-feira, junho 14

Barbara Hannigan

RENÉ CHAR

                                       14 de Junho de 1907/19 de Fevereiro de 1988 


Este lugar é só um voto do espírito, um contra-sepulcro.

Na minha terra preferem-se as ternas provas da primavera e os pássaros mal-vestidos aos objectivos longínquos.

A verdade espera pela aurora à luz de uma vela. O vidro da janela não está limpo. Pouco importa ao atento.

Na minha terra não se fazem perguntas a um homem comovido.

Não há sombra maligna no barco soçobrado.

(…)

Só se pede de empréstimo o que se pode devolver aumentado.

Há folhas, muitas folhas, nas árvores da minha terra. Os ramos podem escolher não ter frutos.

Ninguém acredita na boa-fé do vencedor.

Na minha terra agradece-se.

“A Sesta Branca”, in Os Matinais (1947-49)  
         
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CHAR FAZ 33 ANOS EM 1940.

CHAR É DENUNCIADO COMO MILITANTE DE EXTREMA-ESQUERDA À PERFEITURA DE VAUCLUSE.

AS SUAS ANTERIORES ACTIVIDADES NO MEIO SURREALISTA SERVIRAM TAMBÉM DE PRETEXTO PARA A DENÚNCIA.

PASSA À CLANDESTINIDADE E COM O NOME DE CAPITÃO ALEXANDRE ORGANIZA A RESISTÊNCIA, DIRIGE A SAP, A SECÇÃO DE ATERRAGEM E PARAQUEDISMO, DESDE 1940 A 1944.

[RENÉ CHAR – ESTE FANÁTICO DAS NUVENS, Uma antologia organizada por Marie-Claude Char e Y. K. Centeno, tradução de Y.K. Centeno – Cotovia]


quinta-feira, junho 13

FERNANDO PESSOA - pelo aniversário de seu nascimento

Por ocasião da passagem do 125º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa transcrevo, a partir do site de poesias coligidas de F E R N A N D O P E S S O A, a parte final da carta a Adolfo Casais Monteiro.

Autobiografia?
Carta a Adolfo Casais Monteiro
(…)

Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas.
 
Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 in de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É, um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.

Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.)

Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.(*)

Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.(**)

Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.

Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.

Fernando Pessoa
14/1/1935

quarta-feira, junho 12

CAMUS

Je comprends ici ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.

Albert Camus, in Noces (1936/37)

terça-feira, junho 11

EVIDÊNCIAS - XI

Um 11º soneto.

Marinha pousa a névoa iluminada,
e dentro dela os pássaros cantando
são crepitar das ondas doce e brando
na fímbria oculta e só adivinhada.

Verdes ao longe os montes na dourada
encosta pelos tempos deslisando,
suspensos pairam no frescor de quando
eram da sombra a forma congelada.

Ao pé de mim respiras. No teu seio,
como nas grutas fundas e sombrias
os animais pintados adormecem,

sereno seca um amoroso veio.
Um após outro hão-de secar-se os dias
na teia ténue que das eras tecem.


Jorge de Sena

1-3-1954 [Confirma-se o desfasamento devendo a referência feita, no dia 4 de Março de 1954, ao 11º soneto ser destinada aquele que na Poesia 1 surgirá a seguir com o nº 12.]

segunda-feira, junho 10

A sociedade dos negociantes

A sociedade dos negociantes pode definir-se como uma sociedade na qual as coisas desaparecem em proveito dos signos. Quando uma classe dirigente avalia as suas riquezas, já não pelo hectare de terra nem pelo lingote de oiro mas pelo número de cifras que idealmente correspondem a um certo número de operações de câmbio, dedica-se ao mesmo tempo a pôr uma certa espécie de mistificação como centro da sua experiência e do seu universo. Uma sociedade fundada nos signos é, na sua essência, uma sociedade artificial em que a realidade carnal do homem se acha mistificada. Ninguém então se admirará de que essa sociedade tenha escolhido, para dela fazer a sua religião, uma moral de princípios formais, e de que grave as palavras liberdade e igualdade tanto nas suas prisões como nos seus templos financeiros. Entretanto, não é impunemente que se prostituem as palavras. O valor hoje mais caluniado é certamente o valor da liberdade. Bons espíritos (…) fazem doutrina de ela não ser senão um obstáculo ao verdadeiro progresso. Mas se disparates tão solenes puderam ser proferidos foi porque, durante cem anos, a sociedade negociante fez da liberdade um uso exclusivo e unilateral, considerou-a mais como um direito do que como um dever e não receou pôr, tão frequentemente quanto pôde, uma liberdade de princípio ao serviço de uma opressão de facto.   


Albert Camus, in Discursos da Suécia (Conferência de 14 de dezembro de 1957 - Universidade de Upsala). 

LUÍS DE CAMÕES






































Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n´alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e doi não sei porquê.
_________________________________________


Let Love devise new ways, new wiles
to kill me, and new forms of disdain;
he´ll take away no hope of mine,
since he can´t take what I don´t have.

Look at the hopes that hold me up!
See how precarious my defenses!
For I, not fearing reverses or changes,
am tossed by the sea, having lost my ship.

Though disappointment can´t exist
where there´s no hope, there Love has hidden
a bane that kills and remains unseen,

for he placed in my soul some time ago
I don´t know what, nor where it was born,
nor how it got there, nor why it aches.

Luís de Camões  Sonnets and others poems”, edição bilingue, tradução e introdução de Richard Zenith. 

sábado, junho 8

EVIDÊNCIAS - X

1 de Março

Esta manhã, um 10º soneto. Suponho que apenas faltam mais dois.
Fui ao aeroporto despedir-me do Couvreur, que ia na viagem que seria para mim. Como o avião vinha atrasado, aproveitei para procurar o Zé que há tanto tempo não via. E li-lhe os dez sonetos, de que ele gostou, achando que a “coisa” ainda vai a meio.(…)

X

Rígidos seios de redondas, brancas,
frágeis e frescas inserções macias,
cinturas, coxas rodeando as ancas
em que se esconde o corredor dos dias;

torsos de finas, penugentas, frias,
enxutas linhas que nos rins se prendem,
sexos, testículos, que inertes pendem,
de hirsutas liras, longas e vazias

da crepitante música tangida,
húmida e tersa, na sangrenta lida
que a inflada ponta penetrante trila;

dedos e nádegas, e pernas, dentes.
Assim, no jeito infiel de adolescentes,
a carne espera, incerta, mas tranquila.


Jorge de Sena

27-2-54 [O soneto a que se refere Sena no “Diário” deve ser, na verdade, o 11º publicado em “Poesia I”].

Vadim Kholodenko

Gershwin: Cuban Overtures

sexta-feira, junho 7

EVIDÊNCIAS - IX

Esta manhã, um 9º soneto, obsceníssimo, mas demasiado formal, por demasiado “descritivo”. No entanto, é de certo modo o que eu queria fazer no sentido da violência. O Casais, a quem no café (a nossa “tertúlia” é este “tête-à-tête”, em que ele se torna muito mais o delicado que não quer, prudentemente, ser) o mostrei e ao de ontem, sentiu isso mesmo, porque disse: “Não gosto que se fale cerebralmente dessas coisas” (tomando cerebral pelo impressionismo descritivo). Vai proferir uma conferência sobre o Pessoa no Inst. Britânico; e ao Estorninho disse que para as influências inglesas era eu e não ele. Gostou muito do outro soneto. E achou, como eu acho, notável o artigo que o Lemos me mandou, e que vou rever para enviar ao C. Barreto.

IX

Com a mão brincando sem virtude ou vício,
o sexo antes do sexo pressentido,
conhecem-se as crianças, que, dormindo,
irão morrendo em sexo e juventude.

Da vã cidade o pálido bulício
em sonhos se dilui. Sombras sorrindo
afastam-se, crianças conduzindo
à virgindade ansiosa, austera e rude.

Pelas esquinas, no limiar da terra,
lá onde os sóis os prados ainda rasam
e as ervas vibram num tremor obscuro,

nocturno o espaço os milhares de olhos cerra,
sombras serão as crianças que se atrasam,
e a Graça, alheada, é o gesto ainda futuro.


Jorge de Sena

26-2-1954

quinta-feira, junho 6

L’été libertaire d’Albert Camus

«La liberté n’est pas un cadeau qu’on reçoit d’un Etat ou d’un chef, mais un bien que l’on conquiert tous les jours, par l’effort de chacun et l’union de tous.»
(...)

On comprend mieux pourquoi la gauche n’a jamais aimé Camus : trop proche des insoumis. La droite, elle, a espéré le récupérer - mais l’antitotalitarisme de l’écrivain, qui l’a mené à Bakounine, le père de l’anarchie, a débouché, comme nous le rappelle activement l’exposition de Lourmarin, sur la non-violence, jamais sur des interventions armées, fussent-elles disculpées par le droit d’ingérence. «Tuer les hommes ne sert à rien que tuer encore.» .

terça-feira, junho 4

EVIDÊNCIAS - VIII

Um 8º soneto (que deverá ocupar o lugar do 7º), um dos mais belos senão o mais belo – e que me emocionou tanto, que julguei que ia escrever logo outro. Mas era só emoção dele.

VIII

Amo-te muito, meu amor, e tanto
que, ao ter-te, amo-te mais, e mais ainda
depois de ter-te, meu amor. Não finda
com o próprio amor o amor do teu encanto.

Que encanto é o teu? Se continua enquanto
sofro a traição dos que, viscosos, prendem,
por uma paz da guerra a que se vendem,
a pura liberdade do meu canto,

um cântico da terra e do seu povo,
nesta invenção da humanidade inteira
que a cada instante há que inventar de novo,

tão quase é coisa ou sucessão que passa …
Que encanto é o teu? Deitado à tua beira,
sei que se rasga, eterno, o véu da Graça.

Jorge de Sena

22-2-1954

segunda-feira, junho 3

Encontro (ou paixão) inviável

A rua onde nasci, a cidade branca, o ar do tempo, as vizinhas apetecíveis, a mãe, o pai, o irmão, a gente do povo, o coro dos cães, a feira, a escassez, os avós, a terra, os frutos, as flores, os figos, a dor, a dança, o céu azul, o mar largo, a salmoira, a cesta, a eira, o milho, o poço, a nora, os bois, a prima, a morte, a miséria, …

A existência parada, os livros de quadradinhos, o fascínio pelo Brasil, a mobília, a luz, a mesa de trabalho, o bibe, a pia, a missa, as beatas, a procissão, o café, o cansaço da caminhada, a bola, o jogo, o livro sagrado, …


22/5/2012

LIBERDADE

"Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade. A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.
 (...)

A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."

Albert Camus, in Cadernos


domingo, junho 2

EVIDÊNCIAS VII

(…) Trabalhei no serviço o dia inteiro e, à tarde, escrevi em três horas de expectativa tenteada, um 7º soneto, que me parece o penúltimo das “evidências”.

25

Dei os sete sonetos (até agora) ao Casais (que já ouvira os 3 primeiros) a ler. Achou de “primeiríssima ordem” os 5 primeiros – com a reserva do final violento do 3º, que o choca -, menos bom o 6º, e o 7º ainda que muito bom, pareceu-lhe desviado da linha dos outros.

VII
 
Atentos sobre a terra ao que sem nós
connosco é o movimento em que levados
vamos criando qual somos criados
na recessão dos mundos fugitivos,

é nossa a luz que vemos, nossa a voz
com que a dizemos de astros apagados,
é nossa a carne com que estamos vivos,
e é dela a só ternura que abraçados

connosco esquece a distinção das cousas.
Humano escutarás, único vais
na numerosa multidão esquecida.

Ímpio de ti, se juras e não ousas
que teus vivos desejos se ergam tais
como em ti próprio aguarda uma outra vida.


Jorge de Sena
22-2-1954

sábado, junho 1

Pink Floyd

1128

Retomando um velho post de uma série que resultou da leitura entusiasmada da obra de Mattoso acerca do nosso primeiro rei para ilustrar como a força nunca está ausente da política nos momentos decisivos. E ilustrando também como, no plano simbólico e material, Portugal é uma nação antiga que apesar de todas as vicissitudes, existe desde 1128.

Na Batalha de São Mamede [24 de Junho de 1128], Afonso Henriques apoderou-se da herança de D. Teresa pela força. Segundo os Anais, prendeu os seus adversários, isto é, o conde Fernão Peres de Trava e os seus colaboradores; a tradição popular diz que prendeu também sua mãe, mas sabemos, por documentos autênticos, que pouco depois estavam ambos livres na Galiza. (…) Tinha então 19 anos. Podia tomar decisões pessoais. Mas os senhores que o apoiaram eram muito mais velhos, e governavam há muito tempo importantes territórios; entre eles estava, sem dúvida, o seu aio; sem o seu auxílio, Afonso não teria poder algum. Onde estava a verdadeira autoridade? Nas suas mãos ou nas dos nobres que com ele combatiam?
(…)
O papel da nobreza na Batalha de S. Mamede foi representado de forma simbólica no relato “popular” que dela fez a
Crónica Galego-Portuguesa (…) D. Afonso Henriques, derrotado logo no primeiro embate com Fernão Peres de Trava, foge do campo de batalha. Mas surge Soeiro Mendes. Censura-o pela fuga, como se fosse um adolescente, fá-lo regressar ao combate, e ajuda-o a vencê-lo. O significado social deste episódio é evidente: o fundador da nacionalidade devia o seu poder aos nobres.
(…)
Depois de expulsar o conde de Trava e os seus homens, Afonso Henriques concedeu, decerto, algumas benesses aos seus colaboradores, mas estas, se existiram, deixaram poucos vestígios na documentação até hoje preservada. Com efeito, os primeiros diplomas por ele emitidos não favorecem a nobreza mas a Igreja. Destinam-se, em primeiro lugar, a pobres eremitas e a um mosteiro quase desconhecido nas terras de Neiva e Barcelos. Dir-se-ia que o Infante pretende, antes de mais, obter a protecção divina por meio dos privilégios concedidos aos monges mais austeros.
(…)
Assim os primeiros anos do governo afonsino decorrem sob a dupla tutela dos ricos-homens nortenhos que asseguraram a vitória de São Mamede, e do clero que obedecia ao arcebispo de Braga.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”,”A relação com a nobreza”, “A relação com o clero”, pgs. 47/49 (14).

Fotografia de Hélder Gonçalves


sexta-feira, maio 31

Variações

Experiência II

Quero de ti o corpo
seio ventre aberto

Quero o beijo de ti
sei do sexo ao certo

Quero de ti isso
o lugar exacto só

Quero a mão agora
logo não sei já

Que não quero sei
é perder-me aqui

Mas perder-me sei
Ao certo que me quero

Quero aonde ser
nada mais senão eu

Agora já sabes
o que eu quero

Eu é que não sei!

6/11/1980


[In Primeiros Poemas, edição de autor, Dez. 2007]

quarta-feira, maio 29

EVIDÊNCIAS VI

Concluí pela manhã o 6º soneto.

VI

Ambígua identidade, incauto amor
que o vento esculpe em pedras do deserto
como as que, vagas, pelo mar incerto
o mesmo vento aos areais conduz;

serena insaciedade, ausente ardor,
limiar a que a não-vida a descoberto
assoma viva qual se fôra perto
a fímbria clara exposta a contra-luz;

marcado e repetido, ou imperceptível
e como que perene, o suceder
das coisas, cujo ser é noutras ser
a forma contornada e previsível;

- demoram-se as estátuas, e quebradas
serão tristeza de outras não talhadas.


Jorge de Sena

21-2-1954

segunda-feira, maio 27

A primeira coisa é não desesperar




“As amendoeiras”: (…)
A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. “O trágico”, dizia Lawrence, “deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade”. 


Albert Camus, in Núpcias, O Verão

domingo, maio 26

EVIDÊNCIAS V




O dia inteiro lutando com um 5º soneto. O que foi dolorosamente interrompido pela visita dos pais do Lemos* - que ouvi suspenso na aparência amável e divertida, mesmo simpatizando porque o estimo muito. Excelente a anedota autêntica de a Estrela Faria ter “ganho” na Bienal o prémio que o amante dela, um brásio rico, inventou com o próprio nome … e pagou (10 contos). Depois num aflitivo esforço de concentração, o soneto organizou-se, e terminei-o inteiramente outro do que planejara ou supusera que ele seria. E, enquanto escrevo, ouço a espectacular mas emocionante Rapsódia Hebraica de Block, para violoncelo e orquestra. Aprecio neste compositor a veemência e uma certa facilidade dramática que faltam, tão francamente sentimentais, em quase todos os modernos.
Envolvido no Zaratustra, de Strauss, sai-me o esperado soneto das galáxias (para o que refolheara o Eddington – ó eruditos do piolho catado!).


*Refere-se, certamente, aos pais de Fernando Lemos que, em 1953, havia emigrado para o Brasil.

V

Na antiga e fácil pátria da amargura
com qual quais chegam vossas vozes vão
quebrando as ondas minha voz mais pura
só de ter visto o mesmo coração

que como exílio fora não perdura,
eis-me silêncio arrebatado e não
nenhuma ausência ou extrema formosura
de um Deus que volta em pompa e escuridão.

Desnudo e em sangue, ai que não volta: existe
suspenso a vosso lado, e o duplo sexo
goteja embora no pudor perplexo
com que O não vedes na paisagem triste.

Eis-me que apenas me roubais quem sois:
se Deus deseja é desejar por dois.

Jorge de Sena

20-2-1954

sábado, maio 25

POLÍTICA (9)

Mais do que acontece nas épocas de abundância (mesmo aparente) a política é mais importante nas épocas de carência. Não tenho à mão qualquer manual mas pululam os escritos, e reflexões, acerca da arte da política de tantos autores consagrados de todas as épocas. E ocupa um lugar central na minha cabeça, acerca da política, a palavra compromisso, tantas vezes glosada em todos os tempos. A diferença que habita em todo o lugar em que o homem vive e luta, no interior e exterior de si próprio, exige o permanente exercício do compromisso. Dos pequenos aos grandes interesses, dos pequenos aos grandes gestos, viver em comum, como nos cumpre viver na sociedade civilizada do nosso tempo, exige aos políticos, nas decisões que dizem respeito a toda a comunidade, exercer a capacidade dos compromissos, respeitando as diferenças.

quinta-feira, maio 23

AS EVIDÊNCIAS IV


Um 4º soneto, que apareceu a correr pouco antes de eu ir para S. Carlos ouvir a Electra …

IV

Da solidão que o vosso mal povoa
de monstruosas mãos e duros dentes,
lá onde agudo só um latido ecoa,
e o amor se esconde em piolhosos pentes;

Do vácuo fedorento, excrementício,
com que de roubos vosso rasto acaba
idêntico a vós próprios desde o início,
que desde sempre foi a mesma baba;

Da solidão que dais e que roubais,
do vácuo que levais e que deixais,
do pavoroso nada que imitais
quando cobris dos ouropéis legais

o horror de estardes sós em companhia –
o mal que sois em mim se refugia.


Jorge de Sena

15-4-1954*

[*Nos Diários a referência ao 4º soneto surge a 20 de Fevereiro pelo que a data acima, inscrita na 2ª edição de Poesia I é, declaradamente, uma gralha devendo ler-se 20-2-1954.]

Morreu Georges Moustaki

quarta-feira, maio 22

POLÍTICA (8)

As grandes instituições internacionais da área financeira suponho que não são dirigidas por santos, com voto de castidade e/ou de pobreza nem tal seria exigível - e ainda bem. O FMI tem alcançado os píncaros na prova ou, no mínimo, de indícios da tentação para a venalidade dos seus máximos expoentes. Não que saiba mais do que é do domínio público, nem especule em vão, pois os casos andam de tribunal em tribunal e de escândalo em escândalo, à força da evidência dos pecados da carne e dinheiro ou, ao menos, de seus fortes indícios. Pecados quem os não tem? Mas os presidentes do FMI, uma espécie única no mundo de presidentes do dinheiro, deveriam ostentar, pelo contrário, não a santidade mas, ao menos, a parcimónia nos usos e costumes. Banalizar esta acção da justiça francesa e tomar a protagonista da mesma como uma vulgar cidadã do mundo é um pouco excessivo!

terça-feira, maio 21

AS EVIDÊNCIAS III

13

Esta manhã, 3º soneto que me fez chegar ao meio -dia à repartição.

III

Que coisas sois? – se sois como que gente,
se as vozes imitais, se olhando olhais,
se os gestos de fingir com que adorais
os mesmos são de a vida estar presente?

Que coisas sois? – que o mundo humanamente
entre vós e vós próprios limitais?
Se é de outrem essa morte que matais
quando morreis temendo-a frente a frente?

Que coisas sois? – Menos que humanos, vis,
viscosos, fluidos e crustáceos, cães
paridos sem pecado pelas mães
que o súcubo emprenhou, sois de raiz

facas sem lâmina a que falta o cabo,
que a quem se abaixa se lhe vê o rabo.

13-2-1954

Jorge de Sena

segunda-feira, maio 20

ÁLVARO CUNHAL

Acabei de ver na TVI uma reportagem acerca de facetas menos políticas da vida de Álvaro Cunhal. Uma peça bem-feita tanto quanto é possível retractar facetas da vida de um mito. Não sou eu, nesta breve nota, que desmentirei as suas qualidades humanas, artista com obra de inegável qualidade, embora céptico acerca das virtudes da sua acção politica. Mas é uma vantagem inigualável da democracia que haja liberdade para que se possam evocar aqueles que nela desempenharam um papel relevante seja qual for o nosso ponto de vista acerca da bondade desse papel. Lembrei-me, a propósito destas memórias de família de Cunhal, que tenho comigo uma cópia dactilografada – senão mesmo o original tal a qualidade do exemplar – de uma obra de seu pai, Avelino Cunhal, a peça “Ajuste de Contas”, de Maio de 1946, com uma nota prévia de L.F.R. (que só pode ser Luis Francisco Rebelo). Vá lá saber-se a razão!           

domingo, maio 19

POLÍTICA (7)

Esta é uma daquelas crises que chegou ao ponto de tornar banal uma recente afirmação do líder do principal partido da oposição: "Estamos metidos numa grave crise. Numa crise social, numa crise económica, numa crise política, e estas três crises somadas podem dar origem a uma crise de regime." Sublinho que foi dito, preto no branco, “uma crise de regime”, ou seja, do regime democrático. Outros responsáveis nacionais, de todos os quadrantes políticos, e ideológicos, o têm dito com mais ou menos ênfase, dramatismo, tranquilidade ou alarme. Eis uma boa questão para discutir amanhã no Conselho de Estado. E estou certo que a sua discussão ocupará uma boa parte do conclave.

sábado, maio 18

POLÍTICA (6)

Vejo imagem de reuniões partidárias, (cada vez mais afastadas do público), ouço declarações políticas iguais semanas a fio, (daqui a quatro meses ocorrem as eleições na Alemanha), os políticos comentaristas comandam a formação da opinião pública (como se os políticos eleitos sentissem a necessidade de delegar a palavra!), as coligações são exercícios difíceis, como os casamentos, (exigem momentos de exaltação e silêncios profundos), Alegre afirmou numa entrevista que a esquerda não serve para nada, (ele, não sei!), a UGT reorienta a sua linha de acção, (prenúncio de novos tempos políticos? Proença confirma entrando para a direcção do PS), a chanceler alemã é recebida pelo Papa, (filha de padre luterano busca a bênção do chefe dos católicos – gestos simbólicos!), D. Clemente vai assumir o Patriarcado de Lisboa, (um dia travou um debate com Saramago na televisão, aliás muito interessante …) Amanhã é um novo dia!

AS EVIDÊNCIAS - II

Prosseguindo a publicação dos 21 sonetos de “As Evidências”. Nos “Diários” de Jorge de Sena surge, no dia 12 de Fevereiro de 1954, a seguinte anotação: “Das 24 à 1.15, um segundo soneto.” É este:


II


Desta vergonha de existir ouvindo,
amordaçado, as vãs palavras belas,
por repetidas quanto mais traindo
tornadas vácuas da beleza delas;

desta vergonha de viver mentindo
só porque escuto o que dizeis com elas;
desta vergonha de assistir medindo
por elas as injúrias por trás delas

ao mesmo sangue com que foram feitas,
ao suor e ao sémen por que não eleitas
e à simples morte de chegar-se ao fim;

desta vergonha inominável grito
a própria vida com que às coisas fito:
Calai-vos, ímpios, que jurais por mim!


12-2-1954


[No dia 15 de Fevereiro escreveu referindo-se a um encontro com Adolfo Casais Monteiro com quem tinha estado no café: “Dos sonetos em curso, que lhe li, gostou dos dois primeiros e menos do terceiro.” ... que virá a seguir.]