sábado, novembro 11

PS - UM CONGRESSO PARA QUÊ?

Posted by Picasa Marilyn Monroe

O Congresso do Partido Socialista começou, ontem, em Santarém. Num regime democrático, assente em partidos políticos, este é um acontecimento importante. O PS, além do mais, é o partido maioritário dispondo, pela primeira vez, de uma maioria absoluta de deputados na Assembleia da República.

É estranho, convenhamos, que as eleições internas, que antecederam o Congresso, tenham tido os resultados que tiveram. O SG foi eleito com quase 100% dos votos e nenhuma outra moção, senão a sua, obteve o mínimo de apoios para poder ser aceite, sem apoios de última hora, à discussão no Congresso. Parece um facto comum mas é bom assinalar que não é normal.

Alegre que poderia polarizar uma corrente de opinião, após o episódio das presidenciais, afastou-se ao ponto de pôr em questão a sua presença no Congresso. Criou-se, no PS, como que um deserto em torno de Sócrates. O exercício do poder executivo, em época de austeridade, exige uma liderança forte mas é de todo improvável que saia beneficiado pela inexistência de alternativas, internas e externas, e pela redução do debate a um favor de circunstância.

Este Congresso, reduzido a um mero palco para a reafirmação da liderança de Sócrates, não augura nada de bom, nem para o PS, nem para o país.

Pelo que vi Sócrates, na abertura do Congresso, foi preciso e conciso. Só não entende o discurso político do líder do PS quem não quiser entender. O que ele quis dizer é que mais vale correr riscos desagradando na acção do que obter simpatias agradando na paralisia.

É estreita a margem de manobra para a política que está a ser prosseguida. Qualquer outro governo responsável teria de seguir um caminho muito próximo deste. O problema essencial não está nas políticas que se nutrem da legitimidade de compromissos externos e do cumprimento de profundas – e sempre adiadas – reformas internas.

O problema está na qualidade dos políticos, a todos os níveis, das razões e fundamentos que presidem às suas decisões, nos processos adoptados e nos interesses prosseguidos, no “miolo” dos aparelhos, nas relações entre os grupos que sustentam as clientelas, do modelo e da prática da fiscalização da acção do governo, ou seja, o problema está na própria qualidade da democracia.

Uma democracia da qual emerge, a nível partidário, uma maioria de quase 100% só pode suscitar interrogações e perplexidades. Este Congresso serve para quê? Dar mais força a Sócrates? Ainda mais? Pode ser perigoso para o próprio!

Lembrei-me que fui candidato, pelo PS, nas eleições legislativas de 1985 (e de 1987), no período, pós austeridade, que antecedeu a adesão de Portugal à UE e as maiorias absolutas de Cavaco. Não aconselho a ninguém a experiência política de participar em campanhas eleitorais nesses períodos pós austeridade.

E lembrei-me de um belo – e antigo – slogan do PS: “Dar mais força à liberdade”. A questão central que se coloca aos socialistas de hoje, nos quais me incluo, é a mesma de sempre: como conciliar justiça e liberdade? Será que neste Congresso vai ser dedicada uma única linha ao tema?

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