No outro dia num pequeno café/restaurante aqui
para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da
gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma
especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida.
Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de
condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em
todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da
sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha
mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de
gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A
minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir.
Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e
aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do
pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
[Post de novembro de 2009, dedicado à minha cunhada Bel. O bolo de gila era o favorito de minha mãe e, apropósito, uma pequena história revelando o seu caráter. Um dos postes mais lidos deste blogue desde que existe contagem e, além do mais, um dos mais felizes (para mim).]
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