quarta-feira, dezembro 19

9 ANOS

Fotografia de Hélder Gonçalves
 
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.

(um programa para o absorto)

3 comentários:

António P. disse...

Bom dia Eduardo,
e parabéns, 9 anos é bonito.
E em tempos sombrios é bom saber encontrar locais de luz.
Um abraço

Anónimo disse...

Muitos parabéns! 9 anos é muito tempo!

Catatau disse...

Há tempos não passo por aqui, Eduardo, o que é perda para mim de não ver as belas referências e considerações.

Agora, retornando, vejo o aniversário. Longa vida ao Absorto!

um grande abraço e feliz ano novo,