segunda-feira, dezembro 10

O MEU PAI À JANELA DA CASA ONDE NASCI


[Fotografia anterior a 1955, colhida na Rua Coelho de Melo, em Faro.]

 O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.

Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.

A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.

A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
 
[Um dos posts de família, este de 12 de dezembro de 2006, através dos quais, sempre com um prazer muito especial, me reconcilio com a memória.]

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Janelas da vida...lembrei da minha ....ficava debruçada com meu pai,contando os carros ou soltando barquinho de papel em dias de chuva...