Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, novembro 23
ARIEL SHARON -78 ANOS
O Prof. Marcelo, na sua “conversa em família”, no domingo passado, fez uma alusão à idade do Dr. Soares. Como quem diz: presidentes candidatos com esta idade nunca houve… é esta a ideia. Já se sabe qual é a lógica e o objectivo da referência.
O General Norton de Matos, em 1949, por acaso, candidatou-se à presidência, com 80 anos, num contexto político com inaceitáveis limitações à liberdade, próprias de uma ditadura. Mas um reputado jurista, como o Prof. Marcelo, devia saber que essas eleições foram, formalmente, realizadas por sufrágio directo e não indirecto.
Mas o facto mais interessante e actual, a propósito de idades de candidatos, é o caso de Ariel Sharon. Como resultado das eleições internas no Partido Trabalhista Israelita o governo de Sharon caiu. O que fez Sharon? Lançou-se na criação de um novo partido e prepara-se para concorrer às próximas eleições que vão ocorrer em 28 de Março próximo.
O seu novo partido, antes mesmo de ser criado, já vai à frente nas sondagens.
Sabem qual é a idade de Sharon? 78 anos! O que é que acham, ainda por cima, para concorrer a uma função executiva? Sabem que o que sempre contou nos líderes políticos é o seu carisma e a vontade de combater!
Ariel (“Arik”) Sharon was born at Kfar Malal on February 27, 1928. He served in the IDF for more than 25 years, retiring with the rank of Major-General. He holds an LL.B in Law from the Hebrew University of Jerusalem (1962).
O General Norton de Matos, em 1949, por acaso, candidatou-se à presidência, com 80 anos, num contexto político com inaceitáveis limitações à liberdade, próprias de uma ditadura. Mas um reputado jurista, como o Prof. Marcelo, devia saber que essas eleições foram, formalmente, realizadas por sufrágio directo e não indirecto.
Mas o facto mais interessante e actual, a propósito de idades de candidatos, é o caso de Ariel Sharon. Como resultado das eleições internas no Partido Trabalhista Israelita o governo de Sharon caiu. O que fez Sharon? Lançou-se na criação de um novo partido e prepara-se para concorrer às próximas eleições que vão ocorrer em 28 de Março próximo.
O seu novo partido, antes mesmo de ser criado, já vai à frente nas sondagens.
Sabem qual é a idade de Sharon? 78 anos! O que é que acham, ainda por cima, para concorrer a uma função executiva? Sabem que o que sempre contou nos líderes políticos é o seu carisma e a vontade de combater!
Ariel (“Arik”) Sharon was born at Kfar Malal on February 27, 1928. He served in the IDF for more than 25 years, retiring with the rank of Major-General. He holds an LL.B in Law from the Hebrew University of Jerusalem (1962).
terça-feira, novembro 22
Romance
Paula Rego - Assumpção
“Romance. Quando a sopa da noite tardava, era porque na manhã seguinte havia execuções.”
Albert Camus
“Romance. Quando a sopa da noite tardava, era porque na manhã seguinte havia execuções.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Continuação) – 1948 – 1951. Tradução de António Ramos Rosa. Edição “Livros do Brasil”. (A partir de “Carnets II”, 1964, Éditions Gallimard).
Por esta época era Camus já um autor de sucesso e tanto assim é que, no Outono de 1947, se falava nele como candidato ao Prémio Nobel. No ano de 1948, em colaboração com Jean-Louis Barrault, cria a peça “O Estado de Sítio” que, tal como a que a antecedeu (“O Equívoco”) não alcançou grande sucesso. É conhecida a sua forte ligação sentimental à actriz Maria Casarès que participa nos elencos destas peças.
No verão de 1949 realiza uma viagem por vários países da América do Sul tendo sobrevindo uma recidiva da sua doença pulmonar. De regresso, doente, termina a peça “Os Justos” e, em breve, retira-se para o sul de França onde nasce o seu ensaio de referência “O Homem Revoltado”, publicado em 1951, que vinha sendo preparado desde os tempos da guerra.
O início da releitura deste Caderno nº 5 (continuação) criou em mim uma vontade, irrealizável, de o transcrever na íntegra. Foi neste Caderno que mais sublinhados, e mesmo anotações, pude encontrar resultantes da minha primeira leitura de juventude, pelos meus 20 anos. Esses sublinhados foram transcritos, aliás, no blogue Cadernos de Camus. Não os irei repetir.
Por ora fica o fragmento inaugural deste Caderno nº 5 (continuação) que, na edição portuguesa, da “Livros do Brasil, integra o volume intitulado “Cadernos III” (que me custou 15$00) sendo assinalável o facto do autor da tradução ser o grande poeta português, António Ramos Rosa. Um privilégio.
Por esta época era Camus já um autor de sucesso e tanto assim é que, no Outono de 1947, se falava nele como candidato ao Prémio Nobel. No ano de 1948, em colaboração com Jean-Louis Barrault, cria a peça “O Estado de Sítio” que, tal como a que a antecedeu (“O Equívoco”) não alcançou grande sucesso. É conhecida a sua forte ligação sentimental à actriz Maria Casarès que participa nos elencos destas peças.
No verão de 1949 realiza uma viagem por vários países da América do Sul tendo sobrevindo uma recidiva da sua doença pulmonar. De regresso, doente, termina a peça “Os Justos” e, em breve, retira-se para o sul de França onde nasce o seu ensaio de referência “O Homem Revoltado”, publicado em 1951, que vinha sendo preparado desde os tempos da guerra.
O início da releitura deste Caderno nº 5 (continuação) criou em mim uma vontade, irrealizável, de o transcrever na íntegra. Foi neste Caderno que mais sublinhados, e mesmo anotações, pude encontrar resultantes da minha primeira leitura de juventude, pelos meus 20 anos. Esses sublinhados foram transcritos, aliás, no blogue Cadernos de Camus. Não os irei repetir.
Por ora fica o fragmento inaugural deste Caderno nº 5 (continuação) que, na edição portuguesa, da “Livros do Brasil, integra o volume intitulado “Cadernos III” (que me custou 15$00) sendo assinalável o facto do autor da tradução ser o grande poeta português, António Ramos Rosa. Um privilégio.
O Novo Aeroporto da Ota
Paula Rego – No Deserto
Afinal os estudos existem, anos e anos de estudos, decénios de estudos! O que custa realizar uma obra estruturante e estratégica para o futuro do país. Tal como as outras grandes obras públicas do passado – mais ou menos longínquo – um drama, uma tragédia num país cheio de gente mesquinha, que anda sempre a espreitar para a janela do vizinho e a valorizar o que não tem importância nenhuma, para desvalorizar o que tem verdadeira importância. Haja a Deus!
Mário Lino: aeroporto fora da Ota poderia inviabilizar fundos comunitários
Afinal os estudos existem, anos e anos de estudos, decénios de estudos! O que custa realizar uma obra estruturante e estratégica para o futuro do país. Tal como as outras grandes obras públicas do passado – mais ou menos longínquo – um drama, uma tragédia num país cheio de gente mesquinha, que anda sempre a espreitar para a janela do vizinho e a valorizar o que não tem importância nenhuma, para desvalorizar o que tem verdadeira importância. Haja a Deus!
Mário Lino: aeroporto fora da Ota poderia inviabilizar fundos comunitários
JFK
Jackie grieves beside her husband's grave on November 25, 1963, the day he was laid to rest. She holds the flag that covered the president's coffin during the procession from Saint Matthew's Cathedral to the cemetery.
Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.
Veja aqui e aqui e aqui
Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.
Veja aqui e aqui e aqui
segunda-feira, novembro 21
Cavaco e Soares - um abismo de diferenças num caminho estreito
Fotografia Isabel Ramos
Cavaco é um político à força; Soares um político natural. Cavaco não respira política; Soares é um político instintivo. Cavaco representa o “pequeno Portugal”; Soares é um político universal. Cavaco representa o “império da terra”; Soares o “império do mar”. Cavaco é um símbolo de autoridade; Soares um sinal de desafio. Cavaco é o sonho antigo do “Portugal Maior”; Soares é a esperança futura de um “Portugal Melhor”.
Cavaco é um político à força; Soares um político natural. Cavaco não respira política; Soares é um político instintivo. Cavaco representa o “pequeno Portugal”; Soares é um político universal. Cavaco representa o “império da terra”; Soares o “império do mar”. Cavaco é um símbolo de autoridade; Soares um sinal de desafio. Cavaco é o sonho antigo do “Portugal Maior”; Soares é a esperança futura de um “Portugal Melhor”.
Jogando a sua palavra na batalha presidencial, Soares prestigia a democracia. Resguardando a sua palavra, Cavaco desprestigia a democracia. Afirmando-se acima dos partidos Cavaco hostiliza a política; Prestigiando o apoio do PS Soares valoriza a política. Cavaco podia ser um bom primeiro-ministro se já o não tivesse sido; Soares poderá ser um bom presidente da república porque já o foi.
Tudo depende, afinal, de haver uma segunda volta nas presidenciais.
A idade da reforma e o tempo de trabalho ...
Fotografia José Marafona
A propósito das anunciadas reformas do “estado social” na Alemanha, com prováveis aumentos do horário de trabalho e da idade de reforma, acima dos 65 anos, [e as notícias da Alemanha são sempre marcantes na marcha da história europeia] ocorreu-me, a propósito do “aumento da idade da reforma”, partilhar algumas reflexões.
A propósito das anunciadas reformas do “estado social” na Alemanha, com prováveis aumentos do horário de trabalho e da idade de reforma, acima dos 65 anos, [e as notícias da Alemanha são sempre marcantes na marcha da história europeia] ocorreu-me, a propósito do “aumento da idade da reforma”, partilhar algumas reflexões.
Tenho, porventura, uma estranha concepção acerca deste tema que se discute, hoje, em todas as sociedades ocidentais por influência da crise do chamado “estado previdência” por sua vez fundada, entre outros factores, no “envelhecimento demográfico”.
A minha concepção é muito simples de explicar: acho que se deve trabalhar até ao fim da vida. Para evitar mal entendidos dou como adquirido que o direito à reforma é uma aquisição civilizacional da Europa do pós-guerra, que deve ser defendida, contra todas as tentações ultra liberais.
Mas acrescento que essa defesa só será possível, e consequente, se o direito à reforma, assim como os benefícios associados, forem concedidos no fim efectivo da vida laboral ou, a título excepcional, por razões de incapacidade física ou outra.
Esta concepção pode parecer um pouco bizarra para alguns mas é, no fundo, este o conceito original que informou o princípio criador do “estado previdência”. Por outro lado é influenciada pela minha experiência pessoal e familiar.
Sendo oriundo de uma família na qual, em qualquer dos ramos, são raros os funcionários públicos, habituei-me a conviver com pequenos agricultores e comerciantes que trabalharam até ao fim das suas vidas.
Os meus avós, os meus pais, o meu irmão trabalharam até ao fim. O meu sogro igualmente. (Todos falecidos). Os seus “direitos adquiridos” eram a sua capacidade e vontade de trabalhar. Eu, apesar de funcionário público, vou pelo mesmo caminho.
Desculpem, pois, esta incapacidade cultural em entender as razões da luta contra o prolongamento da idade de reforma pois acho que, em princípio, não devia haver uma idade para a reforma, mas, simplesmente, uma repartição do trabalho entre todos sobre a qual havia de repousar a repartição das poupanças do rendimento desse trabalho a distribuir solidariamente entre uma minoria que não pudesse já trabalhar.
Com mais ou menos requinte técnico, mais dia, menos dia, será este o modelo do nosso futuro “estado social”. Um novo conceito de tempo de trabalho, precisa-se!
domingo, novembro 20
A Candidatura de Norton de Matos (1949)
Possuo na minha pequena biblioteca quatro livros do General Norton de Matos. Os temas neles tratados só aparentemente são arqueológicos. Os livros são:
- “Os Dois Primeiros Meses da Minha Candidatura à Presidência da República” Edição de Autor (1949);
- “Mais Quatro Meses da Minha Candidatura à Presidência da República” Edição de Autor (1949);
- “Memórias e Trabalhos da Minha Vida” – Volumes I e II – Editora Marítimo Colonial Lda. (1944);
Já uma vez falei neles, ou parte deles, mas o contexto político era outro. O que fez mudar a situação é o facto de o Dr. Mário Soares se ter candidatado à Presidência da República tal como aconteceu com Norton de Matos.
O General Norton de Matos, à data da sua candidatura, também tinha 80 anos (nasceu em 23 de Março de 1867) e, segundo o seu relato, foram a “grandeza e o inesperado das felicitações” pela passagem dos seus 80 anos, em Março de 1947, que o levaram a considerar a candidatura presidencial. Curiosamente foi desenhado por Júlio Pomar tal como havia de acontecer, posteriormente, com Mário Soares.
A campanha eleitoral começou, oficialmente, a 3 de Janeiro de 1949, e as eleições realizaram-se em 13 de Fevereiro, tendo o general Carmona sido reeleito e Norton de Matos desistido no dia anterior. A próxima campanha eleitoral começará também em Janeiro e a segunda volta, caso se realize, decorrerá num dia próximo de 13 Fevereiro de 2006.
Mário Soares (aos 22 anos) foi membro da “Comissão dos Serviços Centrais da Candidatura” de Norton de Matos de que faziam parte, entre outros, o Prof. Mário de Azevedo Gomes, Dr. Luís da Câmara Reis, Engº Tito de Morais, Dr. Jacinto Simões, Rodrigo de Abreu e Lima e Manuel Mendes.
É claro que os tempos mudaram. Hoje não há ditadura nem se desenham no horizonte perigos para o regime democrático. Mas uma candidatura no contexto da democracia portuguesa contemporânea, ao contrário daquele tempo, em que se constituía como um acto corajoso de resistência à ditadura, tem a vantagem extraordinária de exigir o debate, o confronto livre de ideias, de dispor de uma imprensa livre e de se resolver pelo voto universal e directo, em liberdade, dos portugueses.
Norton de Matos desistiu, tantos eram os entraves a uma candidatura democrática, tolerada pela ditadura, mas Mário Soares não desistirá apesar de Cavaco assumir, subliminarmente, uma postura de “candidato único” papel que Carmona desempenhou, na perfeição, em 1949.
sábado, novembro 19
Soletro
Scarlett Johansson
soletro a palavra dor
deslizando pela memória
iluminada por um fio de luz
amor
soletro a palavra amargura
a tempo ainda de uma carícia
ao acaso perdida na claridade
pura
soletro a palavra esperança
para que vivas e me lembres
silêncio desmedido que não
cansa
soletro a palavra ternura
agora que tua voz se apagou
mas o brilho dos teus olhos
perdura
In “Ir Pela Sua Mão” Editora Ausência – 2003
soletro a palavra dor
deslizando pela memória
iluminada por um fio de luz
amor
soletro a palavra amargura
a tempo ainda de uma carícia
ao acaso perdida na claridade
pura
soletro a palavra esperança
para que vivas e me lembres
silêncio desmedido que não
cansa
soletro a palavra ternura
agora que tua voz se apagou
mas o brilho dos teus olhos
perdura
In “Ir Pela Sua Mão” Editora Ausência – 2003
sexta-feira, novembro 18
WIM WENDERS
"Acabo de entrevistar Wim Wenders para o Milênio da Globo News e tenho que contar para alguém! Estou que nem aquele cara da piada que come a Sharon Stone numa ilha deserta e manda ela se vestir de homem porque ele precisa ter alguém pra contar. Eu tenho o blog...
Ele contou que teve um sonho esta noite. Sonhou que estava acontecendo uma revolução aqui na América, todo mundo na rua. O povo americano tinha acordado de repente para o fato de que não tinha mais nenhum poder e resolvido acabar com isso. E ele estava no meio. Mas de repente se tocou que só podia ser um sonho e acordou.
Contou que quando era garoto na Alemanha, os outros meninos tinham no quarto posters de cinema. E ele tinha posters de Brasília.
Achava que a construção de Brasília era a maior aventura da história da humanidade. O sonho dele era conhecer Brasília, o que finalmente conseguiu. Não entende porque os brasileiros não gostam de Brasília. Ele continua adorando.
Perguntei por que ele gosta tanto de Portugal: por causa da inocência dos portugueses."
DIFERENTE ... OU TALVEZ NÃO!
“Colecção Mário Soares” – Museu do Chiado
“A campanha de Cavaco Silva é diferente de todas as outras.” Diz José Pacheco Pereira no Abrupto, reproduzindo artigo do “Público”.
Diria que todas, e cada uma, das campanhas são diferentes das outras. O problema que valeria a pena assinalar, e onde está toda a diferença, é que o Cavaco de hoje não é diferente do Cavaco de há dez anos atrás. É a sua desvantagem. Por isso os seus consultores o aconselham a que não apareça e fale o menos possível.
Com Soares acontece o contrário. O Soares, de hoje, é diferente do Soares de há 10 ou 20 anos atrás. Por isso os seus consultores o aconselham a que apareça muito e fale todos os dias.
É a diferença entre quem acompanha a evolução da história correndo os riscos inerentes à mudança e quem estagnou, não mudou nada, rigorosamente nada, permanecendo impermeável à mudança.
Quanto à tentativa de colar Soares a uma imaginária candidatura do Bloco de Esquerda é mais própria de um propagandista do que de um historiador. É uma verrina (*) transformada em argumento.
(*) “Censura ou exprobação violenta contra alguém feita em geral em discurso público ou por escrito”.
Diria que todas, e cada uma, das campanhas são diferentes das outras. O problema que valeria a pena assinalar, e onde está toda a diferença, é que o Cavaco de hoje não é diferente do Cavaco de há dez anos atrás. É a sua desvantagem. Por isso os seus consultores o aconselham a que não apareça e fale o menos possível.
Com Soares acontece o contrário. O Soares, de hoje, é diferente do Soares de há 10 ou 20 anos atrás. Por isso os seus consultores o aconselham a que apareça muito e fale todos os dias.
É a diferença entre quem acompanha a evolução da história correndo os riscos inerentes à mudança e quem estagnou, não mudou nada, rigorosamente nada, permanecendo impermeável à mudança.
Quanto à tentativa de colar Soares a uma imaginária candidatura do Bloco de Esquerda é mais própria de um propagandista do que de um historiador. É uma verrina (*) transformada em argumento.
(*) “Censura ou exprobação violenta contra alguém feita em geral em discurso público ou por escrito”.
quinta-feira, novembro 17
Exemplo
“Para que um pensamento modifique o mundo, é preciso antes de mais nada que modifique a vida daquele que o assume. É preciso que se transforme em exemplo.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
quarta-feira, novembro 16
Norton de Matos por Júlio Pomar
Norton de Matos por Júlio Pomar
Este desenho do General Norton de Matos, que serviu de ilustração a dois livros acerca da sua candidatura presidencial de 1949, é da autoria de Júlio Pomar.
Pomar é o mesmo autor do desenho de Mário Soares que ilustra o catálogo da exposição da sua colecção particular assim como de outros retratos, incluindo o que integra a galeria dos Presidentes da República.
(Continua)
VIVA VIEIRA!
Post dedicado ao meu filho.
Nas eleições legislativas de 1987 fui candidato pelo PS, integrando a lista de Lisboa, em lugar não elegível. Tinha aderido em 1986. Era Secretário-geral Vítor Constâncio.
Uma das iniciativas de campanha foi a criação do “Espaço Camões”, em Lisboa, organizado na respectiva Praça. A Margarida Marques e eu próprio fomos os organizadores e animadores dessa iniciativa inovadora. Nela se realizaram muitos e desvairados acontecimentos desde debates até eventos destinados a dar visibilidade pública a novos criadores em diversas áreas de actividade cultural nacional.
O espaço também acolheu um concerto dos "Ena Pá 2000", em início de carreira. Que grande concerto!
Percebi que a nomenclatura do PS ficou pouco confortável com a coisa e, curiosamente, muitos dos membros da dita nomenclatura ainda são os mesmos.
Eu apoio e voto Soares. Suponho que Soares sempre deve ter achado Constâncio um “chato”, ou seja, uma alta competência técnica destinada a tudo menos à política. O género Cavaco, linha “produto branco”. Deus me perdoe!
O Vieira é um artista de grande gabarito – em diversos géneros – sempre foi candidato presidencial, não o sendo, em todas as eleições. O meu filho – de uma geração muito distante – tem todas as músicas dos "Ena Pá 2000" e ouve-as com devoção. Por isso lhe dedico este post.
VIVA VIEIRA!
terça-feira, novembro 15
Amorfia
segunda-feira, novembro 14
Sedução
"je baise la fièvre de ton visage"- R.Char
um jogo que se joga sem palavras
silêncios que se dizem e se calam
tempo de sabedoria que os acasos
assinalam
sabia que a procura se não escolhe
o rosto iluminado é palavra omissa
sedução ardente numa só palavra
sussurrada
um esgar doce de olhar magoado
porque não um beijo de despedida
ou um voltar atrás sempre adiado
obrigado
atentos os cheiros de uma tristeza
tantas vezes glosada ou repetida
porta fechada e corpo disponível
abandonado
ali estivemos atentos ao desenlace
na espera do gesto da consumação
de uma arte de buscas e silêncios
consentidos
um tempo de fruir a flor desejada
que não a primavera dos sentidos
mas o denso frémito da sedução
inconsumada
In “Ir Pela Sua Mão”
Editora Ausência – 2003
EDITAL PÓSTUMO
Daniel Cohn-Bendit, leader of the students' strike and more familiarly known as "Danny the Red", addresses a street meeting at the Gare de l'Est, Paris, 14 May 1968
Escrevo na sequência do post “Cavaco” e para matar as saudades de uns quantos tradicionalistas, ou seja, daqueles que vivem paredes-meias com as memórias precisas dos acontecimentos.
A minha memória é selectiva quanto baste e me esquece o mais que não cabe naquela parte do cérebro que o Damásio, por acaso, apoiante de Soares, tem estudado e diz que guarda as memórias segundo critérios que têm a ver com as emoções.
Seja assim, ou não, pouco importa que o que me chamou a este escrito foi uma fúria por ver que o homem se tenta sentar em cima da desmemoria e singra a todo o vento fazendo dos gentios almas parvas.
Um dia – vai para muitos anos – estava a assistir a uma aula do dito cujo no meio da maior das contestações que é possível imaginar – devia ser de finanças públicas que era (e é) a sua única especialidade – ele explicava a coisa com base no exemplo da ilha onde a comunidade era reduzida a um humano, ou a um casal de humanos, já não me lembro muito bem.
Estávamos fartos, como os jovens estão sempre fartos de formalismos e trejeitos autoritários, se forem jovens normais, claro, quando o dito a propósito de uma reivindicação, certamente exagerada, como são todas as reivindicações dos jovens, disse uma mentira cuja já não me lembro qual foi.
O homem, naquele momento, revelou-se, a meus olhos e ouvidos, um mentiroso compulsivo, e apossou-se de mim um desassossego fulminante que deu no que deu, ou seja, numa refrega forte e feia que o fez vacilar e, dizem, cair desmaiado mas eu não vi, ou já não me lembro, pois me debatia nos braços de quem me susteve os ímpetos.
Quem estava presente e assistiu à cena, digna de um filme de acção, a preto e branco, género série B, sabe melhor do que eu descrevê-la, que já mo têm feito, mas eu não acredito em nada do que se passou, passa e passará, com o dito cujo desde a ocorrência do infausto acontecimento.
Fiquei em estado de amnésia intermitente face à criatura – que sofre do mesmo mal mas do ramo político – e fiquei possuído por uma descrença, em geral, acerca do saber dos professores e, ainda mais, dos métodos por eles utilizados. É um clássico na matéria mas, graças a Deus, há excepções.
Toda esta prédica é para dizer que me preocupa, ligeiramente, ter de me assumir como concidadão da mentira elevada à mais alta dignidade do estado.
A pobrezinha da Nação merece melhor, na mais alta magistratura, que mais não seja, alguém, do cuja verdade sempre se possa duvidar, mas que assuma a política pelos cornos, sem vergonha e com coragem, elevando-se ao nível do que ela é, a mais nobre arte de transformar o homem e o mundo.
Desculpai o desabafo. A bem da Nação. Aos 14 de Novembro de 2005.
domingo, novembro 13
MADRIGAL MELANCÓLICO
Ana Cristina Leite - Galeria ad hoc
O que eu adoro em ti
Não é sua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza
O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Mas é o espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas
O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz
O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai
O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza
O que adoro em ti lastima-me e consola-me
O que eu adoro em ti é A VIDA !!!
Manoel Bandeira
CAMUS NA COLECÇÃO DE MÁRIO SOARES
Bernardo Marques (1899-1962) – O Estrangeiro (1954)
Guache sobre papel; inscrição: “colecção miniatura; reduzir e adaptar a formato de edição”. Dedicatória a lápis: “à Dra. Maria de Jesus Barroso e ao Dr. Mário Soares, Janeiro de 1984, João Palma Ferreira”.
Trata-se da maquete para a capa do romance “O Estrangeiro” de Albert Camus, publicado na Colecção Miniatura, Editorial Livros do Brasil, em 1954.
**************
Esta é uma imagem retirada do Catálogo da Exposição “Colecção Mário Soares” efectuada no Museu do Chiado em Fevereiro de1996. Achei curioso encontrar na colecção particular de Mário Soares uma peça referente à obra de Camus embora não seja difícil associar a cultura estética e filosófica de Soares, no essencial, ao pensamento de Camus.
O romance “O Estrangeiro”, o mais celebrado de Camus, foi publicado, originalmente, em Junho de 1942. A sua primeira edição, em Portugal, ocorreu em 1954, ainda antes de lhe ter sido atribuído o Nobel da literatura (1957).
Acerca das críticas ao romance, após a sua edição de estreia, assinalo um apontamento de Camus no Caderno nº 4:
“Da crítica
Três anos para escrever um livro, cinco linhas para o ridicularizar – e citações falsas.”
sábado, novembro 12
MARAN ATHA
PELOS CABELOS
Fotografia de Viktor Ivanovski in XUPACABRAS
Três acontecimentos políticos marcantes dos últimos dias:
(1) Acórdão do Tribunal da Relação pela não prenuncia de Paulo Pedroso, Herman José e Francisco Alves no chamado caso Casa Pia. Aguarda-se que, nos próximos tempos (anos), seja possível conhecer a verdade, em particular, no que respeita à campanha inculcando na opinião pública a imagem de envolvimento de altos ex-dirigentes do PS neste caso de pedofilia incluindo o seu ex-secretário geral Ferro Rodrigues. Vai começar uma nova etapa.
(2) O PSD votou contra o orçamento de estado para 2006. Esta decisão, atenta a natureza e os objectivos deste orçamento, vai custar muito cara, no futuro, ao PSD e à liderança de Marques Mendes. Ou Marques Mendes já sabe do seu destino, caso Cavaco ganhe as presidenciais, ou espera uma longa penitência do PSD na oposição, ou ambas as coisas, e decidiu armadilhar o caminho de quem lhe vier a suceder. Está a acabar uma etapa.
(3) Manuel Alegre, deputado do PS, não compareceu na discussão e votação do Orçamento para 2006. Escudando-se na liberdade que lhe advém do seu estatuto de deputado e na condição de candidato presidencial demarcou-se, de facto, de tomar posição acerca do mais importante documento orientador da política do governo do seu próprio partido. O partido está no seu coração mas ele está fora do coração do partido. Finito.
A IDADE DE MÁRIO SOARES
Raquel Welch
Uma das linhas de ataque a Soares é a sua idade cronológica. Pululam os comentários, explícitos e implícitos, acerca da “velhice” do candidato Soares. Tentam enxergar-se gafes e posturas em Soares que, ao contrário do que se quer fazer crer, não são uma degenerescência originada pela idade mas uma característica própria da sua maneira de ser e intervir politicamente.
Soares é, hoje, igual a ele próprio. De espantar são as gafes de Cavaco – uma por intervenção – enquanto candidato supostamente jovem. A última foi a de se referir às próximas eleições presidenciais como eleições autárquicas. A comunicação social disfarça e assobia mas Cavaco, mesmo sem a pressão do contraditório, está a mostrar as fragilidades gritantes da sua personalidade para o exercício da função presidencial.
Impressiona, por outro lado, a energia de Soares e a sua disponibilidade para se sujeitar à indignidade da linha de ataque assente na questão da idade. A candidatura de Soares servirá, seja qual for o resultado final das eleições, para dar aos portugueses uma lição de dignidade e civismo afirmando, na prática, que todos temos o direito a desempenhar um papel activo na vida em sociedade até ao fim. Esta não é uma atitude neutra nem menosprezável, antes pelo contrário, a assumpção de uma das mais importantes questões civilizacionais do nosso tempo.
Explorar esta linha de ataque a Soares é o maior erro político que, seja quem for, pode cometer. As sociedades em todo o mundo e, em particular, no ocidente, estão a envelhecer a uma velocidade estonteante. Os mais velhos serão a maioria da população e do eleitorado daqui a muito poucos anos.
Os candidatos mais velhos não só, como no caso de Soares, acumulam mais experiência humana e política, como correspondem, cada vez melhor, ao perfil de uma parte significativa do eleitorado.
Não se entusiasmem demasiado com a s virtudes da juventude e a exploração publicitária do seu mito. O mito da juventude, em boa verdade, em particular, no mundo ocidental, agoniza às mãos do chamado “envelhecimento demográfico”.
E não se esqueçam que Mário Soares é um político “matador” e que essa sua característica se não desvaneceu com o tempo antes pelo contrário parece ter-se refinado.
sexta-feira, novembro 11
ARMISTÍCIO
Assinatura do Armistício que pôs fim à Primeira Guerra Mundial em 11 de Novembro de 1918.
Celebra-se hoje o aniversário do armistício que encerrou uma das guerras mais dramáticas da história europeia do século XX. Portugal participou com um corpo expedicionário mas a efeméride, no nosso país, estranhamente, não se comemora!...
Portugal na 1ª Grande Guerra in Portal da História
A Revolta do Corpo
Mónica Bellucci
"Ao fim de dois mil anos de cristianismo, a revolta do corpo. Foram precisos dois mil anos para que de novo surgisse a nudez nas praias. Consequentemente, o excesso. E o corpo reencontrou o seu lugar nos usos. Falta ainda dar-lhe de novo o seu lugar na filosofia e na metafísica. É um dos sentidos da convulsão moderna."
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
quinta-feira, novembro 10
RUY BELO
Descobri, por acaso, também um livro acerca de “Ruy Belo: “Coisas do Silêncio”, de Duarte Belo e Rute Figueiredo, editado pela Assírio e Alvim.
Nele além de fotografias, que “pressupõem a ligação da identidade do poeta à identidade dos lugares”, publicam-se excertos da sua poesia cujo formato se adequa, quase na perfeição, à sua divulgação num blogue. Uma forma de a conhecer sem facilidades torneando os excessos eruditos.
Como se diz no posfácio do livro “Os poemas ou excertos de poemas que integram este conjunto de fotografias, funcionam como o traçado de um processo criativo, ou um “mapa” de visita que nos permite descortinar a face de uma paisagem humana desenhada por gestos suspensos entre palavras.”
“A minha amada chega no ar dos pinhais
cingida de resina vária como o cedro
e a maresia. Levanta-se lábil
e compromete solene o séquito da aurora
Ou vem sobre os rolos do mar
cheia de infância pequena de destino
(…)
"Condição da Terra"
Aquele Grande Rio Eufrates
quarta-feira, novembro 9
MÁRIO SOARES POR JÚLIO RESENDE
Por acaso descobri, perdido por aqui, um livro muito interessante de que já não me lembrava. Um catálogo de uma exposição, em tempos realizada, no "Museu do Chiado" da colecção particular de pintura de Mário Soares. Assim se redescobre o gosto pela arte de um político que, nesta época, vale a pena chamar à atenção.
Juntar a arte da política activa, ao gosto militante pela arte, não é vulgar e podem muitos estar esquecidos dessa faceta de Mário Soares na hora em que está na moda, entre os saudosistas da “verdadeira esquerda” e também, paradoxalmente, da “verdadeira direita”, atribuir esse predicado a Manuel Alegre, aliás, um produtor de um dos seus géneros, a poesia.
Sem demérito para o poeta, na disputa presidencial, prefiro Soares, o político amante da arte, a Alegre, o artista amante da política.
Naquele catálogo da colecção de Mário Soares, entre muitas obras, reparei em três peças que darei a conhecer a começar por este retrato do próprio Soares da autoria de Júlio Resende.
Imortalidade
Fotografia de Angèle
“Não nascemos para a liberdade. Mas o determinismo é também um erro.”
“Que poderia ser (Que é) a imortalidade para mim? Viver até que o último homem tenha desaparecido da terra. Nada mais.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Sexto e sétimo fragmentos iniciais do Caderno nº 5 que transcrevi na íntegra respeitando a sua sequência. As transcrições de fragmentos dos Cadernos, a partir de agora, regressam ao formato habitual – sublinhados da releitura actual.)
terça-feira, novembro 8
Também já fui brasileiro
Fotografia de Angèle
Eu também já fui brasileiro
moreno como vocês.
Ponteei viola, guiei forde
e aprendi na mesa dos bares
que o nacionalismo é uma virtude.
Mas há uma hora em que os bares se fecham
e todas as virtudes se negam.
Eu também já fui poeta.
Bastava olhar para mulher,
pensava logo nas estrelas
e outros substantivos celestes.
Mas eram tantas, o céu tamanho,
minha poesia perturbou-se.
Eu também já tive meu ritmo.
Fazia isto, dizia aquilo.
E meus amigos me queriam,
meus inimigos me odiavam.
Eu irônico deslizava
satisfeito de ter meu ritmo.
Mas acabei confundindo tudo.
Hoje não deslizo mais não,
não sou irônico mais não,
não tenho ritmo mais não.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
BOTICÁRIO AO FUNDO
PAULA REGO - THE VIVIAN GIRLS WITH WINDMILLS
O Dr. Cordeiro, “boticário mor do reino”, desta vez, está “entalado”. Deve estar na expectativa de que Cavaco, caso vença as presidenciais, venha em seu socorro. E quem sabe!...
Não esqueço a campanha miserável que desencadeou contra Ferro Rodrigues, aquando das eleições de 2002, a propósito da proposta de criação das farmácias sociais …
Ele lá sabia porquê. Agora parece que se aproxima do fim o privilégio do lobby das farmácias, em particular, essa faceta de onzeneiro* do Dr. Cordeiro que lhe foi outorgada no tempo dos governos do Prof. Cavaco Silva.
* ”Que é relativo à onzena, à usura, à cobrança de juros excessivos por dinheiro emprestado; …” (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa.)
segunda-feira, novembro 7
TIME
Fotografia in new york on time
Os dias não mudam conforme a nossa vontade
O tempo deles foi marcado algures noutro lado
Os homens não alcançam o ponteiro das horas
O seu espaço é invisível e fora de suas glórias
Lisboa, 24 de Outubro de 2005
ÓDIOS
Hitler und Mussolini am 14. September 1945.
Os presentes acontecimentos de Paris fazem lembrar outros acontecimentos do passado. As revoltas são sempre diferentes conforme a época histórica.
A violência, seja qual for a sua natureza, conduz a dois discursos opostos: o discurso do apaziguamento que os amantes da ordem acusam de fazer o jogo dos revoltosos e o discurso da ordem que os amantes do apaziguamento acusam de acirrar os ódios.
A ordem é um valor estimado e respeitado se servir à maioria. O pior é quando a maioria, em nome da ordem, coloca o poder na mão de bandidos. Cuidado com a “ordem”! Principalmente em nome da ordem pela "ordem", do xenofobismo e do racismo!
Tem acontecido tantas vezes, na história recente, que não há desculpas para quem fraquejar no combate à violência em defesa da democracia. Sem apelos ao ódio e aos ressentimentos.
SOCORRO!
Fiquei assustado a primeira vez que vi este cartaz. Na verdade, não sei porquê, o cartaz é assustador. Não sei mas faz-me lembrar a propaganda de uma força totalitária. Desculpa lá, oh Louçã!
Eu avisei que ia deixar mal impressionados alguns amigos de esquerda com as minhas opiniões e sentimentos acerca das candidaturas presidenciais.
Mas não há paciência nem para o discurso, nem para a imagem, nem para a propaganda do Louçã. Enoja-me. Eu não quero ser olhado, "olhos nos olhos", pelo Louçã!
Como fazer para evitar ser olhado "olhos nos olhos" pelo Louçã? Socorro!
domingo, novembro 6
Razão ...Razões ...
Fotografia de Hélder Gonçalves - RIA DE AVEIRO II
“As pessoas julgam sempre que o suicídio é praticado em nome de uma razão. Mas pode muito bem ser praticado em nome de duas razões.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
(Quinto fragmento integral dos primeiros seis deste Caderno nº 5.)
O gosto é livre, as posses não ...
Paula Rego – Galinhas bebés (série Ovos da Lua), 2005
[gravura e água-tinta, 20 x 21 cm]
Um dia destes esqueci-me dos óculos. Pedi uns emprestados a uma colega. Quase perfeitos na graduação. Mas óculos de mulher. Interessante fenómeno. O seu formato feminino na minha cara não escandalizou ninguém. Ou a minha cara não se deu por achada pelo formato feminino dos óculos.
A minha familiaridade com óculos, aros, hastes, lentes, graduações, dioptrias, miopias, vistas cansadas, bifocais, marcas, formatos e correcções é muito forte. Cresci a ver lidar, no quotidiano, com essa realidade. Um dia, ainda rapaz, atrevi-me a dar uma opinião a uma senhora, bem posta na vida, acerca de uns belos óculos de sol que ela se aprontava a comprar ao balcão por detrás do qual estava o meu pai. Recebi uma resposta seca do género: “meta-se na sua vida!”
E não é que os comprou mesmo. Era uma daquelas peças que, naquele tempo, se vendiam só a gente rica e eu pensava que a gente rica não comprava nada ao balcão. Mandava comprar. Ou que aqueles eram uns óculos apenas de figuração.
Fiquei a saber que não se devem dar conselhos acerca de questões de gosto a ninguém. O gosto é livre, as posses não...
sábado, novembro 5
PRESIDENTES, ELIS E OS EFEITOS COLATERIAS DA DITADURA
Elis Regina
Em Portugal, com respeito a Presidentes da República, excluindo a 1ª República (1910/1926), ninguém se queixa de terem sido demais. É interessante observar o sublime e recolhido regozijo dos portugueses perante a durabilidade dos mandatos presidenciais.
Descontados Gomes da Costa, que “comandou” a “revolução nacional”, em 1926, e de António de Spínola, que “comandou” a de 1974, tendo sido rapidamente descartados, Portugal contou, no exercício da função presidencial, no Estado Novo, desde 1926 a 1974, com três Presidentes da República: Óscar Fragoso Carmona, Craveiro Lopes e Américo Thomás (chefes militares respectivamente das forças de “Terra, Ar e Mar”) e, depois do 25 de Abril, com quatro: Costa Gomes, Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio.
Verdadeiramente só os três últimos foram eleitos, pelo voto livre dos portugueses, preenchendo, em 2006, 30 anos de vivência democrática.
Curiosamente, desde o fim da 1ª República, até aos nossos dias, no decurso de oitenta anos (80) só dois Presidentes foram civis (Soares e Sampaio), ambos eleitos. Todos os outros foram altos chefes militares ou acabaram sendo altos chefes militares (caso de Eanes). Os seus mandatos, em média, foram longos.
Talvez se possa concluir que o progresso da Pátria não tem ganho grande coisa por estar associado ao autoritarismo que esses militares, em contextos diferentes, protagonizaram nem à durabilidade dos seus mandatos. Curioso, não é? Dá para pensar!
(A foto de Elis Regina, retirada do new york on time, nada tem a ver, aparentemente, com o assunto. É que me veio à memória uma cena que nunca mais esqueci e na qual participei. As ditaduras provocam estranhos fenómenos de cegueira, de distorção da realidade e de injustiça na apreciação do papel dos outros em cada momento. Então não é que um belo dia uma entidade ligada à ditadura se lembrou de promover um espectáculo, em Lisboa, com a Elis Regina e o Jair Rodrigues e o movimento estudantil, não sei porque carga de água, metido em brios de revolta, resolveu boicotá-lo. A Elis e o Jair não entendiam nada do que se estava a passar – via-se-lhes nos rostos espantados - mas o que é verdade é que não houve espectáculo. À Elis, lá onde se encontre, e ao Jair, pela parte que me toca, desculpem!)
REVOLTA
Fotografia de Bogdan Jarocki
“Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor …”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
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