W.Horvath: "Spiral of Violence I: Ariel Sharon". Oil on canvas, 50 x 70 cm.
Nunca fui entusiasta das políticas de direita nem dos seus mentores ou executantes. Antes pelo contrário. Não sou, nem nunca fui, sequer um admirador de Sharon.
Mas em todas os tempos houve equívocos na apreciação da acção dos homens. Podemos admirar um homem e detestar a sua política? O tempo permite esquecer e, ao mesmo tempo, matar a paixão que ilude a realidade. Nada de novo.
Sharon é o caso de um homem político nascido na acção, no contexto da crise do Médio Oriente, que na peugada de outros, que o antecederam, tentou encontrar um caminho que está enunciado, no essencial, desde há muito tempo.
Leia-se o que escreveu, nas suas Memórias, Winston Churchill, nos finais dos anos 50:
“A violência contagiosa, ligada ao nascimento do Estado de Israel, vem desde então (1948) agravando as dificuldades do Oriente Médio. Vejo com admiração o trabalho feito ali para construir uma nação, para reconquistar o deserto e para receber inúmeros desafortunados, provenientes das comunidades judaicas do mundo inteiro. Mas as perspectivas são sombrias.
A situação das centenas de milhares de árabes expulsos de suas casas, sobrevivendo precariamente na terra-de-ninguém, criada em torno das fronteiras de Israel, é cruel e perigosa. As fronteiras de Israel estremecem em meio a assassinatos e ataques armados, e os países árabes professam uma hostilidade irreconciliável em relação ao novo estado. Os líderes árabes de maior visão não conseguem enunciar conselhos de moderação sem serem silenciados aos gritos e ameaçados de assassinato. É um panorama tenebroso e ameaçador de violência e loucura ilimitadas.
Uma coisa é certa. A honra e a sensatez exigem que o Estado de Israel seja preservado e que essa raça corajosa, dinâmica e complexa possa viver em paz com seus vizinhos. Eles podem levar àquela área uma contribuição inestimável em conhecimentos científicos, industriosidade e produtividade. Devem receber uma oportunidade de fazê-lo, pelo bem de todo o Oriente Médio.” (*)
O depoimento de Churchill – um conservador - não podia ser mais actual e permite entender a evolução das posições políticas de Sharon – da direita radical para o centro moderado – e, como consequência, o processo de criação de um novo partido em Israel que congrega forças oriundas desde a esquerda à direita moderada.
O caso de Sharon ilustra, na perfeição, aquelas situações em que se aplica o princípio em que a força da realidade se impõe à realidade da força. Sharon vai, certamente, sair de cena mas uma solução duradoira para a crise do Médio Oriente não dispensará o seu legado político.
(*) Winston Churchill – (Fevereiro de 1957) In “Memórias da Segunda Guerra Mundial” - Edição brasileira da "Editora Nova Fronteira"