terça-feira, outubro 30

CORRENTES DE LEITURA

O Tomas Vasques desafia-me para outra corrente da página 161. Não o vou deixar sem resposta. O livro: O Príncipe de Nicolau Maquiavel, comentado por Napoleão Bonaparte – uma edição antiga. A citação que corresponde ao desafio é a nota 393 de Napoleão Bonaparte que surge no final de uma passagem do capítulo “Das coisas pelas quais os homens, e sobretudo os príncipes, ganham censura ou louvor”.

Alargo um pouco a citação da dita passagem para que se entenda o seu sentido, aliás, com inusitada actualidade política: “Apartando, pois, as coisas que se imaginaram em relação a um príncipe e discorrendo daquelas que são verdadeiras, digo que a todos os homens, quando deles se fala, e sobretudo aos príncipes, por se encontrarem em mais alta condição, se atribui uma das qualidades que provocam censura ou louvor. Isto é, um será tido por liberal, outro por sovina (…); um por amigo de dar, outro por ganancioso; um por cruel, outro por compassivo; um por mentiroso, outro por homem de palavra; um por efeminado e cobarde, outro por viril e corajoso; um por afável, outro por orgulhoso; um por devasso, outro por casto; um por franco, outro por matreiro; um por opinoso, outro por complacente; um por grave, outro por leviano; um por religioso, outro por incrédulo, etc. Sei muito bem que todos achariam ser coisa de grande louvor encontrar-se um príncipe que tivesse das referidas qualidades todas as que são consideradas boas." É aqui que Napoleão Bonaparte escreve a nota 393: “Sim, como Luís XVI; mas também se acaba por perder o reino e a cabeça.

Com as minhas desculpas, desta vez, não passo porque alguns dos jogadores, já anteriormente desafiados, ainda estão em dívida.
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segunda-feira, outubro 29

ANTÓNIO CABRAL


Soube, através do Expresso, da morte de António Cabral. Um dia, nos inícios de 1996, alguém sugeriu o seu nome para delegado do INATEL no distrito de Vila Real. Propus a sua nomeação. Era um homem calhado para a função. Não tanto por ser um “homem de letras” mas por ser um entusiasta de um tema fora de moda, a cultura popular. Os delegados distritais do INATEL tinham, e ainda têm, uma característica peculiar. São amadores no exercício da função, recebem uma espécie de gratificação irrelevante, em dinheiro, para lidar com um sem número de colectividades que promovem actividades de cultura popular, desporto amador e o turismo social. Ele desembaraçava-se da complexa tarefa e, nas reuniões, fazia intervenções fora do registo burocrático. Bem haja!
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A Europa e alguma Esquerda


Estou de acordo com Leonel Moura com excepção da diabolização do referendo que me parece ser uma questão bem mais complexa na lógica do funcionamento do sistema democrático no que concerne, em particular, à questão europeia.
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domingo, outubro 28

CENÁRIO DE GUERRA - 2ª EDIÇÃO


A notícia faz lembrar os antecedentes da intervenção militar dos USA no Iraque. As mentiras de Bush, Blair, Aznar e C.ª, a propósito do “poderio militar” do Iraque, poderão ser reeditadas no caso do Irão? Uma segunda edição a papel quimico? Desta vez com ameaças ainda mais graves? Atendendo aos antecedentes preparemos-nos para o pior!
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sábado, outubro 27

CRESCESTE

Posted by PicasaIlustração de Manuel Maria – 2003

Cresceste. O tempo que passou deu-me
alento. Olho a palma da minha mão. Teu
rosto reflecte-se nos traços embutidos
no meu desejo correndo atrás do tempo.
Já sabes tudo. Ou quase. Como será teu
sorriso na minha idade? E a palma da tua
mão? Como será? O tempo nela cravado.

22/10/2007

[Ao meu filho Manuel Maria no dia do seu 17º aniversário.]
Caderno de Poesia
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quinta-feira, outubro 25

REVOLTA À VISTA NA BLOGOSFERA

Burocrazia sul web? Allarme in rete

O governo italiano tem ultimado um diploma destinado a – para ser directo – controlar a blogosfera. Para ajudar a compreender a ideia do governo Prodi (uma coligação dos partidos da esquerda moderada até à extrema esquerda) leia-se a notícia do El Pais. Era mesmo o que nos faltava!
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"FUTEBOLISMO"

Posted by PicasaIlustração daqui

A propósito do meu texto intitulado FUTEBOL – “FLUXO” E RESISTÊNCIA a Defesa de Faro publicou dois posts, de autoria Adolfo Pinto Contreiras, intitulados O "FLUXO FUTEBOLÍSTICO" DO EDUARDO GRAÇA E O MEU e "FUTEBOL E RESISTÊNCIA" EM EDUARDO GRAÇA.

Aqui fica a referência, embora tardia, pelo seu interesse próprio e pelo interesse que demonstram pela minha reflexão acerca do tema futebol que, seja qual for a opinião de cada um, ocupa uma fatia importante do imaginário de todos.

A propósito do último daqueles posts transcrevo o comentário que escrevi, directamente, na "caixa de comentários" daquele blog no qual introduzi pequenas correcções:

O Adolfo, a quem agradeço ter dado atenção ao meu texto, tem razão em quase tudo dando de barato a sua visão exacerbada de condenação dos fenómenos mercantis que atingem quase toda as actividades humanas desde há muito tempo. Esse fenómeno, e as suas sequelas mais conhecidas, entre elas a compra e venda, é muito antigo mesmo no futebol.

Onde o Adolfo se engana é ao considerar a minha abordagem da faceta de resistência no futebol como resultante da saudade de um tempo antigo no qual o futebol era esplendoroso em vitalidade e verdade desportivas. Mas o que eu quero dizer, e falo de ciência certa, é que o futebol é mesmo um lugar de resistência ao que o Adolfo chama de “futebolismo”.

Sem entrar em estatísticas, que as não tenho actualizadas, existem mesmo, no caso de Portugal, um número de praticantes de futebol amador, em todas as suas categorias, divisões e formatos, formalizadas em campeonatos ou informais, muito superior ao de todos os praticantes profissionais de futebol ou, porventura, de todos os praticantes profissionais em todas as modalidades desportivas.

Não é que entre uma parte dos praticantes amadores não exista competição e mesmo, nalguns casos, por mimetismo, afloramentos do mesmo tipo de males que afligem o “futebolismo”. Mas uma parte significativa destes amadores joga o jogo pelo jogo, num âmbito não mercantil e, acima de tudo, pelo prazer do convívio. Essa realidade do futebol amador, espaço da prática desportiva, que eu chamo de resistência, não é uma criação intelectual mas uma realidade concreta da vida em sociedade.
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CATÁSTROFE

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sabor a sal

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segunda-feira, outubro 22

LIBERDADE DE IMPRENSA


Pareceu-me que, em Portugal, ninguém deu grande importância ao assunto. É estranho, não é? Nesta classificação, entre 169 países, Portugal surge em 8º lugar, a par da Irlanda e da Dinamarca.

A nota 2, atribuída a Portugal, está mais próxima do 1º lugar – Islândia com 0,75 – do que do 20º – Alemanha com 5,75; os resultados dizem respeito ao ano de 2007, resultando de uma metodologia e de critérios que não vi ninguém pôr em causa.

Vem explicado no próprio corpo do trabalho: Pour établir ce classement, Reporters sans frontières a demandé à ses organisations partenaires (15 associations de défense de la liberté d’expression dispersées sur les cinq continents), à son réseau de 130 correspondants, à des journalistes, des chercheurs, des juristes ou des militants des droits de l’homme de répondre à 50 questions permettant d’évaluer la situation de la liberté de la presse dans un pays. 169 nations y apparaissent, les autres sont absentes, par manque d’informations.
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ELEIÇÕES NA POLÓNIA

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domingo, outubro 21

"La precarietà è un grande problema"


Ora reparem como a política italiana tem outro encanto. Imaginem que o PCP e o Bloco de Esquerda integravam um governo de coligação com o PS. Imaginem uma manifestação, ali para o lado dos Olivais, não com os anunciados 200 000 participantes que ninguém contestou (interessante!), mas com um milhão contando com o apoio de partidos do governo. Imaginem, ainda por cima, que o Papa se juntava à festa com uma declaração contra a precaridade do emprego ...

Sócrates é um homem de sorte, que mais não seja, por não ter que responder ao Papa: “a precaridade é um grande problema …
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Doris Lessing

"La guerra y la memoria no acaban nunca"

Siempre odié a Tony Blair, desde el principio. Muchos de nosotros odiábamos a Tony Blair, creo que ha sido un desastre para Gran Bretaña, y lo hemos padecido muchos años. Lo dije desde que fue elegido: éste es un pequeño showman que nos va a meter en problemas, y nos metió. En cuanto a Bush, es una calamidad mundial, todo el mundo está harto de este hombre. O bien es un estúpido, o bien es muy listo, aunque hay que pensar que es miembro de una clase social que se beneficia mucho con las guerras, nos olvidamos de que una guerra beneficia a muchas personas. ¿Sabe? Acabo de terminar un libro sobre la guerra. No pretendía que lo fuera, pero es un libro contra las guerras. Me asombra cómo olvidamos la influencia enorme que las guerras tienen; están ahí siempre, como su memoria... Ustedes deberían saberlo. Su guerra civil fue tan terrible. En la I Guerra Mundial, Europa decidió dispararse a sí misma. La II Guerra Mundial fue otra historia. ¡Y éstas son nuestras guerras! Somos mucho más brutales, más crueles. Nos gusta olvidarlo, pero no se puede olvidar. He estado leyendo novelas recientes de escritores suyos sobre la Guerra Civil española. Para la gente de mi generación, la Guerra Civil fue tan importante. Fue tan desgarradora, tan difícil, tan imposible de entender el comportamiento de nuestros Gobiernos... Quizá ustedes lo hayan olvidado, pero Gran Bretaña y Francia tuvieron un comportamiento deplorable, permitieron que Hitler y Mussolini ayudaran a Franco porque en España había un Gobierno de izquierdas. Yo me encontraba con gente que lloraba de rabia y de vergüenza por nuestros Gobiernos.
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sábado, outubro 20

D. JOÃO PECULIAR (I)

O papel de conselheiro para a resolução de problemas concretos e para a orientação da política régia, pelo menos em questões de maior importância, deve ter pertencido sobretudo a D. João Peculiar. O infante encontrou-se com ele pela primeira vez, provavelmente, em 1132, quando preparava , com Telo e Teotónio, a fundação de Santa Cruz. (…)

Afonso deve ter também acompanhado com atenção o relato da viagem que Peculiar fez à França e à Itália em 1135, quando ele, no regresso, lhe terá contado, sem dúvida, como decorrera o Concílio de Pisa e as acções do papa Inocêncio II.(…)

A adesão de Afonso à escolha de João Peculiar para bispo do Porto depois da morte do prelado anterior , D. Hugo, deve, por isso, ter sido decisiva. Não era a primeira vez que Afonso intervinha na designação de um bispo. Em 1128, a seguir à Batalha de S. Mamede, participou na eleição de Bernardo, arcediago de Braga de origem francesa, para Bispo de Coimbra. (…)

A eleição realizou-se, pois, por volta do dia 10 de Junho de 1136, talvez em Coimbra, para evitar uma escolha favorável aos membros do clero portuense adeptos de Gelmírez, que deviam ser bastantes. De facto, embora o pouco escrupuloso arcebispo de Compostela já então tivesse perdido grande parte da influência que exercera no reino de Leão e Castela durante a década de 1120, era ainda respeitado ou temido. Viria a morrer a 6 de Abril de 1140, e a sua sucessão daria lugar a um período muito conturbado da vida eclesiástica compostelana, o que não deixaria de favorecer o episcopado poprtuguês.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”13 – Os auxiliares”, pgs 130/131. (28). [Fotografia de Abílio Nestor.]
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PINTO MONTEIRO

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sexta-feira, outubro 19

TRATADO E REFERENDO

Posted by PicasaVale a pena ler

Para adiantar serviço acerca do tema referendo ao Tratado Reformador direi como outros já têm dito – é difícil ser original acerca desta matéria – que é cada vez mais difícil vislumbrar que o dito referendo se venha a concretizar em Portugal.

Após o congresso do PSD, e a vitória de Menezes, estreitou-se a margem para a viabilização política do referendo. Podem discutir-se as sondagens, e mesmo que elas mostrassem que os portugueses estão mortos de amores por um referendo, o que até pode acontecer apesar dos resultados decepcionantes, em termos de participação, de todos os que se realizaram, é difícil conceber a realização deste.

As lideranças do PS+PSD+PP+Presidente da República+Presidente da Comissão Europeia são, potencialmente, contra a realização do referendo ficando de fora o PCP+BE+ Pacheco Pereira+eu+ uns quantos maduros que, podem ter voz, mas não têm poder para contrariar a inércia referendária que se vai gerar a respeito desta matéria para além da questão das legítimas dúvidas acerca do que fazer com as consequências da vitória do “não”.

A minha posição favorável ao referendo está exposta aqui e aqui. Lá mais para o Natal se verá como vai correr, nos 27 países, o processo de debate público acerca da ratificação do Tratado. Do mal, o menos, sempre é uma oportunidade para discutir, em paz, o exercício da democracia no espaço dos países da UE. Nada mau!
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OS OLHOS DAS CRIANÇAS

Posted by PicasaGloria Baker Feinstein

Estes olhos vazios e brilhantes
que na criança se abrem para o mundo.
não amam,
não temem,
não odeiam,
não sabem como a morte existe.

São terríveis.
Porque a vida é isto.

O amor, o medo, o ódio, a mesma morte.
e este desejo de possuir alguém,
os aprendemos. Nunca mais olhamos
com tal vazio dentro das pupilas.

São terríveis.
Porque a vida é isto.

4/5/1963

Jorge de Sena
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[In “Poesia III” – “Brasil” – selecção de poemas resultante da leitura de Julho de 2007 em Cuba. (16). Este poema é antecedido por um outro, intitulado “Tempo de Chuva”, datado de 25/1/1963, o qual merece uma curiosa nota do autor: “Além de outro interesse que possa ter, este poema tem para mim o de ter sido o primeiro que directamente escrevi à máquina, como daí em diante sempre me aconteceu, a menos que a ocasião não fosse a de a ter ao pé”. Publicado também no Caderno de Poesia.]
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APROVADO TRATADO REFORMADOR


A crise institucional em que vivia a UE após os resultados dos referendos, em França e Holanda, que recusaram a aprovação da defunta Constituição Europeia foi, desta forma, ultrapassada. O Tratado reformador que vai ficar conhecido por Tratado de Lisboa será, formalmente, assinado, no próximo dia 13 de Dezembro. Foi fácil? Foi difícil? É muito? É pouco? É o passo possível e foi sempre assim que se foi construindo o projecto europeu. Fica por resolver a questão do referendo. Lá iremos, de novo, mais tarde.
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quinta-feira, outubro 18

AFONSO HENRIQUES - REI DE PORTUGAL

Retomando o fio à meada, no caso, o regresso a Coimbra de Afonso Henriques, vencedor da Batalha de Ourique.

Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em 10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique. (...)

Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127. (27).
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UM CASO DE RACISMO

Posted by PicasaJames Watson

O homem é racista e logo por azar (ou talvez não) é director científico da Fundação Champalimaud. Os projectos da Fundação são magníficos mas sempre resta a esperança que se venha a descobrir que Watson, afinal seja preto e, dessa forma, cairá por terra a sua própria tese. Coloco essa hipótese porque me lembro de ter ouvido dizer, numa entrevista a Caetano Veloso que, enquanto jovem, tendo ouvido, na rádio, Vinicius de Moraes, ficou com a imagem de que Vinicius era preto. Só anos depois quando Caetano viu Vinicius, ao vivo, se deu conta de que afinal o seu ídolo era branco.
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MAKUKULA - UMA BÊNÇÃO


A nossa selecção nacional de futebol ganhou os dois últimos jogos nesta fase de qualificação para o Europeu de 2008. Fiquei contente. Mas jogou mal, em particular, no jogo de ontem. A selecção de futebol do Casakistão ocupa a 120ª posição, entre 200 selecções nacionais, no ranking da FIFA. Portugal ocupa o 8º lugar nesse mesmo ranking. À nossa frente só estão a Itália, Argentina, Brasil, Alemanha, Holanda, França e Espanha.

A vitória no jogo de ontem mostrou, uma vez mais, que algo vai mal no reino da selecção. A selecção é como o peixe: apodrece pela cabeça. O que nos valeu foram dois rapazes: o NANI e o MAKUKULA este último um estreante absoluto na selecção principal. Finalmente Scolari foi forçado – pelas lesões - a ir um pouco mais além no processo de renovação.

No fim do jogo foi um prazer ouvir as declarações de MAKUKULA, nascido no Congo, mas formado para o futebol em Portugal: português fluente, ideias articuladas, aspirações ponderadas e modestas - qb. Uma lufada de ar fresco conjuntamente com NANI e CRISTIANO, um super dotado que brilha em todas as estações.

Vamos a ver se no próximo mês a selecção termina, com sucesso, esta penosa tarefa da qualificação. Se assim fôr, na fase final do Europeu, no verão de 2008, quando todos os adversários forem mais difíceis tudo será, paradoxalmente, mais fácil e Scolari poderá sair com honra desta aventura portuguesa.
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quarta-feira, outubro 17

A GUERRA COLONIAL VISTA POR JOAQUIM FURTADO


A Guerra Colonial, ou a Guerra de África, ou, simplesmente, a Guerra. Fiz tudo para ver o primeiro dos 18 documentário acerca da Guerra Colonial (foi sempre assim que a designei) de Joaquim Furtado. Por um acaso que nunca fui capaz de explicar não fui mobilizado para qualquer dos teatros da guerra colonial apesar de ter cumprido três anos de serviço militar obrigatório. Não tive, pois, oportunidade de conhecer ao vivo a realidade de África.

De qualquer maneira nunca poderia ter assistido aos primeiros acontecimentos da guerra colonial, passados em Angola, incluindo o 15 de março de 1961, cujos detalhes, na maior parte desconhecidos de quase todos, foram o tema forte deste primeiro documentário. Os massacres da UPA, de Holden Roberto, recentemente falecido, que presta um longo depoimento habilidoso, eivado de uma cobarde fuga às responsabilidades, e a impotência dos portugueses em organizar a resistência, são impressionantes.

Os depoimentos dos guerrilheiros da UPA que estiveram no terreno revelam, ao contrário do seu chefe, uma clareza expositiva e uma dignidade humana surpreendentes. O ataque da UPA estava anunciado, foi longamente preparado, a sua inevitabilidade foi reportada, por vários responsáveis, para Lisboa, mas Salazar, ao que tudo indica, estava manietado pela oposição interna ao próprio regime, apoiada pelos americanos, (Botelho Moniz), tardou em desfazer-se dela, perdeu tempo e, quando proferiu a célebre frase “Para Angola, rapidamente e em Força” renunciou a uma solução negociada e, na verdade, selou o trágico destino do império colonial português.

Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho de Joaquim Furtado. Os testemunhos pessoais obtidos são de um valor histórico, e humano, extraordinário; a isenção, política e ideológica, na abordagem de um acontecimento dramático na vida de povo português, e do povo angolano, é um exemplo de profissionalismo e de coragem cívica exemplares.

A montagem permite recriar os ambientes da guerra com seriedade narrativa e estética tornando apetecível um tema repugnante, confrontando os antigos combatentes, desvendando os antecedentes e revelando detalhes desconhecidos mesmo dos próprios protagonistas.

Impressionou-me a narrativa implícita no documentário expondo a fraqueza de Portugal como potência colonial. Como foi possível manter um impérios com pés de barro durante tanto tempo? Afinal não existia em Angola, nem em qualquer outra colónia, nem planos de contingência, nem forças policiais e militares revelantes, nem infraestruturas, nem armas, nem outro projecto que não o da pura exploração das riquezas naturais e da mão de obra barata, herdeira do esclavagismo.

Aqueles portugueses que trabalhavam nas regiões do interior de Angola ficaram, de um dia para o outro, abandonados à sua sorte. Eles, na sua esmagadora maioria, não eram nem fascistas nem colonialistas. Foram vítimas de uma política que, como dizia, onteontem, com aguda lucidez, num debate na RTP, o General Galvão de Melo, radica no atraso de um processo de descolonização que deveria ter começado logo após o fim da Segunda Grande Guerra.
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AS "GUERRAS" DE AL GORE

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COOPERAÇÃO ESTRATÉGICA

Posted by PicasaFotografia daqui

Amanhã vai ser um grande dia. Terá início a reunião do Conselho Europeu Informal de Lisboa que deverá aprovar o chamado Tratado Reformador da UE. A presidência portuguesa e, por tabela, o governo e, por tabela, o PS, e assim sucessivamente, poderão proclamar uma vitória ou chorar uma derrota. Dizem que há arestas por limar … e eu acredito porque é sempre assim!

Se houver Tratado de Lisboa então ficarei a compreender melhor a estratégia do PSD ou, para ser mais preciso, do núcleo duro do “PSD institucional”. A coisa é simples de explicar: o presidente em exercício da Comissão Europeia, por acaso Durão Barroso, precisa de criar condições para se candidatar a um segundo mandato na UE e, dessa forma, ganhar tempo para se candidatar à presidência, sucedendo a Cavaco.

Ora para que esta ideia tenha pernas para andar não interessa ao “PSD institucional” correr o risco de ser governo em 2009. Seria demasiado cedo, em termos de calendário e demasiado desgastante, em termos políticos. Menezes já deve ter percebido que vai ser a lebre de serviço, queimando tempo e energias ao serviço de estratégia alheia. Santana Lopes – e a sua equipa – completam, na perfeição, este cenário ao serviço da verdadeira “cooperação estratégica”.

Sócrates sorri. Ele há imponderáveis mas o que tem que ser tem muita força!
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terça-feira, outubro 16

PÁGINAS CORRENTES


Reparo que o CATATAU me chama a participar na CORRENTE DA PÁGINA 161 que já corre vai para uns meses. Estas correntes têm um lado bastante estúpido e outro bastante estimulante. Vá lá saber-se porquê! A página 161? E a 5ª frase completa? Aceito na medida do prazer do jogo. Dedico-me a ler livros fora de moda e fora da minha área de actividade profissional. Mas isto não é invulgar nos consumidores. Bastante mais invulgar é nos criadores. Salvo quando a natureza do papel, por ser demasiado fino, me inibe sublinho e escrevo nos livros. Hoje em dia sempre, e só, a lápis.

As minhas leituras de hoje, e de sempre, têm duas referências luminosas: Albert Camus e Jorge de Sena. Comecei a ler o primeiro e só depois o segundo. Na verdade são quase contemporâneos: Camus nasceu em 1913, Sena em 1919. Afadigo-me a ler o máximo destes dois autores e o que escreveram aqueles que escreveram acerca deles. Não sei medir o caminho já percorrido e o que me falta percorrer. Também não interessa para nada. A minha leitura, como o título do programa de rádio, é “pessoal e intransmissível”.

Eu sei que dá para notar, nos blogs que alimento, essas paixões. Mas esta exposição dos gostos pessoais, para quem se dispõe a expô-los, é uma novidade impulsionada pela blogosfera. Mas também leio outras coisas como, por exemplo, os folhetos que acompanham as embalagens dos medicamentos (uma leitura muito instrutiva), alguns artigos de jornal, notícias, outros livros, opúsculos e folhetos, de autores e acerca de matérias diversas, mas não seria capaz de ler o último Harry Potter que o meu filho (que vai fazer 17 anos imaginem!) leu, sendo bilingue de alemão, na versão original em inglês (aí umas 700 páginas!).

Perdi um bocado a noção dos autores da moda mas às vezes encontro referências que me ajudam a evitá-los. Quando faço incursões pelos estudos acerca dos autores da minha paixão encontro nomes de outros autores, críticos e escribas diversos que, em épocas remotas, estiveram na moda e já ninguém se lembra deles, muito menos os cita ou lê. Não que a moda não seja importante e que da moda não se salvem alguns autores da moda. Mas todos sabemos que, na sua época, Pessoa não estava na moda e muito menos, no seu tempo, Sena.

Camus sim esteve, e está, na moda mas entenda-se que a França, dos anos 40 e 50, era uma pátria das letras e Camus um sedutor, “pied-noir”, rapaz pobre, membro da resistência ao nazi-fascismo, jornalista e, mesmo assim, por ter denunciado os crimes de Stalin, à sua maneira, e por não ter dado hossanas à descolonização da Argélia foi colocado na fronteira pela esquerda e salvo do esquecimento pelo Nobel de 1957 ... mas morreu cedo.

Vamos então à corrente:

1ª) Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra-o na página 161;
3ª) Procurar a 5ª frase completa;
4ª) Postar essa frase em seu blog;
5ª) Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repassar para outros 5 blogs.

O livro que está mais próximo de mim é “Isto tudo que nos rodeia – Cartas de amor” - um conjunto de cartas trocadas entre Jorge de Sena e Mécia de Sena, antes do seu casamento. As cartas datam do período entre 1944 e 1949 e nelas se envolvem os próprios e são referidos outros como, por exemplo, Alberto de Serpa que foi guardião de 16 delas as quais Mécia lhe enviou por saber ser ele um “meticuloso coleccionador de manuscritos e grande amigo do Jorge.”

Gosto muito, como tanta gente, deste género de literatura. Nela se conta a verdadeira história dos protagonistas envolvidos pois, por regra, escrever cartas é um gesto de intimidade, ou cortesia, que se não destina a ser conhecido do público. Neste caso ambos revelam não só uma paixão amorosa, igual a tantas outras, como, sem demérito para Mécia, Jorge de Sena desvenda alguns segredos da sua particular visão do mundo, dos homens e da sociedade do seu tempo (emigrou em 1959), além de explicar algumas singularidades da sua própria oficina de escrita.
Vou assim reproduzindo sublinhados desta minha recente releitura.
Felizmente na página 161, nos 4º e 5º parágrafo, (tinha que reproduzir o 4º infligindo as regras!) pode ler-se o final de uma carta escrita de Coimbra e datada de 5/5/48:

“É tardíssimo. Perdi-me a escrever-te e nem quero ver as horas. Vou apagar a luz. Dormir será difícil. A noite passada tive frio, nesta fervo. Hoje faltas-me mais vivamente do que me faltavas ontem.

Beijo-te efusivamente, meu querido Jorge
Tua
Mécia”

Como em poucas palavras se pode dizer tanta coisa! Passo o desafio ao JPN (parece muito ocupado, já entendi!), à MRF, ao AP, ao PS (salvo seja e parabéns!) e à HFM (esperando pelo seu regresso de Barcelona). Com as minhas desculpas para quem já antes foi apanhado nesta corrente ou se aborrece por ser confrontado com ela.
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