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Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, abril 29
O CASO MENTAL PORTUGUÊS
Compreendo muito bem o que Francisco Sarsfield Cabral escreveu, no Público, domingo passado, acerca do provincianismo português: UM CASO DE PROVINCIANISMO, que respigo do Jumento.
Este é um tema que pensadores e artistas portugueses já ilustraram com o talento da sua escrita. Uma das reflexões mais interessantes é a de Fernando Pessoa numa nota de estilo crítico intitulada: O CASO MENTAL PORTUGUÊS, publicada em 1932.
Começa assim: Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria «provincianismo».
E acaba assim: O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres. Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.
É sempre muito estimulante e útil a sua leitura, em particular, nos dias de hoje.
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ANIVERSARIANDO
Rosário: são magníficas as coincidências. Agradeço e envio, na volta do correio, um pequeno álbum de imagens de Javier Bardem.
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segunda-feira, abril 28
JESSICA
Andei à procura de uma moça com uma máquina promocional a sério que tivesse nascido no dia de hoje. O mesmo dia em que eu nasci. Já estava um bocado farto da companhia do António (Salazar). Encontrei a Jessica que, mesmo sem o apoio do Sr. António Cunha Vaz, está no top. Vá lá saber-se porquê! Deve ter a trabalhar para ela uma formidável máquina promocional. E o Sr. António Cunha Vaz ocupa a primeira página do Público. Porquê? Juro que fui obrigado a fazer um esforço brutal para deslindar quem era a figura. Passaram-me pela cabeça as mais desvairadas candidaturas à liderança do PSD. Mas não encaixava, e daí? Tive que ler as legendas. Foi difícil. Ou o negócio está mal ou está a preparar-se para fazer carreira política! Só pode ser no PSD. É o António Cunha Vaz. A coisa está preta.
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IMAGENS RARAS DO 25 DE ABRIL
Este epílogo dos murais de Abril tem muitas imagens que ecoam na minha memória. E já que se falou, algures, do pano de fundo do I Congresso do MES (Dezembro de 1974) aqui o deixo, de novo, numa fotografia rara. O pano foi desenhado com os pés descalços marcando pegadas que caminhavam para o centro do símbolo. Este foi o único símbolo feminil dos partidos surgidos, à luz do dia, com a revolução do 25 de Abril. Nem seta, nem aresta, nem punho, nem martelo, nem foice, simplesmente um círculo vermelho encerrando a sigla e a estrela de cinco pontas.
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domingo, abril 27
HÁ MAIS VIDA PARA ALÉM DOS INQUÉRITOS
Um inquérito anunciado pelo PR diz que os jovens sabem pouco acerca do 25 de Abril. Passa a ideia que os jovens de hoje são ignorantes. Ponto final. Estas coisas não se discutem. Mas pus-me a pensar acerca de quais as respostas de Cavaco Silva, enquanto jovem, a algumas perguntas.
Qual o primeiro presidente eleito na Primeira República? Qual o primeiro presidente da república do Estado Novo? Ou, a respeito de organizações internacionais, das quais Portugal é membro: quantos países fundaram a OTAN (NATO)? Ou acerca de resultados eleitorais: qual o resultado das “eleições” presidenciais de 1958?
Imagino as respostas de Cavaco Silva em 1959, pelos seus 20 anos! Ao que dizem era um rapaz que não se interessava muito pela política! Eu sei que os tempos eram outros, mas sempre existia a disciplina de OPAN (Organização Política e Administrativa da Nação)! Ninguém lhe dava importância nenhuma!
Então lembrei-me de uma frase de Camus: “Decadência! Os discursos sobre a decadência! O século III antes de Jesus Cristo foi um século de decadência para a Grécia. Ele deu ao mundo a geometria, a física, a astronomia e a trigonometria com Euclides, Arquimedes, Aristarca e Hiparque.” [Cadernos].
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sábado, abril 26
BIOGRAFIA DO GENERAL SEM MEDO
O livro tem 1 225 páginas sem considerar as notas finais. Toda a gente sabe que Humberto Delgado era uma figura contraditória. Pelo temperamento e pelas ideias. Mas a vida e obra das grandes figuras com intervenção cívica e política marcante no nosso país merecem ser conhecidas. É a luta incessante contra o esquecimento que deveria preocupar a comunidade, através das instituições representativas do Estado e da sociedade. Esta biografia não é uma banal reconstituição da vida de um militar que se meteu pelos atalhos da política. As primeiras impressões de leitura apontam não só para um melhor conhecimento do homem como do modo como se faz justiça em Portugal. Não só ontem, mas hoje. A discrição dos detalhes da farsa do julgamento dos seus assassinos, já em plena democracia pós 25 de Abril, é exemplar. Escreve ao autor – neto do General - a páginas 1 217: “Os dezassete volumes que o compõem (o processo do assassinato de Delgado) transitaram, já no século XXI, após a extinção dos tribunais militares, para a 2ª Vara Criminal de Lisboa, onde o processo recebeu até um novo número e teoricamente se mantém em aberto, a pretexto de se desconhecer se o réu revel Casimiro Monteiro está vivo ou morto”. O património histórico, que é o próprio processo foi salvo, in extremis, nos últimos dias, pelo governo mas, pergunto: a justiça portuguesa já sabe se “o réu revel Casimiro Monteiro está vivo ou morto”? .
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Algumas questões explicadas pelo autor da obra.
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Algumas questões explicadas pelo autor da obra.
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sexta-feira, abril 25
25 DE ABRIL - PRESENTE
À porta de armas do Quartel do Campo Grande (Lisboa) posando para a única fotografia que assinala a minha participação na revolução do 25 de Abril. Num intervalo dos dias tensos nos quais se começou a cerzir um sonho que parecia inalcançável: a Liberdade.
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quinta-feira, abril 24
O MES SAÍU À RUA NUM DIA ASSIM
Estas são três de quatro fotografias/testemunho da primeira aparição pública do MES (Movimento de Esquerda Socialista) na manifestação do 1º de Maio de 1974. Foram publicadas, pela primeira vez, há um ano e a wikipedia fez uma hiperligação com uma legenda errada.
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NEPAL: MAOÍSTAS AO PODER
Os maoístas do Nepal, considerados terroristas pelos USA, conquistaram o poder pela via democrática e colocam algumas questões teóricas, e práticas, interessantes. Um paradoxo à consideração dos dirigentes do PCP e do BE:
"Neste momento estamos a lutar por uma democracia capitalista. Apenas quando tivermos uma base capitalista poderemos construir o socialismo".
"Neste momento estamos a lutar por uma democracia capitalista. Apenas quando tivermos uma base capitalista poderemos construir o socialismo".
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LEMBRAR EM CONJUNTO
Fui buscar ao Jumento o artigo no qual Rui Tavares, no Público, evoca a “Matança da Pascoela”, de 1506. É terrível o confronto com esta evocação, por ela própria, e por nos fazer lembrar a tragédia do esquecimento que marca a nossa história. Como havemos de nos revoltar, por exemplo, contra os atrasos da justiça nos nossos dias? 5 anos? 10 anos? Para decidir acerca de um processo? Pois se o processo do assassinato de Humberto Delgado só agora foi (mal) encerrado com a justiça na espera de saber se um esbirro da PIDE é morto ou vivo? Se só agora se traz à memória da comunidade, sem preconceitos nem vinganças, passados tantos séculos (séculos!), o massacre de 1506?
«Ontem não se corrigiu uma injustiça. Mas fez-se uma coisa bela e digna na cidade. Foram lembrados os lisboetas assassinados por outros lisboetas no massacre de 1506, também conhecido por Matança da Pascoela, por ter ocorrido naquele ano nessa data do calendário litúrgico. Os primeiros destes lisboetas eram tidos por judeus, e os outros tinham-se na conta de bons cristãos. O número de vítimas é incerto, mas pode ter ido até quatro milhares. Foi o pior momento da história da Lisboa portuguesa (talvez apenas superado pela própria conquista da cidade, quando os cruzados passaram a fio de espada muçulmanos, judeus e cristãos que viviam dentro da cerca moura).
Durante séculos, a matança de 1506 foi esquecida, apesar de ter sido cruamente relatada pelos cronistas da época. Mas foi enterrada sob as camadas de vergonha, indiferença e mentira que compõem o mito português dos brandos costumes. De tal forma que, de cada vez que alguém referia a matança de 1506, quase era preciso voltar aos livros e documentos para confirmar que, sim, tinha ocorrido.
A partir de ontem, será mais difícil fingir que não aconteceu. Foi inaugurado no Largo de São Domingos o monumento evocativo da matança de 1506. Ao invés de ocultar, a cidade mostra, dá a ver, o lado mau do seu passado. E isso é uma coisa corajosa.
Um acto corajoso de todos os intervenientes. Da Câmara Municipal de Lisboa, através do presidente da Câmara, António Costa, e do vereador Sá Fernandes, que tinha proposto este monumento nos quinhentos anos do massacre, em 2006, sem sucesso junto da vereação anterior. Um acto corajoso do cardeal-patriarca de Lisboa, José Policarpo, cujas palavras de perdão público ficam agora ali gravadas: "A Igreja Católica reconhece profundamente manchada a sua memória" pelo massacre. Um acto corajoso da Comunidade Israelita de Lisboa, a quem só séculos depois foi permitido voltar a ter presença pública no nosso país, e que agora pede: "Ó terra, não ocultes o meu sangue e não sufoques o meu clamor!", usando palavras do livro de Job. Não ocultes o sangue: um pedido à terra daqueles que morreram que temos obrigação de honrar.
Seria mais cómodo continuar a esquecer. Se não fosse tão cómodo, não teríamos esquecido durante mais de quinhentos anos. Seria cómodo dizer que um monumento não muda nada. Seria cómodo dizer que é "só" simbolismo ou politicamente correcto, e passar ao lado deste dever.
Lembrar em conjunto ("comemorar") a matança de 1506 é incómodo mas faz de nós melhores cidadãos. Em primeiro lugar, porque nos lembra das coisas terríveis que nós humanos somos capazes de fazer, e assim serve de aviso para que não voltem a ocorrer. Em segundo lugar, porque ficamos a conhecer melhor o lugar onde vivemos, e isso nos ajuda a entendê-lo e melhorá-lo. E em terceiro lugar, porque os nossos antepassados nos passaram isto: corre misturada nas veias de muitos lisboetas a memória genética dos lisboetas de 1506, do lado das vítimas e dos assassinos. E quanto àqueles que não descendem desses lisboetas antigos: são hoje novos lisboetas a quem devemos hospitalidade, se aprendermos com os nossos erros.»
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quarta-feira, abril 23
A SOLUÇÃO FINAL
Fotografia daqui
O PREC do PSD pode vir a desembocar numa tragicomédia. Já estão a perceber o sentido disto e disto?
O PREC do PSD pode vir a desembocar numa tragicomédia. Já estão a perceber o sentido disto e disto?
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ÂNGELO CORREIA
Se Ângelo Correia estivesse disponível para abdicar de algumas destas funções poderia ser uma alternativa forte a Manuela Ferreira Leite. Talvez baste colocá-las entre parêntesis! Vamos esperar para ver!
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HILLARY ATÉ AO FIM
Senator Hillary Rodham Clinton scored a decisive victory over Senator Barack Obama on Tuesday in the Pennsylvania primary, giving her candidacy a critical boost as she struggles to raise money and persuade party leaders to let the Democratic nominating fight go on. [New York Times]
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terça-feira, abril 22
O PROCESSO PERDIDO DO GENERAL HUMBERTO DELGADO - UMA VERGONHA
Este caso é uma vergonha para o Estado, para a Justiça, para todos os órgãos de soberania, e seus titulares, ao longo dos 34 anos da democracia portuguesa. O processo do General Humberto Delgado, assassinado pela PIDE, ser encontrado, após todos estes anos, ao abandono, nas caves do Tribunal da Boa Hora por um neto do General! A justiça que tarda e se conforma perante a passagem do tempo torna-se na pior das injustiças. O esquecimento é a pior das condenações para os cidadãos honrados que aspiram à justiça. Ontem, hoje e amanhã. Este é, talvez, o maior deficit da democracia portuguesa conquistada com o 25 de Abril. Que o senhor Presidente da República aproveite o próximo dia 25 de Abril para honrar a memória do General Humberto Delgado pedindo desculpas públicas à família a aos portugueses. Nobreza e não bajulice. Coragem e não subserviência. Sentido de estado e não cedência aos ditames dos interesses do momento.
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