quarta-feira, maio 7

ALÍPIO RIBEIRO

Alípio Ribeiro

Nos bancos dos jardins, nos corredores das repartições, nas mesas dos cafés, nos transportes públicos, através de conversas ao telemóvel ou de mensagens electrónicas, seres imbuídos de uma poderosa intuição política, muito louvada no Portugal democrático, falam de tudo e mais alguma coisa. Esta introdução não permite caracterizar os portugueses como seres diferentes dos restantes. Com mais ou menos sofisticação de meios, mais ou menos liberdade cidadã e política, aqui, e em toda a parte, os seres emitem opiniões, elaboram juízos, julgam, lavram sentenças, condenam inocentes, absolvem criminosos, investigam, denunciam, louvam e condecoram, enfim, emitem opinião. Os responsáveis políticos eleitos e os dirigentes da administração, aos vários níveis, também são cidadãos e, como tal, livres de emitir opinião. Algumas escolas de gestão apontam mesmo como um benefício para a transparência e o desempenho da administração a liberdade de criação de canais de comunicação através dos quais os responsáveis políticos, eleitos ou não, tornem públicas as suas opiniões pessoais mesmo tratando-se de matérias sobre as quais incida a sua própria responsabilidade profissional. Tal processo carece, está bem de ver, do estabelecimento de regras. A mesquinhez de muitas apreciações da opinião pública, a mor das vezes anónimas, transmitidas sob a forma de boato, acerca das decisões, e da vida pessoal dos políticos, assim como dos dirigentes da administração, tantas vezes ampliadas pela comunicação social, não encontrará espaço para o contraditório se não for possível a criação de canais de comunicação onde esses mesmos responsáveis, dando a cara, expliquem o sentido das suas decisões, defendam as suas opções e ripostem às criticas e aos ataques dos seus detractores. Isto vale para todos seja qual for a sua cor política ou textura ideológica. Tudo isto vem a despropósito do ainda Director da Polícia Judiciária. Assim que o dito veio a público lançar uma ideia, que parece possuída de toda a lógica, se abateram sobre ele raios e coriscos. As corporações revolveram-se em indignadas proclamações como se tivesse sido dita alguma indignidade. O ainda director da Polícia Judiciária, que não conheço pessoalmente, tem um problema, do qual não se consegue desembaraçar: é um homem probo, culto e sensível. Disse publicamente o que pensava dando a cara. Vai embora e o mais certo é que nunca mais faça ouvir a sua voz em defesa das suas ideias e opiniões. Fez-me lembrar um anterior Director daquela mesma polícia que, ao que dizem, fazia passar mais do que duvidosas ideias e opiniões, através de conversas sigilosas, com jornalistas do género conversa de café. Ah, portugueses, essa memória!
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OBAMA

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terça-feira, maio 6

UM CASO PARA INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DAS "CIÊNCIAS OCULTAS"


Estou farto de perguntar a ver se alguém, desde políticos, gestores ou taxistas, me consegue explicar esse mistério de nunca ter sido construída a linha de metro para o Aeroporto da Portela. Ainda por cima é uma linha recta desde, por exemplo, o Areeiro. Confesso que nunca ninguém me conseguiu dar uma explicação cabal para o caso.

Mas também nunca ninguém – ao longo de decénios - fez muita questão em tornar esta extraordinária omissão numa reivindicação. Estranho, não é? É um caso de estudo na área das “ciências ocultas” ou dos silêncios mórbidos que rodeiam a gestão das cidades.

E os responsáveis políticos pela gestão da cidade - e do país – ameaçam prosseguir no caminho das opções inexplicáveis, à luz do bom senso, encerrando Santa Apolónia (estação ferroviária terminal) agora que o metro, a muito custo, acaba de lá chegar. Isto é caso de polícia ou de doença! É um daqueles casos em que vale a pena os cidadãos meterem-se em trabalhos para acabar com a macacada!
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JIMI HENDRIX

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segunda-feira, maio 5

Yoani Sánchez

O El País dá relevo ao caso de Yoani Sánchez como um teste à vontade de abertura política do regime cubano.
Tenho acompanhado com atenção a evolução política recente em Cuba. Visitei Cuba em 1976, antes da abertura ao negócio turístico, e, recentemente, como vulgar turista, tendo-me sido permitido falar com cidadãos que manifestavam de forma aberta, mas parcimoniosa, a necessidade urgente de uma abertura, pelo menos, no plano da economia. A expectativa do povo cubano numa evolução pacífica do regime é a nota dominante. É fácil reconhecer que se assiste ao início de um processo de mudança sob a liderança de Raul Castro.
Recentemente um conhecido dissidente do regime que vive em Cuba – em entrevista ao Público – afirmou que estava a ser possível realizar aquela entrevista, via telefone, sem interferências (que disse serem recorrentes) e referiu uma diferença profunda entre a personalidade de Fidel e de seu irmão Raul.
Acredito que estejamos, de facto, a assistir a um processo de abertura que muitos, no entanto, relativizam considerando tratar-se, simplesmente, da reposição da situação anterior a 1989 quando o regime tomou – após a queda do muro de Berlim – um conjunto de medidas excepcionais, e ainda mais gravosas para o povo cubano, no acesso a bens de consumo e ao exercício da cidadania.
As medidas de abertura sucessivamente anunciadas e, nalguns casos, já iniciadas são um sinal de esperança na viabilidade da transição pacífica para um modelo económico de abertura ao mercado – no caso trata-se, verdadeiramente, de criar um mercado que não existe – sendo mais difícil vislumbrar a viabilidade de uma transição pacífica para a democracia política.
É neste terreno que se coloca a questão de Yoani Sánchez. A autorização para a sua viajem a Madrid, para receber um prémio que lhe foi atribuído, como autora de um blogue seria, aparentemente, uma pequena concessão do regime cubano à vontade de uma cidadã cubana corajosa mas, caso se concretizasse, um grande passo no caminho da liberdade.

O BLOGUE DE LUIZ CARVALHO

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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE

O mês de Maio vai ser pródigo em política espectáculo lá para as bandas do PSD mesmo que alguns dos artistas – através de um truque já conhecido – afirmem não actuar em palco. Nesta campanha para a liderança do PSD, ainda antes de se saber se Jardim arromba as portas do circo, há uma candidata que é "vendida" como sendo portadora de “superioridade moral” sobre os restantes. Mas para começo de conversa – pois eu próprio posso dar umas achegas – já mostrou a qualidade do seu conceito de ética em política. Olhem só para o diálogo final da entrevista que concedeu ao Expresso.

Quanto pensa gastar na campanha?
O mínimo possível. Não vou ter cartazes, não vou ter almoços, não vou ter jantares.

Passos Coelho tem cartazes muito apelativos.
Quando se tem dinheiro é assim...

Podemos terminar a entrevista com meia dúzia de perguntas-relâmpago?
Não, não pode. Recuso terminantemente. Numa entrevista séria não se pode acabar com perguntas de algibeira. Isto não é um concurso para ganhar prémios no fim.
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FRANCISCO M. RODRIGUES (CONT.)

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domingo, maio 4

sexta-feira, maio 2

JANIS JOPLIN

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“The show must go on”.


Eu não acredito na infalibilidade das sondagens. Elas fazem parte do jogo político. Estão por dentro e não por fora desse jogo. Esta surge num momento crítico para o PSD. O drama que ela confirma é o da erosão política da direita. Mesmo Cavaco sofre por ter pactuado com o estatuto de inimputável de Jardim. Só pode ser essa a explicação para a queda abrupta da sua popularidade.

O PSD corre o sério risco de entrar num beco sem saída. A sua implosão deixou de ser uma hipótese académica. As eleições directas para a presidência do partido podem agravar as divisões internas, aprofundando a crise de representação política da direita. Pois ninguém pense que o PS – como alguns vaticinam – se possa tornar numa espécie de Partido Institucional.

Realisticamente é possível conceber a sobrevivência do PSD, transitoriamente sob a direcção de Manuela Ferreira Leite, numa lógica de contenção de danos face às eleições de 2009, com o sacrifício da sua ala populista? Uma espécie de regresso ao PSD cavaquista?

Como pode Manuela Ferreira Leite credibilizar um programa, e um discurso político, alternativos ao PS de Sócrates sob o peso da coincidência das mesmas propostas programáticas? As desvantagens de Sócrates não são capitalizáveis por Manuela. As desvantagens de Manuela são capitalizáveis por Sócrates.

É um círculo vicioso, estrategicamente vantajoso para o PS, que só poderia ser quebrado por uma candidatura de ruptura, ou seja, por um candidato de direita, com um programa, ao mesmo tempo, inovador e respeitável e um discurso populista, género “português suave”. O drama é que esse candidato a primeiro-ministro não existe. Ou, pelo menos, não foi ainda revelado.
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Marianne Faithfull

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quinta-feira, maio 1

FLORES DE MANUELA FERREIRA LEITE


Reparei na notícia das afirmações de Manuela Ferreira Leite na 1ª acção de campanha para a liderança do PSD e não quis acreditar. O discurso político dela tem a vantagem de parecer que se distancia dos discursos dos políticos profissionais. Um bocado hesitante e atrapalhado. Mas o que disse ela na Ajuda?

Faz-me lembrar quando há muitos anos, porque é 1º de Maio, o MES realizou a primeira acção de campanha eleitoral – para a constituinte ou para as primeiras legislativas – com uma sessão em Campolide. Era terreno do “inimigo” e, à última da hora, verificou-se que não havia mobilização. Nós acreditávamos na mobilização espontânea do povo em apoio das boas ideias. Nada. Logo na manhã do dia seguinte os jornais controlados pelo PCP puxaram para cima a notícia do fracasso … e morremos logo ali.
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MAIO DE 1968 ... TODOS OS MAIOS


A força das efemérides leva-nos ao Maio de 68. Passaram 40 anos. Àqueles que me questionam acerca das vivências desse tempo respondo, entre o sério e o irónico, que não me lembro de nada. Claro que me lembro mas as minhas vivências não me mobilizam para a reflexão. Frequentava a Universidade e, mesmo antes de nela ter ingressado, desde 1965, que participava dos movimentos de oposição à ditadura.

Durante os acontecimentos de Maio de 68 devo ter feito tanta coisa … ajudei a elaborar, imprimir e distribuir cadernos que divulgavam abundante informação acerca do que estava a acontecer em França. Lembro-me deles mas não me lembro do título da colecção. Discutia-se, no fundo, porque éramos modestos, uma coisa comezinha que era … a tomada do poder na universidade. Que afinal não era utopia porque viria a tornar-se realidade pouco tempo depois. Uma das vítimas foi o jovem assistente Cavaco Silva.

Em Abril de 1968 lia os “Cadernos” de Albert Camus, disso tenho a certeza, pois neles escrevi a data exacta da primeira leitura apaixonada (Abril – 3 – 1968 – FARO – CAIS.) Tal só foi possível porque as minhas preferências, no pensamento e acção, pelos 20 anos, nada tinham a ver com o Partido Comunista ou com os grupos marxistas-leninistas emergentes.

Eu vinha das vivências culturais, ligadas ao teatro amador; interessava-me o teatro e lia os dramaturgos, nalguns casos como ofício prático, clássicos e não só, (Gil Vicente, Eugène Ionesco, Luigi Pirandello, Thornton Wilder…) e também poetas (José Gomes Ferreira, encantava-me …) romancistas, de várias correntes e, claro, os neo-realistas (Urbano Tavares Rodrigues …). Filósofos, ícones da época, mais Gramsci que Marx, mais Lukács que Lenin, mais Camus que Sartre … mais Marcuse que Engels … Já para não entrar no encantamento pela rebeldia e música de Mary Joplin, Jimmy Hendrix e outros, além dos francófonos e dos portuguesíssimos que todos sabem quais são!.. E ainda, sem saber, militava numa estrutura da LUAR no Algarve.

As minhas experiências, anteriores ao Maio de 68, por razões de geração, eram mais próximas do espírito de Maio do que eu próprio supunha. Estavam mais próximas dos ideais libertários do que da ortodoxia comunista, pró soviética ou pró chinesa. Nunca na vida militei, nem simpatizei, com o PCP nem com os diversos grupos marxistas-leninistas que estavam a desabrochar. Respeitava a tradição da luta do PCP mas não me interessavam os valores em que ela assentava.
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Este desalinhamento político-ideológico manteve-se ao longo do tempo e havia de desembocar na aventura colectiva de criação do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Esta foi a resposta de muitos de nós à angústia de um desejo de empenhamento político que não encontrava resposta em qualquer das ideologias e organizações instaladas na esquerda que víamos como demasiado disciplinadoras na militância e ortodoxas nas ideias.

A gestação de um movimento autónomo de contestação ao regime – nas escolas, sindicatos, quartéis, igrejas, bairros e fábricas – correu antes, e depois, do Maio de 68 que incendiou, ainda mais, essa vontade de construir uma alternativa que a guerra colonial tornava urgente.

A ideia da criação desse movimento político, anti-autoritário, anti-fascista, anti-capitalista e anti-colonialista, ganhara corpo no sucesso de muitas lutas sectoriais, na preparação de candidaturas independentes a direcções de sindicatos, associações de estudantes e recreativas, na experiência de criação de comités que desencadeavam greves e reivindicações à revelia das estruturas sindicais e associativas tradicionais.

Enfim estávamos confiantes que o caminho do futuro passava pela criação do nosso próprio movimento de contestação ao regime fascista, a partir das bases, sem obediência a chefes nem a hierarquias que, na verdade, nos repugnavam.

Entre os anos de 1965 a 1968 fiz a minha aprendizagem na luta política de base. Fui um soldado raso na revolta da juventude contra a tirania. No teatro amador, na secção cultural da associação de estudantes de económicas, ou na sua reprografia, (secção de folhas), que dirigi, na direcção da cooperativa livreira Livrelco; em comissões de curso; na organização de acções de propaganda e de manifestações (as relâmpago eram as melhores! …) contra o governo; na CDE de 1969, antecedida pela tentativa, falhada, e pouco conhecida, de aproximação à CEUD de Mário Soares …

Muitas e boas razões para me lembrar do Maio de 68, vivido em Portugal, que deixou raízes mais fundas do que muitos, hoje, querem fazer crer, mas que, para mim, é uma simples memória no cotejo com os desafios do presente e do futuro.
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CULPADO

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quarta-feira, abril 30

CARTAZES DO MES




Porque estamos na véspera do 1º de Maio uma sequência de cartazes do MES (Movimento de Esquerda Socialista) de 1975. Foram-me enviados, em 2006, pela investigadora Margarida Boto. Publiquei-os, anteriormente, ilustrando os seguintes postes: A B C D
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ESQUERDA SOCIALISTA - Nº 1

E como estamos em véspera do 1º de Maio aqui fica o número um do “Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

O jornal foi dado à estampa tardiamente – 16 de Outubro de 1974 – e o seu design gráfico, tal como o símbolo do MES, são de autoria do Robin Fior. O seu primeiro director foi o César de Oliveira. Antes, pela passagem do 1º aniversário do golpe militar que derrubou Allende, no Chile, 11 de Setembro, já tinha saído o nº0 com uma tiragem de loucura! Aí uns 100 000 exemplares, ou estou enganado? [Post corrigido.]
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