segunda-feira, maio 10

BENFICA



Pronto! O Benfica é campeão. Os bastidores do futebol não devem ser melhores, nem piores, do que os bastidores da política ou de qualquer outra actividade humana. Não sei, na verdade, se vencem sempre os melhores. Acho, sinceramente, que não. Mas se os que vencem são os nossos somos capazes de, sem esforço, considerá-los os melhores do mundo. Fora do terreno do jogo - com suas regras - tantas vezes inexplicáveis, ou mal aplicadas, restam os adeptos, a massa associativa(!), espectadores, hoje mais telespectadores que, apaixonados, se degladiam. Fiquei contente, mas era excusada a violência que a inevitável paixão não justifica.  

domingo, maio 9

ANIVERSÁRIOS


Esperar é deixar o tempo passar, compreender que o tempo não nos espera. Não é o tempo que nos envelhece. O combate da nossa vida não é contra o tempo. É contra nós mesmos. O que somos para os outros e como nos vemos a nós próprios. É como nos sentimos quando nos olhamos ao espelho e nos vemos. Sós. Sem mais ninguém. Ver correr à desfilada as imagens dos que mais amamos. É isso viver. Na fronteira do vazio da vida que não deixa nada para contar. Uma memória apagada no dia da missa do sétimo dia. As vidas comuns. As vidas de milhões dos nossos irmãos de caminhada em levas sucessivas. Vidas com prazo. Finitas. Escreveu Camus: “a imortalidade é uma ideia sem futuro”. Observação certeira. 22/05/2008

                           Agostinho Roseta no jantar de extinção do MES (fragmento)
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sábado, maio 8

POR QUEM OS SINOS DOBRAM





































Fotografia de Hélder Gonçalves

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

John Donne

[Epígrafe a “Por Quem os Sinos Dobram” de Ernest Hemingway.]
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B.B. King

quinta-feira, maio 6

U.K. - ELEIÇÕES (HOJE)


Fotografia de Hélder Gonçalves

No Margens de Erro:

1. Conservadores deverão ter mais votos.
2. Impossível saber o que se passa entre Trabalhistas e Liberais Democratas.
3. Nenhum simulador sugere a possibilidade de uma maioria absoluta para os Conservadores.
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Exit poll gives Tories 307 seats, Labour 255 and the Lib Dems 59.
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quarta-feira, maio 5

Cristiano, un futbolista bestial, superlativo ...


Num dia de recolhimento por efeitos da alergia, que sempre me ataca pela primavera, para fechar este assunto antes do mundial, vi agora mesmo o Cristiano Ronaldo marcar três golos seguidos ao Maiorca, um hack-tric na linguagem dos futebóis. O El País escreve que Ronaldo é un futbolista bestial ...
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O PAPA E O PALCO


O palco para o Papa celebrar missa no renovado Terreiro do Paço ganhou forma. O Tomás Vasques tem razão: o cenário é espectacular.
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sábado, maio 1

FUTEBOL - CAMUS E OUTROS



Algumas imagens de Albert Camus a propósito de um assunto sério: o futebol.
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ALBERT CAMUS - Solitaire et Solidaire


Os meus amigos António Reis e Fátima fizeram-me chegar às mãos uma prenda escolhida em liberdade. Antes não me havia sido possível encontrar – por estar esgotado – este livro: Albert Camus, Solidaire et Solitaire, de autoria de sua filha Catherine Camus, edição Michel Lafon. Um livro composto por imagens, fotografias e não só, já conhecidas ou reveladas. Está lá o homem todo, sua vida e obra, uma luz que brilha por entre as sombras que povoam o nosso tempo.

« Mes enfants et mes petits-enfants, mes neveux et ma petite-nièce ne l’ont pas connu. Pour eux, j’ai voulu traverser toutes les images. Pour retrouver son rire, sa légèreté et sa générosité, pour retrouver cet homme attentif et chaleureux qui me laissait vivre. Pour montrer, comme l’écrit Séverine Gaspari, qu’Albert Camus était "un homme parmi les hommes et qui tenta, parmi ces hommes, d’être aussi homme qu’il le pouvait". » Catherine Camus
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quinta-feira, abril 29

FUTEBOL

O futebol é um fenómeno global e local ao mesmo tempo. Popular até ao tutano e mediático até à saciedade. Já perorei diversas vezes acerca do tema. Da terra batida dos campos da província mais remota até às relvas reluzentes dos grandes palcos há muitas diferenças mas também muitas semelhanças. Os heróis de um dia são os vilões do dia seguinte. A paixão pelo futebol entre as massas é um factor de alienação dirão os ortodoxos da esquerda, eles próprios seduzidos pelo fenómeno, mas libertador de tensões sociais e fautor de sentimentos de pertença cuja importância para a vida das comunidades e do indivíduo é difícil de explicar. Mourinho é um símbolo do líder odiado e idolatrado, vencedor mesmo quando vencido, desafiador do risco, conhecedor do mister a que dedica o seu tempo e saber. Muitos não sabem da profundidade do seu saber académico e da sua capacidade para gerir as virtualidades da chamada inteligência emocional na gestão dos grupos ou das equipas. O Prof. Manuel Sérgio – seu professor -um dia deu-se ao trabalho de me explicar o que iria ser Mourinho antes de ele atingir a notoriedade dos nossos dias.

E ainda a respeito de futebol assinale-se que a selecção portuguesa atingiu, pela primeira vez, um lugar no pódio do ranking mundial FIFA. Se eu fosse estratega dos desígnios nacionais, nesta hora de crise, colocava a vitória, mesmo que relativa, da selecção no Mundial da África do Sul entre as primeiras prioridades do investimento externo do país. Será uma oportunidade única de colocar o mundo, ou uma parte grande dele, a aplaudir de pé um pequeno país numa hora de dificuldades. Poucos países dispõem de uma tal oportunidade. E tudo devemos fazer para a não desperdiçar.
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quarta-feira, abril 28

ANIVERSÁRIO
























Naquele tempo de primícias sobrevoei o mundo cão que devorava a carne do povo sem liberdade nem pão. As mulheres assomavam à janela de casas térreas sem água nem pia a ver o tempo passar. A cidade crescera para fora das muralhas antigas subindo até junto das hortas. As ruas novas eram rectilíneas e os largos mais largos já não para dar passagem às carroças puxadas a cavalos mas às novas máquinas puxadas a motores de explosão. A casa era pequena e a janela principal era alta demais para mim. Um dia cheguei sem ajuda ao cimo dela e avistei a rua. O meu desejo foi tomar o meu lugar nela, correr ao pó, alisar as paredes com as mãos e sentir o cheiro da cal branca. O calor do sol diluía os odores das flores pela primavera quando ainda chovia e o ar subia às narinas com o perfume da vida eterna. O tempo era de silêncios entrecortados por palavras que sublinhavam as penas do quotidiano, alegrias breves, máscaras e enigmas, vidas com amor, mortes prematuras, caminhar, caminhar … ao encontro do futuro que sempre existe mesmo no seio da noite escura com a morte na alma. Havia o arco-íris tracejando o céu ou a caixa de cartão, as meias enroladas ou os girinos na poça do espaldão, sorrisos largos e mãos quentes, passeios nos quintais e as árvores frondosas ensombrando os animais com os frutos escorrendo seiva e colhidos à mão. Sou essa atmosfera feita de terra e de gente. [17/1/2008]
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sábado, abril 24

24 ABRIL




































À PORTA DE ARMAS

Na véspera do 36º aniversário do 25 de Abril tentei lembrar-me dos passos que terei dado nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar). Ontem, ao jantar, o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia nova acerca de uma rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para o dia seguinte. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição. Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante. Hoje impressionam-me as notícias acerca das iniciativas e intervenções do Presidente da República pela celebração deste aniversário. Bem-haja. E ainda me impressiona mais não saber se terei em quem votar nas próximas eleições presidenciais.