terça-feira, maio 4

Fragmentos de Leituras

"Decompor/destruir


Admitamos que a tarefa histórica do intelectual (ou do escritor) seja hoje em dia acentuar a decomposição da consciência burguesa. Será então necessário conservar na imagem toda a sua precisão; isto quer dizer que fingimos voluntariamente permanecer no interior dessa consciência e que vamos a seguir corroê-la, rebaixá-la, fazê-la ruir, no próprio local, como faríamos com um bocado de açúcar ao embebê-lo em água.

A decomposição opõe-se portanto aqui à destruição: para destruir a consciência burguesa é preciso estar ausente dela, e essa exterioridade só é possível numa situação revolucionária: na China, hoje em dia, a consciência de classe está em vias de destruição, não de decomposição; mas noutros lados (aqui e agora) destruir não seria afinal senão reconstruir uma ligação de palavra cujo carácter exclusivo seria a exterioridade: exterior e imóvel, assim é a linguagem dogmática.

Para destruir é preciso, em suma, poder saltar. Mas saltar para onde? Para que linguagem? Para que centro da boa-consciência e da má-fé? Ao passo que, decompondo, aceito acompanhar essa decomposição, decompondo-me a mim mesmo a par e passo: escorrego, agarro-me e arrasto."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -5
(Fragmento 3 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

AMIGOS

O Eurico que me enviou o texto abaixo publicado é o melhor amigo da minha primeira juventude vivida em Faro. Ele e o Assis. Os três, anos a fio, fomos companheiros inseparáveis. Na escola, na rua e na praia que frequentamos na nossa cidade de Faro.

Lembro as aulas de piano da D. Simone, mãe do Eurico, na sua casa, à Pontinha. Ao contrário dele, exímio pianista, nunca cheguei verdadeiramente a aprender. Mas fiz o gosto a minha própria mãe. Partilhamos um longo percurso de vida repleta das discussões, estudos, descobertas e perplexidades próprias da juventude.

No dia em que me desloquei a Lisboa para fazer o exame de admissão a Económicas foi acolhido em casa de seu pai. Nunca deixou de me dar todas as atenções. Não esqueço. Descobri depois que divergimos nas opções ideológicas e políticas. Coisa de somenos. Mas não divergimos na estima recíproca e na difícil disciplina da verdadeira amizade.

Obesidade mental

Foi em 2001 que o Prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro Mental Obesity, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

"Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."

Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna fast-food intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação."


O problema central está na família e na escola. "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada."


Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado Os abutres, afirma: "O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. "Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais." Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. "O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto."

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. "Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma "idade das trevas" ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

(Texto enviado pelo meu amigo Eurico Pimenta de Brito)


segunda-feira, maio 3

"Antes de Começar"

A peça de teatro que foi dada a estudar a meu filho na escola é de autoria de Almada Negreiros. Fiquei surpreendido. Não pela escolha da leitura de uma peça de teatro, que é uma boa opção pedagógica, mas pela escolha do autor.

Um grande autor português pouco dado a conhecer na nossa actualidade. É uma peça em um acto, representada no Teatro Nacional D. Maria II, em 8 de Junho de 1956, pelo "Teatro Universitário de Lisboa", sob a direcção de Fernando Amado. A peça é "Antes de Começar" e tem dois protagonistas: A Boneca e o Boneco. Mais não digo acerca da mesma.

Assinalo sim o facto de ter sido representada, naquele Teatro Nacional, por uma companhia universitária. Não tenho saudades do passado cultural do Estado Novo mas era bom que pudesse ser possível ver representadas naquele Teatro Nacional, com regularidade, peças de autores clássicos, nacionais e estrangeiros. Uma programação de qualidade, estruturada e atraente, própria de um Teatro Nacional de um país da UE. Pois, isso mesmo...Uma dinâmica…uma dinâmica qualquer…

Quem quiser saber, de um olhar, algo acerca de Almada Negreiros AQUI FICA.


Fragmentos de Leituras

"Pares de palavras-valores


Do mesmo modo, mais particularmente, não é o erótico mas sim a erotização que representa um bom valor. A erotização é uma produção do erótico. Leve, difusa, mercurial; algo que circula sem se deter: um flirt múltiplo e móvel liga o sujeito àquilo que passa, finge deter-se e depois larga-se a favor de outra coisa (e depois, por vezes, esta paisagem cambiante é cortada, seccionada por uma brusca imobilidade: o amor)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -4
(Fragmento 2 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

Vítimas ou carrascos

"Detidos em Abu Gharaib foram sujeitos a "abusos criminosos, sádicos e gratuitos"
Abusos a presos iraquianos eram "encorajados" pelos responsáveis dos interrogatórios" - Público

Estas notícias só são surpreendentes para quem não tenha entendido que estamos confrontados, no Iraque e não só, com uma guerra de seitas dirigidas por gente iluminada pela fé que encobre os mais lucrativos negócios.

Essa gente está de ambos os lados da barricada nos mais altos cargos. Claro que ninguém pode, em boa verdade, dispensar a fé e os negócios. Não somos ingénuos. Mas a civilização ocidental que apregoa, todos os dias, os seus pergaminhos de defensora dos direitos humanos e de prosseguir a senda do progresso, a passos gigantescos, deveria ser capaz de banir os assassinos das suas fileiras.

Ou a acção dos assassinos faz parte integrante de uma filosofia e de um programa de legitimação universal da política dos dirigentes no poder nos EUA e em Israel? Há um terrorismo "bom" e outro "mau"? Os direitos humanos são defendidos pelo terrorismo "bom" executado por "bons" assassinos? Ou são todos igualmente desprezíveis mesmo que a retórica de uns e de outros os procure desculpar e justificar à sua maneira?

É possivel que tenhamos atingido o ponto em que esta frase, desencantada, de Camus assume, novamente, actualidade: "Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos - e nada mais".


ABÉBIA VADIA

A criação de um blog colectivo, concebido e construído a várias vozes, é um desafio à criatividade e responsabilidade cívica e política dos seus autores.

A ABÉBIA VADIA tem uma semana de vida mas começou a ganhar balanço. É uma forma de intervenção que não pretende exorcizar os fantasmas dos seus editores. É mesmo um instrumento de intervenção cívica e política cujo sucesso depende da qualidade intrínseca das suas mensagens e da capacidade para ganhar uma vasta adesão em audiência.

Se ainda não visitaram a ABEBIA VADIA vão lá ver porque vale a pena

sábado, maio 1

Fragmentos de Leituras

"O corpo plural

"Que corpo? Temos vários." …Tenho um corpo digestivo, um corpo nauseável, um terceiro susceptível de enxaquecas, e assim por diante: sensual, muscular (a mão do escritor), secretivo e, principalmente, emotivo: que é emocionado, movido, ou calcado ou exaltado, ou atemorizado sem que isso se note. Por outro lado, sinto-me cativado até ao fascínio pelo corpo socializado, o corpo mitológico, o corpo artificial (o dos "travestis" japoneses) e o corpo prostituído (do actor). E além desses corpos públicos (literários, escritos) tenho, se assim poderei dizer, dois corpos locais: um corpo parisiense (desperto, cansado) e um corpo campesino (repousado, pesado)."
(Fragmento 1 de 3, pag. 3)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -3
Edição portuguesa das "Edições 70"

sexta-feira, abril 30

Não sejam hipócritas

Não chorem "lágrimas de crocodilo" para salvar a vossa consciência suja por decisões políticas injustas, interesseiras e desproporcionadas.

Não queiram ganhar votos, nos vossos países, à custa de falso arrependimento. De uma falsa descoberta da verdade propalada com a surpresa dos vencedores envergonhados.

Os soldados da coligação cometeram crimes sem o conhecimento dos generais? Não tem novidade!

Maio

"Recordo-me ainda daquela crise de desespero que se apoderou de mim quando minha mãe me anunciou que "eu agora já era muito crescido e passaria a receber presentes úteis no dia de Ano Novo". Ainda hoje não posso evitar uma secreta crispação quando recebo presentes desta categoria.

E eu com certeza sabia que na altura era o amor que falava, mas por que motivo o amor tem por vezes uma linguagem tão absurda?"

Maio de 38

Albert Camus

ANIVERSÁRIO

A propósito do meu aniversário que, sem outra razão senão a do próprio jogo, aqui dei a conhecer no próprio dia, sempre quero assinalar um facto invulgar. Tendo decidido, em família, que a celebração seria um jantar numa pisaria muito do nosso apreço, junto ao rio, lá fomos cedo.

Éramos quatro e pretendíamos alcançar o objectivo, prosaico, de uma mesa de vistas largas. Largamos MM e B ainda antes de aparcar para cravar uma bandeira no sítio desejado.

Surpresa das surpresas lá estava já sentada, no desejado sítio, uma comitiva familiar de três amigos que me tinham acabado de presentear com os telefonemas da praxe mas que, de todo, desconheciam o nosso objectivo. É o que se chama a alquimia do sítio.

Assim se fez, então, uma celebração informal não a quatro mas a oito, ou seja, quase a festa que se não desejava. Por isso mesmo com mais sabor. Tal situação me fez lembrar uma frase de Sena, no prefácio da primeira edição de Poesia-I: "Na peregrinação que é a nossa vida, muito mais somos visitados do que visitamos."

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -2

"O à-vontade

Edonista (pois pensa sê-lo), aspira a um estado que é, em suma, o conforto; mas esse conforto é mais complicado do que o conforto doméstico, cujos elementos são fixados pela nossa sociedade: trata-se de um conforto que ele vai conseguindo, que ele vai construindo para si próprio (como o meu avô B., que tinha arranjado, no fim da vida, um pequeno estrado junto da janela para poder ver melhor o jardim ao mesmo tempo que trabalhava).

Poder-se-ia chamar, a esse conforto pessoal, o à-vontade. Ao à-vontade é conferido uma dignidade teórica. ("Não temos nada que nos pôr à distância do formalismo mas, simplesmente, à-vontade", 1971, I*) e igualmente uma forma ética: é a perda completa de todo e qualquer heroísmo, mesmo em pleno gozo."
* referência a um texto do autor de 1971: "Digressions"

(Fragmento 2 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"


quinta-feira, abril 29

DÉFICIT

Uma notícia muito interessante acerca dos progressos da política do governo português na área de contenção da despesa pública.

"Défice público em 2003 foi de 5,3% do PIB sem medidas extraordinárias

O Banco de Portugal situa o défice orçamental português em 2003 no equivalente a 5,3% do Produto Interno Bruto (PIB), após a dedução das medidas extraordinárias a que o Governo recorreu.

No artigo de abertura do boletim económico de Março de 2004, divulgado esta quinta-feira, a instituição quantifica em 2,5% as medidas extraordinárias tomadas pelo Executivo do lado das receitas." Lusa

POPULISMO

Julgo não errar se considerar o Dr. Santana Lopes como o 2º mais alto responsável na hierarquia do PSD. Julgo não errar se considerar o PSD como o partido maioritário do Governo de Portugal.

Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes se declarou, explicitamente, como putativo candidato á Presidência da República. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes apostou o prestígio político do seu desempenho, como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, em duas obras emblemáticas: o "Túnel do Marquês" e o "Casino no Parque Mayer".

Julgo não errar se disser que o casino já não vai ser no Parque Mayer. Julgo não errar se disser que o Dr. Santana Lopes afirmou ou, pelo menos, insinuou que a decisão judicial que obrigou à suspensão das obras do "Túnel do Marquês" só foi possível por ele próprio ter sido induzido em erro pelo Governo que lhe mostrou a desnecessidade da realização de um "Estudo de Impacto Ambiental". De facto não é obrigatório, mas mostrava-se necessário e conveniente.

Enfim é verdade que foram publicados anúncios nos jornais a convocar para hoje uma "manif" de apoio ao Dr. Santana Lopes. Que a mesma convocatória não de sabe de quem é. Que essa manifestação foi desautorizada pelo primeiro-ministro através de notícias hoje mesmo postas a circular.

Enfim, uma trapalhada.

O populismo do Dr. Santana Lopes está a ficar às escancaras. Ao ponto de dois dos mais insignes "grandes educadores da opinião pública portuguesa",
José Manuel Fernandes, director do Público, insuspeito de ser crítico da maioria, e o arquitecto director do EXPRESSO o reconhecerem com as letras todas.

Fragmentos de Leituras


"Roland Barthes por Roland Barthes" -1

Com a anterior publicação dos meus sublinhados de juventude dos "Cadernos" de Albert Camus iniciei uma série que poderia intitular de Fragmentos de Leituras. Dou agora continuidade a essa série com as leituras do livro autobiográfico de Roland Barthes: "Roland Barthes por Roland Barthes".

Neste caso não se tratam de sublinhados mas de uma compilação de excertos que assumiram a forma de um livro artesanal anotado em cada uma de 18 das suas 23 páginas no tamanho A4. Este trabalho deverá ter sido realizado em 1981/82 e é um testemunho do prazer que a leitura daquele livro me propiciou.

Deixo, com esta série de excertos,um registo perdurável no tempo e, ao mesmo tempo, a partilha de uma leitura, por vezes difícil mas apaixonante, com aqueles que me quiserem acompanhar.

"O adjectivo
Ele suporta mal qualquer imagem de si próprio, sofre ao ser citado. Considera que a perfeição duma relação humana depende dessa ausência da imagem: abolir entre si, de um para o outro, os adjectivos; uma relação que é adjectivada está do lado da imagem, do lado da dominação, da morte.

(Era visível que em Marrocos não tinham de mim qualquer imagem: o esforço que eu fazia, como bom ocidental, para ser isto ou aquilo, ficava sem resposta: nem isto nem aquilo me eram devolvidos sob a forma dum belo adjectivo; não lhes passava pela cabeça comentar-me, antes se recusavam, sem dar conta, a alimentar e afagar o meu imaginário. Num primeiro momento, esse tom mate da relação humana tinha algo de esgotante; mas surgia, pouco a pouco, como um bem de civilização ou como a forma realmente dialéctica do convívio amoroso.) "

(Fragmento 1 de 3, pag. 2)

Edição portuguesa das "Edições 70"



quarta-feira, abril 28

28 DE ABRIL

Este dia é um dia muito especial para mim. É o dia do meu aniversário. Desde criança que neste dia ouvia na rádio, logo pela manhã, uma notícia do seguinte tipo: "Hoje é o dia de aniversário de sua Excelência o Senhor Presidente do Conselho, Dr. António de Oliveira Salazar…"

Até à morte do ditador esta noticia era um estranho eco que anunciava o meu próprio aniversário. Mas não era mais do que uma mera coincidência que em nada contribuia para a lembrança da data. Minha mãe jamais esqueceria o dia do meu aniversário, assim como dos seus mais próximos, que gostava de festejar.

Tanto valorizava estas datas que morreu no dia do aniversário do seu neto mais novo, no caso o meu próprio filho, após o respectivo e alegre festejo.

25 de Abril - notas pessoais

A liberdade

Nos momentos de ruptura é necessário fazer escolhas. No período pós 25 de Abril as nossas escolhas resultaram, algumas vezes, de erros de avaliação resultantes de apressadas opções ideológicas e intelectuais.

Nunca duvidei, pessoalmente, da primazia que a liberdade deve tomar no confronto com a justiça. Mas, em todos os tempos, em épocas de crise, em períodos pós guerra ou pós revolução, se suscita a questão da relação entre a justiça e a liberdade.

Camus escreveu, no período pós 2ª guerra mundial, algo que sintetiza, com clareza, o alcance deste dilema: "Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso? (...) Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade..."

Foi este, em síntese, também o nosso dilema. A nossa escolha, neste dilema histórico, foi a liberdade. Hoje não me interessam tanto as pessoas com as quais partilhei os acontecimentos do passado. Interessam-me mais aquelas com as quais possa partilhar os acontecimentos do futuro.

Mas não esqueço as marcas gravadas a fogo na minha memória pelo 25 de Abril de 1974 nem as pessoas admiráveis com as quais vivi esse sonho inigualável que foi a reconquista da liberdade. Se a nossa consciência de homens livres tem algum valor preservemos a capacidade de não nos deixarmos aprisionar pelo esquecimento e pelo medo. Para que nunca se cumpra o receio que Jorge de Sena, um dia, expressou nos seus versos: "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam."

terça-feira, abril 27

25 de Abril - notas pessoais

Amanhã termino a edição dos 32 posts com os quais prestei a minha homenagem ao 25 de Abril.

Aquelas notas não poderiam abranger todos os detalhes dos acontecimentos em que participei. Muito longe disso. Ao longo destes dias fui-me, no entanto, deparando com documentos que julgava estarem perdidos ou com memórias que pensava ter, definitivamente, esquecido.

Talvez seja viável pensar numa publicação em que reúna estes escritos que foram destinados ao absorto aos quais poderei juntar outros desenvolvimentos e precisões. Além de algumas resenhas de documentos incluindo trabalhos gráficos. É uma questão a ponderar no futuro próximo.

Nestas notas não surgiram, por exemplo, referências a mulheres e elas tiveram um papel importante no MES apesar de não terem ocupado lugares de relevância nos órgãos dirigentes. A seu tempo, com ou sem publicação, repararei essa omissão.

XANANA GUSMÃO E O PETRÓLEO DE TIMOR

Xanana Gusmão denuncia, com as letras todas, a política da Austrália a propósito de Timor.

O apoio tardio da Austrália ao processo de independência teve sempre em vista, exclusivamente, o petróleo de Timor. Uma boa oportunidade para Portugal mostrar a coerência da sua política face a Timor.

O Presidente da República e o Governo de Portugal que mostrem à Austrália uma posição firme de apoio a Timor cuja independência carece dos proventos do petróleo que lhe pertence.

Tudo o que fizerem terá o apoio entusiástico do povo português. Ao contrário da política de apoio à invasão do Iraque. Mas, porventura, terão que se demarcar, ou mesmo hostilizar, o aliado australiano e, porventura, americano.

Mas a causa de Timor vale a pena. Tem uma história por detrás. E pode também inserir-se numa política coerente de cooperação.

Ficamos à espera.

25 de Abril - notas pessoais


Mário Viegas


O oficial miliciano mais fascinante do meu Quartel era o Mário Viegas. O seu estatuto no serviço militar era apropriado ao seu talento de actor.

Vivemos em comum aqueles momentos inesquecíveis em que a liberdade foi devolvida aos portugueses. Tinha por ele um natural fascínio que sempre me retribuiu até à sua morte prematura.

No dia 1 de Maio de 1974, se não erro, no Quartel do Campo Grande, assisti ao acontecimento mais extraordinário de toda a minha vida. Havia que festejar o que agora comemoramos com nostalgia. O refeitório foi transformado numa sala de espectáculos. Nele se reuniu toda a gente..

Imaginem o elenco daquela festa improvisada: Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas. Todos mestres geniais na sua arte. A certa altura o Mário Viegas subiu para o tampo de uma mesa e a poesia brotou, em palavras ditas, como se diante de nós se revelasse um novo mundo ou tivéssemos da vida renascido.

(31de 32 continua)


segunda-feira, abril 26

EXIGÊNCIAS ABSURDAS

A situação no Iraque, como seria de prever, atinge os píncaros do absurdo. As forças da coligação ocupante (é uma designação, apesar de tudo, simpática) sofrem ataques da resistência e somam baixas diárias.

A administração Bush manobra para encontrar uma saída airosa a tempo das eleições de Novembro. As petrolíferas, de todos os países, incluindo os críticos da intervenção militar, distribuem o saque.

O povo iraquiano, como sempre acontece nestas situações, sofre no meio do fogo cruzado dos extremismos. Os raptores de italianos, finalmente, põem como condição para poupar a vida dos reféns, que o povo italiano se manifeste nas ruas contra a guerra.

É o cúmulo da loucura! Uma vez mais a pergunta que se põe é: quem põe fim ao absurdo desta situação? Resta aos homens de boa vontade rezar! É isso?

Jorge de Sena - 1968

Folheando a Antologia da Revista "O Tempo e o Modo" dou com uma entrevista concedida por Jorge de Sena editada no número 59, de Abril de 1968, dedicado a Sena, fazem exactamente 36 anos.

À pergunta 5. "Há quem o acuse de susceptível e agressivo. Concorda que o é?", Sena responde:

"Realmente? Julgava eu que esse mito já havia passado, por se ter revelado inoperante para neutralizar-me e destruir-me. Mas, se acaso sou susceptível, tenho a susceptibilidade dos exigentes e dos afáveis, honestamente afáveis. E, se sou agressivo, é só a agressividade do muito amor. Eu não perdoo a ninguém a mediocridade, a estupidez, a vileza, a malignidade, a incultura, a suficiência, a intolerância, o espírito de compromisso, a cobardia moral, etc. Será que estas coisas ainda existem em tão grande escala em Portugal, que eu pareça necessariamente agressivo e susceptível?..."

Eis uma pergunta que mantém toda a actualidade no Portugal contemporâneo. É triste mas é verdade.

LIBERDADE NA MADEIRA

A liberdade serve para concordar e discordar. A liberdade estimula a formação da opinião e permite que a opinião se possa expressar.

O Dr. Alberto João tem opiniões que podemos considerar ofensivas da liberdade mas nem por isso o regime da liberdade lhe vai, à força, cortar o pio. É uma grande vantagem da liberdade. É tolerante até aos limites do tolerável. É magnânima.

Vejamos um exemplo: o representante do PS na sessão evocativa (e não solene, que essa fica para a celebração da autonomia) do 25 de Abril, no Parlamento da Madeira, deixou um cravo na tribuna. O representante do PSD, que se lhe seguiu no uso da palavra, jogou o cravo ao chão.

A liberdade na Madeira prova a sua força. Aguenta tudo. Até a grosseria mais boçal e a mal criação mais grosseira dos eleitos do PSD.

No Governo! Aqui e lá! Haja Deus!

25 de Abril - notas pessoais

O passo em frente


Os dias que se seguiram ao 25 de Abril foram de ansiedade e expectativa. Nas ruas a euforia disfarçava o nervosismo mas nos quartéis o ambiente não era de certezas definitivas. O Oficial que assumiu o Comando da minha unidade, certamente o Major Azevedo, mandou reunir os oficiais milicianos.

Formamos um semi-círculo e o comandante perguntou se alguém estava contra, ou tinha reservas, face ao Movimento das Forças Armadas. Quem estivesse contra daria um passo em frente. Silêncio e passividade total.

Eis senão quando o Graça, o de Moçambique, deu um passo em frente. Ficamos sem saber o que pensar. Mas ele explicou. Não tinha a certeza se os militares levariam até ao fim o processo de libertação do povo português e a descolonização.

Ficamos mais descansados e destroçamos com sorrisos. Na prática todos os oficiais milicianos do quartel estavam com o MFA.

(30 de 32 continua)

domingo, abril 25

CANTIGA DE MAIO


Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.

Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.

Santa Bárbara, 4/6/74

Jorge de Sena

In Poemas "Políticos e Afins" (1972-1977)
"40 Anos de Servidão"







ABÉBIA VADIA


A partir de hoje, 25 de Abril de 2004, vai surgir um novo blog baptizado de ABÉBIA VADIA de que serei co-autor. Está disponível no endereço www.abebia.weblog.com.pt No princípio seremos titubeantes nalgumas formulações de conteúdo e de forma. Escrever num espaço público com regularidade, mesmo diariamente, comporta o risco do erro e da vulgaridade. Seremos, certamente, vigilantes e exigentes.

Este blog surgiu das relações de amizade entre os seus editores e, convenhamos, de uma necessidade de intervenção cívica, sentida por todos, numa época de profundo desânimo e pessimismo na sociedade portuguesa. Julgo que todos assumimos a convicção de que esta onda de descrença não nos tornou menos capazes como cidadãos do que antes.

Somos, por outro lado, amigos mas não somos prisioneiros de qualquer compromisso político comum definido à partida. Julgo que a nossa vontade é a de contribuir para a animação do debate em torno de temas que interessam a todos os cidadãos de boa vontade.

Talvez fazer denúncias e gritar por liberdade e justiça naquele sentido que Jorge de Sena define, magistralmente, no final do seu "Poema de 28 de Maio ao contrário": "...a Justiça é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma". Se isto define uma atitude de esquerda então seremos de esquerda. Se isto define uma atitude de progresso então seremos progressistas.

Manterei o Absorto conjuntamente com a minha participação neste blog colectivo. No Absorto tomará mais importância uma faceta autobiográfica e de diário pessoal na minha intervenção no espaço da blogosfera. O Absorto é, de facto, um estímulo para a auto-disciplina na atenção crítica à realidade social que me envolve e, ao mesmo tempo, uma exigência diária de escrita.

A minha posição de princípio é a de haverei de chegar a um modelo de participação a partir do exercício dessa mesma participação. E como todos nós somos muito persistentes estou convicto que estas não são experiências de ocasião mas um sério compromisso de participação cidadã.

A net é o futuro. Não tenho dúvida alguma acerca do seu papel no desenvolvimento das sociedades contemporâneas. Não é uma moda. É um fenómeno estruturante na formação das opiniões públicas e, em consequência, das opções políticas dos governos a todos os níveis. Este papel será, certamente, cada vez mais decisivo assumindo novas formas nas sofisticadas relações entre a comunicação e as instituições tradicionais do poder político e mediático.

A internet é mais importante do que muitos, ainda hoje, pensam. Tenha essa consciência assim como os editores do ABÉBIA VADIA. Por isso aceitamos este desafio e esta aventura. Somos homens e mulheres. De todas as idades, diversas profissões, variados interesses intelectuais e afazeres profissionais.

Pela parte que me toca participo, livremente, neste projecto porque acredito no futuro.

sábado, abril 24

25 de Abril - notas pessoais

A rendição de um PIDE


Entramos, ia alta a noite, no Quartel e desde essa madrugada de 24 de Abril até ao 1º de Maio de 1974, inclusivé, não saí do quartel senão uma única vez. Não vivi na rua a verdadeira festa do 25 de Abril após a consumação da vitória da revolução.

Não assisti à enxurrada de manifestações populares nem participei, com muita pena minha, na manifestção do 1º de Maio. Os soldados ficaram horas a fio alinhados nas casernas, por detrás das janelas que davam para a rua, de armas apontadas para o que desse e viesse. Alguém tinha que cuidar desses detalhes da "cozinha" de qualquer revolução.

Muitos de nós, salvo as pacatas manifestções domésticas e aquelas que tinham lugar na rua, defronte do quartel, tiveram de se dar por satisfeitos com as imagens, a preto e branco, que passavam na televisão.

Num desses dias, estava de oficial-de-dia o António Dias, quando foi procurado por alguém que da rua pretendia falar. Era um agente da PIDE que se queria entregar. Foi recebido com deferência. Identificou-se e fez a entrega da arma. Uma bela pistola que me suscitou cobiça e nunca mais esqueci.

De seguida coube-me a tarefa de o escoltar a caminho da Ajuda onde o entreguei em "Cavalaria 7" ou "Lanceiros 2". Foi a minha única saída do quartel em todos aqueles dias de brasa.

No percurso, realizado em jeep, nem uma palavra se trocou. Lembro-me de ter cumprido a missão, com rapidez, respeitando e defendendo, do primeiro ao último momento, a dignidade de um homem aterrorizado que tinha passado, de um dia para o outro, de agente do poder a prisioneiro do poder.

(29 de 32 continua)

sexta-feira, abril 23

Entardecer

Aqui perto do sítio de onde escrevo situa-se a Praia da Maçãs perto do ponto mais ocidental do continente europeu. Hoje ao fim da tarde o pôr do sol que se avistava de uma esplanada sobre a praia foi verdadeiramente espectacular. Uma grande bola de um vermelho indiscritível parecia rolar na linha do horizonte sobre o vasto mar tranquilo. O sol escondeu-se em cerca de quatro minutos no mar. Não havia sinais de violência. As águas não estavam tintas de sangue. As crianças brincavam tranquilamente á beira mar. As guerras andam, aparentemente, longe de nós....

FURTOS

A notícia obteve pouca expressão pública. O "Semanário Económico" também abordou o furto dos computadores nos serviços de execuções fiscais da Administração Fiscal, em Lisboa. Como se fosse um vulgar caso de roubo de hardware.

Quais serão os resultados da investigação policial?

O ESTRANGEIRO

Chegou-me ás mãos uma edição do "O Estrangeiro", de Camus, trazida pelo meu filho da Escola Alemã. A biblioteca da Escola, de vez em quando, coloca fora das suas estantes alguns livros que põe à disposição dos alunos que os queiram, a título definitivo, levar para casa.

Ora sabendo o meu filho da minha paixão por Camus e tendo visto este titulo, que lhe é familiar, deu-mo de presente. É uma edição didáctica, em formato de bolso, muito interessante, em francês, com notas em rodapé em alemão, traduzindo algumas expressões ou palavras do texto original.

Agora vou esperar pacientemente que seja ele a ler a edição que me ofereceu. Está feita à medida das necessidades da sua educação mas numa língua que não conhece. É uma questão de esperar que amadureça e seja capaz de aprender o francês. São muitas línguas para quem, além do português, tem de ser fluente no alemão, condição e razão de ser da frequência de uma escola alemã, e aprender o inglês.

São muitas as dificuldades a vencer para os seus 13 anos. Mas haverá de vencê-las.

25 de Abril - notas pessoais

Salgueiro Maia


Afinal o Capitão Salgueiro Maia era um homem de coragem. No confronto decisivo da Rua do Arsenal foi o sangue frio de Salgueiro Maia que tornou vitoriosa a revolução.

A sua impassividade e serenidade face à força inimiga obrigou a que o soldado atirador, sob ordens de um subordinado do brigadeiro, não fosse capaz de premir o gatilho.

A serenidade do Capitão Salgueiro Maia sabendo que tinha a sua cabeça na mira do atirador congelou a situação.

Acredito pelo que presenciei que só a conjugação da coragem do Comandante da força revoltosa de Santarém, o embaraço do comandante da força do regime e a recusa do soldado em disparar permitiram o desenlace feliz daquela situação que, no plano militar, era absolutamente desfavorável aos revoltosos.

Assim se decidiu o destino da revolução. Entretanto tínhamos prosseguido o nosso caminho e entramos pacificamente no 2º GCAM.

(28 de 32 continua)

PALESTINA

Imagens impressionantes de jovens palestinianos, nas encostas ressequidas e poeirentas da sua terra, apedrejando os grandes e inexpugnáveis carros de guerra israelitas. Eles avançam e recuam perante os disparos numa dança macabra mas, ao mesmo tempo, bela.

São quase todos jovens e os seus vultos não deixam esconder o seu desespero, ou fanatismo, conforme os pontos de vista. A beleza da guerra é uma blasfémia. A heroicidade um estímulo para a criação. Os repórteres do canal da televisão francesa (?) relatam os mortos palestinianos desta guerra sem fim à vista.

Os ultras conservadores no poder, em Israel e nos EUA, parecem dispostos a rasgar todos os acordos antigos e recentes acerca da divisão territorial naquela região colocando os palestinianos no inferno de uma pátria acossada e sem território. O mesmo que sucedeu ao povo judeu noutro tempo e noutra circunstância histórica. Tudo é diferente nas diversas versões dos acontecimentos. Mas os povos sofrem no concreto das suas vidas. Os cronistas somente relatam e comentam no conforto das suas convicções limpas de sangue.

O sangue escorre da carne dos povos que sofrem e morrem sem, a mais das vezes, saberem das verdadeiras razões das guerras. As imagens e as notícias, que as nossas televisões quase não mostram, são demasiado cruéis e injustas para os povos israelita e palestiniano. Algo tem que acontecer para por fim à tragédia.

quinta-feira, abril 22

CHOMSKY CRIOU BLOG

"Turning the tide" - "Mudar a maré" é o blog de Chomsky que se integra numa onda para afastar BUSH da presidência dos EUA nas próximas eleições presidenciais de Novembro.


POETAS

Não esperava por esta do Francisco Sarsfield Cabral. Sinceramente não esperava por esta. Um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa", no caso, pertencente à minoria decente dos mesmos, resolveu falar, no DN, acerca do 25 de Abril.

Tudo bem. Eis senão quando me deparo com esta frase: "A ilusão do império colonial desvaneceu-se de maneira trágica para africanos e europeus, sobretudo em Angola. E os portugueses continuam a ser o que sempre foram: incultos, desorganizados, pobres, complexados e poetas" ...

Os poetas são metidos no mesmo monte infecto da gente espúria, incapaz, nociva, enfim, lixo...Se o prestígio de Portugal no Mundo estivesse entregue aos poetas Portugal era um grande país: Camões, Pessoa, Sena, Sofia, …tantos, tantos…

Ao ponto a que chegou o nacional-comentarismo.

25 de Abril - notas pessoais

O renascimento da liberdade


Era a velha questão da liberdade que se jogava naquelas horas. Participei, com os meus dois camaradas, João Mário e António, num daqueles momentos raros da história das nações em que algo de essencial muda.

A mudança do destino da vida de toda uma comunidade e de um povo. Um daqueles momentos raros de fusão em que um regime, que no dia anterior parecia inexpugnável, cai fulminado como se nunca tivesse tido apoiantes e seguidores. Assistimos e participamos, ao vivo, a uma página ímpar da nossa história, aos últimos minutos de um regime de opressão e ao renascimento de um regime de liberdade.

Estamos todos vivos e os nossos nomes são verdadeiros: António Cavalheiro Dias, João Mário Anjos e Eduardo Graça.

De saída daquela situação de acompanhantes anónimos da coluna militar, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, ainda nos cruzamos com a coluna de Cavalaria 7 que vinha ao encontro dos revoltosos. Era comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, meu conterrâneo, que ainda outro dia vi num pequeno café da minha cidade de Faro. Ironia da história: Salgueiro Maia, o vencedor, está morto e Junqueira dos Reis, o vencido, está vivo.

O caminho de regresso ao nosso objectivo passou pela Ajuda onde o pessoal da Polícia Militar (PM) discutia o que fazer na entrada de Monsanto.

Ao longo destas digressão pela cidade sempre pensei que a desproporção de forças era demasiado grande, enorme e arrasadora, e que a coluna revoltosa não seria capaz de resistir a um ataque determinado. Receie que fosse destroçada em poucos minutos.

(27 de 32 continua)

quarta-feira, abril 21

ROLAND BARTHES

Descobri agora, nestas buscas a propósito do 25 de Abril, o original de um livro artesanal que fiz, pouco tempo depois da morte de Roland Barthes, talvez no decurso de 1981, com fragmentos da sua obra declaradamente autobiográfica, "Roland Barthes por Roland Barthes", editada em Portugal, em 1976, pelas "Edições 70", a partir de uma edição francesa de 1975.

Um dia destes, quando o blog colectivo, que está em preparação e do qual vou ser co-editor, estiver "na rua" vou editar aqui esse livro artesanal composto por 23 páginas A4, com citações do livro autobiográfico de Barthes com breves comentários meus. Esta leitura de Barthes foi uma das que me deram mais prazer em toda a vida.

Os textos de Barthes, vertidos neste livro, foram escritos, curiosamente, no período de 6 de Agosto de 1973 a 3 de Setembro de 1974 abarcando, portanto, a época da revolução portuguesa do 25 de Abril.
.

A convergência vai demorar 92 anos

É PRECISO MUITO OPTIMISMO OH VASCONCELOS!

25 de Abril - notas pessoais

Rua do Arsenal


Tomada a decisão de ver com os próprios olhos o desenvolvimento da acção militar fomos sempre atrás da coluna atravessando a baixa no sentido do Terreiro do Paço. Chegada à Rua do Arsenal a coluna parou. Os tanques posicionaram-se no terreno. Havia um vaso de guerra no Tejo e a discussão era se estava a favor ou contra o movimento revoltoso.

Decidimos que chegara a hora de abandonar o local pois não era aquela a nossa guerra. Não podíamos ficar mais tempo sacrificando a nossa própria missão. Ultrapassamos a coluna facilmente e seguimos em frente. Sempre fiquei com a convicção que a vitória da Revolução foi decidida na Rua do Arsenal antes dos acontecimentos do Largo do Carmo.

O povo ainda não tinha descido à rua. Estávamos na fase das puras operações militares, propriamente ditas, sem as quais não seria possível desencadear o verdadeiro processo político que precipitaria a queda do regime.

Afinal as forças armadas estavam a prestar um serviço público que poderia redundar num pesadelo para os seus protagonistas.

(26 de 32 continua)

MÁRIO SOARES

Acabei de ver uma grande entrevista de Mário Soares no programa "Sociedade Aberta" na SIC Notícias. Plena de vigor e de capacidade de afirmação dos valores essenciais do 25 de Abril: defesa da liberdade cidadã, das conquistas sociais, da concórdia nacional, da descolonização, sem a qual não seria possível a democracia, em suma, do progresso humano.

Não vale a pena perder tempo com os anões conservadores da política portuguesa depois de ouvir Mário Soares. Nem ficarmos preocupados, em demasia, com os ERRES da efeméride abrilista. Ninguém escapa, mesmo quem queira trocar as voltas à história, à nova realidade política e social que o 25 de Abril implantou em Portugal.

Mário Soares é, sem dúvida, quem melhor encarna os valores desse Portugal contemporâneo, na essência, democrático e progressista.

terça-feira, abril 20

Operação "mãos limpas" no futebol?

O Expresso on line informa que Avelino Ferreira Torres foi procurado pela PJ mas está em parte incerta. Ao mesmo tempo notícia a detenção de Valentim Loureiro.

Pode ser uma operação "mãos limpas" à portuguesa no futebol. Se assim for ainda bem apesar da imagem do país no estrangeiro se degradar ainda mais a curto prazo.

Mas mais vale correr esse risco a deixar "correr o marfim".

FUTEBOL

Uma paixão antiga. Desde criança, como milhões de crianças pelo mundo, sou um apaixonado pelo futebol. A prenda que mais me marcou na vida foi a primeira bola que meu pai me ofereceu em dia de aniversário. Uma bola de borracha com aquele cheiro tão característico.

No estádio de S. Luís, em Faro, vi jogos e treinos sem fim. Em todas as divisões possíveis e imaginárias. O futebol é um jogo fascinante. Desde logo porque é jogado com os pés, excepto o guarda redes. As mãos ficam de fora.

Ao ar livre. Faça chuva ou faça sol. O futebol sobreviverá a alguns dos seus dirigentes. A este tropel miserável de corruptores e corrompidos que invadiram o futebol profissional.

Sabem que também há o outro futebol, amador, praticado por amor ao jogo? Esse tem mais jogadores que espectadores. O espectáculo aí são os próprios jogadores protagonistas e espectadores do seu próprio jogo.

25 de Abril - notas pessoais

Na peugada da coluna de Salgueiro Maia


Perante o dilema de entrar, de imediato, no Quartel do Campo Grande ou seguir atrás da coluna militar tomamos a opção de perseguir a coluna. Mas antes deixamos o João Mário Anjos no quartel. Eu com o António Dias ao volante do Datsun 1200, matrícula HA-79-46, seguimos atrás da coluna de Salgueiro Maia.

A caminho da Avenida da República pensei com os meus botões na fraqueza aparente da força militar que havia de ser decisiva no destino do 25 de Abril. Um soldado que era visível num dos carros apresentava um aspecto de uma fragilidade impressionante.

Era uma coluna militar pouco convincente, pelo aspecto exterior, ostentando sinais de fraca capacidade militar. Na Avenida da Liberdade lembro-me de ter visto um polícia tomar a iniciativa de mandar parar um ou outro carro para não perturbar o avanço da coluna. Seriam 4 horas da madrugada e saíam clientes do "Cantinho do Artista" no Parque Mayer.

Éramos, certamente, os únicos perseguidores e acompanhantes exteriores daquela força e queríamos viver os acontecimentos ao vivo.

(25 de 32 continua)

segunda-feira, abril 19

POEMA DE 28 DE MAIO AO CONTRÁRIO


Gigante foi a luz que acesa se estendeu
por sobre as trevas de um povo prisioneiro

Ninguém esperava que no primeiro impulso
de um movimento militar se abrissem todas as janelas

e todas as portas. Mas abriram-se e por elas
a luz e as vozes foram restituídas.

Todos agora, exército e povo, os militares e os políticos,
e quantos nunca pensaram que a política é coisa

de todos os dias ter de aprender-se a ver,
a falar e a ouvir, lá onde na caverna

só sombras de fantasmas existiam.
Todos têm de aprender a governar e a governar-se n`alma

e a fazer governo a liberdade e as vozes
e o direito de existir-se à luz do dia

como gente viva num país que é ela.
Todos têm de aprender que a liberdade não existe

apenas porque é dada, pois pode ser tirada,
ou apenas porque é conquistada, pois pode ser

licença em que não reste senão ela perder-se.
Têm de aprender que não pode ter-se num só dia

o que se perdeu em décadas. E que a Justiça
é a Liberdade que pensa mais nos outros que em si mesma.

Santa Bárbara, 28/5/74

Jorge de Sena


POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"




GOVERNO DE ZAPATERO

Um aspecto pouco realçado do novo governo socialista de Espanha: a paridade. O número de ministras (mulheres) é igual ao de ministros (homens). Julgo que é uma novidade absoluta em governos de países meridionais. Sinal de um grande avanço civilizacional. Talvez mais eficaz no combate ao radicalismo islâmico do que mil soldados no Iraque. Á atenção dos socialistas portugueses.

O Voto em Branco

O voto em branco ganhou um adepto em Luís Delgado. O almoço de Saramago com Durão Barroso começa a produzir efeitos. Delgado, um dos 10 grandes educadores da opinião pública portuguesa, mostra desacordo com a escolha de Deus Pinheiro e revela o seu voto nas eleições europeias: branco.

Deus Pinheiro não é assim muito mobilizador. Tem o ar de estar sempre de regresso de uma partida de golf ou de um cruzeiro nas Caraíbas. A esquerda e, em particular, o PS que não entre em euforias.

Luís Delgado está farto de se enganar. Deus Pinheiro pode ser melhor candidato do que se possa pensar.

domingo, abril 18

25 de Abril - notas pessoais

Finalmente sinais de acção


Retenho muito viva na memória a imagem do carro do combate que encabeçava a coluna a irromper diante de nós. Tinha surgido na escuridão da noite uma coluna militar que tomaria a direcção do centro da cidade. Vislumbramos um carro "nívea" da polícia na penumbra que não esboçou qualquer movimento.

O Campo Grande não era como hoje. Havia um desnível e o carro de combate que vinha na nossa direcção deu um salto rápido para tomar contacto de novo com o chão. Foi uma espécie de salto mágico que desde esse momento, com frequência, me assalta a memória.

A comoção que sentimos é indescritível. Era um sonho que se tornara realidade. Fomos, certamente, os únicos que assistimos e registamos, ao vivo, esse momento. Esta é a primeira vez que ele é relatado. Soubemos, mais tarde, que aquela era a coluna, oriunda de Santarém, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia.

Naquele momento colocava-se a opção de cumprir o nosso objectivo e entrar no quartel do Campo Grande ou seguir atrás daquela surpresa entusiasmante.

(24 de 32 continua)

Zapatero cumpre promessa

Zapatero anuncia retirada imediata das tropas espanholas do Iraque

O novo primeiro-ministro espanhol, que ontem prestou juramento, vai mesmo retirar as tropas espanholas do Iraque. A confirmação foi feita hoje, pelo próprio, num inesperado encontro com jornalistas em Moncloa: os soldados vão abandonar o Iraque "no menor tempo e com a maior segurança possíveis".

VEJA AQUI NOTICIA DO EL MUNDO (clique: elmundo.es). Espera-se conferência de imprensa de Durão Barroso a comentar a decisão do Governo de Espanha. Manda a coerência...


Um cartaz em Nova Yorque

Retomei a leitura do livro "Saudades de Nova Yorque", de Pedro Paixão. Num dos seus capítulos sucintos refere que, um dia, viajando em Nova Yorque, viu um cartaz enorme onde dizia: "Considera suportável que a sua geração tenha visto duplicar o número de imigrantes?"

É, por coincidência, o tema de um artigo que estou a escrever para publicar, em breve, no "Semanário Económico".

Entre 1991 e 2001 o número de imigrantes aumentou, em Portugal, 83%. Não foi assim preciso uma geração para que o número de imigrantes quase tenha duplicado no nosso país. Como todos os estudos provam, com riscos e dificuldades de integração, foi suportável para Portugal acolher estes imigrantes.

E ainda fazem faltam muitos mais. Os imigrantes são uma exigência demográfica e uma necessidade económica do Ocidente. O nosso país não é excepção e a imigração representa, no essencial, um benefício para Portugal.

Assim hajam políticas realistas na definição das necessidades em mão de obra imigrante e humanismo na promoção da integração social das suas comunidades.


sábado, abril 17

O gato


Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga

Vinícius de Moraes


25 de Abril - notas pessoais

A espera sem fim


Nessa espera sem fim da madrugada de 24 de Abril de 1974 a certa altura alguém me acordou com incontida emoção. Tinha passado a canção.

Era mesmo a sério. A noite ia alta. Saímos os três. Eu e o João Mário metemo-nos no carro do António Dias que, conduzido por ele, caminhou para a 2ª Circular a caminho do Campo Grande. O Milhomens saiu para a baixa da cidade.

O nosso objectivo era tomar posição dentro do 2º GCAM o mais cedo possível. Mas, ao contrário do que aconselhava a prudência, não o fizemos logo. Antes fomos dar uma volta de carro pelas redondezas a ver o que se estaria a passar na EPAM.

Passamos defronte da EPAM e conseguimos ver o Teixeirinha junto ao muro, equipado de arreios, preparado para integrar o grupo que ocuparia a RTP. Não observamos nenhum outro sinal da acção iminente.

Regressamos à 2ª Circular para reforçar a observação do movimento começando a desconfiar que ia ser um novo 16 de Março. Um fracasso. Encetamos, de novo, o caminho do quartel do Campo Grande.

Ao entrar no Campo Grande surgiu, inesperadamente, diante de nós, uma coluna militar.

(23 de 32 continua- republicado depois de uma correcção)


ALDINA DUARTE

Volto a Aldina Duarte, e à sua entrevista a Ana Sousa Dias, para assinalar a minha surpresa pelo extraordinário impacto do seu desempenho. As pesquisas buscando o seu nome, que têm desembocado no absorto, são em número muito superior ao normal.

Espero que a Aldina Duarte, que não conheço, seja capaz de manter-se fiel às suas próprias convicções, resista às armadilhas da popularidade, que está na sua mão alcançar, desenvolva a sua arte e seja feliz.

Um dia destes vou vê-la ao "Senhor Vinho", mesmo ao lado de uma mercearia onde tantas vezes almocei, em ambiente familiar, pertinho do GEBEI, na rua das Praças, onde trabalhei, alguns anos, no seio de uma equipa extraordinária.

Mas estas são contas de outro rosário.

sexta-feira, abril 16

Sentido de Estado…

Segundo a comunicação social, e todos nós que pudemos ouvir, Durão Barroso afirmou:
"O novo Governo espanhol anunciou que ia retirar as tropas do Iraque e imediatamente disse que ia aumentar a presença no Afeganistão. Sentiu necessidade de o dizer, reparem nisso. Imediatamente a Al-Qaeda reforçou as ameaças contra Espanha. E neste momento a situação naquele país não é de forma alguma mais segura do que em Portugal, bem pelo contrário".

Esta afirmação vai certamente sair cara a Durão Barroso e...a Portugal. Comparações acerca da segurança entre dois países vizinhos feitas pelo Primeiro-ministro do Governo de um desses países? Depois do que aconteceu em Espanha? Para uma "conversa de café" não estava mal! Mas para Chefe de Governo não pode ser verdade...estranha noção do Sentido de Estado.

Abril com "R"


Trinta anos depois querem tirar o r
se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois

Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o l mas qualquer dia
democracia fica sem o d.
Alguém que faça um f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande p de poesia.

Trinta anos depois a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois.

Manuel Alegre

(Enviado por MM. Sim, bonito)

quinta-feira, abril 15

Bin Laden e outras notícias de última hora

"Washington pede a diplomatas americanos para deixarem a Arábia Saudita". Esta notícia acabou de ser conhecida. É perturbadora.

O director da CIA e o FBI dão sinais públicos de incapacidade para combater os movimentos islâmicos radicais. Estranhas confissões de impotência! Estas notícias do dia já eram perturbadoras. Juntam-se a uma outra: Mensagem atribuída a Bin Laden propõe a paz aos países europeus


E ainda esta outra: "O conselheiro especial da ONU no Iraque deixou o país esta quinta-feira. Lakhdar Brahimi deveria regressar a Nova Iorque apenas no fim do mês."

Bush surge cada vez mais acossado no plano interno e externo. A matança no Iraque, e não só, ganha contornos de irracionalidade sem limites. Erguem-se muros e aumenta a intensidade da violência de todos os lados.

Qual a orientação política da administração Bush face ao problema que criou com a invasão do Iraque? Abandonar a região à sua sorte - no plano político - já a 30 de Junho? Como explicar as notícias de mais investimento no envio de forças militares?

Bin Laden é assim tão perigoso? E tão forte? Que tinha Bin Laden a ver com o Iraque, antes da invasão? Nada! E agora? A aventura dos ultra conservadores no poder nos EUA, e em alguns países europeus, está a chegar ao fim? Ou está em preparação um "banho de sangue "? Como explicar o silêncio de Blair?



"ASSALTO - SECRETARIA DE EXECUÇÕES FISCAIS

No fim-de-semana, a Secretaria de Execuções Fiscais (Lisboa) foi assaltada, tendo sido roubados onze computadores. Os ladrões deixaram os monitores. Há cópias de segurança da informação contida nos computadores." Notícia do "Correio da Manhã", on line, de hoje.

Outra vez?

ANA SOUSA DIAS

As entrevistas de Ana Sousa Dias na rádio e na televisão são diferentes. Há um travo de cumplicidade no ar e uma relação afectiva que vai além dos temas em conversa e coloca no centro da atenção o outro lado dos protagonistas.

Aldina Duarte foi um caso excepcional. Umas entrevistas são mais fortes outras menos. Depende dos entrevistados. Mas a Ana Sousa Dias não perde a capacidade de se mostrar serenamente cúmplice das suas palavras e dos seus silêncios. E como os silêncios são importantes.

Um dia, em 1996, convidei a Ana Sousa Dias para me acompanhar num desempenho profissional que julguei à sua medida. Não aceitou. Compreendi as motivações. Mas fiquei com pena. Nunca a perdi de vista. Um caso de dignidade pessoal e competência profissional. O normal no meio jornalístico, não é?

25 de Abril - notas pessoais

O último aviso


No dia 24 de Abril fomos contactados no quartel por um colega do curso de oficiais milicianos. As últimas dúvidas quase se tinham dissipado. A acção militar ia ser desencadeada na próxima madrugada.

Fui a casa do Eduardo Ferro Rodrigues, meu amigo de juventude e de todas as militâncias, na Travessa do Ferreiro, a mesma casa onde ainda hoje habita, para o avisar de que alguma coisa (o golpe) se iria passar nessa noite. Era fim da tarde. A RTP transmitia um jogo do Sporting, com um clube da Alemanha de Leste, para uma eliminatória das competições europeias de futebol. Deixei o recado e pus-me a caminho.

O combinado era reunir um pequeno grupo de que faziam parte o João Mário Anjos, o António Milhomens (já falecido) e o António Dias, na casa deste, em Benfica, aguardando o sinal musical ("E depois do Adeus") que anunciaria o desencadear da operação, a nível nacional.

Era perto de minha casa e lá fui preparado para o que desse e viesse. Mas o sinal nunca mais surgia e adormeci deitado no chão.

(22 de 32 continua)

"COM QUE ENTÃO LIBERTOS, HEIN?..."


Com que então libertos, hein? Falemos de política,
discutamos de política, escrevamos de política,
vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um,
essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho.
Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos
tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelo menos.
E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua
não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la,
mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso,
uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos.
Com o país dividido quase meio século entre os donos da verdade e do poder,
para um lado, os réprobos para o outro só porque não aceitavam que
não houvesse liberdade, e o povo todo no meio abandonado à sua solidão
silenciosa, sem poder falar nem poder ouvir mais que discursos de salamaleque,
há que aprender, re-aprender a falar política e a ouvir política.
Não apenas pelo prazer tão grande de poder falar livremente
e poder ouvir em liberdade o que os outros nos dizem,
mas para o trabalho mais duro e mais difícil de - parece incrível -
refazer Portugal sem que se dissipe ou se perca uma parcela só
da energia represa há tanto tempo. Porque é belo e é magnífico
o entusiasmo e é sinal esplêndido de estar viva uma nação inteira.
Mas a vida não é só correria e gritos de entusiasmo, é também
o desafio terrível do ter-se de repente nas mãos
os destinos de uma pátria e de um povo, suspensos sobre o abismo
em que se afundam os povos e as nações que deixaram fugir
a hora miraculosa que uma revolução lhes marcou. Há que caminhar
com cuidado, como quem leva ao colo uma criança:
uma pátria que renasce é como uma criança dormindo,
para quem preparamos tudo, sonhamos tudo, fazemos tudo,
até que ela possa em segurança ensaiar os primeiros passos.
De todo o coração, gritemos o nosso júbilo, aclamemos gratos
os que o fizeram possível. Mas, com toda a inteligência
que se deve exigir do amadurecimento doloroso desta liberdade
tão longamente esperada e desejada, trabalhemos cautelosamente,
politicamente, para conduzir a porto de salvamento esta pátria
por entre a floresta de armas e de interesses medonhos
que, de todos os cantos do mundo, nos espreitam e a ela.

Jorge de Sena

SB, 2/5/74

POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"


quarta-feira, abril 14

Correcção

De Branco Martins recebi a nota seguinte: "No seu post sobre três reportagens que viu na Sic, permita-lhe fazer uma correcção. A última sobre o culatrense não foi na SIC, mas sim na Sporttv, no programa Reportv."

Tem toda a razão, erro meu. Aqui fica reposta a verdade com as desculpas aos autores e à Sporttv.





Uma mistificação e um sinal errado

Todos nos enganamos e raramente temos certezas. Onde é que eu já ouvi isto?
Mas não resisto a comentar uma mistificação e um sinal errado lançados para a opinião pública portuguesa. Vindos de onde vêm são preocupantes.

Mistificação: "ABRIL É EVOLUÇÃO". O Governo quer fazer crer que, em Portugal, não ocorreu uma REVOLUÇÃO NO 25 DE ABRIL DE 1974. Pretende fazer passar a ideia de que a passagem da ditadura para a democracia foi parte de um processo de transição reformista e pacífico.

É uma mistificação que pretende suprimir ao imaginário colectivo um período da nossa história do Século XX. É uma mixórdia propagandística inqualificável. Uma vergonha própria de um Governo que mente e sabe que mente. Fernando Rosas aborda este assunto hoje no Público Concordemos com tudo, ou não, do que ele diz, tem toda a razão. O 25 de Abril foi uma revolução.

Sinal Errado: Foi noticiado que o Presidente da República disse que "O debate sobre o futuro da Reserva Ecológica Nacional (REN) e Reserva Agrícola Nacional (RAN) é necessário, mas o país não pode ser uma reserva total de Norte a Sul do país que inviabilize a presença dos cidadãos e o seu próprio desenvolvimento". Uma dessas notícias pode SER LIDA AQUI.

É um sinal errado dado pelo PR à sociedade. Os obstáculos à concretização de uma estratégia nacional de desenvolvimento sustentável, coerente e realista, não vêm do lado dos defensores da preservação da natureza (mesmo os mais radicais) mas do lado dos grandes interesses que se movem em torno da exploração desenfreada - e sem lei - do território e dos recursos naturais.

Todos nos enganamos e raramente temos certezas. "Portugal aguenta!"

25 de Abril - notas pessoais

Os camaradas de armas


Os militares, oficiais do quadro, que preparavam a revolta tinham a consciência da inevitabilidade do confronto militar. E os milicianos também. Era um confronto que havia que preparar com todo o cuidado. Fiz uns contactos discretos com os amigos que colaboravam no que havia de vir a ser o MES.

Deixei mensagens e recados mais ou menos enigmáticos. Muitos dos avisados fizeram vigília no dia errado ou foram surpreendidos no dia certo. Nada disse à família.

Mas alguém tinha de ser avisado para que na minha unidade militar, o 2º GCAM, se pudesse apoiar, com eficácia, a tomada do poder. Avisei o João Mário Anjos e o António Dias, meus camaradas de armas. Acertamos, entre nós, os passos a dar naqueles dias.

(21 de 32 continua)

terça-feira, abril 13

CANTIGA DE ABRIL


Às Forças Armadas e ao Povo de Portugal
"Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade"

J. de S.


Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste país,
a conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até á raiz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram ser ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar!

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura,
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Essas guerras de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Jorge de Sena

26-28(?)/4/74

POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"
.



O Público e o Iraque

O Editorial de José Manuel Fernandes no Público de hoje corrige os editoriais antecedentes de autoria de outros editores. O Público pascal foi crítico da intervenção americana no Iraque. O Público pós pascal volta à crença natural, com o regresso de férias do seu director: faz a defesa da intervenção americana no Iraque. O pluralismo sempre é uma vantagem.

A questão é complexa. Os defensores da política externa da Administração Bush enrolam-se em explicações e justificações. Ainda haverá muito por explicar, concordo. E, certamente, um dia voltará a normalidade ao Iraque.

Mas quais os custos desta intervenção para a paz na região e no mundo? A paz não interessa? Pois é! Pelo sim pelo não o nosso Primeiro-ministro mandou retirar os portugueses do Iraque. Menos a GNR e o Dr. Lamego. Suponho.

Ainda bem. A coisa está preta!


25 de Abril - notas pessoais

Na expectativa do combate


Os dias de finais de Março e princípios de Abril de 1974 foram de expectativa e tensão crescentes. Sabia que alguma coisa iria acontecer. Os contactos multiplicavam-se e os boatos inundavam as conversas.

Soube, em meados de Abril, após o contacto do Capitão Teófilo Bento, mas não por ele, que o golpe seria para os finais de Abril. A informação havia chegado pela via política e não pela via militar.

Teriam que ser tomados os cuidados próprios de uma situação de confronto armado em que poderia correr sangue. Ninguém acreditava que o regime cairia sem oferecer resistência feroz. Seria mais que provável o confronto militar pelo que o mais prudente era estarmos preparados para essa situação.

(20 de 32 continua)

Aldina Duarte

Acabei de ver a entrevista de Aldina Duarte por Ana Sousa Dias, na Dois (RTP). Extraordinário exercício de autenticidade e de cultura. A fadista Aldina Duarte, que não conheço enquanto fadista, é uma personagem fascinante. Demonstração, ao vivo, de como é possível fazer coexistir o talento e a capacidade de comunicação

segunda-feira, abril 12

POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"


"NUNCA PENSEI VIVER..."


Nunca pensei viver para ver isto:
a liberdade - (e as promessas de liberdade)
restauradas. Não, na verdade, eu não pensava
- no negro desespero sem esperança viva -
que isto acontecesse realmente. Aconteceu.
E agora, meu general?

Tantos morreram de opressão ou de amargura,
tantos se exilaram ou foram exilados,
tantos viveram um dia-a-dia cínico e magoado,
tantos se calaram, tantos deixaram de escrever,
tantos desaprenderam que a liberdade existe-
E agora, povo português?

Essas promessas - há que fazer depressa
que o povo as entenda, creia mais em si mesmo
do que nelas, porque elas só nele se realizam
e por ele. Há que, por todos os meios,
abrir as portas e as janelas cerradas quase cinquenta anos -
E agora, meu general?

E tu povo, em nome de quem sempre se falou,
ouvir-se-á a tua voz firme por sobre os clamores
com que saúdas as promessas de liberdade ?
Tomarás nas tuas mãos, com serenidade e coragem,
aquilo que, numa hora única, te prometem ?
E agora, povo português?

Jorge de Sena

SB, 27/4/74





PÁSCOA DE CRISE

Nas viagens aprendemos a geografia dos lugares. Por vezes ficamos a conhecer melhor a alma das suas gentes. A minha viagem de Páscoa foi ao lugar ancestral das minhas origens. Dele sabemos mais do que julgamos. E menos do que queremos.

Esta viagem deu para perceber que a descrença dos portugueses no seu futuro é mais profunda do que pensávamos. A descrença alastrou e aprofundou-se. Não vale a pena disfarçar. Este não é um problema de esquerda ou de direita. É um problema nacional. Mas o governo que adubou o terreno da descrença foi este. O governo da direita.

Os social-democratas autênticos que se cuidem. Semearam ventos vão colher tempestades. Aliaram-se com os seus predadores. O divórcio vai ser litigioso. Um dos membros do "casal coligado" não olha a meios para atingir os seus fins. Já todos percebemos isso.

A não ser que haja um milagre económico, que todas as previsões negam, as melhorias, nos próximos tempos, serão pouco animadoras. As famílias e as empresas estão exaustas. Ninguém é capaz de prever a dimensão da crise que foi aberta com a gestão radical de combate ao déficit. Pode ser uma pequena e quase silenciosa convulsão económica, financeira e social, superável a breve prazo. Ou uma profunda e violenta crise de consequências difíceis de prever.

O António Barreto faz uma profissão de fé nas suas convicções de esquerda no Público...eis mais um sinal da gravidade da crise!

25 de Abril - notas pessoais

Capitão Teófilo Bento


Foi o Capitão Teófilo Bento que me contactou no início de 1974. Não sei já através de quem chegou até mim. Talvez tenha sido depois da tentativa frustada do golpe das Caldas da Rainha, em 16 de Março.

Falamos num carro estacionado próximo do 2º GCAM, no Campo Grande, onde cumpria o serviço militar como oficial miliciano. Ele queria saber se havia algum oficial miliciano de confiança no Quartel-General em Lisboa.

Tratava-se de um ponto fraco na rede de oficiais que preparavam o golpe. Não havia ninguém que eu conhecesse. Mas, após este encontro, fiquei com a certeza acerca da inevitabilidade do golpe o que, até esse dia, era uma mera convicção.

Estava, de facto, em marcha uma acção de envergadura para derrubar o regime. Desta vez era mesmo a sério.

Mantive a maior descrição. Não falei a ninguém acerca desse encontro. Mas tomei as minhas providências. O ambiente era de medir forças dentro dos quartéis.

Após o fracassado "Golpe das Caldas" todos os movimentos eram observados e o ar que se respirava estava povoado de ameaças.

(19 de 32 continua)

sexta-feira, abril 9

EURO 2004

Direito à opinião?

Texto enviado por R. L.

Que tipo de pessoa serei se afirmar que muitas vezes o mal de certas resoluções em algumas áreas fulcrais para o país será a possibilidade de todos nós termos direito à opinião?

Numa primeira leitura admito que a frase se torne demasiado extremista. Claro que como qualquer cidadão, também eu tenho direito a uma opinião sobre este ou aquele assunto, embora fosse essencial definir o território da terminologia da palavra. E como bom passatempo que o é, poder opinar sem qualquer limite sobre tudo dá-nos a sensação de utilidade e de preocupação sobre o respectivo assunto.

Mas será que todos nós deveremos opinar na melhor forma de recuperar o défice orçamental? E sobre a política na saúde? Ou sobre os métodos de ensino? Ou se foi benéfico ter ganho a organização do Euro 2004? Ou a melhor táctica para a selecção nacional?

Parece-me que em determinados assuntos, por vezes bem mais importantes, ninguém se preocupa ou opina! Concordo que dar uma opinião não faz mal e não será essa mesma opinião que irá mudar o rumo, mas concordarão que na grande maioria das vezes a opinião não é somente uma opinião! É principalmente uma crítica devastadora e destruidora, em que sofre uma mutação tão rápida como a necessidade de a alterar somente para continuar a criticá-la! Aí a "verdade" altera-se constantemente, nem que seja para nos apoiarmos na tese de Churchil que afirmou "prognósticos só no fim (...)".

A conclusão é tão simples como o ovo de Colombo, é verdade! A história faz-se de factos e não de opiniões. Não devíamos então primeiro parar, escutar e olhar (como as placas de sinalização que se encontram nas passagens de linhas férreas)? Dar a oportunidade?

No meu caso, quero fazer o meu prognóstico antes e não no fim, com todos riscos que corro. Quero afirmar, e tendo consciência que existem várias e importantes prioridades para o desenvolvimento do país, que concordo com a candidatura portuguesa ao Euro 2004!

Como profissional na área, na possível distinção entre a excitação e a razão, fico muito satisfeito que tenhamos vencido. Que não estou à espera das falhas ou das derrotas para dizer mal da organização e do seleccionador! Que a organização de tal evento, proporciona a renovação de muitos equipamentos desportivos e de equipamentos secundários (hotelaria, estradas, acessibilidades, hospitais, aspectos cívicos, etc.). Que dos 25 % fornecido pelo Estado para a concretização de cada estádio, 19 % é recuperado logo à partida e 19 % dos outros 75 % também vai para os nossos cofres, ou seja, num simples raciocínio, num estádio que custou 10 milhões de euros, o Estado suportou 2,5 milhões de euros, mas recuperou 760 mil euros mais 19 % dos restantes 7,5 milhões, perfazendo um total de 2,185 milhões de euros.

Sim, é verdade que esse dinheiro podia ser investido em outras áreas se calhar bem mais importantes para o país, mas deixo isso para quem tem a responsabilidade de decidir e de governar.

Sebastião da Gama - Aniversário


Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, em 10 de Abril de 1924 e faleceu em Lisboa em 1952. Licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo sido professor. Desde a juventude atingido pela tuberculose, foi, por prescrição médica, viver para a Arrábida.

Obras: Serra-Mãe (1945), Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946), Cabo da Boa Esperança (1947), Campo Aberto (1951), Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967 - compilação de David Mourão-Ferreira), O Segredo é Amar (1969).

O Sonho


Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e do que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.




quinta-feira, abril 8

JORGE DE SENA

A propósito dos 30 anos do 25 de Abril encontrei nas minhas pesquisas, em papéis antigos, um pequeno "livro" policopiado com 5 poemas de Jorge de Sena e 5 poemas da minha autoria. Uma nota esclarece a modéstia da empresa: "5 pares de poemas para alguns amigos sem ofensa para Jorge de Sena. Deste são os cinco retirados de "Poesia I" e de "40 Anos de Servidão" e o último solto de que gosto muito e é o pai dos meus. Natal de 1980."

Não os vou divulgar aqui mas este último de Sena já antes o divulguei e por ser curto e "pai dos meus" o divulgo de novo:

"QUISERA ADORMECER"

Quisera adormecer
como a criança acorda
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

O que vou fazer, nos próximos tempos, é divulgar alguns dos poemas "Políticos e afins" (1972-1977), publicados no livro "40 ANOS DE SERVIDÃO", ou seja, aqueles datados do período coincidente, com o próprio 25 de Abril de 1974.

A iniciar em breve.