segunda-feira, agosto 21

BUSH LEITOR

Posted by Picasa G. W. Bush

Ainda a propósito das leituras de Bush, assunto que jamais pensei abordar, uma mão atenta e amiga, fez-me chegar a crónica de João Pereira Coutinho publicada na última edição do “Expresso”.

Estou, neste caso, de acordo com o cronista com o qual quase sempre discordava quando lia, religiosamente, o Expresso vício do qual me curei para bem da minha economia doméstica e bem-estar espiritual.

O que diz Coutinho que me fez regozijar, por uma vez, com as suas reflexões acerca do interesse de Bush pela leitura de "O Estrangeiro"? Pondo de lado a afirmação da preferência do cronista por Machado de Assis, no cotejo com Camus, o que não espanta, Coutinho, no fundo, manifesta a sua perplexidade:

“Estranha escolha…” “Será que Bush partilha com Mersault o mesmo ódio cego pelo árabe errante? Ou, pelo contrário, estará antes Bush interessado em compreender o niilismo da personagem, e a forma como ela procura a redenção através da violência – uma bela metáfora sobre a ameaça terrorista corrente? Águas profundas.”

Pelo meu lado encontro uma explicação menos rebuscada que, em traços largos, se resume numa palavra: propaganda para passar na Europa ou, como hfm referiu num comentário a um post anterior, cosmética. Voltarei, de novo, ao assunto que tem suscitado as mais variadas reacções.

Como, entretanto, tal como Bush, tenho andado a ler, e a reler, Camus o que, no meu caso, não suscitará espanto, aqui vos deixo um fragmento de “A Queda” (1956) – que acabei de reler, dias atrás, aconselhando-vos a imaginar a pergunta dirigida ao próprio Bush:

“É verdade, o senhor conhece aquela cela de masmorra a que na Idade Média chamavam o “desconforto”? Em geral, esqueciam-nos aí para o resto da vida. Esta cela distinguia-se das outras por engenhosas dimensões. Não era suficientemente alta para se poder estar de pé, nem suficientemente larga para se poder estar deitado. Tinha-se adoptado o género tolhido, viver em diagonal; o sono era uma queda, a vigília um acocoramento. (…) Que a inocência seja forçada a viver corcunda, recuso-me a considerar por um único segundo esta hipótese. De resto, nós não podemos afirmar a inocência de ninguém, ao passo que podemos afirmar com segurança a culpabilidade de todos.”

domingo, agosto 20

Carlos Drummond de Andrade


Hipótese

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.

[In Terra Temperamental – uma referência minha.]

sexta-feira, agosto 18

LORCA ASSASSINADO - 70 ANOS

Posted by Picasa Federico Garcia Lorca

No “El País” de hoje, Luís Garcia Montero, assinala o 70º aniversário do assassinato de Federico Garcia Lorca. Reproduzo aqui o título, e sub-título, do artigo evocativo e a sua parte final. Também disponível, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Setenta años de un crimen
En una Granada sangrienta, Federico García Lorca fue ejecutado junto a un maestro de escuela y dos banderilleros.


El poeta fue conducido al Gobierno Civil. Luis Rosales intentó liberar a su amigo, pero en el régimen militar que él y sus hermanos estaban ayudando a imponer no había lugar para ciudadanos como Federico García Lorca. Angelina Cordobilla, una mujer que trabajaba para la familia Lorca, llevó comida al detenido las mañanas del 17 y 18 de agosto. Cuando se presentó en el Gobierno la mañana del 19, le dijeron que el poeta no estaba allí. En efecto, durante la noche del 18 al 19 fue conducido a La Colonia, una cárcel improvisada en una villa de recreo, a las afueras de Víznar.
Al amanecer, como escribió Antonio Machado, se le vio caminar entre fusiles, en Granada, en su Granada. Fue ejecutado junto al maestro Dióscoro Galindo y los banderilleros Francisco Galadí y Joaquín Arcollas. Un enterrador de La Colonia acompañó hace años al escritor Ian Gibson a la fosa donde fueron sepultados los cuerpos. Durante muchos años, el barranco de Víznar ha sido el territorio sagrado de los demócratas granadinos, el lugar en el que hemos rendido culto a nuestros muertos. La democracia urbanizó aquel espacio simbólico que había formado la historia bárbara de España, construyendo allí un parque en recuerdo de las víctimas de la Guerra Civil.

quinta-feira, agosto 17

BUSH E CAMUS


Esta imagem vem a propósito de uma curiosa notícia inserta no “Público” de ontem: Bush terá lido, nas férias, “O Estrangeiro”, de Camus, e terá gostado do que leu. O que mais me pode acontecer!

A minha leitura perversa da coisa é a seguinte: um conselheiro de Bush, mais versado na leitura dos clássicos, conhecendo a obra e a biografia de Camus, face à necessidade urgente de lançar sinais de aproximação com a Europa – Grã-Bretanha à parte – lembrou-se da obra de um autor que não pudesse ser incomodado pela razão simples de estar morto.

Tendo o dito conselheiro lido, na sua juventude, “O Estrangeiro” – obra consagrada, de autor nascido num país árabe, título sugestivo e tema oportuno, no contexto político actual - dela fez uma breve resenha que, na melhor das hipóteses, leu a Bush.

O conselheiro deve saber que Camus era um pacifista, que nunca defenderia as políticas de Bush, nem da actual liderança de Israel, nem do Hezbollah; que se colocaria, inevitavelmente, numa posição “impossível” de conciliação entre as partes em conflito; que sempre defenderia a coexistência pacífica de todas as raças e religiões sob o império da tolerância e da liberdade.

Como acabei de reler “A Queda” aconselharia ao tal conselheiro a preparação de uma resenha desta obra, a apresentar a Bush, na qual colocaria em destaque a seguinte passagem: "Quando se meditou muito sobre o homem, por ofício ou vocação, acontece-nos sentirmos nostalgia dos primatas. Esses ao menos não têm segundas intenções."

PENTIMENTO

Posted by Picasa Adélia Prado

Pelos favores do alfabeto tenho a honra de ser o blogue cabeça nos links do pentimento.
Vem esta referência a propósito de um excerto da reportagem que Marcelo dá à estampa no post “Balanço da Flip” focando a participação de uma poeta da minha predilecção: Adélia Prado.

Aqui o transcrevo: (…) Mas não deixei de acordar para assistir à Adélia Prado. E a apresentação dela foi o fecho de ouro da Flip 2006. Vencendo a timidez com simpatia e simplicidade, Adélia fez um pronunciamento contundente sobre a perda do simbólico, chegando a criticar (com meu aplauso) as enganações rasteiras de parte da arte contemporânea, personificadas principalmente com as chamadas "instalações". "Quando tudo é arte, nada é arte", sentenciou a poeta.

Em sua fala, Adélia enfatizou que a arte tem poder semelhante ao da religião, já que também possibilita uma "religação" com o transcendente. Como seu próprio trabalho demonstra, ela entende que tal "religação" – que eu chamaria de epifania – acontece cotidianamente, o que foi ilustrado no momento da palestra com leitura do belo Casamento ("Há mulheres que dizem: / Meu marido, se quiser pescar, pesque, / mas que limpe os peixes...").

Adélia chegou e levou quase todo mundo às lágrimas quando, visivelmente emocionada, engasgou com os versos de um poema em que lembrava do pai. Era a arte, que ela mencionara há pouco, novamente transcendendo, em meio a uma tenda lotada de corações aflitos e subitamente felizes. E assim terminou a minha Flip. (…)

quarta-feira, agosto 16

NA VÉSPERA DAS ELEIÇÕES PARA A CONSTITUINTE - 1975

Posted by Picasa Imagem cedida por Margarida Boto
Clicar no cartaz para aumentar
Cartaz do MES – Lisboa, Ano: 1975, Arquivo: CDBMP

Este é um cartaz com a linha gráfica adoptada em 1975 que, ao que me lembro, já não é de autoria de Robin Fior. Neste caso estávamos nas vésperas das eleições para a Assembleia Constituinte, as primeiras eleições livres, realizadas depois de 1926, precisamente no dia 25 de Abril de 1975 e anunciava o maior comício que deve ter sido realizado pelo MES em toda a sua existência.

O símbolo do MES, criado por Robin Fior, perdurou e, regra geral, assumia, em todos os materiais de propaganda, importância central na mensagem que se pretendia transmitir. Curiosamente, como já tenho dito, trata-se do único símbolo, de todos os partidos políticos portugueses, com uma feição marcadamente feminil.

A propaganda do MES apresentou uma outra característica singular: não foi, em momento algum, personificada por qualquer líder. De facto, no MES, nunca existiu a figura estatutária – ou mesmo simbólica – de um secretário-geral, ou presidente, tendo sempre sido dirigido de forma colegial.

O símbolo surgia nos cartazes, e noutros materiais de propaganda, com grande destaque acompanhado de palavras de ordem ou informações objectivas conclamando para comícios ou outras manifestações públicas.

Cronologia da II Grande Guerra

Posted by Picasa Imagem dos derrotados

Ressonância do dia 16 de Agosto de 2004 no qual publiquei uma cronologia dos acontecimentos mais relevantes do último capítulo da II Guerra Mundial. Em Agosto de 1944 o nazi-fascimo agonizava perante a ofensiva das forças aliadas. Não esquecer que durante a II Guerra Mundial morreram milhões de cidadãos do mundo. Além dos judeus, vítimas privilegiadas do nazi-fascimo, morreram milhões de civis e militares muitos destes combatendo fora das fronteiras do seu país. Entre estes avultam milhões de soviéticos e norte americanos que combateram em território europeu.

O mês de agosto de 1944 foi decisivo na ofensiva das forças aliadas na Europa.

terça-feira, agosto 15

Günter Grass

Posted by Picasa Günter Grass

Na sua biografia, até uns dias atrás, estavam rasuradas duas letras fatídicas: SS.

Como tenho andado a ler, e a reler, Camus, Nobel da literatura, tal como Grass, sou capaz de compreender a declaração de arrependimento público deste último.

Pode estalar, contra Grass, o verniz do mundo bem pensante, ser ostentada a maior das animosidades, emergir o ódio em belas palavras de efeito fácil.

Podem os democratas, anti fascistas e amantes da liberdade (pelos vistos, hoje, todos são democratas, anti fascistas e amantes da liberdade!), aproveitar a oportunidade para mostrar as suas comendas e o seu nojo pelas monstruosidades do nazi-fascismo, mas se Grass revelou a verdade – e tudo indica que sim – assumiu um gesto de honradez. Ponto final.

segunda-feira, agosto 14

MES - CARTAZES

Posted by Picasa Imagem cedida por Margarida Boto
Clicar no cartaz para aumentar


Cartaz do MES – Almada, Ano: 1975, Arquivo: CNE

Recentemente fui contactado pela Margarida Boto que, no âmbito de um trabalho académico, aborda a questão do grafismo dos cartazes poíltico-partidários, abarcando o período 1969/80. Eu próprio gostaria de possuir mais informação acerca da génese dos cartazes do MES. Aqueles que Margarida Boto recolheu e que me disponibilizou, em suporte digital, são do período posterior à colaboração de Robin Fior. O cartaz que agora se publica é, como um outro desta série, de concepção e produção local e apresenta um grafismo singular no universo dos cartazes do MES.

Alguns cartazes do MES [Movimento de Esquerda Socialista] estão também disponíveis no site do Centro de Documentação 25 de Abril que mostra um conjunto, com uma marcada concepção artesanal, certamente, de iniciativa das estruturas de base, com excepção do último que é, se não erro, o primeiro verdadeiro cartaz do MES. Este mostra um desenvolvimento da linha gráfica concebida por Robin Fior que foi o autor do símbolo do MES e da sua linha gráfica inaugural, em particular, a partir da concepção do seu órgão de imprensa: “Esquerda Socialista”.

Com os meus agradecimentos à Margarida Boto, não vou alongar-me em comentários, na expectativa de que me possam ser enviadas mais informações acerca de cada um dos exemplares desta série cuja publicação agora inicio.

Da escrita à obra

Posted by Picasa Roland Barthes

Ressonância de 14 de Agosto de 2004. Nesse dia publiquei o fragmento 25 do meu livro artesanal resultante de uma antiga leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes":

"Mas na nossa sociedade mercantil tem de se chegar a ter uma "obra": é preciso construir, ou seja terminar, uma mercadoria. Enquanto escrevo, a escrita é assim constantemente achatada, banalizada, culpabilizada pela obra para a qual se torna forçoso concorrer. Como escrever por entre todas as armadilhas que me são postas pela imagem colectiva da obra? - Pois bem, cegamente. A cada momento do trabalho, perdido, aflito e pressionado, apenas consigo dizer para comigo a palavra com que Sartre termina o Huis Clos: continuemos.
A escrita é esse jogo através do qual eu me viro como num espaço estreito: estou entalado, estrebucho entre a histeria necessária para escrever e o imaginário que vigia, enaltece, purifica, banaliza, codifica, corrige, impõe a visada (e a visão) duma comunicação social. Por um lado quero que me desejem e, por outro, que não me desejem: histérico e obsessivo ao mesmo tempo."

domingo, agosto 13

NAIDE

Posted by Picasa Fotografia daqui

Naide Gomes é uma preciosidade como atleta em diversas disciplinas técnicas nas quais Portugal, por tradição, não alcançava grandes resultados.

Este europeu de atletismo mostrou que, ao contrário do passado, o país já não se afirma nas corridas de fundo mas nas disciplinas técnicas. É um sinal de progresso.

Naide, por vezes, falha nos momentos decisivos. Nestes europeus de atletismo esteve ao seu melhor nível. Bem haja.

sexta-feira, agosto 11

A terra

Posted by Picasa Sem título – Desenho de meu filho Manuel, Fevereiro de 2000, pelos seus nove anos.

A terra
na guerra
é nossa
- do povo.

Na paz
a terra é vossa.
E o povo?

Na terra jaz,
nas grades
do ovo –

sem guerra,
nem paz
nem renovo.

[A propósito do que li no Alicerces. Este é o poema 24 de “Jardins de Guerra”, de Casimiro de Brito, cujos primeiros versos sublinhei a lápis. Foi a minha iniciação à poesia nos idos de Março de 1967.]

Francis Obikwelu

Posted by Picasa Francis Obikwelu

Fiz tudo para assistir à final de 200 metros do europeu de atletismo. Apesar do jantar, a convite de amigos, num cenário de sonho, ali para os lados do Penedo – Sintra – a sorte protegeu-me pois o anfitrião compartilhava as mesmas expectativas.

Queria assistir aquela final pois nela se reuniam um conjunto de circunstâncias muito interessantes: o atleta/campeão é originário da Nigéria, foi campeão júnior nuns campeonatos mundiais realizados, em 1994, em Portugal; sonhava com a Europa e deixou-se ficar por cá; apesar do seu elevado potencial atlético foi desprezado por todos os clubes aos quais se ofereceu; caiu na miséria, passou fome, trabalhou na construção civil e foi acarinhado, no Algarve, por uma professora inglesa.

Finalmente um treinador de atletismo do Belenenses, a pedido dessa professora, aceitou recebê-lo, assim como uma família que lhe dedicou especial afecto. Depois de passar pelo Sporting, e de um conjunto de feitos atléticos assinaláveis, foi-lhe atribuída a nacionalidade portuguesa.

Hoje, sendo natural da Nigéria, é naturalizado português, vive em Espanha, é treinado por uma espanhola e dá voltas de honra com a bandeira portuguesa. Não sei se repararam que a televisão sueca deu mais destaque ao sueco que alcançou o 2º lugar do que ao verdadeiro campeão.

Em qualquer caso este campeão – Francis Obikwelu – é o mais valioso trunfo português – e europeu – na luta contra o racismo e a xenofobia. Aproveite quem está em condições de aproveitar este trunfo … a começar pelo estado português! Como? É fácil desde que haja vontade política.

quinta-feira, agosto 10

CAMUS - BIOGRAFIA

Posted by Picasa Albert Camus Paris 1953

Depois de retomada finalizei hoje a leitura de uma biografia – muito bem documentada – de Camus. [Olivier Todd – Albert Camus - Una vida, versão em espanhol, da TusQuets Editores].

Não é o momento para tecer comentários a uma tão volumosa torrente de informações acerca do homem e da sua obra. [900 paginas].

Deixo uma nota – das últimas que escreveu - e que , em poucas palavras, exprime uma faceta do seu espirito, inserida nos anexos da sua última obra “Le premier homme”, editada em 1994, 34 anos após a sua morte:

«Ce qu´on appelle le scepticisme des nouvelles générations – mensonge.
Depuis quand l´honnête homme qui refuse de croire le menteur est-il le sceptique?»

(In «Le premier homme» (Notes et plans)

quarta-feira, agosto 9

UM HERÓI PORTUGUÊS

Posted by Picasa José Manuel Barroso – um herói português

Ressonância de um acontecimento relevante passados que são dois anos e um mês. Está tudo dito no post, que a seguir reproduzo, publicado no dia 9 de Agosto de 2004. Para entender a última frase leia-se mais este publicado no dia seguinte. Ainda se lembram?

Não é engano meu. Faz hoje um mês. O Dr. José Manuel Barroso resolveu abandonar o barco. Nem a Dra. Manuela Ferreira Leite, dedicada executora da "política da tanga", teve direito a aviso prévio. Uma falta de carácter, a toda a prova, mais do que falta de delicadeza. O PR concordou, está bem de ver e, deslumbrado, aceitou o embuste. Fechadas as portas, desde o princípio, à solução da consulta popular, foi gastar tempo. Fingir que se ponderava o que estava decidido. Um mês passado, o Dr. Pedro Santana Lopes governa, pelo telemóvel, de férias. O PR representa e pondera, em Atenas. O Dr. José Manuel Barroso exerce, entre Lisboa, Madrid e Bruxelas. O país real, observa, aguarda e desespera. Para animar, podiam divulgar, ao menos, os nomes dos que falaram com o tal jornalista do CM.

CAMUS - LEITURAS

Posted by Picasa Catherine Camus – Filha de Albert Camus

À beira de terminar a leitura da biografia de Albert Camus, de autoria de Olivier Todd, “Uma Vida” (existe uma tradução para português da Record) pode ler aqui a minha quinta contribuição para os “Cadernos de Camus”.

Reparei, entretanto, que o “Fim de Semana Alucinante” deu, domingo passado, notícia de um artigo acerca de Camus publicado no “El País”.

domingo, agosto 6

POLÍTICA/MORAL

Posted by Picasa Imagem daqui

Ressonância de 6 de Agosto de 2004. O Dr. Pina Moura, ao que parece, sendo deputado da Nação, está exclusivamente dedicado aos negócios de “nuestros hermanos”.

Dois anos atrás opinava acerca da magna questão da ética na política. Desactivei o link para o seu artigo no Público, já inacessível, e linkei o post do dia anterior da série “Fragmentos de Leitura”. Mantenho e sublinho o que escrevi:

Que nem de propósito o Dr. Pina Moura opina hoje, no Público, planando sobre o tema do último excerto dos "Fragmentos de leitura". Para ele basta que haja uma "ética da lei". O que não admira pois é um burocrata da escola do comunismo antigo. Mas o problema é que a ética não é uma questão formal. O político ético não é o que está conforme a lei. É o que age conforme as suas convicções, é fiel aos seus compromissos, respeita os adversários e nutre compaixão pelos inimigos. Por todas as razões o político ético é uma realidade arqueológica. Tem para cima de duzentos anos. Tal como, por outras razões, o Dr. Pina Moura.

FARO - NEVE NA "BAIXA"

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

A baixa da cidade de Faro, em 2 de Fevereiro de 1954, mostrando os automóveis da época e resquícios de neve neles depositados .

É notável o facto de, nesta fotografia, ser visível um pormenor da cidade que se mantém, no essencial, intacta, como se o fotógrafo tivesse adivinhado o ângulo exacto para nos mostrar uma parte da cidade que perdurou. Um sinal de esperança.

A “baixa” da cidade era , nesta época, o seu coração económico e cultural que haveria de sofrer, ao longo do tempo, uma progressiva erosão. Um dos maiores atentados à identidade da cidade de Faro, como capital política e administrativa do Algarve, foi o facto de não ter sido adoptada, ao longo do tempo, uma política consequente de valorização da sua “baixa”.

Não se trata de defender o imobilismo mas de, à semelhança de tantas cidades médias por essa Europa fora, estabelecer um plano estratégico de desenvolvimento que tome a “baixa” como centro, preservado, no plano urbanístico, de onde irradiem, sem rupturas e intervenções grosseiras, iniciativas e investimentos modernizadores.

Alguém terá a coragem de encetar uma verdadeira requalificação da Faro – a partir da realidade actual – pondo termo à destruição da “baixa” e promovendo, de forma séria e consequente, o seu papel como âncora do desenvolvimento económico, social e cultural da cidade?

(Em colaboração com “A Defesa de Faro”)

FARO - AO LONGE A NEVE NOS MONTES

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

Esta é uma imagem da cidade de Faro, vendo-se ao longe os montes brancos de neve, tomada – certamente - no dia 2 de Fevereiro de 1954, antes da carnificina urbanística que ainda se não tinha iniciado.

Na passagem do dia 1 para 2 de Fevereiro de 1954, ao contrário do calor destes dias, nevou a sul o que permitiu obter fotografias únicas da cidade de Faro como estes exemplares, de autoria de Matos Cartuxo (Tony), que agora se publicam .

Estas são imagens perfeitas do lugar da minha infância, uma cidade rectilínea, com a traça e os cheiros do sul, ostentando as fortes influências mediterrâneas e árabes que são uma marca distintiva das cidades do sul.

Faz bem exercitar a memória para acalentar esperança que seja possível defender uma política da cidade mais fiel aos valores da sua história fundadora e da cultura autêntica dos seus cidadãos.

[2 de 3 fotografias.]

NEVE EM FARO

Posted by Picasa Fotografia de Tony
(Clicar na fotografia para aumentar)

Foi através da leitura de “O aprendiz de Feiticeiro” de Carlos de Oliveira que, na minha memória reluziu a data em que, acontecimento raro, caiu neve em Lisboa e também – imaginem - em Faro.

No extremo sul de Portugal, à beira mar, terra de temperatura moderada, o surgimento da neve foi um acontecimento inusitado que perdurou na memória de todos.

Eis o excerto daquele belo livro do grande poeta português - Carlos de Oliveira– nascido no Brasil – a propósito daquele acontecimento memorável:

“Contudo, relato a seguir o que me aconteceu na noite de 1 para 2 de Fevereiro de 1954, quando venci por fim a proibição interior e alinhei sem emendas ou hesitações os sessenta e três versos da primeira fala de “O Inquilino”….”

(…)“E entramos por fim no que mais interessa: acabado o impulso das primeiras palavras, afastei a cadeira distraidamente e levantei-me, tentando delinear o seguimento da peça, cuja ideia me surgira só no acto de escrever. Nenhum plano anterior, nenhum esboço. Levantei-me e andei para a janela, metido na pele do inquilino, perguntando a mim mesmo (ou a ele) se não haveria outras perguntas a fazer antes duma decisão que podia ferir o equilíbrio do mundo ou coisa parecida. Foi quando a madrugada explodiu numa féerie mais ou menos nórdica, como se tivesse realmente bastado mexer na cadeira, na ordem pré-estabelecida do quarto, para desencadear o imprevisto: uma tempestade de neve em Lisboa.” (…)

“O Aprendiz de Feiticeiro”Carlos de Oliveira

(Em colaboração com “A Defesa de Faro” –1 de 3 fotografias)

sábado, agosto 5

sexta-feira, agosto 4

A PRAIA

Posted by Picasa Praia Grande – Colares - Sintra

Como se fosse para dar opinião acerca das transumâncias, em 4 de Agosto de 2004, exactamente à vista da mesma paisagem de hoje, escrevi:

Ontem, ao fim da tarde, na Praia Grande, uma nuvem de surfistas sobre a água. Ao longo da praia, no mar calmo, ao contrário do habitual, os surfistas exercitavam o seu jogo. O negro dos fatos e a multidão dos corpos, em movimento, faziam lembrar um cardume de peixes de visita à costa. Aquela vista permite um exercício acerca da praia. No norte a praia é a partir da tarde depois de se esbater a neblina. No sul a praia é de manhã pela fresca. A água é sempre fria para os do sul ? E, para os do norte, é sempre quente ? Tudo depende da ideia que fazemos do lugar que é a praia para nós.

EDUCAÇÃO – OS NÚMEROS DA VERGONHA

Está disponível no site do "Semanário Económico" e no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo, sob o título em epígrafe, hoje publicado naquele semanário.

Transcrevo aqui o parágrafo de entrada: No presente debate público acerca da questão da educação, o que pode constituir motivo de espanto é o facto de constituir motivo de espanto o Governo pretender inverter o “nível escolar desgraçado” a que chegamos, nas palavras de Vasco da Graça Moura (DN/ 14 de Junho).

quinta-feira, agosto 3

A PESTE - UM DIÁLOGO

Posted by Picasa A Peste

O diálogo a que se refere Catatau, num comentário/consulta que me fez, dias atrás, trava-se entre Tarrou e Rieux, os dois principais personagens de “A Peste” (Albert Camus):

Rieux: ... “mas, sabe, eu sinto mais solidariedade com os vencidos que com os santos. Creio que não tenho gosto pelo heroísmo e pela santidade. O que me interessa é ser um homem”.

Tarrou: - “Sim, nós procuramos a mesma coisa, mas eu sou menos ambicioso.

Rieux pensou que Tarrou gracejava e olhou para ele. Porém, na vaga claridade que vinha do céu, viu um rosto triste e sério. O vento levantara-se de novo e Rieux sentiu-o morno sobre a pele. Tarrou agitou-se:
- Sabe o que devíamos fazer em prol da amizade?
- O que quiser –
respondeu Rieux.
- Tomar um banho de mar. Mesmo para um futuro santo, é um prazer digno.
Rieux sorria.
- Com os nossos salvo condutos, podemos ir até ao cais. No final de contas, é estúpido viver só na peste. Bem entendido, um homem deve bater-se pelas vítimas. Mas, se deixa de gostar de tudo o resto, para que serve bater-se?
- Tem razão –
disse Rieux – vamos lá.”

Reproduzo agora este diálogo, para satisfazer a curiosidade de Catatau, depois de resgatar “A Peste”, e de a reler, no que estimo ser a edição mais antiga desta obra para a língua portuguesa - Colecção Miniatura – Livros do Brasil – tradução de Ersílio Cardoso – sem data mas, certamente, dos anos 50. Trata-se, de facto, para abreviar razões, de uma bela obra, um verdadeiro libelo contra o totalitarismo.

[Reparei quando escolhi reler esta edição que uma outra, recente, editada pelo jornal “Público”, logo na abertura, ostenta um erro descomunal e indesculpável, referindo o ano de 1954 como o da atribuição do Nobel a Camus, quando, de facto, essa distinção ocorreu em 1957. ]

TRANSUMÂNCIAS

Posted by Picasa Algarve – Praia de Faro

Um diálogo muito interessante acerca de transumâncias. Afinal o velho tema do Algarve, neste caso, como destino de férias, no contexto português.

Por aqui o dia amanheceu enevoado e chuvoso o que facilita a intensificação da leitura em desfavor do sol. Todas as realidades têm ângulos diversos pelos quais podem ser observadas e apreciadas.