terça-feira, fevereiro 20

VITORINO NEMÉSIO

Posted by PicasaVitorino Nemésio

1901 - A 19 de Dezembro, nasce Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, na Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores/1978 – A 20 de Fevereiro, morre em Lisboa, no Hospital da CUF, e será sepultado em Coimbra, no cemitério de Santo António dos Olivais.

PRECE

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco do teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.

Vitorino Nemésio

In “O Verbo e a Morte”
Morais Editora, 1959
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CAMUS - SUBLINHADOS DERRADEIROS

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Ressonância de 20 de Fevereiro de 2004. Este longo post, o último desta série, foi preparado para integrar o blog Cadernos de Camus mas nunca chegou a ser nele publicado.

Esta é a última parte dos meus sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Camus. Esta leitura foi iniciada, certamente, antes de Abril de 1968, tinha a idade de 20 anos.

Os sublinhados que se apresentaram, com pequenas alterações de pormenor e raras supressões foram assinalados nos livros, de forma “assassina”, a esferográfica. Os livros, no entanto, sobreviveram e, recentemente, foram restaurados e encadernados a capa dura. Estão em condições de serem legados ao meu filho pois tenho a pretensiosa ambição de que um dia os venha a ler.

Com esta peça chega ao fim a estimulante tarefa que me foi suscitada pela ideia do José Pacheco Pereira. Mas devo confessar que um projecto semelhante aos Cadernos de Camus, mesmo antes do surgimento dos Blogs, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação.

Esta é uma daquelas tarefas que me dá prazer autêntico, quer pelo facto de poder partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me ter sentido, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que reli. Continuo a sentir hoje a mesma adesão de fundo à filosofia de vida e de sociedade que Camus defende e que transparece na maior parte dos Cadernos.

Além do mais devo confessar que este é, desde a minha juventude, um “livro de cabeceira” que, naturalmente, não li todos os dias mas que sempre esteve presente na minha vida mesmo quando os impulsos de uma desinteressada militância cívica e política exigiram, e continuam a exigir, a tomada de opções difíceis ou mesmo dolorosas.

Não sei ao certo qual o caminho que este projecto tomará mas poderia permitir, se para tal se reunissem as necessárias condições, um debate em torno de um conjunto de ideias força em que assumem particular ênfase, entre outras, as que respeitam às magnas questões da crise da justiça e da liberdade nas sociedades democráticas.

Tenho em mãos, além do mais, outros contributos para o projecto, caso ele venha a evoluir, que terei muito gosto em partilhar com os que queiram arriscar uma participação aberta e desinteressada no seu desenvolvimento. Mas a partir de um dado momento as participações, num projecto desta natureza, carecem de ser enquadradas por uma metodologia e por objectivos precisos sem os quais cada um de nós se sentirá decerto constrangido.

Eis os meus últimos sublinhados do caderno nº 6 nos quais se inclui aquele que sempre me tem acompanhado e que constitui, para mim, um lema de vida: “os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade”:

“Não se deve julgar um homem nem pelo que diz, nem pelo que escreve, segundo Beyle. Eu acrescento: nem pelo que faz.”

“Começa-se por não amar ninguém. Depois amam-se todos os homens em geral. A seguir apenas alguns, depois uma única e depois o único.”

“”Alexandre Block.
...
Só uma compaixão total pode produzir uma mudança. Reajo assim porque a minha consciência não está tranquila.””
(Escrevi dois pontos de interrogação)

“É pela recusa de uma parte deste mundo que este mundo é habitável? Contra o amor fati. O homem é o único animal que recusa ser o que é.”

“Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade”.

“Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual.”

“Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca.”

“Ensaio. Introdução. Porquê recusar a delação, a polícia, etc... se não somos nem cristãos nem marxistas. Não temos valores para isso. Enquanto não tivermos encontrado fundamento para esses valores, estamos condenados a escolher o bem (quando o escolhemos) de maneira injustificável. A virtude será sempre ilegítima até esse momento.”

““A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação “por peça”.
O Soviete de Saint-Peterburgo em 1905 apela para a greve aos gritos de abaixo a pena de morte.””

““Durante a Comuna de Moscovo, na Praça Trubnaia, perante um edifício destruído pelos canhões, um prato contendo um pedaço de carne humana é exposto com um cartaz com a seguinte inscrição: “dai o vosso óbolo para as vítimas.””

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).
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DOIS ANOS DEPOIS

Posted by PicasaMaioria Socialista

Passam hoje dois anos sobre o dia da vitória eleitoral do PS nas eleições legislativas de 2005. O PS obteve um resultado histórico – 45% e picos – que lhe deu, pela primeira vez, maioria absoluta para governar.

Fui daqueles (poucos) que saiu à rua, é verdade que por insistência do meu filho, para celebrar essa vitória com bandeira e tudo … e, ao contrário de muitos dos meus amigos, não me arrependo.

Os três anos (3) de governação de direita – José Manuel Barroso/Manuela Ferreira Leite/ Paulo Portas + Santana Lopes/Bagão Félix/Paulo Portas foram um pesadelo … desculpem o desfile dos nomes mas tenho a leve suspeita que a memória é fraca.

Este governo no meio de muitas derivas, disparates e equívocos tem feito o que o povo designa por “o que tem que ser feito” ou “o que tem que ser tem muita força". É este o segredo – após dois anos de governação – da persistência da sua popularidade.

Acresce o que se poderá designar por efeito surpresa do desempenho do primeiro-ministro, quer se goste ou não goste do estilo do sobredito cujo: “é melhor do que parecia à primeira vista” … “têm-nos no sítio” …” coragem e determinação” … e por aí fora…

Para a semana que vem logo desenvolvo um pouco as razões desta minha posição situacionista, ou seja, das razões do meu apoio ao governo.

Agora reproduzo o que escrevi no dia seguinte:

Estive a celebrar a vitória do PS na rua, do lado de fora, o melhor sítio para sentir o pulsar do sentimento popular. As eleições ganharam racionalidade. A festa espontânea perdeu viço. A encenação da festa recobre o espaço onde antes ardiam as emoções. Tudo é diferente. Não é pelo facto de ter sido o PS a ganhar. É porque já ninguém acredita nos milagres da política para resolver os reais problemas do país. E muito menos para resolver os problemas individuais de cada um de nós. Valeu desta vez a saída à rua para iniciar o meu filho no exercício dos festejos políticos. Ele saberá, mais tarde, saborear o real valor desta saída à rua.
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A VIDA QUOTIDIANA EM TABLÓIDES


Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves
À porta do meu Banco no patamar, acocorados, um e uma,
vendem a pele de uns pratos encardidos
mesmo no traço que já lhes deu flores garridas.
Eles escorriam chuva, que chovia, para a louça. Eles nem devem ter sangue
pela tez lustrosa da porcelana dos seus olhos de caveira.
(Até faz rir, leitor, coisa tão triste.)

*

Um fio de mar, parece-me, inclinava a terra num poço de luz
silenciosa. O vulto que chegou de motorizada pela mão
esconde as dunas, a vaguear com a madeira torcida
que encontrou. Esconde-se de si, todos o vêem.
Ouvimos rádio, com o guiador colado ao jornal, os joelhos afastados,
uns outros num carro sem ruído, depois com a boca ranhosa diz palavrões
e afasta-se alheio a tudo.

*

Nos corredores das lojas a passear, lá em cima,
arrasta um calçado encharcado, um saco de plástico que verte.
Quando lhe tocam, sujam-se, mais rápidos caminham fazendo um esgar doentio.
Não tardará que o homem de farda lhe indique a saída.

*

Há boas acções e acções más, dizia-me (parece da religião, mas é da bolsa que fala).
No mesmo dia ganhava sempre, a comer brioches, teve azar.
(Quem espera de mim, ó céus, seu funcionário?)

José Emílio-Nelson
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segunda-feira, fevereiro 19

GUERRAS...

Posted by PicasaImagem daqui

Isto comparado com isto não é nada

ENTRUDO - UMA VIAGEM

Fotografia daqui

Viagem rápida a Luzim (Entre – os – Rios, Penafiel), sábado para domingo de Carnaval, em família, em direcção à casa de campo dos pais da M.A., no meio da paisagem que rejubila de cores, por entre árvores, flores, musgo e águas, à vista do vale do Tâmega que se cobre, pela manhã, de nuvens baixas, brancas com as claras em castelo. Ali onde assoma, a todo o momento, a alegria genuína de quem recebe. Os amigos partilham o espaço e o tempo sem esforço e a gastronomia toma o lugar mais alto na fruição do acolhimento. É difícil imaginar outro prazer mais próximo da perfeição. O lugar, magnífico, anda paredes-meias com outros que me suscitam uma melancolia profunda. À vinda, na estrada, cruzamo-nos com três momos vestidos a rigor qual fragmento de um Entrudo autêntico que persiste.

PARA AS CRIANÇAS

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Para as crianças digo
o verso que faltava.
Menos que o verso, digo
a palavra – ou já não tanto:
a sílaba, o som, o sibilar,
só o tremor do vento
do grito ou gargalhada.

Para as crianças digo
o que faltava, o mais
essencial, o pão do dia
que nos fará crescer
a elas e a nós:
para as crianças digo
um tudo, um nada.

Pedro Tamen
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domingo, fevereiro 18

ABSTENÇÃO NA ANDALUZIA


Já agora a propósito da abstenção em referendos.

La participación en el referéndum celebrado este domingo sobre la reforma del Estatuto Andaluz se ha situado en el 36,28% del censo, un índice de afluencia a las urnas muy por debajo del deseado por la clase política y que marca un récord de abstención (63,72%) en esa comunidad autónoma. Con todo, el apoyo a la reforma estatutaria de los que han ido a votar ha sido, como se esperaba, abrumador: el 87,45% ha respaldado con su voto la reforma. El 'no' sólo ha cosechado el 9,48% de apoyo. Ha habido un 3,07% de votos en blanco.

sábado, fevereiro 17

KAVAFIS

Posted by PicasaImagem daqui

Citação cristalina de Kavafis, subtraída ao CATATAU, com algumas palavras “retocadas”:

Tenho observado com frequência a pouca atenção que as pessoas dão às palavras. Explico-me. Um homem simples (com simples não quero dizer parvo, e sim não-eminente) tem uma opinião, critica uma instituição ou crença geral; sabendo que a maioria das pessoas não pensa assim, cala-se, na suposição de que não vale a pena falar, pois o que pudesse dizer não mudaria coisa alguma. Trata-se de um erro grave. Eu ajo de outro modo. Por exemplo, sou contra a pena de morte. Sempre que me aparece uma oportunidade, manifesto-me a respeito, não porque ache que, com isso, o Estado a vá abolir, mas porque estou convencido de que assim contribuo para o triunfo das minhas ideias. Pouco me importa que ninguém concorde comigo. O que eu disse não foi em pura perda. Talvez alguém repita minhas palavras e elas cheguem a ouvidos que as ouçam e as perfilhem. Quem sabe se futuramente algum daqueles que ora discordam de mim não se vai lembrar, numa ocasião propícia, daquilo que eu disse e convencer-se ou pelo menos sentir abalada sua opinião em contrário. - O mesmo vale para diversas outras questões sociais, das que exigem acção. Reconheço que sou tímido e não sei agir. Por isso limito-me a falar. Não acho, porém, que minhas palavras sejam em vão. Outro agirá, mas essas palavras – de mim, o tímido, - terão facilitado a acção e limpado o terreno.

KAVAFIS, K. Reflexões sobre Poesia e Ética. SP: Ática, 1998

sexta-feira, fevereiro 16

EXTRAORDINARIAMENTE INTERESSANTE!

Posted by PicasaFotografia de Ernesto Timor

CASA PIA
Advogado abandona defesa das vítimas
A renúncia do advogado José António Barreiros é a terceira mudança, no espaço de três anos, na liderança da equipa que representa as vítimas da Casa Pia e a instituição no processo de pedofilia.

A REVOLUÇÃO DAS FLORES

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortênsias se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas.

Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelíceas. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.

Jorge de Sousa Braga
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quinta-feira, fevereiro 15

PÚBLICO

Posted by PicasaFotografia de Bart Pogoda

É interessante acompanhar o debate acerca de uma coisa que se conhece somente através do que os outros dizem dela.

ALBERT CAMUS - SUBLINHADOS

Posted by PicasaImagem daqui

Ressonância de 14 de Fevereiro de 2004. Trata-se do penúltimo post com os meus sublinhados da primeira leitura dos Cadernos de Camus, publicado no absorto. Foi endereçado para o blogue Cadernos de Camus mas, por razões que desconheço, não foi publicado.
O Caderno n.º 6 que integra, na edição portuguesa, o volume Cadernos III da Colecção Miniatura, editada pela Livros do Brasil, respeita ao período de Abril de 1948 a Março de 1951.

Os sublinhados desde caderno n.º 6 serão divididos em duas partes para efeitos de inserção no projecto Cadernos de Camus. Eis a primeira parte dos mesmos:

“Arte moderna. Encontram o objecto porque ignoram a natureza. Refazem a natureza e não lhes resta outro recurso porque a esqueceram. Quando esse trabalho estiver concluído, começarão os grandes anos.”
““Sem uma liberdade ilimitada de imprensa, sem uma liberdade absoluta de reunião e de associação, o domínio de largas massas populares é inconcebível” (Rosa Luxemburgo, a Revolução Russa).””
“”Salvador de Madariaga: “A Europa só recobrará os seus sentidos quando a palavra revolução evocar vergonha e não orgulho. Um país que se ufana da sua gloriosa revolução é tão fátuo e absurdo como um homem que se ufanasse da sua gloriosa apendicite.”
Verdade num certo sentido, mas discutível.””

“Segundo Richelieu, os rebeldes, sendo em tudo iguais, são sempre menos fortes do que os defensores do sistema oficial. Por causa da má consciência.”
“”G. Greene: ...
Id. “Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos, o mundo é um caos, é-se levado ao desespero””
(Sublinhado parcial de um conjunto de citações de G. Green. No final escrevi: “Atenção”)

“Peça. O Orgulho. O orgulho nasce no meio das trevas”
“Os artistas querem ser santos, não artistas. Eu não sou um santo. Queremos o consentimento universal e não o teremos. Então?”(Escrevi “Poema José Gomes Ferreira” cuja Poesia I, de 1948, deveria andar a ler)
““Título da peça. A inquisição em Cádis. Epígrafe: “A Inquisição e a Sociedade são os dois grandes flagelos da verdade.” Pascal””
“Dilaceração por ter aumentado a injustiça julgando-se servir a justiça. Reconhecê-lo pelo menos e descobrir então essa dilaceração maior: reconhecer que a justiça total não existe. Ao cabo da mais terrível revolta, reconhecer que não se é nada, isso é que é trágico.”
“Gobineau: Não descendemos do macaco, mas aproximamo-nos dele a toda a velocidade.”
Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).
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quarta-feira, fevereiro 14

Ségolène Royal - Assumer son choix

Posted by PicasaImagem daqui

Jean Daniel sobre Ségolène Royal :

« Reste que, dimanche dernier, j’ai eu le sentiment d’assister au spectacle d’une femme qui avait quelque chose à dire et qui le disait bien. Dans le rôle où elle avait eu l’audace de se hisser et où elle avait eu le talent de s’imposer, Ségolène Royal était tout simplement en état de grâce. Une lumineuse sérénité, une confiance tranquille en elle-même, une vraie capacité d’émouvoir lorsqu’elle évoque la détresse de la jeunesse mais aussi ses devoirs, la misère des enfants mais aussi la responsabilité des parents, et les violences faite aux femmes. En tout cas, sur tous ces thèmes, elle s’est imposée comme une femme de conviction. On ne s’y attendait plus. Je ne m’y attendais pas. Alors, sans prévoir ce que je penserai demain, je veux dire aujourd’hui combien j’ai apprécié ce commencement de réconfort que, pendant deux belles heures, Ségolène Royal a enfin procuré à ceux des Français qui ne demandent qu’à demeurer fidèles à la gauche. »

A VERDADE

Posted by PicasaFotografia daqui

O cerco aperta-se. Esperam-se, a qualquer momento, declarações de José Manuel Barroso e Paulo Portas. O tema interessa-lhes.
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O ESQUECIMENTO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Os meus amigos que nasceram depois
do vinte e cinco de abril chegam a
pensar que a tortura do sono é não ter pedalada
para ficar na discoteca até às
cinco da manhã por falta
de pastilhas
e que uma falha na corrente
eléctrica a meio da noite é o que
melhor pode definir o
conceito de Sombra.

José Carlos Barros
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terça-feira, fevereiro 13

JORNAIS

Imagem daqui

Pois é. Pela parte que me toca já deixei de comprar jornais em papel há muito tempo. Rompi com uma tradição de juventude. Já sei que os jornais noutros suportes assumirão os mesmos vícios. Não há volta a dar. Toda a despesa crítica fica do lado do leitor.

Devemos tomar como adquirido que o que lemos é uma ínfima parte da informação disponível. Uma gota de água no oceano. Resta-nos escolher a gota de água que verdadeiramente nos interessa e que nos dê prazer. A Internet permite escolher mais, mais longe e mais depressa.

Tudo já está decidido quanto ao futuro da imprensa escrita: o museu. Alguma coisa vai sobreviver dela: os jornais gratuitos, os semanários especializados e, provavelmente, os jornais que assumam a forma de objectos de arte. Durante mais algum tempo a Internet…e mais tarde …

segunda-feira, fevereiro 12

KANT


Ressonância de 12 de Fevereiro de 2004. Nesse dia publiquei um post intitulado: KANT um chumbo humilhante! Trata-se uma episódio real, passado na minha juventude, do qual, ironicamente, se podem retirar ensinamentos úteis para entender as posições de muitos apoiantes do “Não” no referendo de ontem.

CONHECIMENTO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

De pouco vale o chamado
conhecimento: um figo
vale mais se tenho fome,
ou uma lágrima
tímida
num rosto sem nome.

Casimiro de Brito
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domingo, fevereiro 11

Ségolène Royal

Posted by PicasaFotografia daqui

A candidata presidencial Ségolène Royal lançou hoje, em França, o seu programa eleitoral. A prioridade vai para a “educação, ainda a educação, sempre a educação”. Seja qual for o destino da sua candidatura, bons sinais…

(…) Ségolène Royal a assuré, dimanche 11 février à Villepinte, que "c'est l'éducation qui tient tout l'édifice", promettant qu'avec elle, "ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation".

"Tout se tient: l'emploi, la famille et l'Ecole, c'est l'éducation qui tient tout l'édifice, c'est pourquoi, avec moi, ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation", a déclaré la candidate sous de forts applaudissements.

"Ce sera au cœur de tout et en avant de tout: l'Ecole est le cœur battant de la République, le lieu où se transmettent tous les savoirs et les valeurs républicaines, le creuset où se forment les futurs citoyens", a-t-elle lancé, constatant que "l'Ecole traverse une crise profonde".


Le discours de Ségolène Royal à Villepinte
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VITÓRIA DO SIM

Posted by Picasasophie thouvenin

O SIM ganhou abrindo o caminho para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

Mas, por mais que se diga que, neste referendo, a abstenção recuou, a verdade é que foi ainda superior a 50%.

Está, pois, aberta a discussão política acerca da legitimidade de legislar apesar do carácter não vinculativo do referendo.

Ora se a Assembleia da República já tinha legitimidade para legislar, mesmo sem referendo, com a vitória do SIM fica, politica e eticamente, obrigada a legislar no sentido da maioria expressa no referendo.
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SIM

Posted by Picasasophie thouvenin

Fim da manhã. Não chove em Lisboa. Esta deve ter sido a última vez que o meu filho me acompanhou à mesa de voto como espectador. Nas próximas eleições, segundo o calendário normal, ele já votará. O nº da minha mesa baixou drasticamente. O tempo passa.

Daqui a pouco já será possível saber da afluência às urnas. Se estiver disponível a comparação com a afluência no referendo de 1998, às 12 horas, saberemos como vai ser, desta vez, a abstenção.

Podem ver essa informação aqui. Entretanto para quem quiser saber acerca do histórico das sondagens pode ver aqui.
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O METRO DO PORTO VAI SER A DESCOBERTO

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

À entrada do metro de Lisboa está o cobridor
de damas e cavalheiros
de pé e perna cruzada a coçar os testículos
e a fumar para o chão em escarros
pouco límpidos.
O metro pede que chova em cima
do cobridor
que encena a sua rábula cinéfila
e leva aos tomates uma estranha fome
de afecto
melancólica.
Já viajei de metro cobridor um ror de vezes
e eu próprio já supus
que nos meus testículos
o mundo vinha adormecer
com mãos suadas.
Às vezes trocávamos de papel,
cobertos éramos todos
por uma tristeza
severa
que o metro transporta no ar
irrespirável.
Hoje, tomates são de importação ou virtuais
e os cobridores
uma espécie em vias de extinção
na esquina fluorescente do dia descaído
na cabeça da noite que já nem dá para nada.
E sei que no Porto o metro vai ser a descoberto.

Armando Silva Carvalho

[Encontrei aqui uma variante.]
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sábado, fevereiro 10

ESPLANADA

Posted by PicasaPraia de Faro – Anos 60

A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles …
O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.

CAMUS - SUBLINHADOS NUM DIA DE REFLEXÃO

Fotografia daqui

Ressonância de 9 e10 de Fevereiro de 2004 respectivamente no absorto e nos Cadernos de Camus. O texto de entrada original é o que agora publico. É interessante assinalar como este conjunto de sublinhados contém referências a diversas questões centrais do pensamento e obra de Camus e, em particular, à questão de Deus abordada, de forma aprofundada, no livro que estou a ler, neste momento: “Camus et l’Homme sans Dieu”, de Arnaud Corbic.

E como tudo isto se interliga com o tema que deveria ter estado em debate a propósito do referendo de amanhã e que somente, aqui e ali, aflorou. Ou de como alguns temas que, por vezes, julgamos ultrapassados estão sempre presentes nos grandes debates acerca do destino do homem: liberdade, revolta, heroísmo, santidade, cristianismo, marxismo, Deus …

Estes são últimos sublinhados do Caderno n.º5. É notória a referência a um conjunto de figuras ligadas ao processo revolucionário na Rússia dos finais do Século XIX e inícios do Século XX que, na maior parte dos casos, caíram no esquecimento para os não especialistas daquele período histórico. No entanto tendo tido a curiosidade de visitar algumas das suas biografias verifiquei a influência e a importância do seu pensamento, e/ou acção, durante aquele período que, nalguns casos, é muito relevante.

““O que existe na Rússia é uma liberdade colectiva “total” e não pessoal. Mas que é uma liberdade total? É-se livre de alguma coisa – em relação a. Visivelmente, o limite é a liberdade em relação a Deus. Vê-se então claramente que essa liberdade significa a sujeição ao homem.””

“Peça Dora: Se tu não amas ninguém, isso não pode vir a acabar bem.”
(Mais uma vez a peça “Os Justos”, assim como nalguns excertos que surgirão a seguir.)

““Quantos eram os membros da “Vontade do povo”? 500. E o Império Russo? Mais de cem milhões.””
(Sublinhei somente “500”)

“” Vera Figner: “Eu devia viver, viver para ser julgada, pois o processo coroa a actividade do revolucionário.””

““Peça. Dora ou outra: “Condenados, condenados a serem heróis e santos. Heróis à força. Por isso não nos interessa, compreendem, não nos interessam nada os sórdidos negócios deste mundo envenenado e estúpido que se pega a nós como visco. – Confessai, confessai-o, que o que vos interessa são os seres e o seu rosto... E que, pretendendo procurar uma verdade, não esperais no fim de contas senão amor.””

“É o cristianismo que explica o bolchevismo. Conservemos o equilíbrio para não nos tornarmos assassinos.”

“Formas e revolta. Dar uma forma aquilo que é informe, é o fim de toda a obra. Não há apenas criação, mas correcção (ver mais acima). Daí a importância da forma. Daí a necessidade de um estilo para cada assunto, não de todo diferente porque a língua do autor é sempre sua. E é justamente esta que fará quebrar não a unidade deste ou daquele livro mas a da obra inteira.”

“Retirei-me do mundo não porque tivesse inimigos, mas porque tinha amigos. Não que eles não me fossem prestáveis como é habitual, mas julgavam-me melhor do que sou. É uma mentira que eu não posso suportar”

“Para os cristãos, a Revelação está no início da história. Para os marxistas, está no fim. Duas religiões.”
(Coloquei? no fim da frase)


“Pequena baía antes de Tenés, na base de uma cadeia de montanhas. Semicírculo perfeito. Ao cair da noite uma plenitude angustiada plana sobre as águas silenciosas. Compreende-se então porque é que os Gregos formaram a ideia do desespero e da tragédia sempre através da beleza e do que nela há de opressivo. É uma tragédia que culmina. Ao passo que o espírito moderno produz o seu desespero a partir da fealdade e do medíocre.
É o que Char quer dizer talvez. Para os Gregos, a beleza é o ponto de partida. Para um europeu, é um fim, raramente atingido. Não sou moderno.”

“Verdade deste século: À força de vivermos grandes experiências, tornamo-nos mentirosos. Acabar com tudo o mais e dizer o que tenho de mais profundo.”

Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº5 (Setembro de 1945/ Abril de 1948).
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TANGO PESSOAL

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Dizem que a memória deixa pegadas
e chamam-lhe as pegadas da memória.
Vou supor que está bem claro (claro que podia ser muito melhor).

Mas o 25 de Abril de há 25 anos não deixou apenas pegadas retóricas.
As pegadas são nomes de homens concretos à espera da morte
em Peniche ou no Tarrafal.
Das bandeiras em parada de legionários carnavalescos possuo ainda
uma caixa de cinzas.

Mais pegadas:
Os Ladrões de Bicicletas.
Redol a corrigir para os coronéis da censura um livro à pressa.
Júlio Pomar obrigado a comer cal.
Humberto Delgado a ser assassinado.
Soldados forçados a morrer em África.

A cardeala cereijiforme
preocupada com a fímbria da saia
depois de fazer jogging horizontal para baixo e para cima
sobre o cadáver santacombadense.

E, ao mesmo tempo,
eu a corromper-me a dançar o tango nos Fenianos,
o Manuel de Oliveira a fazer jogging transversal
à volta do corpo vivo de Potemkin, disfarçado de couraçado,
enquanto o carro do bebé desce para o seu destino.

Até que deixei uma noite de dançar o tango
e com dois amigos caçadores
(um deles o Alexandre O’Neill)
ferimos, a espingarda caçadeira,
em pleno escuro, no alto da Lixa,
um informador da polícia política.

Nada nos aconteceu
porque éramos tão fixes, gente tão fina,
que dançávamos o tango horizontal para cima e para baixo
em deboche obrigatório com as debutantes do Clube Tripeirense.

Entretanto, apanhávamos chumbos a Matemática.

Mais tarde, chegou-nos a vez de dançar o tango em Caxias
até que o Salgueiro Maia
garantiu de cima do tanque de guerra
que a Liberdade estava garantida.

Pegadas: claro que
esta memória não deixa pegadas de apagar com o vento.
Não são vagas pegadas a cheirar a alfazema rápida.
São antes a própria carne de que vamos vivendo.

E, olarila!,
acabou-se o tango.

Alexandre Pinheiro Torres
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Cardiff, Janeiro 1999
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sexta-feira, fevereiro 9

SIM


"Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"

SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM. SIM.