Vitorino Nemésio
1901 - A 19 de Dezembro, nasce Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, na Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores/1978 – A 20 de Fevereiro, morre em Lisboa, no Hospital da CUF, e será sepultado em Coimbra, no cemitério de Santo António dos Olivais.
PRECE
Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.
Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco do teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.
Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.
Vitorino Nemésio
In “O Verbo e a Morte”
Morais Editora, 1959
1901 - A 19 de Dezembro, nasce Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, na Praia da Vitória, Ilha Terceira, Açores/1978 – A 20 de Fevereiro, morre em Lisboa, no Hospital da CUF, e será sepultado em Coimbra, no cemitério de Santo António dos Olivais.
PRECE
Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa à porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, à tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.
Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do flanco do teu Filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.
Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta.
O teu perdão de Pai ainda não pode ser,
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.
Vitorino Nemésio
In “O Verbo e a Morte”
Morais Editora, 1959
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2 comentários:
E infelizmente tão esquecido que ele anda.
Obrigada pelo poema.
Que bom saber da intemporalidade dos mestres ainda que por vezes pouco destacados... uma vez mestre, mestre para sempre!
Até sempre!
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