Na sequência dos combates dos últimos tempos, a propósito da reforma da educação, reparemos que enquanto em Portugal se discute o processo de avaliação do desempenho dos professores
em França as greves, e manifestações, são contra o despedimento de professores. Em Portugal o governo resolveu a questão da colocação dos professores (na sua maior parte) fixando-os por um período de três anos nas escolas a que ficam afectos. É a ansiada estabilidade do corpo docente – uma velha reivindicação da classe - que hoje foi esquecida pelos críticos do governo. Aqui ninguém fala em despedimentos de professores, pelo contrário, parece haver um compromisso firme do governo em não incluir os professores no chamado quadro de excedentes. É a ansiada estabilidade do corpo docente que, paradoxalmente, parece não revelar mais do que pérfidas intenções do governo em denegrir a imagem dos professores.
É possível que nem tudo vá bem no reino da Dinamarca. Mas não se verificam, hoje, no sistema público de educação, as rupturas organizacionais de outros tempos. Nem atraso na abertura dos anos lectivos, nem entropia nos processos de colocação de professores, nem atropelos na adopção dos manuais escolares (finalmente com uma nova lei em vigor) sendo que o que está em causa, no presente debate, é a elevação do nível de exigência do desempenho do sistema público de educação, e de todos os seus protagonistas, do topo à base. Há mudanças, em turbilhão, difíceis de gerir aos diversos níveis da organização do sistema. As escolas são solicitadas a realizar um sobre-esforço só possível pela dedicação e competência da maioria dos seus dirigentes, em particular, os professores. Se assim não fosse como poderia ser assegurado, como tem sido, o regular desenvolvimento das actividades escolares à beira da entrada no terceiro, e derradeiro, período lectivo.
Todos sabemos, os que trabalham no sistema, e os que o observam de fora, que sempre se podem adoptar processos diferenciados para alcançar os mesmos fins. Creio que a gestão política deste complexo processo de mudança, como sempre acontece, poderia ser orientada seguindo um diferente escalonamento das prioridades, mas a verdade é que qualquer reforma na educação, tocando no fundo dos alicerces do sistema, sempre concitaria forte contestação e nunca avançaria, sequer, um milímetro se a firmeza cedesse o passo à hesitação. Mas quero crer que, a breve prazo, será inevitável que as trombetas da concórdia se sobreponham à crispação do confronto.
A opinião pública mantém uma silenciosa reserva face ao alvoroço da refrega e o PR guarda, face aos sindicatos, uma prudente e sábia distância. Eles lá sabem porquê!
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