segunda-feira, junho 16

INFLAÇÃO

Blaine Ellis

Poucos se lembrarão de um lema da propaganda do chamado “Estado Novo” que era qualquer como: “A verdade é só uma, Rádio Moscovo não fala verdade”. Vem isto a propósito do modelo de comunicação que, em todos os domínios, empurra a opinião pública num sentido único.

Está na moda assacar ao governo, e a Sócrates, todos os males do mundo e vai daí mesmo as boas notícias, para o país e para o governo, são embrulhadas no pacote único das más notícias. Veja-se o caso da notícia de hoje acerca da inflação. Qual é a notícia? Zona Euro: Inflação sobe em Maio para novo recorde de 3,7%, Portugal tem uma das menores taxas

É claro que tudo é relativo mas no que respeita à inflação, (Annual inflation (%) in May 2008), Portugal apresenta a 2ª mais baixa taxa de inflação (2,8%) de todos os países da UE. Este é um indicador muito relevante para avaliar a política de qualquer governo. Ou por ser favorável ao governo deixa de ser (muito) relevante?
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PORTUGAL 0 - SUIÇA 2

Fotografia daqui

Não posso estar mais de acordo com a opinião de Mourinho. Este jogo com a Suíça não existiu. O República Checa- Turquia é que sim. Scolari, goste-se ou não se goste, não podia fazer outra coisa. Quinta-feira volto ao assunto. Espero que o adversário seja a Alemanha e não a Áustria.
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domingo, junho 15

CAMINHOS DA MEMÓRIA

A partir de hoje foi colocado ao alcance de todos Caminhos da Memória cujo programa está contido, de forma sintética, no post inaugural do qual transcrevo, a seguir, uma parte. Trata-se de um projecto muito interessante com incidência numa área menosprezada e maltratada entre nós: a memória. Os meus agradecimentos pelo convite para colaborar, pontualmente, no projecto, a que acedi com muito gosto, e pelo link.

Caminhos da Memória é um blogue que pretende dar voz a formas de lembrar, de evocar e de interpretar o passado, recorrendo a leituras contemporâneas da história e da memória.

Procurará fazê-lo recorrendo a diferentes formulações que se coadunem com as características específicas da blogosfera e que ajudem a desenhar percursos para redescobrir os legados que recebemos do país e do mundo.

Incluirá também informação sobre documentos, livros, filmes e eventos relacionados com os objectivos que nos propomos perseguir, bem como ligações a instituições, publicações e blogues que privilegiem temas ligados à memória e à história.
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OS DONOS DO ALHEIO


Dando como verdadeira a notícia estamos perante uma medida que nenhum cidadão de bom senso entenderá. Por este caminho estamos a chegar ao ponto em que a obrigação de pagar as contas se constituirá como um ónus insuportável para os cidadãos cumpridores. A partir daqui é a lei da selva através da qual os vigaristas, por via das entidades reguladoras, alcançam o paraíso. Ou o governo põe cobro, rapidamente, ao dislate ou, em nome da defesa das grandes companhias, se suicidará politicamente.
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sábado, junho 14

O DR. PORTAS E A IMIGRAÇÃO


O Dr. Portas devia estar a referir-se ao Sr. Scolari quando afirmou que “Portugal só deve acolher aqueles que pode integrar”. Em Portugal a imigração não é, ao contrário de outros países, um problema grave o que é um problema para o Dr. Portas.
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sexta-feira, junho 13

REFLEXÃO DE 6ª FEIRA 13


Basta olhar para as medidas que o governo espanhol acaba de tomar. Os portugueses esperam que o governo tome um conjunto de medidas que constituam uma resposta estruturada à crise económico-social que o aumento do preço dos combustíveis está a acelerar e aprofundar. Não basta um plano de investimentos públicos e privados – que tem efeitos de longo prazo – é necessário a tomada de medidas que atenuem, de forma efectiva e imediata, a perda do rendimento disponível das famílias e da liquidez das empresas.

Por muito que o governo possa argumentar que as medidas fundamentais, em particular no plano social, já foram tomadas ninguém as vislumbrará no meio de uma avalanche de movimentos reivindicativos envolvendo todos os sectores da actividade económica. O governo está a ser confrontado com a economia real, através dos seus agentes, e não já pelas chamadas corporações. Se a postura do governo continuar a ser meramente defensiva, face a uma crise de longa duração, como parece ser o caso, está condenado à derrota.

É preciso que o governo passe à ofensiva desenvolvendo um plano de ataque à crise sustentado em medidas perceptíveis como necessárias e justas: para isso talvez seja necessário um novo olhar sobre as contas públicas, a politica fiscal e o modelo de gestão do orçamento; a salvaguarda dos compromissos assumidos, no âmbito da UE, com o máximo aproveitamento das suas margens de flexibilidade e, quiçá, uma remodelação governamental com vista a restaurar a confiança na capacidade do governo para enfrentar uma situação nova com a aplicação de medidas novas.
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FERNANDO PESSOA

Carta a Adolfo Casais Monteiro

Por ocasião da passagem do 120º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa transcrevo, no Caderno de Poesia, a parte final da carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro, datada de 14 de Janeiro de 1935. Pode ser lida, na íntegra, no site de poesias coligidas de F E R N A N D O P E S S O A (edição bilingue português/espanhol).
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quinta-feira, junho 12

A PAIXÃO PELO FUTEBOL

Tanta pasión bien merece una recompensa. É com esta frase que fecha o artigo do El Pais que, hoje, retrata a paixão dos portugueses pela selecção. Gosto de saber como nos vêem de fora pois sei como nos vemos, a nós próprios, cá dentro. O tempo de exposição mediática da selecção é excessivo? Talvez! Mas esperem pelos incêndios florestais agora que o calor aperta e os camionistas saíram de cena regressando à estrada. Prefiro ver o ecrã cheio com o sorriso de Ronaldo, depois de marcar um golo, às imagens, repetidas dos crimes, agruras e calamidades que, no nosso tempo, a televisão diviniza. A paixão pelo futebol é uma das últimas muralhas que a comunidade, nos “países do futebol”, é capaz de levantar contra o desespero. Tentar suster ou rasurar essa paixão é uma tarefa inglória e todos sabemos como os excessos da paixão são a sua própria essência.
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O FIM DO DIA

Adam Jahiel

Leio nas notícias e vou consultar a fonte: ANTRAM alcança acordo e apela ao retomar da actividade·

A partir deste momento as acções dos piquetes que promovem a paralisação, a terem continuidade, serão um mero caso de ordem pública.
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quarta-feira, junho 11

PORTUGAL 3 - REPÚBLICA CHECA 1

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GUARDIOLA

No post O jogador de futebol, no Auto-retrato, faz-se referência a Pep Guardiola, que foi um grande jogador e, ao mesmo tempo, ao que parece, um leitor de livros. Talvez valha a pena lembrar que Guardiola acaba de ascender a treinador principal do Barcelona. A propósito reparei que, naquelas reportagens que a SIC dedicou aos jogadores da selecção, Cristiano Ronaldo, ou a produção, fez passar uma sequência em que mostra o seu recente interesse pela leitura de livros…. Aquela pequena sequência vale por todo um programa de promoção da leitura!

Guantánamo

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FRANCISCO MARTINS RODRIGUES (CONT.)

In Memoriam de Francisco Martins Rodrigues – IV e V Partes
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MAIS UM DIA

CAVALOS À SOLTA


A vida em comunidade nem sempre é um mar de rosas. Certamente que ninguém, em seu perfeito juízo, prefere a guerra à paz, a confrontação à concórdia. Mas a democracia representativa, regime em que vivemos, após décadas de ditadura e duros confrontos, no período pós 25 de Abril, foi uma escolha consciente do povo português através de eleições livres. Nada obsta, no entanto, a que hajam manifestações de divergência e descontentamento, no pleno exercício da liberdade a duras penas conquistada.

Convém, no entanto, que todos os cidadãos, no exercício da liberdade, passado o período de aprendizagem das regras do regime democrático, respeitem a liberdade dos outros. Banal! Acontece que, a propósito do caso da paralisação dos camionistas, em noticiários e debates, através de comentaristas encartados, como é o caso do inefável Luís Delgado, se ouvem as maiores barbaridades.

Os camionistas de que se fala são, em primeiro lugar, os patrões e não os trabalhadores; a paralisação da frota não é, portanto, uma greve mas antes, pelas suas características, um lockout; o lockout é proibido pela constituição da república; as manifestações pró paralisação, a que temos vindo a assistir, são levadas a cabo à revelia da ANTRAM, associação patronal representativa do sector; a paralisação, goste-se dela ou não, tem os seus fundamentos, quais sejam, genericamente, o agravamento das condições de exploração do negócio do transporte rodoviário de mercadorias.

Apesar das variadas razões que assistem aos seus promotores, particularmente originadas no aumento do preço dos combustíveis, esta paralisação enquadra-se na categoria das manifestações “selvagens”, ou seja, realiza-se fora de qualquer enquadramento legal e associativo; trata-se, portanto, de uma paralisação ilegal que visa impedir a livre circulação de pessoas e bens ameaçando, como é público e notório, além do regular funcionamento da economia do país, a liberdade e a integridade física dos próprios promotores e daqueles que não queiram aderir à paralisação.

À direita reina um discreto regozijo, espécie de vingança póstuma face ao chamado buzinão da ponte 25 de Abril, de 1994; à esquerda, no campo do PCP e do BE, balbuciam-se umas vacuidades a meio caminho entre o apoio à paralisação e o receio das consequências futuras desse apoio. (O que pensará Manuel Alegre disto tudo?) Se não for alcançado, rapidamente, um acordo razoável, que ponha fim às manifestações “selvagens”, não pondo os contribuintes a pagar a ineficiência da maior parte da indústria de transporte de mercadorias, vamos ter um problema complexo, nos planos político e logístico. E, provavelmente, pancada da grossa.

Aí os que, hoje, clamam contra a passividade do governo face aos desordeiros, contra a incapacidade de Sócrates, (afinal um fraco!) para impor o cumprimento das leis do estado democrático de direito, vão virar-se contra ele apelidando-o de autoritário, quiçá, uma vez mais, de fascista. Se o que estiver em causa forem mesmo, comprovadamente, as liberdades públicas ao governo não restará outra alternativa senão tratar de as repor. Mas, neste conflito, como em todos os outros, mais vale um mau acordo do que uma boa demanda. É o que se deseja que aconteça, com razoabilidade, nas próximas 48 horas!
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terça-feira, junho 10

ALDINA DUARTE

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DIA DE PORTUGAL

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora;
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo, a tempestade em grão bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luís de Camões

Sonetos da Edição de D. António Álvares da Cunha, de 1668
In Lírica – Terceiro Volume das Obras Completas - Círculo de Leitores
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segunda-feira, junho 9

"A RAÇA"


“A raça”! Estes pequenos sinais são para levar a sério? Pareceu-me que o Presidente da Republica mostrou uma sua característica particular: lida mal com a pressão. Quando os jornalistas lhe quiseram arrancar um comentário – e insistiram – acerca da paralisação dos patrões camionistas saiu-lhe uma palavra (“raça”) seguida de uma frase, (“o dia da raça”) fora do contexto, infeliz e despropositada. Sobreveio uma memória mais antiga! Bom assunto para os psicanalistas. Ora, para os mais distraídos, o “dia da raça” era a designação do “dia de Portugal” nos tempos da outra senhora, da ditadura que, no nosso país, bondosamente, costumamos chamar por “estado novo”! Somos muito dados a estas bondades perante os inimigos da liberdade! E muitos (novos e velhos) ainda por aí passeiam impunes! Felizmente que a democracia é, pela sua natureza, tolerante mesmo para com as gafes do mais alto magistrado da nação que devia zelar, acima de todos, por ela. Neste caso não zelou e deve levar uma repreensão registada. Pelo menos aqui. Não vale grande coisa mas sempre me permite cumprir com um dever de cidadania activa. Desta vez de acordo com o BE. Se fosse o primeiro-ministro Sócrates o autor da gafe caía o Carmo e a Trindade (a Trindade?). E os patrões camionistas, se a paralisação chegar até 4ª feira, o que vão fazer quando chegar a hora do jogo Portugal-República Checa para o europeu? Acho que o acordo vai ser anunciado um tempinho antes do jogo. Mera curiosidade!
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FUTEBOL- "FLUXO" E RESISTÊNCIA (de novo)

Peter MarlowHélder Postiga

Publiquei, em Outubro de 2007, Sob o título FUTEBOL – “FLUXO” E RESISTÊNCIA, um artigo de opinião que vem muito a propósito da presente época na qual o futebol surge no lugar cimeiro de todas as notícias.

O futebol é uma paixão antiga que vem dos tempos da minha meninice, sendo, ao mesmo tempo, um fenómeno que suscita debate, e reflexão, permitindo abordagens que vão bastante além do terreno linear do “pega ou larga”, da cega paixão ou da diabólica recusa.

Transcrevo o artigo, em referência, na sua versão original:


"Tout ce que je sais de plus sûr à propos de la moralité et des obligations des hommes, c'est au football que je le dois.” - Albert Camus


Scolari e Mourinho, treinadores de futebol, representam, no imaginário popular, o desejo de lideranças fortes, mobilizando ódios e paixões, criando expectativas de vitórias que redimam a honra de comunidades, povos e nações.

Nenhum outro fenómeno, senão o futebol, na maior parte dos países, regiões e continentes, mobiliza o interesse de tanta gente, sem distinção de idades, raças, credos, estatutos sociais ou económicos.

É um fenómeno paradigmático em que o jogo – actividade de lazer – se transformou num espectáculo de massas que, não deixando de criar a ilusão do jogo, deu origem, nas sociedades contemporâneas, a um “fluxo futebolístico” no qual o que se consome é o próprio fluxo.

O futebol como fenómeno de massas, mediatizado, suscitando rivalidades e lutas de claques fanáticas, mobilizando meios financeiros vultuosos, alimentando ilusões de vitórias e alentando nacionalismos serôdios, é um fluxo que combina o “fluxo do ter”, ”da informação”, “do ver”, ”do “ soletrar”, do “viajar”.

Os sujeitos do espectáculo, do “fluxo futebolístico”, os jogadores mas também os treinadores/seleccionadores, deixaram de ser os senhores da sua vontade, entregues às regras de um mercado com leis próprias; os mediadores da informação deixaram de se compadecer com a “notabilidade” dos factos e preocupam-se em estimular a capacidade de efabulação das massas; as vitórias e as derrotas deixaram de ser o “resultado do jogo” mas o acontecimento mais ou menos forjado destinado a alimentar o fluxo.

Não que tenha deixado de existir o jogo autêntico – presente no futebol amador e noutras modalidades – mas este passou à categoria de resíduo social, lugar de resistência, só, plena e pontualmente reconhecido, no plano do fluxo, quando é, ao mesmo tempo, o lugar da tragédia... a queda de uma baliza esmagando o jovem,... ou o sacrifício exultante dos amadores de uma selecção de “rugby” enfrentando uma luta desigual na qual ocuparam, no palco mediático global, o papel de resistentes.

O fluxo subjuga o jogo, que se transforma no próprio fluxo, mas não elimina as manifestações de resistência em que o jogo autêntico persiste.

Desde a “Ilha da Culatra”, no meu Algarve, às mais pequenas ilhas dos Açores, desde as pequenas colectividades recreativas às grandes empresas, desde as escolas às ruas, o “fluxo futebolístico” encontra a sua réplica em milhares de resistentes que, apagados da ribalta mediática, são o outro lado de uma realidade humana que persiste em não se deixar apagar.

Scolari e Mourinho deixarão, um dia, de ser actualidade, mas o “fluxo futebolístico” vai persistir, e o seu outro lado, o jogo autêntico, resistirá em todo o mundo, bastando para tal que hajam jogadores e um objecto simples, mais ou menos arredondado, no qual se possam dar pontapés.

O tema do futebol é fascinante, além do mais, porque nos faz ir em busca de explicações para uma paixão que, avant la lettre, Camus intuía, a partir da sua própria experiência, exercer uma influência mobilizadora das grandes massas, lugar de “alienação” mas, ao mesmo tempo, de resistência cuja influência social a pura razão dificilmente apreende.
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MOUTINHO

Portugal es Moutinho

Gosto de percorrer os media internacionais para conhecer alguma coisa do mundo. No caminho também se aprende como os outros nos vêem a nós, no caso, acerca do talento individual ao serviço do colectivo. Vale para tudo, na vida dos indivíduos e das colectividades, para quem quiser entender a força do futebol como fenómeno de massas.
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Gisele Bündchen

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domingo, junho 8

OS SOCIALISTAS FRANCESES

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HUMBERTO DELGADO (VII)


As eleições presidenciais de 1958 disputaram-se no domingo, dia 8 de Junho, passam hoje exactamente 50 anos. A campanha eleitoral da candidatura presidencial de Humberto Delgado encerrou a 4 de Junho, de forma apoteótica, em Beja mas ao contrário do que sempre tinha acontecido, em anteriores eleições presidenciais, em ditadura, Humberto Delgado, fez questão de levar a sua candidatura até às urnas. E assim foi.

Delgado queria mostrar ao país, e ao mundo, que as eleições em Portugal eram uma farsa e, mais do que isso, estava determinado a criar um movimento que abrisse portas à implantação de uma democracia em Portugal.

“Nos três dias que faltavam até ao acto eleitoral de domingo, circulou de mão em mão uma proclamação final de Humberto Delgado aos portugueses, encorajando-os a votar: “Apesar dos assaltos e das prisões; apesar da violência e das agressões; apesar de violarem e encerrarem as nossas sedes; apesar das intimidações, dos insultos, e prepotências de que, sempre e redobradamente nos últimos dias, temos sido passivos; apesar da censura e das injustiças; apesar de se preparar uma burla eleitoral de que somos vitimas, eu – por tudo e por isso mesmo – vos convido a seguir comigo o nosso destino comum. Às urnas, amigos! Lutemos de forma a desmascarar os traidores e os cobardes, aqueles que cometeram e vão cometer ilegalidades constitucionais, aqueles que são inimigos do Povo e dos princípios cristãos! Às urnas, cidadãos!”

No próprio dia da votação, 8 de Junho de 1958, o penúltimo acto da farsa eleitoral salazarista foi a publicação de um decreto governamental que proibia a fiscalização das assembleias de voto por elementos da oposição. (…)

Ao deslocar-se com Maria Iva ao Liceu Camões, para votar, Humberto Delgado foi alvo de uma derradeira apoteose popular. À saída, foi levado em ombros como em plena campanha eleitoral e envolvido em gritos de “Humberto! Humberto! Humberto!”. A cena foi filmada – e essas são raríssimas imagens em movimento das eleições de 1958.”

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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sábado, junho 7

PORTUGAL 2 - TURQUIA 0


Num país que parece mais fadado para chorar as desgraças do que para apreciar o trabalho dos seus melhores aqui ficam as crónicas do espanhol El Pais e do sítio da UEFA acerca do Portugal 2 - Turquia 0. Foi só uma vitória mas de uma selecção de luxo que contribui para colocar Portugal nas bocas do mundo por boas razões. Foi acima de tudo uma equipa cheia de surpresas agradáveis. Uma esperança e uma alegria!
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A BANDEIRA E O HINO

O fenómeno futebolístico, desprezado por uns, idolatrado por outros, permitiu que os símbolos nacionais sejam do conhecimento geral. A bandeira e o hino de Portugal entraram no quotidiano dos portugueses, nos últimos anos, através do desempenho internacional da selecção nacional de futebol. É essa realidade que dentro de momentos vai ter mais uma representação em Genebra. Boa sorte!
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sexta-feira, junho 6

RESPIRAR O MESMO AR

Fotografia de Hélder Gonçalves
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Le salut par un Noir

Jean Daniel - Le Nouvel Observateur

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Ce qui empêche toute spéculation pessimiste sur les Etats-Unis, c'est que l'affrontement aux élections primaires d'une femme et d'un Noir a montré au monde que les Etats-Unis peuvent rester le pays du changement. Selon le titre d'un livre célèbre, il y a même chez les Américains une «tradition du changement». L'avenir, pour eux, ce n'est pas conserver, c'est adapter ou innover. Quand bien même, d'ailleurs, changeraient-ils de mentalité, les Américains ne sont plus maîtres d'une certaine évolution, notamment démographique. La population américaine a changé. Le nombre de Blancs d'origine européenne décline au fur et à mesure que celui des Hispaniques et des Asiatiques augmente. La seule chose qui pourrait dans l'avenir les rattacher à l'ancien monde, c'est la prédiction de Samuel Huntington dans son «Choc des civilisations», à savoir que le plus grand danger sera constitué par une alliance islamo-confucéenne entre les Chinois et les musulmans contre l'Occident. Mais Barack Obama a déclaré que c'était précisément contre une si funeste éventualité qu'il se battrait.
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A CADEIRA DO PODER

Charlize Theron

A história das divisões na esquerda é antiga, repleta de disputas fratricidas, mal entendidos, alianças e cisões, inimizades e rompimentos, ódios e ressentimentos. Basta puxar um pouquinho pela memória e logo nos lembraremos de inenarráveis acontecimentos nos quais está presente toda esta panóplia de fenómenos do “mal-estar” no interior da própria esquerda os quais resultam, em boa medida, da sua difícil relação com o exercício do poder. Fora do governo a esquerda parece que se reencontra consigo própria. É o que deixa passar a mensagem de Alegre. O governo assenta bem à direita e a oposição assenta bem à esquerda. Mas para que servirá a esquerda, em democracia, se não for capaz de assumir as dificuldades de governar. Se não for capaz de resistir aos apelos do imaginário da esquerda tradicional que a coloca sempre no lugar da resistência?
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CRISTIANO RONALDO

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quinta-feira, junho 5

UM DIA ...

O perigo de entregar o poder a fanáticos, seja qual for a sua ideologia, ou religião, é que de um dia para o outro o mundo pode desabar sobre as nossas cabeças. E esta notícia mostra-nos, certamente, só a ponta do iceberg.
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VERGONHAS ALGARVIAS


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ALEGRE (II)

Fotografia daqui

Devo esclarecer que nada me move contra Manuel Alegre que foi, aliás, para mim, como para tantos portugueses da minha geração, uma referência forte na resistência ao estado novo. Mas quando os artistas, de qualquer disciplina, se metem nos caminhos da política activa ponho-me em guarda!

A recente arrancada de Manuel Alegre em confronto com a direcção do PS, e do Governo por ele suportado, não é inocente. Ele lá sabe as linhas com que se coze. Mas achei-o demasiado azedo para os primórdios de uma campanha presidencial “à la longue” e demasiado polémico para uma manobra de força tendo em vista a repartição interna de poderes “à la carte”.

Pura ostentação de um esquerdismo tardio? Antecipação de oposição a um governo de “bloco central”, pós legislativas de 2008? Em qualquer caso, contra as minhas expectativas, depois da sessão do Trindade, a dissidência de Alegre parece irreversível!

Tenho a convicção que hoje, à vista da evolução do mundo e, em particular, da Europa, talvez seja preferível um PS de centro/esquerda a um outro PS qualquer que, não sei com quem, de forma séria, se teria de arranjar para formar governo. Pois é do exercício do poder que estamos a falar e não da organização de saraus culturais.

Acho que o PCP é a única força política da esquerda com sabedoria, histórica e prática, para entender isso. Não é por acaso que se não envolveu na aventura do Trindade. O PCP só se envolve em aventuras se caído em desespero, no fim do caminho, ou arrastado por acontecimentos imprevisíveis, deixando, mesmo assim, sempre uma porta aberta para retroceder em boa ordem. É uma tradição que vem de longe.

Manuel Alegre faz-me lembrar Humberto Delgado sem as estrelas do jovem general e sem a ditadura de Salazar do outro lado! Sem ditadura do outro lado, e sem tropas do seu, o “general” Alegre corre o risco de bivacar no campo do “bloco de esquerda”, ou seja, numa futura “terra de ninguém”.
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IGUALDADE


Pedro Lomba, no Diário de Notícias, escreve: JÁ QUE FALAM DE IGUALDADE. Mais coisa, menos coisa, poderia escrever o mesmo. À direita, e em certa esquerda, reina um grande equívoco na apreciação das aquisições do estado social, em particular, na Europa.
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quarta-feira, junho 4

Jefferson Airplane

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ALEGRE

uma chamada esquerda do PS que é a esquerda e a direita de si própria. O seu lugar situa-se algures entre o passado o presente e o futuro. O seu passado é republicano laico e socialista, o seu presente é ser “do contra” e o seu futuro é admirar o seu passado. Há uma esquerda do PS que se move em torno de princípios que estão enunciados em tábuas antigas, prossegue lutas em prol das conquistas da história e nutre a crença que há sempre uma porta entreaberta para o futuro. Há uma chamada esquerda do PS que sempre encarnou as dores do parto de uma esquerda nova. Geme, trina, sentencia, pontua, comunica, compunge-se, chora e, na versão popular, acena lenços brancos nas bancadas.
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JORGE DE SENA - pelo 30º aniversário da sua morte

[Lisboa, 2 de Novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978]

Quisera adormecer
como a criança acorda,
à beira de outro tempo, que é o nosso.

Só quero o que não posso.

8/4/53

Em finais de 1979, não sei precisar a razão, interessei-me por conhecer a obra de Jorge de Sena. Talvez tenha sido a memória, muito viva, que retive do seu empolgante discurso na cerimónia realizada, na Guarda, no dia 10 de Junho de 1977. Talvez tenha sido o resultado da busca de refúgio para as dores de uma ruptura amorosa; talvez tenha sido a necessidade de me reencontrar com a obra de artistas que, tal como Camus, fizeram do culto pela liberdade o seu lema de vida.

Hoje preocupam-me os sinais da ascensão de novas formas de autoritarismo que, inevitavelmente, brigarão com a liberdade. E dou comigo a pensar como é possível que os herdeiros das diversas variantes do estalinismo, no nosso país, ganhem créditos, cívicos e eleitorais, apresentando-se como estrénuos defensores da liberdade que, na verdade, abominam. E de como por essa Europa fora se adensam os sinais da ascensão de um novo (ou velho?) fascismo.

Na roda da história volta à tona a velha contradição entre justiça e liberdade sendo que os defensores do primado da liberdade sempre se vêem isolados em épocas de escassez material, relativa ou absoluta, em favor da popularidade de ideologias igualitárias, sejam de matiz comunista ou fascista.

Quando escasseia o pão, e a vida encarece, ganham fôlego os demagogos, de todas as cores, que aproveitam o descontentamento popular para cavalgar a onda e alcandorar aos píncaros o “discurso social” que o mesmo é dizer a reivindicação do predomínio dos princípios, e das políticas, da igualdade sobre os princípios, e as políticas, da liberdade.

Por mim advogo, correndo todos os riscos, o primado da liberdade. Nem novo estalinismo, nem novo fascismo. Nem a sombra dos tiranos quanto mais os seus rostos. No tempo da sociedade da informação a liberdade está na ponta dos nossos dedos mais do que pensam alguns energúmenos cujo maior prazer é vigiar os passos dos amantes da liberdade.

Meus caros: é por isso que me dou ao trabalho, minoritário e persistente, mas afinal na companhia de tantos outros, de lembrar personagens, que arrostando com o silêncio da nossa cultura oficial, pelo seu exemplo e pela sua obra, nos conclamam à vigilância activa, apesar da flacidez das chamadas democracias consolidadas, na defesa da liberdade.

Eis a razão de fundo porque presto a minha homenagem a Jorge de Sena, morto faz hoje 30 anos, e que jaz sepultado, para vergonha da pátria portuguesa, na última das terras da sua peregrinação – os Estados Unidos da América. Salvé Jorge Cândido de Sena!

Ver aqui e aqui algumas referências e poemas de Jorge de Sena.
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Fiz uma pequena alteração no título deste post e, numa primeira leitura da comunicação social, não encontrei uma única referência à efeméride.
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terça-feira, junho 3

RAMMSTEIN


Como manifestação de repúdio em relação às novas exigências das autoridades americanas para a entrada nos Estados Unidos de cidadãos dos países da UE (isso mesmo, da União Europeia!) posto uma música de homenagem à causa palestiniana pela controversa, e popular, banda alemã Rammstein.
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ELOGIO DA VIDA MONÁSTICA

Jorge de Sena (pelo 30º aniversário da sua morte)
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Portrait

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HUMBERTO DELGADO (VI)

Humberto Delgado

Visitei um dia destes o Café Aliança, na minha cidade de Faro, acompanhado pelo meu filho. Aproximei-me das mesas dos “habitués” e meti conversa:

“ – Olá! Como estão, ando atrás de uma fotografia da passagem do Humberto Delgado aqui pelo café. Está difícil de encontrar.” Todos se interessaram pela conversa e, quase todos, tinham bem presente na memória a passagem de Humberto Delgado pelo Algarve.

“Eu vi-o entrar por aquela porta, isto estava cheio de Pides"; “Eu vi duas fotografias dele, uma naquela porta e outra aqui no café!”; “Eu estava, à época, em Olhão e vi a loucura que foi a sua recepção pelo povo!” As fotografias, até hoje, não apareceram mas isso pouco importa.

Foi no dia 3 de Junho de 1958, ao fim da tarde, que Humberto Delgado chegou a Faro: “Ao cair do dia, em Faro, esperava-o uma invulgar concentração de agentes da PIDE, por toda a cidade e no hotel onde ficou hospedado.” “ – Tive de me refrear para não me atirar a eles”, confessou. “O Café Aliança serviu de palco improvisado, numa grande barafunda de populares amontoados à entrada, a revezarem-se para ouvir e ver o candidato presidencial”.

No dia seguinte (4 de Junho) Humberto Delgado rumou a Portimão, visita que o seu neto descreve a traços largos e da qual destaco um detalhe:

“À porta do cemitério, também sobressaiu em arroubos de euforia uma operária conserveira, de seu nome Maria da Conceição Ramos Matias, que utilizou nesse dia as suas moedas de poupança para oferecer flores ao general. Gritou-lhe palavras de ordem de sabor comunista e, rebentando de emoção, impôs o seu desejo de lhe cantar sozinha o Hino nacional, até que, por estar tanto calor, lhe desmaiou nos braços.”

De regresso a Faro é assinalado um almoço tardio e a arrancada para visitar Olhão. Lembro-me da aglomeração de povo à beira dos passeios nas ruas de Faro, acontecimento absolutamente inédito, só comparável com a passagem de algumas procissões e, muito mais tarde, em 1966, aquando da chegada a Faro do bispo Júlio Tavares Rebimbas.

Ninguém sabia ao certo, nem os percursos, nem os horários do General em campanha, mas o meu pai encontrou o caminho, e o momento certo, para se integrar na comitiva que percorreu os nove quilómetros ente Faro e Olhão, que eu acompanhei, ainda criança, certamente, a bordo do Ford Prefect (LH-14-11) familiar. Lembro-me ainda de ter andado na rua, pela mão de meu pai, assistindo à calorosa recepção do povo de Olhão ao General.

Que estranho influxo de coragem atravessou o coração das gentes para que ousassem mostrar, publicamente, a sua dissidência, desafiando um regime político temido pela repressão que exercia sobre os seus opositores? Nesse mesmo dia, 4 de Junho de 1958, a comitiva seguiu para Tavira, Vila Real de Santo António, subindo depois na direcção de Beja cidade na qual a campanha havia de terminar, em apoteose.

[Transcrições, a bold, de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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segunda-feira, junho 2

MOURINHO NO INTER DE MILÃO

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ITÁLIA - O REGRESSO DO FASCISMO?

Imagem daqui

O caldo ideológico em que medra o fascismo faz o seu caminho em Itália. Mais do que a afirmação de uma ideologia estão em marcha politicas visando a perseguição a grupos étnicos minoritários. Espera-se uma reacção enérgica, e exemplar, da Comissão Europeia presidida por José Manuel Barroso. Assim como a condenação pública da política xenófoba e racista do governo italiano por parte dos governos dos países da Europa democrática. Se tal não acontecer tornar-se-ão cúmplices daquela política e perderão a autoridade moral e política para defenderem os seus próprios nacionais emigrantes. Portugal como país de emigração – à vista de todos nas imagens a propósito do europeu de futebol – deveria ser o primeiro país a condenar publicamente a deriva fascizante do governo italiano. E já agora a nova líder do PSD que foi eleita trazendo na boca a palavra “social”.
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domingo, junho 1

A SELECÇÃO A CAMINHO DA SUIÇA

Acompanhei um pouco por acaso, mas com curiosidade, reportagens da viagem da selecção de futebol a caminho da Suíça. Pondo de lado a componente oficial é impressionante a capacidade de mobilização popular da selecção. A chegada a Neuchâtel mostra uma imagem do povo português - emigrante - ao mesmo tempo entusiasta, moderno e disciplinado. Talvez excessivamente confiante no sucesso da selecção neste europeu. Sou céptico mas anseio que a realidade me desminta.
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HUMBERTO DELGADO (V)


O ambiente na cidade dos estudantes estava muito tenso, na verdade, e mais tenso se tornou no dia seguinte, por ser a data prevista para a enguiçada visita de Humberto Delgado a Braga. Tinha sido adiada inicialmente para 3 de Junho, mas acabou sendo antecipada, por sua decisão, para o primeiro dia do mês. Era um domingo, e logo pela manhã Raul Porto Duarte dirigiu-se a Humberto Delgado, no Hotel Astória. Ao ver o inspector da PIDE, este perguntou?

“- Que quer?

“- Quero comunicar-lhe que não está autorizado a seguir para o norte. Terá de regressara a Lisboa.

“ – Oiça: eu só recebo ordens que venham de alguém com a minha categoria ou superior. De si, não as recebo.

“Porto Duarte esboçou um gesto, quase imperceptível, de levar a mão à arma, mas o general atalhou brutalmente:

“ – E se o pretender fazer com uma pistola, tenho aqui outra.” – E mostrou na cintura a arma que trazia. “ – Convença-se que não recebo ordens da PIDE, que não é coisa alguma e não pode prender um general no activo. Estou disposto a seguir para Braga e só não irei se receber uma ordem militar por escrito, emanada do Governo.”

“O General olhava para o outro como se fosse um verme e deu meia volta (…) O pide estava branco como a cal, hesitou uns segundos e saiu.”

Humberto Delgado acabou por não ir a Braga nesse dia seguindo o conselho dos seus correligionários que reuniu para esse fim. A ordem escrita proibindo militarmente a deslocação acabou por chegar à uma hora da manhã por um oficial do Estado Maior do Quartel General da 2ª Região Militar.

A ida a Braga, por si só, não era a principal preocupação de Humberto Delgado, nem foi por acaso que antecipou de 3 para 1 de Junho a projectada visita à capital do Minho. O que estava realmente em jogo naquele início do mês era a eclosão de um levantamento militar pelo qual assumia a responsabilidade. Se os oficiais envolvidos cumprissem a intentona, marcada que estava para o dia 2, Humberto Delgado encontrar-se-ia então no local da arrancada do “28 de Maio”, o que teria um efeito moral , podendo funcionar como catalisador de adesões no exército. A intentona, no entanto, acabou por não ser levada a cabo.

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes. Continua.]
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