quarta-feira, maio 13

PERSONAGEM E AUTOR

Ken Rosenthal

Não sei porquê mas a leitura desta requintada pintura com música dentro, hiperligações, e tudo o mais, suscitou-me a necessidade de disponibilizar uma espécie de síntese curricular reduzida, à força, em 120 caracteres. Cada um, neste meio, se desvenda, quando se desvenda, como lhe apetece, pode e sabe. Na verdade trata-se de identificar um pouco melhor, a todos os que aqui chegam, por acaso, ou por vontade própria, o personagem que se esconde por detrás do autor. A fotografia foi só para compor. Mais tarde logo a actualizo. Nada disto tem, na verdade, grande importância mas cada vez gosto menos de anónimos, incógnitos e similares.
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terça-feira, maio 12

MANUEL LOPES

Fotografia de António Pais
Clicar na Imagem para Ampliar


Antes do 25 de Abril, militou no MDP/CDE e foi membro da sua Comissão Política em 1969. Foi fundador do MES (Movimento de Esquerda Socialista) em 1973 e presidiu à sua direcção até 1975.

Sempre apreciei o Manuel Lopes que, a par com o Agostinho Roseta, desempenhou um papel importante na gestação do sindicalismo português no período ante e pós 25 de Abril. Ambos morreram prematuramente. O Agostinho Roseta em 9 de Maio de 1995 e o Manuel Lopes em 15 de Maio de 1999. Honra à sua memória. Ambos foram fundadores do MES como activistas do sindicalismo livre que ganhara influência em diversos sindicatos incluindo o Sindicato dos Lanifícios de Lisboa. Digo sindicalismo livre para assinalar a sua autonomia face a qualquer direcção política partidária, em particular, a do PCP. Não tenho dúvidas que os últimos acontecimentos e a própria evolução do sindicalismo português teriam sido diferentes se fossem vivos. Esclareço que o Manuel Lopes tendo sido fundador do MES não presidiu à sua direcção pois nunca houve nenhum presidente de qualquer direcção do MES. As estruturas eram todas de tipo colectivo (coisas de outros tempos! …) e um bocadinho de feição anarquista. O MES também não foi fundado em 1973 – isso foi o PS – e as datas que melhor podem ser indicadas como de fundação do MES são o 1º de Maio de 1974, com a primeira saída à rua, ou a data do seu 1º Congresso, em Dezembro de 1974.
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sábado, maio 9

LIBERDADE


Um caso prático de supressão das liberdades individuais num país onde vigora o “socialismo real” – Cuba.

Denúncia no El Pais e no Generación Y
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BPP

John Chervinsky

"A doutrina de direita sobre a economia de mercado falhou claramente"

Quando hoje surgem os discursos dos representantes da direita acerca da ética, da responsabilidade social, resguardando-se de usar a palavras mercado, desde a direita liberal até à direita social, estamos perante uma fraude escondida por trás de um discurso ideológico que encobre um recuo sem perder de vista o regresso ao passado.

Quando os clientes do BPP se revoltam e reivindicam do estado que lhes garanta o dinheiro que entregaram a um banco privado estamos perante um exemplo prático que nos deveria ensinar que “"A doutrina de direita sobre a economia de mercado falhou claramente".

O que é mais extraordinário no caso é que a direita não se coloca, abertamente, ao lado dos depositantes do BPP, como seria coerente com a sua doutrina, explicando-lhes que a sua doutrina sobre a economia de mercado falhou e que, como consequência, eles são as suas vítimas.

O que a direita política faz, cinicamente, como é de sua tradição, é tentar arrastar o estado para o centro da resolução de um problema que resultou da aplicação das suas doutrinas acerca da economia e dessa forma tornar o governo cúmplice da sua ideologia, dos seus erros e refém do desespero dos que arriscando, conforme as regras de mercado que a direita defende, perderam.

Só faltava serem os pobres e remediados, através do apoio do estado, a pagarem os desvarios de poderosos, ou de habilidosos, que se meteram em aventuras com as quais agora fingem nunca terem sonhado. Se o governo quiser ser misericordioso no caso BPP que seja mas arrisca-se a jogar pela janela fora o seu futuro político.
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quinta-feira, maio 7

OS DIAS DA CAPITULAÇÃO

Maio de 1945 – os dias da capitulação

Kapitulation in Berlin-Karlshorst 9. Mai 1945 um 00.16 Uhr: Generalfeldmarschall Wilhelm Keitel unterzeichnet die bedingungslose Kapitulation des Deutschen Reiches.
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UM ROUBO À VISTA DESARMADA

Daqui

Drogba não se conteve. "It's a fucking disgrace". As palavras do costa-marfinense (qualquer coisa como "puta de vergonha") contra o árbitro norueguês Tom Henning Ovrebo foram o sinal mais marcante da revolta dos ingleses pela arbitragem no jogo frente ao Barcelona. Agora Drogba pode vir a ser castigado pela UEFA, mas Guus Hiddink, o treinador, já saiu em sua defesa: "Compreendo o seu comportamento e vou protegê-lo". Foto: Eddie Keogh/Reuters

[Vi o jogo de princípio ao fim e foi muito evidente que só um milagre evitaria a eliminação dos Ingleses. Uma lição de falta de ética, um ensaio prático, à vista do mundo, de favorecimento descarado, e sei lá o que mais… O senhor árbitro era norueguês, o país mais próspero da Europa, o que comprova que não há uma relação directa entre prosperidade e seriedade. Fiquei do lado dos nossos aliados ingleses, contra os nossos aliados catalães, do lado dos mais fracos!]
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segunda-feira, maio 4

A SONDAGEM DE ABRIL

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Como sempre digo as sondagens são o que são, servem para a gerir expectativas o que, em política, já não é pouco. As sondagens da Universidade Católica são consideradas as mais fiáveis. O que é que esta tem de especial? O PS, surpreendentemente, ou talvez não, continua na frente, acima dos 40% apesar da crise e de tudo o resto. Os resultados dos outros partidos é assim como um processo de vasos comunicantes: o PSD sobe na medida em que o PP desce; o PCP desce na medida em que o BE sobe. Esta leitura é, naturalmente, simplificada pois os ganhos e perdas são o resultado de cruzamentos mais complexos.

Veja-se, acima, a infografia resultante da sondagem e comentários aprofundados no MARGENS DE ERRO.
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sábado, maio 2

UMA FRAGATA LONGE DO 1º DE MAIO


A notícia do El Pais só ganha valor porque a imprensa portuguesa tratou o acontecimento com uma displicência surpreendente com base num breve despacho da Lusa. As razões para esta displicência serão muitas mas uma delas é, certamente, a azáfama dos directores editoriais a pressionarem os jornalistas para desencantarem novidades acerca do caso Freeport. Na verdade os jornalistas já interiorizaram que o caso se banalizou mas as pressões parecem não lhes deixarem tempo, nem disponibilidade, para tratarem outros temas... (Isto é tudo mera ficção da minha parte … e, já agora, o Prof. Louçã ainda não disse nada acerca das agressões a Vital Moreira …).
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sexta-feira, maio 1

ONDE É QUE EU JÁ VI ISTO?

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Vital Moreira agredido e insultado na manifestação da CGTP-IN

A comunicação social preocupada, acima de tudo, com as notícias dará o devido eco a esta manifestação de sectarismo e intolerância. São estes pequenos nadas que nos ensinam muito acerca da natureza política das organizações. Desespero, vingança, ódio? De tudo um pouco. Significativamente no 35º aniversário do dia em que, na verdade, caiu o fascismo em Portugal, a pouco mais de um mês das eleições para o Parlamento Europeu (7 de Junho), o facto é, em si mesmo, lamentável. Uma contrariedade para os adversários do PS.

Ainda só com o título, mas sem notícia, o Expresso online já ostentava o primeiro comentário de um leitor que sintetiza o programa político das correntes populistas, da esquerda à direita:

Desconheço os contornos que rodearam esta hipotética agressão, contudo, afirmo que foram bem empregues, dado que os vermes devem ser sovados e eliminados, e este é mais um rugoso ácaro que tem como objectivo primeiro parasitar no el dorado do parlamento Europeu.

Ou este outro comentário retirado do Público online:
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Tá tudo dito: Manobra política do PS! Nada que saber! Em caso de derrota do PS, isto vai servir para apaziguar espirítos numa possível coligação de esquerda com o PCP. Um dos casos mais prováveis é que tenha sido tudo uma encenação para enganar o povo. Com a recente alteração na Lei do Financiamento dos Partidos, o PCP passou a poder amealhar dinheiro do grosso, daí que passe a ser um amiguinho do PS. É tudo manobra política
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As imagens dos insultos, e agressões, a Vital Moreira são feeínhas. Pelos lados do PCP, Jerónimo de Sousa, num primeiro momento, tomou uma posição que vai ficar para a história, do género "não comento o que não vi". Mais tarde o PCP colocou-se na incómoda posição de vítima e não se ouviu uma palavra saída da boca de Ilda Figueiredo! Alguns jovens jornalistas aprenderam mais ontem, acerca da política portuguesa, do que em toda a sua vida. Que lhes faça bom proveito!
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De uma notícia no JN (a renúncia da PSP, a ameaça de Carvalho da Silva e o cinismo de Jerónimo de Sousa):

Nenhum dos agentes da PSP presentes se aproximou da confusão.

"É preciso ter algumas cautelas quanto à forma de fazer campanhas eleitorais e aos espaços escolhidos".

"Não vou comentar o que não vi"
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ZECA AFONSO


O PRÓXIMO 10 DE MAIO, DOMINGO, ÁS 12 DA TARDE, INAUGÚRASE UNHA PRAZA DEDICADA AO NOSO AMIGO, O CANTOR PORTUGUÉS, JOSÉ AFONSO. ESTÁ SITUADA NO BURGO DAS NACIÓNS, EN SANTIAGO DE COMPOSTELA. ASISTIRÁ O ALCALDE, JOSÉ SÁNCHEZ BUGALLO E ZÈLIA, A COMPAÑEIRA DO ZECA. ESTÁN CONVIDADOS TÓDOLOS AFONSIANOS QUE QUEIRAN ASISTIR
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quinta-feira, abril 30

1º de Maio de 1974 - O MES saiu à rua num dia assim





Fotografias de Rosário Belmar da Costa (clique para ampliar)

Como escrever uma posta acerca de uma memória antiga que não surja aos olhos de quem a lê como o rumorejar de um passado morto? Não sei! Apesar do risco sinto que, no terreno movediço das memórias, há exercícios que valem a pena. É o caso deste que partilho convosco.
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Um dia, nos idos de 2007, através de uma cadeia de amigos chegaram-me às mãos quatro fotografias que testemunham o surgimento público do MES (Movimento de Esquerda Socialista).
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Aconteceu na celebrada manifestação do 1º de Maio de 1974, em Lisboa, a tal inultrapassável em tudo - desde a aritmética à emoção - que autenticou a vitória do golpe militar com a marca de água de uma massiva, genuína e entusiástica adesão popular. Tendo-me chegado às mãos as ditas quatro fotografias, depois de tanto ter cismado acerca da sua eventual inexistência, havia de promover a sua divulgação.
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Escrevi então, se não erro, três postas no absorto que podem ser lidas aqui, aqui e aqui, mas a colecção nunca antes havia sido publicada. O interesse em voltar ao tema, no presente, é, pois, somente o de deixar disponíveis, e arquivadas, nos Caminhos, as fotografias (únicas) da Rosário Belmar da Costa e, em jeito de remate transcrever dois comentários de quem testemunhou, ao vivo, a manifestação (no caso a fotógrafa de ocasião) dando conta da anárquica discussão acerca da sigla do nascente MES que havia de ser, até ao fim, «de esquerda» e não «da esquerda» como surgiu anunciado no artesanal pano inaugural.

Quem quiser, 35 anos passados, que se entretenha a identificar os manifestantes!

Comentou a Rosário:

Eduardo,

Estivemos, eu e o Xico (Camões), a puxar pela memória e o que nos lembramos é que começámos o dia por ir ao Bombarral buscar uns livros de capa preta que o Mil Homens tinha conseguido imprimir numa tipografia de lá (sobre o que eram os livros já não nos lembramos - textos de antes do 25 de Abril e prefácio posterior, mas talvez tu saibas *).

Depois viemos ter com o Agostinho (Roseta) (lá para os lados da Portugália) que, fardado, não queria aparecer em evidência. Não sei mesmo mas penso que é o tipo de costas ao pé do pau do lado esquerdo.

A ideia do cartaz foi do César de Oliveira (creio que ainda houve alguma discussão sobre se era Movimento da Esquerda ou Movimento de Esquerda…), que esteve o tempo todo esfuziante aos gritos. Ao pé de nós apareceu um grupo, de desertores e refractários acabadinhos de chegar de Paris, animadíssimo (bem animadíssimos estávamos todos) capitaneado pelo Zé Mário Branco aos gritos de «Desertores, Refractários, Amnistia Total!». Foi uma tarde de sonho, tal era o entusiasmo, a quantidade de gente toda feliz, a alegria que estava no ar!

Quanto à fotografia o problema é lembrarmo-nos dos nomes…A partir de uma determinada altura já não foi possível fotografar mais nada, já que era tanta a gente que só do alto e com grandes angulares, meios fora do alcance dos amadores que éramos. Felizmente foram a P&B, que têm muita mais conservação que as feitas a cores!.

Rosário Belmar da Costa

* O livro intitula-se: Classes, política - política de Classes.

Comentou a Luísa Ivo:

O nome do movimento foi amplamente discutido numa reunião no Centro Nacional de Cultura, no fim-de-semana entre o 25 de Abril e o 1º de Maio. Não me lembro de alternativas à sigla depois aparecida, nem recordo já quem defendeu fosse o que fosse. Sei que foi uma reunião confusa, com pessoas a entrar e a sair, com variadíssimos contactos telefónicos, mesmo para outros pontos do país. Tentava-se informar a malta que connosco se articulava há anos. Recordo um telefonema que fiz para amigos do Sindicato dos Electricistas de Coimbra (ou talvez do Centro), por indicação do Victor Wengorovius que teve um papel central nessa reunião de coordenação.

Um abraço grande para quem aqui passa e para ti em especial da

Luísa Ivo

quarta-feira, abril 29

OBAMA - 100 DIAS

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A CURVA DAS EXPECTATIVAS

Clique na imagem para ampliar

A sondagem mensal (barómetro), referente a Abril, da Marktest confirma o fenómeno da descida do PSD (2 pontos), comparado com o PS que desce, somente, meio ponto, apesar de ser governo, em condições fortemente adversas. Nas extremidades do espectro partidário o BE e o PCP sobem e o PP desce. O panorama, à luz desta sondagem, não é brilhante para a direita.
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terça-feira, abril 28

A FÉ NA PROPAGANDA

Fotografia de Hélder Gonçalves

Nos últimos séculos os militares tiveram um peso desproporcionado na sociedade portuguesa. Mas, para falar só do Século XX, os portugueses participaram, com forças expedicionárias, em diversos conflitos armados, mas sempre fora das suas fronteiras europeias.

Esta é certamente uma perspectiva parcelar de um problema português mais profundo: a fragilidade da sociedade civil, das classes médias, das elites dirigentes e a ausência de um projecto nacional coerente de participação na construção europeia, sem sonhos atlantistas, megalomanias nacionalistas ou patriotismos serôdios.

De facto, há mais de um século que os portugueses não são confrontados com um fenómeno de guerra no Portugal europeu. Os portugueses têm sofrido e morrido em guerras longe do seu território originário: a Europa.

Não é, pois, de estranhar que se tenha criado, entre os portugueses, um estado de espírito de "general de sofá". Toca a todos comandar as tropas imaginárias. E como as guerras, hoje, são perdidas ou vencidas na TV!

Não há pedagogia que se substitua à experiência da guerra com o seu cortejo de misérias e atrocidades. Sem guerra à porta de casa, ao longo de mais de um século, nada nos indigna, a sério, na guerra. A nossa posição de princípio é a indiferença.

Temos a GNR no Iraque. Pois que fiquem! As atrocidades praticadas pelos beligerantes indignam o mundo. As perversidades dos "libertadores" indignam os congressistas dos EUA? É um problema deles! Haja fé! José Manuel Fernandes, dixi!

Se um dia destes acontecer um atentado em Portugal o estado de espírito mudará. Nessa altura entenderemos melhor o 11 de Março em Madrid, as atrocidades em Bagdad, os crimes na Palestina. Aí os portugueses, distraídos de tudo, compreenderão o que Camus escreveu no seu Caderno, em Setembro de 1941 - "Organiza-se tudo: é simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos".
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Não desejo a guerra mas a guerra não será sempre o sofrimento dos outros e a nossa comoção indiferente e distraída. Não discuto o lado da barricada que nos competirá ocupar. O meu lado é o da democracia e da liberdade. Mas as opções políticas que condicionam o nosso papel no mundo, no Iraque, Médio Oriente ou outro lugar qualquer, são da responsabilidade de quem governa. Infelizmente aos defensores das guerras de saque e conquista, de todos os tempos, escasseia a humildade onde sobra a arrogância.

Hoje, como sempre, os defensores do fanatismo, seja encarnado por Bush ou Rumsfeld e seus aliados, seja pelo islamismo radical, estão do lado errado da história. Por mais que gritem, vociferem, ameacem e, pateticamente, invoquem a fé os arautos das guerras prosseguem objectivos bem mais prosaicos e terrenos que se esgotam na apropriação e controle das matérias-primas, tecnologias, mão-de-obra e rotas mercantis. O resto é a fé na propaganda.

[In Abébia Vadia – os links estão desactivados e fiz pequenas alterações de pormenor – 17 de Maio de 2004.]
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SAUDADES

Que luz mais forte me alumiou
Os sentidos sob o sol dourado,
Põe o chapéu dizia minha mãe
E rebelde fugia para o telhado.

Que cheiros mais inebriantes
Os canteiros floridos de rosas,
Assoa o nariz dizia minha mãe
Caindo eu quedas desditosas.

Que luz mais forte me alumiou
Os dias senão o sorriso franco
De minha mãe por vezes triste
Os pés firmes no chão branco.

Lisboa, 5 de Março de 2009
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domingo, abril 26

FESTA ALEGÓRICA

Imagem daqui

Felizes os portugueses.
Mais um santo de longínquo
e nebuloso passado
sendo o futuro incerto,
e nem sinais de “gripe suína”
por perto.

No meio da arena
as investigações prosseguem.
Felizes os portugueses.

As notícias do dia fizeram-me
lembrar um poema que
Jorge de Sena escreveu
no longínquo ano de 1974:

FESTA ALEGÓRICA

O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte de soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas:
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem.
A festa acabou numa sangueira total:
porém havia muito tempo que o imperador
e a corte e o povo não se riam tanto.
O bobo, esse tinha por dever bem pago
o fabricar as piadas para fazer rir.

SB, 7/1/74
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ESSA COISA TÃO SIMPLES: LIBERDADE


Já aqui escrevi, há quinze dias, sobre o que penso do caso Freeport e da posição em que ele coloca José Sócrates. Escrevi que, pessoalmente, acredito na sua inocência, mas não abdico de ver tudo esclarecido, sem margem para qualquer dúvida. O que eu não entendo é a leviandade de tudo isto: um homem é publicamente suspeito do pior dos crimes políticos e a coisa arrasta-se, meses, anos, em fogo lento, sem que ele seja ilibado ou acusado e tendo ainda de governar o país e enfrentar eleições sob esse peso. Não pode desistir, porque seria como que uma confissão de culpa; não pode continuar em igualdade de circunstâncias com os seus adversários políticos, porque há sempre essa terrível suspeita pendente sobre ele. Não pode ficar quieto e calado, porque alimenta as suspeitas; não se pode defender, porque é uma ‘ameaça’ e uma ‘pressão’. O que pode um cidadão, que tem o azar de ser primeiro-ministro de Portugal, fazer num caso destes e enquanto espera que a Justiça cumpra o seu papel?

Miguel Sousa Tavares, in Expresso, retirado do Jumento.
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sábado, abril 25

25 DE ABRIL

Não vi, nem ouvi, nada da cerimónia evocativa do 35º aniversário do 25 de Abril na Assembleia da República. Não se trata de esquecimento, nem de falta de tempo, muito menos de falta de respeito pela instituição parlamentar, mas porque me aborrece, desde há muito tempo, a dita cerimónia. Celebro o 25 de Abril à minha maneira, com acções que cabem na esfera da prática activa da cidadania, cujos detalhes não me apetece revelar. Acabo de ler o discurso que o Presidente da República proferiu, como sempre, a propósito da efeméride na casa mãe da democracia representativa. Devo ser uma das primeiras pessoas que ouviu a personalidade que exerce, hoje, as funções de Presidente da República falar em público. Devo ser uma das primeiras pessoas que, muito antes de Cavaco Silva exercer funções políticas, o contestou frontalmente. Mas o seu discurso de hoje é uma magnífica peça no exercício da função presidencial. Tiro-lhe o chapéu. O discurso, na íntegra, aqui e aqui.
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O QUE VALE A PENA

Fotografia de Hélder Gonçalves

Nestes dias de penumbra o que vale a pena é exercer a liberdade. Não ceder à tentação de renunciar ao exercício da liberdade. Somos um grão de areia na formação da opinião pública que conta com milhões de operadores.

Na sua esmagadora maioria são operadores individuais. O mundo dos blogues é um exemplo extraordinário desta explosão de "fazedores de opinião". Cada vez que perscruto esse mundo, fazendo uma ou outra viagem mais ousada, se me abre a boca de espanto.

Não sou um fanático, nem mesmo um especialista, mas a internet é mesmo muito mais forte do que cada um de nós possa imaginar.

Este é o terreno privilegiado, nos nossos dias, para o exercício da liberdade. Sublinho esta ideia, porventura, desnecessária para muitos daqueles que são mais afeiçoados a esta realidade.

Mas creio que o seu desenvolvimento ainda interessa a muitos mais que dela estão alheios. Não vale a pena tentar passar ao lado. Manuel Castells tem uma abundante reflexão acerca da relação entre Internet e Liberdade que se recomenda aqueles que pretendam aprofundar este tema.

O que vale a pena é desfrutar dos seus benefícios.

É o que me apetece re-dizer no dia em que se celebra o 35º aniversário do 25 de Abril. [In Abébia Vadia – 2004]. Ver ainda aqui.
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sexta-feira, abril 24

25 DE ABRIL

(Rádio Clube Português, 4 h 30 m).
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TELMA MONTEIRO

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TORTURA


Os amigos republicanos de José Manuel Durão Barroso, os íntimos republicanos de Paulo Portas, condecorado por Rumsfeld, governaram com métodos próprios dos tiranos. É aterrador pensar que a democracia possa ser tomada de assalto por gente como Donald Rumsfeld, o secretário da Defesa de Bush que “perguntava, numa nota anexada a um dos relatórios, porque é que os suspeitos só eram obrigados a ficar de pé quatro horas se ele estava levantado dez horas por dia”.
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quinta-feira, abril 23

SEIXAS DA COSTA

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UMA IMPRESSÃO DIGITAL

Na praia da Figueira da Foz, aquele Verão, a minha mãe lia Albert Camus, A Peste, e um livro cujo título eu não compreendia , Calígula seguido de O Equívoco. Não sei se Camus tinha morrido. Eu pensava que todos os escritores estavam mortos há muito tempo. Os livros que lia, muito inapropriados para a tua idade, falavam sempre de um tempo que passara, ou que ainda não chegara à praia da Figueira da Foz, uma praia de vento, água fria e cabo-de-mar. Uma vez, para minha surpresa, o meu pai convidou para jantar um amigo poeta. Eu lera o livro dele e sabia de cor alguns poemas. Quando o poeta chegou não me desiludiu. Estava vivo mas talvez fosse um morto-vivo, de tal forma era magro e doente. Vinha com uma mulher que só podia ser a mulher dos poemas, linda e de voz clara como deviam ser as mulheres dos poetas. Deixei-os e fui às escondidas ao livro do poeta para reler o nome da mulher, embora soubesse o nome dela. E pensei que se quisesse uma mulher assim, bondosa e serena, de fronte alta e cabelo liso, teria que ser poeta, teoria que a Psicologia evolutiva viria a confirmar amplamente ao investigar o significado da arte.Na praia da Figueira da Foz os mais ricos estavam na zona dos chapéus, chegavam tarde, tomavam banho às horas proibidas, tinham livre-trânsito para a piscina do Grande Hotel e óculos de sol para as olheiras da noite. As famílias remediadas alugavam casa em Buarcos, toldos na segunda fila. Chegavam cedo de mais, tomavam banho nas zonas protegidas, respeitando a bandeira, punham creme Nívea apesar de já haver Ambre Solaire, iam almoçar a casa e dormir uma sesta de onde raramente regressavam. A minha mãe lia Camus e eu pensava que Camus devia ser um notável escritor porque ela olhava longamente o mar ou interrompia a leitura para nos dizer que estava a ler um livro de uma pessoa excepcional. Uns anos antes, Hannah Arendt, numa carta ao marido escrevia que Camus era “ o melhor homem da França”. Talvez a minha mãe pensasse, e pelos mesmos motivos, que não havia, em Portugal, um homem assim.

[De A Natureza do Mal]
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quarta-feira, abril 22

PRINCÍPIOS

A criação é uma forma de afirmação das diferenças que não das desigualdades.

Compete-nos, como cidadãos livres, encontrar um sopro de inspiração, na medida das nossas escassas forças, para combater o conformismo e o aviltamento dos valores essenciais que salvaguardam a humanidade da barbárie.

Esses valores são velhas bandeiras do pensamento humanista e liberal dos últimos séculos: direito à vida, defesa da liberdade individual e da democracia. Igualdade de oportunidade para todos no acesso aos benefícios do progresso económico, cientifico, tecnológico e social.

Na vertigem deste caminho muitas interrogações sempre se colocaram aos homens dos tempos modernos: o humanismo é um pensamento limitado? O liberalismo é um pensamento pervertido? O progresso uma aspiração antiquada?

A revolta do homem talvez aconselhasse a adoptar sempre os princípios de um pensamento que tudo tomasse em conta. Sem sublinhados nem os encargos de múltiplas heranças filosóficas ou históricas.

Mas a maioria, salvo os assassinos, que estão sempre prontos a sujar as mãos de sangue e a lançar para a valeta os corpos das suas vítimas, executadas à vista de todos, os homens de boa vontade, aceitam certamente, que fiquem de pé, na luta contra a barbárie, os princípios do direito à vida, à liberdade e à justiça.

Julgo que são esses os nossos princípios.

25 de Abril de 2004

[No dia 25 de Abril de 2004 um grupo de amigos iniciou a aventura de criação de um blogue colectivo o qual, depois de muita hesitação, resolvemos intitular de “Abébia Vadia”. Foi uma experiência efémera, como todas as experiências, mas que permitiu acolher uma mão cheia de boas postas, ou seja, algumas reflexões, testemunhos, mais sérias ou mais irónicas, sobre a vida política e a política da vida. Vou republicar pelo menos algumas das postas que dei à luz enquanto a Abébia florescia. O pensar (ainda) é um sentir extravagante. Disponível aqui.]
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terça-feira, abril 21

O MERCADO PERFEITO

Eric Percher

Uff! É mais ou menos o mesmo assim como eu ter visto um sujeito roubar a carteira a um concidadão e quando perguntado pela polícia acerca desse facto responder: eu estava lá, vi o que se passou, mas foi tudo uma mera coincidência. E nada mais tem a declarar? Nada! Neste ramo de actividade, digo dos larápios, o mercado é mais do que perfeito! Só por essa razão não concorre, em eficácia, com o mercado dos combustíveis que é somente perfeito. Hoje estou como o povo!
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MAGALHÃES, SEMPRE!

Douglas Prince

"O Programa Magalhães é a mais sofisticada e avançada implementação das tecnologias de informação em educação no mundo", afirma o canadiano Don Tapscott que hoje participa no Fórum Mundial das Telecomunicações em Lisboa. [A notícia, da manhã para a tarde, deixou de estar disponível no Expresso online.]

Esta notícia é assustadora! Transcrevo-a com os máximos cuidados. Será o autor da entrevista uma pessoa real? Fui fazer jornalismo de investigação, ou seja, digitei o nome do senhor num motor de busca: o senhor, aparentemente, existe como se pode verificar na versão brasileira e na versão inglesa, mais desenvolvida.

Nada mau mesmo que se trate de pura propaganda do governo como será tudo o que se disser de positivo acerca das suas medidas daqui até, pelo menos, final de Outubro.

PS (costuma utilizar-se querendo dizer Post-Scriptum): Ouvi dizer que Vasco Graça Moura vai sair das listas do PSD ao Parlamento Europeu sendo “despedido”, com o restante plantel, à Benfica! Ninguém comenta?
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segunda-feira, abril 20

SEMPRE À "ORDEM"


Estranho! Quando vi a manchete pensei que pudesse ter sido uma diligência das autoridades encarregadas de uma investigação. Mas não! Parece que o pedido foi feito por um jornalista de investigação. Fiquei a saber que qualquer pessoa pode pedir à Ordem dos Notários o registo dos actos notariais de uma outra qualquer pessoa. Assim como, por exemplo, no âmbito de um processo de divórcio uma das partes obter informações acerca das andanças do património da outra parte; ou num processo de partilhas; ou … no que quer que seja … que envolva a actividade dos notários. Estranho! Este processo expedito de obtenção de informações acerca das transacções patrimoniais é próprio de um país do primeiro mundo. Assim como a justiça na América para o doutor Louçã. Mas já agora fiquei com curiosidade em saber quem foi o jornalista que solicitou os serviços da Ordem dos Notários. E se houver algum jornalista de investigação disponível para fazer investigação era interessante saber se o pedido em referência foi satisfeito, em que termos, segundo que regulamento da Ordem, se a título gratuito ou oneroso, assim alguns detalhes para que todos os cidadãos possam ter acesso, de forma segura e equitativa, aos serviços de tão prestimosa Ordem!
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A ENERGIA DEVE SER PÚDICA

O grande líder dos explorados e oprimidos portugueses, e de todo o mundo, líder de um partido comunista radical, cujo programa é sintetizado, de forma brilhante, sob o slogan “A todos o que é de todos” é, afinal, um apreciador do modelo de justiça praticado na pátria do imperialismo:
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sábado, abril 18

CUBA: OBAMA CUMPRE


Obama, a respeito das relações com Cuba, anuncia grandes mudanças. Para quem não queria acreditar Obama cumpre. Faz o que tem que ser feito e bem feito. Resta saber o que farão Fidel e Raul Castro!
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quinta-feira, abril 16

Global Recession to Be Long, Deep with Slow Recovery


Para que conste a crise está para durar. Nos países democráticos, com eleições à vista, a escolha dos cidadãos será condicionada pela crise: qual o melhor programa de governo para lidar com a crise? O do socialismo democrático ou o da direita liberal? Qual a melhor solução governativa? Maioria de um só partido? Governo minoritário? Ou governo de coligação? Neste caso, coligação de esquerda? De direita? Ou ao centro? O pior cenário possível para um combate eficaz à crise, e para a governabilidade, é o crescimento do poder dos extremos. Quem não entender este detalhe não entende nada! Ou gosta de brincar com o fogo, mesmo que seja para arder com ele!
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terça-feira, abril 14

CUBA - O REGIME BALANÇA

Alex Webb

Obama avança com medidas concretas, e graduais, para pôr fim ao bloqueio dos USA a Cuba. Fidel responde na defensiva pressentindo o efeito devastador daquelas medidas na opinião pública cubana. Fidel nada pode fazer para contrariar esses efeitos pois Obama não precisa negociar nada de essencial com as autoridades cubanas. Basta-lhe tomar medidas unilaterais de levantamento gradual do bloqueio que todos sabem, dentro e fora de Cuba, corresponderem aos mais profundos anseios do povo cubano. Depois o tempo se encarregará de fazer o resto … Obama foi o pior Presidente americano que Fidel poderia enfrentar. Só pode dizer bem dele, e das suas políticas que, afinal, conduzirão ao fim do regime que criou, dirigiu e ainda dirige. Se Fidel assistir à sua própria queda será uma improvável ironia da história!

Yoani Sanchez en Generación Y diz, acerca da presente situação das relações Cuba/USA, o essencial:

La pelota está en terreno cubano después que Obama la lanzara ayer anunciando nuevas flexibilizaciones en su política hacia Cuba. Los jugadores del lado de acá parecen algo confundidos, dudando entre recoger la bola, criticarla o sencillamente ignorarla. El contexto no podía ser mejor: la fidelidad al gobierno nunca había parecido más dañada y el fervor ideológico no había estado –como ahora- tan en el piso. Encima de eso, pocos se creen todavía el cuento del poderoso vecino que vendrá a atacarnos y la mayoría siente que esta confrontación ha durado demasiado tiempo.

La próxima jugada le toca al gobierno de Raúl Castro, pero presiento que nos quedaremos esperando. Debería “despenalizar la discrepancia política”*, lo que dejaría sin efecto –inmediatamente- las largas condenas de cárcel de quienes han sido castigados por delitos de opinión. La pelota que desearíamos que él lanzara es la de abrir espacios para la iniciativa ciudadana, permitir la libre asociación y –en un gesto de suma honestidad política- poner su puesto a disposición de unas verdaderas elecciones populares. En un osado salto sobre la cancha, “el eterno segundo” tendría que atreverse a dar algo más que un ramo de olivo. Esperamos que elimine las restricciones migratorias, que ponga fin a ese negocio extorsionador en que se ha convertido el permiso para salir o para retornar a la Isla.

El juego se volvería más dinámico si dejaran al pueblo cubano tomar la voluble pelota de los cambios. Muchos la golpearíamos para que termine la censura, el control estatal sobre la información, la selección ideológica para ocupar ciertos empleos, el adoctrinamiento en la educación y el castigo al que piensa diferente. La lanzaríamos para que nos dejen navegar en Internet sin páginas bloqueadas o para que en los micrófonos abiertos podamos decir la palabra “libertad” y no ser acusados -por ello- de hacer “una provocación contrarrevolucionaria”.

Varios nos hemos bajado de las apartadas gradas, desde donde mirábamos el partido. Si el gobierno cubano no recoge la pelota, hay miles de manos dispuestas a usar nuestro turno de lanzamiento.

25 de Abril de 1974 - Os Verdadeiros Comandantes da Revolução


Entre a madrugada do dia 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 vivi enclausurado no Quartel do Campo Grande, em Lisboa, onde hoje funciona uma universidade privada e naquela época estava sedeado o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar. Lá entrei já a madrugada ia alta, tal conjurado, com o António Dias, após termos perseguido, de carro, a coluna do Salgueiro Maia desde a sua entrada no Campo Grande até ao Terreiro do Passo.

Já contei essa história. De todas as imagens que guardo na memória a mais impressiva é a da fragilidade da coluna revoltosa. Não sabia quem a comandava mas o impensável viria a tornar-se realidade. E a vitória dos mais fracos deveu-se, tão-somente, à justeza das suas razões e à coragem do seu líder. Aos leitores mais ortodoxos do colectivismo assinalo que falo num símbolo. Também sei que, desde sempre, reinou a desconfiança, entre os “donos” da mudança, a respeito de Salgueiro Maia, como hoje reina a desconfiança a respeito de tantos que ousam tomar toda e qualquer iniciativa de mudança (o que é a mudança, hoje?).

Para os “donos” da revolução nem todos devem desfilar na Avenida da Liberdade mas quis o destino – ou a ordem de operações – que quem primeiro nela desfilou fosse Salgueiro Maia que, oferecendo o peito às balas, fez estalar o click que mudou o rumo da história. Olhem com atenção para as imagens que, por vezes, passam na TV. Esse comandante, Salgueiro Maia, era um entre muitos e quem dirigia as operações era um comando com a seguinte constituição: Amadeu Garcia dos Santos, Hugo dos Santos, José Eduardo Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Crespo. O coordenador era Otelo por decisão do Movimento das Forças Armadas. [Ver a “Fita do Tempo da Revolução - A noite que mudou Portugal”.]

O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória. Salgueiro Maia não era um oficial crente nos amanhãs que cantam, dizem até que era conservador mas, perdoem-me o plebeísmo, “tinha-os no sítio”, estão a compreender! Para dar lume a uma revolução mais vale um conservador com “eles no sítio” do que um revolucionário desertor da coragem no momento da verdade.

Quem fez triunfar a revolução não foi Ramalho Eanes, nem Spínola, nem Costa Gomes, não foi nenhum General estrelado pelo Antigo Regime, ou promovido administrativamente pelo novo, quem decidiu o triunfo da revolução foram os “capitães” e o povo, que alargaram à rua o posto de comando e que tomando a rua para si tudo decidiram. Não cito mais nomes, pois todos sabem os nomes, e em nome do povo sempre, à distância de tantos anos, podem caber todos os nomes.

A revolução foi branda para com os seus inimigos, perdoou-lhes os crimes, ofereceu o seu sangue em troca da liberdade, ganhou a admiração do mundo e isso é o seu legado histórico mais valioso. Os antigos carrascos da liberdade: os PIDES, os censores, os legionários, todos os esbirros da ditadura, seus ajudantes e admiradores, ganharam o direito a viver em liberdade, ainda hoje se cruzam connosco nas ruas e nos locais de trabalho, emitem opinião, sendo detentores de todos os direitos cívicos e políticos.

Mas se a nossa revolução foi branda para com os carrascos da liberdade pode orgulhar-se da grandeza de lhes oferecer o bem mais precioso que eles sempre negavam aos seus benfeitores. Os verdadeiros comandantes da Revolução foram generosos. Mas que ninguém, verdadeiro amante da liberdade, espere que os aspirantes a tiranos lhes retribua tanta generosidade. Por isso é prudente que, para preservar a liberdade, a democracia não vacile no combate aos seus inimigos.
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Comentários deixados nos Caminhos da Memória (somente fiz ligeiras alterações para facilitar a leitura):

Não acredito que ele fosse conservador. Provavelmente Salgueiro Maia era de tal forma apartidário, que os elementos com ligações partidárias (quase todos...) desconfiavam dele. Ainda hoje é assim. Raramente se acredita nas pessoas que dizem não sentir afinidades por qualquer força política (com os clubes de futebol ainda é pior...)

luis eme


Posso confirmar que não era conservador. Conhecíamo-nos de Santarém ele e o major bernardo, marido da felisbela, minha antiga colega de liceu, há muitos anos. Durante a campanha de 1969 , fui eleito membro da comissão executiva da cde de Santarém e por essa altura tive imensos contactos com militares da escola prática. Em 1971 é preso José Jaime Fernandes no quartel de Santarém e depois houve uma grande explosão ainda hoje não explicada. O José Jaime correu Caxias, Peniche e passou pelo presídio militar de Santarém, onde através do apoio de diversos militares amigos fizemos chegar diversos materiais. Em 1972 ele e outros amigos fizeram um relatório sobre o presídio militar de Santarém que publicámos no boletim da comissão de socorro aos presos políticos. Para isso contribuíram vários amigos militares. Antes de Abril desertaram seis capitães de Santarém, entre eles o capitão Vítor Pires, meu antigo colega de liceu, para a Suécia e eu e José Jaime fizemos os contactos para os ajudar a desertar No congresso de Aveiro de 1973 eu era um dos responsáveis do gabinete de imprensa, tendo trabalhado em estreito contacto com a comissão organizadora do congresso. Eu a helena Neves, João Paulo Guerra e Vareda pelo secretariado do MOD. Eu na altura pertenci também ao secretariado do Mod, representandoSantarém, com Tengarrinha . Cardia, Hélder Madeira, Vareda e outros. Nessa qualidade tive contactos com vários militares em Santarém que se queriam informar sobre o congresso de Oposição Democrática, em particular sobre a nossa posição sobre a guerra colonial.Diziam não ter posição política mas queriam compreender a nossa posição. Antes de 25 de Abril fui ainda contactado por um antigo colega de liceu, militar, que me quis informar da amplitude do movimento militar e das suas esperanças. Durante a madrugada do 25 de Abril, fui o primeiro a chegar à redacção do meu jornal ,pelas quatro horas da madrugada e já sabia por um telefonema que me acordou que devia ir para o jornal. Pelas cinco da manhã fui ao rádio clube português por ordem do meu chefe de redacção e lá encontrei alem do meu amigo Filipe costa o capitão da força aérea Vítor Cunha, meu antigo colega de liceu e meu amigo, mais tarde conselheiro da revolução. Ficaram eufóricos quando me viram. Precisamos do apoiodas forças democráticas. Em 28 de Abril levei ao rcp o primeiro comunicado da uec que me foi entregue pelo Edgar Valles. O Vítor Cunha e o sobral Costa cansadíssimos pediram-me um comunicado dos "maioreszinhos". No Carmo durante a manhã de 25 Abril tive todo o apoio de salgueiro maia que falou várias vezes comigo, mas quando Marcelo estava para sair no tanque, pediu-me explicitamente para eu falar à população como representante da oposição democrática. Expliquei-lhe que estava como jornalista e sugeri-lhe o "tareco" da oposição católica progressista que eu vira falar na manifestação que tínhamos feito no patriarcado contra a guerra colonial. Durante a noite de 26, passei a noite junto de Caxias com Helena Pato, minha antiga colega de Coimbra e subi de manhã com os marinheiros para o pátio de Caxias, onde cumprimentei os meus amigos presos e continuei contactos com militares. À tarde abri celas a presos e presidi com um militar de Spínola e outro representando o MFA, por sugestão de advogados democratas presentes, em particular Wengorovius e Galvão Teles à libertação dos presos políticos. Estou a escrever um livro sobre este período histórico mas gostaria de contribuir para mudar a imagem conservadora de Salgueiro Maia.
José João Louro
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