Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, abril 29
domingo, abril 28
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.]
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),]
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!]
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...]
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,]
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,]
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
15 de Outubro de 1929
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
sábado, abril 27
POLÍTICA (2)
Os discursos. No palco da política os discursos
desvalorizam-se cada dia que passa. Por vezes aflora no discurso político uma
ou outra, rara, faceta de autêntica inovação. Aí surge uma réstia de esperança
no ressurgimento do prestígio perdido da política. Ontem na sic notícias Ferro
Rodrigues ensaiou, uma vez mais, um discurso promissor que, em síntese, assenta
na ideia de que é preciso, e urgente, criar uma alternativa política no lugar da
tradicional alternância. Ou seja, ir além de
um modelo de alianças entre os partidos tradicionalmente situados à esquerda ou
à direita, conforme a lógica tradicional do entendimento de esquerda e direita.
Ir mais longe nos alinhamentos políticos/partidários em prol de uma alternativa
política de governo aberta. Não um governo de iniciativa presidencial mas um governo
de iniciativa cidadã através de partidos que a tenham sido capazes de reconquistar representando aspirações e interesses de todos e de cada um dos cidadãos.
No fundo a manifestação de uma exigência de reforma do próprio modelo de representação
politica através do voto livre e democrático, não contra os partidos, mas com
partidos renovados através da sua autêntica abertura à participação (repito –
participação!). É preciso promover uma reforma do modelo da democracia
representativa para que, nas minhas palavras, não seja a própria democracia a
ser posta em causa. E a paz. E a liberdade.
(raramente me pronuncio acerca de pronunciamento públicos de
políticos e ainda mais raramente acerca dos pronunciamentos públicos do Ferro
Rodrigues por pudor que resulta de uma amizade duradoura e antiga. Mas na
presente situação não dá mais para estar calado.)
sexta-feira, abril 26
POLÍTICA
O PS entra em cena, como outras vezes no passado, com uma liderança que aparece, aos olhos de muitos, como fraca. Não menosprezem a liderança do PS os que nela - dentro e fora - se não revêem. Nem o PS, que se revê na sua liderança, menospreze os que a menosprezam. Apesar do calor dos discursos, e sua coreografia, a política, em democracia, persiste em reclamar dos que aspiram ao poder capacidade de convencer os que do poder nada mais esperam do que justiça e liberdade. POLÍTICA!
quinta-feira, abril 25
25 de Abril
Deixo que a palavra
tão incerta
teça
a liberdade a meio
deste Abril
para que a memória em Portugal não esqueça
tomando da flor
o cravo na matriz
teimando que a paixão
a tudo vença
dizendo não àquilo
que não quis
Maria Teresa Horta
Março 99
tão incerta
teça
a liberdade a meio
deste Abril
para que a memória em Portugal não esqueça
tomando da flor
o cravo na matriz
teimando que a paixão
a tudo vença
dizendo não àquilo
que não quis
Maria Teresa Horta
Março 99
quarta-feira, abril 24
25 de ABRIL
Neste mesmo dia, 39 anos passados, pela hora a que escrevo,
devo ter passado pela casa do Ferro (Rodrigues) para o avisar de que algo de
muito especial estava a ser preparado para o dia seguinte. Estava a decorrer a
transmissão de um jogo de futebol na Alemanha de Leste – Magdeburgo-Sporting
(para a Taça das Taças?), não me lembro já das palavras, mas retenho a memória
viva do ambiente. Saí para me juntar ao João Mário Anjos (que será feito dele!)
e do António Dias, na casa deste, em Benfica, de onde haveríamos de sair (se
tudo, desta vez, corresse conforme as nossos desejos), a caminho do quartel do Campo
Grande onde, como milicianos, prestávamos serviço militar. Era, se não erro uma
quarta-feira, primavera em flor, e esperámos pacientemente pelos sinais em forma
de canções. Deixei-me dormir enquanto esperava. De súbito alguém me acordou
dando-me a notícia de que havia tocado a canção/senha. Devemos ter-nos
apressado a sair tomando lugar no Datsun branco, conduzido pelo António Dias, o
João Mário Anjos e eu próprio a caminho do Campo Grande mas antes ainda demos
umas voltas para medir o pulso ao ambiente nas ruas e no quartel do Lumiar. Prevalecia
a quietude, nada mexia, receamos um falso arranque e mais um fracasso. Após algumas
voltas reentramos na 2ª circular e, chegados perto do quartel, demos de frente
com uma coluna militar da qual não sabíamos mais do que nos era dado ver. Voltamos
a acreditar e em lugar de cumprir com o plano decidimos seguir a coluna – já sem
o João Mário que deixamos no quartel – descendo a caminho da baixa. Já antes
contei este episódio improvável que fez com que tivéssemos sido os únicos civis que, como mais tarde soubemos, fizeram parte da coluna de Salgueiro Maia. Depois da coluna
militar ter estacionado na Ribeira das Naus seguimos em frente retomando o
plano inicial e, de caminho, cruzou-se connosco, em sentido contrário, uma coluna
de tanques pesados. A desproporção das forças em presença era brutal e pensamos, caso se
tratassem, como se tratavam, de forças de campos opostos esta última coluna destruiria
sem esforço a que havíamos seguido. Afinal tudo se passou ao contrário: a fraca
força militar, comandada pelo capitão Salgueiro Maia, venceu a forte força
militar, comandada pelo brigadeiro Junqueira dos Reis. Ali, naquele preciso
momento, a coragem serena de Salgueiro Maia, olhando de frente o soldado que se
recusou a premir o gatilho, desobedecendo às ordens de fogo, decidiu a sorte da
revolução. Honra à sua memória!
Com o meu amigo João Mário Mascarenhas, na porta de armas do Quartel do Campo Grande, num dos dias de fogo da revolução. |
domingo, abril 21
quarta-feira, abril 17
segunda-feira, abril 15
domingo, abril 14
quinta-feira, abril 11
COISAS ANTIGAS
Outro dia alguém falou da crise de 1984 e seus efeitos terríveis na vida de quase todos os portugueses. Passaram quase 30 anos e estavamos nas vésperas da adesão de Portugal à CEE (atual UE) e, na verdade, sofrendo as dores do parto dessa adesão. A qualidade de vida da maior parte dos portugueses melhorou muito nos anos seguintes. Já quase ninguém se lembra de como viviam os portugueses antes do 25 de abril de 74, nem como viviam antes de 85, ano da adesão à CEE. O tempo e a escala fazem esquecer e distorcem a avaliação das conquistas alcançadas. Para dizer que salvo se a UE se desfizer - o que faria perfilar no horizonte um tempo de ameaça de guerra - os defensores da saída do € laboram em cenário de catástrofe, recuando a 84, e os defensores - ainda envergolhados - da saída da democracia laboram em cenário de catástrofe, recuando a 73. Todos os esforços sensatos para evitar ruturas são benvindos, algo assim como se fosse possível fazer vencimento uma ideologia e uma prática política antigas que cairam em desuso: o centrismo radical!
quarta-feira, abril 10
sábado, abril 6
A CRISE DA CRISE
Fortes incertezas, hesitações e desgaste. Ninguém escapa ao julgamento politico no cumprimento de suas responsabilidades. Não vale a pena gritar alto mesmo através de silêncios estridentes. Nem repreender os tribunais. Devemos saber reconhecer que os juizes em Portugal são, salvo rarissimas exceções, cidadãos exemplares no exercício das suas funções. Incluindo os que integram o Tribunal Constitucional. Há momentos em que são necessários politicos corajosos e clarividentes. Não serão os extremos do espetro politico partidário, nem as radicalizações táticas, nem a vozearia dos comentadores encartados que contribuirão para resolver problema algum. Nem se resolverá a crise da crise através de quaisquer soluções fora do quadro partidário. Há muitos bons exemplos na sociedade portuguesa, a nível macro e micro, de compromisso, acordo, concertação, diálogo e cooperação partidária na resolução dos problemas.
quarta-feira, abril 3
terça-feira, abril 2
sábado, março 30
quinta-feira, março 28
"Violência, evidência, natureza
Não saía dessa ideia sombria segundo a qual a verdadeira violência é a do
obviamente: o que é evidente é violento, mesmo se essa evidência for
representada suavemente, liberalmente, democraticamente; aquilo que é paradoxal,
aquilo que não salta à vista, é-o menos, mesmo se for imposto arbitrariamente:
um tirano que promulgasse leis excêntricas seria, feitas as contas, menos
violento do que uma massa que se contentasse com enunciar o que é óbvio:
o "natural" é, em suma, o último dos ultrajes."
"Roland Barthes por Roland Barthes" -13
(Fragmento 2 de 3, pag. 7)
Edição portuguesa: "Edições 70"
[Retomando um fragmento de Barthes a propósito (despropósito) da aparição de Sócrates no ecrã mágico exercitando a sua maior arte - a comunicação.]
"Roland Barthes por Roland Barthes" -13
(Fragmento 2 de 3, pag. 7)
Edição portuguesa: "Edições 70"
[Retomando um fragmento de Barthes a propósito (despropósito) da aparição de Sócrates no ecrã mágico exercitando a sua maior arte - a comunicação.]
quarta-feira, março 27
DIA INTERNACIONAL DO TEATRO
Neste Dia Internacional do Teatro reproduzo um post antigo de homenagem a Emílio Campos Coroa, extensivo à sua família.
Emílio Campos Coroa, médico oftalmologista, era
um amante do teatro. Formado na escola do TEUC de Coimbra, dirigido por Paulo
Quintela, era casado com a Dra. Amélia, minha professora de liceu, uma mulher
sensível e actriz de grande talento.
Emílio Campos Coroa foi fundador, em Faro, com o seu irmão José e a mulher, no início dos anos 50, do grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve (hoje, “Lethes”) no qual, em finais dos anos 60, usufruí de uma experiência inesquecível.
De facto o teatro (amador) marcou, profundamente, a formação do meu gosto e deu-me a oportunidade de esconjurar os bloqueamentos daquela idade na qual ainda não somos adultos mas já deixamos de ser crianças. Ao Dr. Coroa, como era conhecido, devo muito da minha formação cultural e humana.
Era um homem corajoso e repentista. Democrata e intransigente no confronto com as adversidades do trabalho e da vida. Foi obreiro, contra ventos e marés, de uma obra notável de divulgação e promoção das artes e, em particular, do teatro.
Na época em que se desenrolou a sua acção, na província do Algarve, era preciso ter “barba rija” e uma vontade de ferro para colocar de pé centenas de encenações e representações levadas à cena em todos os lugares envolvendo e cativando todo o género de público.
Ele criou um verdadeiro teatro popular, dos clássicos aos modernos, uma escola de actores, um laboratório de experiências, uma corrente de iniciativas que rompia as rotinas bafientas das práticas culturais à época vigentes.
Um dia, logo após a minha vinda para Lisboa, o Dr. Coroa, telefonou-me. Quis a minha companhia e acedi com prazer. Verifiquei que tinha vindo, sozinho, acampar no parque de campismo de Monsanto. Atravessamos a cidade, conversamos e interpretei o seu gesto, que nunca mais esqueci, como uma bênção à minha aventura pela cidade grande.
Muito mais tarde, já depois da sua morte, tendo oportunidade de criar, de raiz, uma sede para o INATEL, em Faro, propus que a mesma fosse designada como “Casa Emílio Campos Coroa”. E assim foi. No dia da inauguração – vai para 10 anos – senti um frémito de esperança de que a obra dos homens com alma pode ser honrada e que a cidade, afinal, não pode sobreviver sem as suas memórias.
Emílio Campos Coroa foi fundador, em Faro, com o seu irmão José e a mulher, no início dos anos 50, do grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve (hoje, “Lethes”) no qual, em finais dos anos 60, usufruí de uma experiência inesquecível.
De facto o teatro (amador) marcou, profundamente, a formação do meu gosto e deu-me a oportunidade de esconjurar os bloqueamentos daquela idade na qual ainda não somos adultos mas já deixamos de ser crianças. Ao Dr. Coroa, como era conhecido, devo muito da minha formação cultural e humana.
Era um homem corajoso e repentista. Democrata e intransigente no confronto com as adversidades do trabalho e da vida. Foi obreiro, contra ventos e marés, de uma obra notável de divulgação e promoção das artes e, em particular, do teatro.
Na época em que se desenrolou a sua acção, na província do Algarve, era preciso ter “barba rija” e uma vontade de ferro para colocar de pé centenas de encenações e representações levadas à cena em todos os lugares envolvendo e cativando todo o género de público.
Ele criou um verdadeiro teatro popular, dos clássicos aos modernos, uma escola de actores, um laboratório de experiências, uma corrente de iniciativas que rompia as rotinas bafientas das práticas culturais à época vigentes.
Um dia, logo após a minha vinda para Lisboa, o Dr. Coroa, telefonou-me. Quis a minha companhia e acedi com prazer. Verifiquei que tinha vindo, sozinho, acampar no parque de campismo de Monsanto. Atravessamos a cidade, conversamos e interpretei o seu gesto, que nunca mais esqueci, como uma bênção à minha aventura pela cidade grande.
Muito mais tarde, já depois da sua morte, tendo oportunidade de criar, de raiz, uma sede para o INATEL, em Faro, propus que a mesma fosse designada como “Casa Emílio Campos Coroa”. E assim foi. No dia da inauguração – vai para 10 anos – senti um frémito de esperança de que a obra dos homens com alma pode ser honrada e que a cidade, afinal, não pode sobreviver sem as suas memórias.
terça-feira, março 26
domingo, março 24
quinta-feira, março 21
DIA MUNDIAL DA POESIA
terça-feira, março 19
Agora, aqui...
Suscitado por Belmiro de Azevedo. Se a vida é tão difícil
para alguns porque não torná-la difícil para (quase) todos? Nivelar por baixo,
puxar para baixo, tornar tudo tão baixo que o maior número se contente com
migalhas. Já há muito entrou,em Portugal, em acção um mecanismo automático de solidariedade espontânea.
Um “processo de ajustamento” de que poderia dar vários exemplos que
se passam comigo mesmo e família próxima. Mas só é possível manter em
funcionamento este mecanismo automático se ele for accionado por vontade livre
dos próprios. Consentido e subentendido. Se for ultrapassada a barreira do consentimento
para o terreno da coacção entrará em funcionamento o mecanismo da resistência passiva.
Se for ultrapassada a barreira da coacção para o campo da repressão aí terremos
resistência activa. Em todos os tempos deu pelo nome de revolução. Receio bem
que, nesse caso, não estejamos em época de cravos.
To Helena
domingo, março 17
A CRISE DA UE
São terríveis os sinais que se vislumbram no horizonte (vide
Chipre). A União Europeia alargou-se – e ainda planeia alargar-se mais! –
preenchendo todo o continente europeu, desde o Atlântico aos Urais (conforme
antes se dizia), criou uma moeda única (comum a 17 estados nacionais), aderiu a
tratados internacionais que a tornaram num espaço aberto à circulação de
pessoas e bens, garantiu a paz e a concórdia entre as nações europeias no mais
longo período da história … sem dúvida uma empolgante experiência! O sonho europeísta
– a manutenção de uma Europa unida, quiçá federal – vale muitos sacrifícios, mas
para que estes sejam aceitáveis é necessário que os estadistas (onde estão?) sejam
capazes de mostrar aos povos, com palavras e acções, que a democracia e a paz,
que a UE preserva, é o mais importante para assegurar a justiça social e a
liberdade. Quero crer que a principal crise da EU é política e de liderança.
sábado, março 16
sexta-feira, março 15
UMA VITÓRIA DE TODOS
O Plenário da Assembleia da República agendou hoje, dia 15 de março, a votação final global da Lei de Bases da Economia Social (LBES) que reforçará a consagração no nosso ordenamento jurídico do sector da economia social objecto da actividade da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES). Trata-se de um acontecimento da maior importância para o reconhecimento legal do sector da economia social em Portugal com o qual a CASES m...uito se congratula felicitando todos os grupos parlamentares. O facto de ter recolhido, em sede da Comissão da Segurança Social e Trabalho da AR, o voto favorável de todos os partidos reforça o significado desta aprovação no plano político. Após a sua entrada em vigor abrir-se-á um período de reforma da legislação ordinária do sector. Trata-se, além do mais, de um sinal dado a toda a comunidade de que é possível, em democracia, com base no diálogo, estabelecer consensos favoráveis ao desenvolvimento do país. A lei de bases da economia social portuguesa é a segunda, a nível de um estado nacional, a seguir a Espanha.
terça-feira, março 12
"EUROPÊS"
Cada época tem as suas figuras e poucas figuram perduram na memória dos povos para além da sua época. Mesmo muito poucas. A propósito da leitura de alguns textos considerados importantes das altas instâncias da UE. Quase tudo se repete em extensos monólogos dos burocratas consigo próprios. O "europês" que os europeus não entendem mas cujas consequências podem ser trágicas.
segunda-feira, março 11
DESESPERO
domingo, março 10
sábado, março 9
sexta-feira, março 8
Dia Internacional da Mulher
quinta-feira, março 7
quarta-feira, março 6
segunda-feira, março 4
sábado, março 2
sexta-feira, março 1
quinta-feira, fevereiro 28
terça-feira, fevereiro 26
segunda-feira, fevereiro 25
domingo, fevereiro 24
sexta-feira, fevereiro 22
terça-feira, fevereiro 19
domingo, fevereiro 17
sábado, fevereiro 16
sexta-feira, fevereiro 15
quinta-feira, fevereiro 14
quarta-feira, fevereiro 13
GENERAL HUMBERTO DELGADO
No dia do triste aniversário do assassinato do General Humberto Delgado pela PIDE republico um post resultante da minha leitura da sua Biografia . Nunca é demais exercitar a memória.
Terminada a leitura da Biografia de Humberto Delgado, de autoria de seu neto Frederico Delgado Rosa, não resisto a deixar algumas notas. Na minha meninice – como já antes assinalei – senti pessoalmente o frémito da campanha presidencial de 1958 e nunca mais se apagaram da minha memória as imagens do empolgamento popular que a figura de Humberto Delgado suscitou.
Esta obra promissora de desenvolvimentos, e aprofundamentos, que se aguardam para o próximo futuro, mereceria, além do mais, uma verdadeira divulgação popular que contribuísse para desmitificar o branqueamento do fascismo português e da figura do seu líder e mentor – Salazar – que amiúde se quer fazer passar como um político brando na repressão, tolerante nos costumes e eficaz na política.
A leitura das 1225 páginas de texto deste livro sugere uma meditação acerca do "fenómeno Humberto Delgado", após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, até aos nossos dias, mesmo que não nos aventuremos pelos caminhos da crítica e nos limitemos – como é o caso – ao simples papel de leitores atentos e interessados. Eis algumas breves, e despretensiosas, dessas possíveis reflexões:
(1) É do mais elementar bom senso desconfiar das ideias feitas acerca da história, em particular, da “história oficial”, quando envolve personagens carismáticos e acontecimentos com forte carga política e emotiva;
(2) Os protagonistas que marcam, pelo seu pensamento e acção, a história das nações são homens com suas virtudes e defeitos transformando-se a si próprios a par das transformações que suscitam;
(3) O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria;
(4) Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965;
(5) Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá;
(6) Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras;
(7) O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco;
(8) O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos;
(9) Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites;
(10) Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os políticos, militares, juízes, magistrados, jornalistas e decisores de todos os escalões da hierarquia do estado a começar pelo Senhor Presidente da República;
(11) Espero que o autor, cuja coragem não pode ser só uma herança de sangue, prossiga as suas investigações para que os portugueses possam conhecer todos os meandros do assassinato de Humberto Delgado, para que sejam identificados os seus autores, materiais e morais, assim como os encobridores, localizados os que ainda possam estar vivos, reabrindo, eventualmente, o processo, levando a que os criminosos paguem pelos seus actos e contribuindo, dessa forma, para que os portugueses se reconciliem com a justiça do seu país.
(12) Nunca nenhum processo-crime está definitivamente encerrado enquanto subsistirem fundadas suspeitas de que se não fez justiça. É o caso.
Terminada a leitura da Biografia de Humberto Delgado, de autoria de seu neto Frederico Delgado Rosa, não resisto a deixar algumas notas. Na minha meninice – como já antes assinalei – senti pessoalmente o frémito da campanha presidencial de 1958 e nunca mais se apagaram da minha memória as imagens do empolgamento popular que a figura de Humberto Delgado suscitou.
Esta obra promissora de desenvolvimentos, e aprofundamentos, que se aguardam para o próximo futuro, mereceria, além do mais, uma verdadeira divulgação popular que contribuísse para desmitificar o branqueamento do fascismo português e da figura do seu líder e mentor – Salazar – que amiúde se quer fazer passar como um político brando na repressão, tolerante nos costumes e eficaz na política.
A leitura das 1225 páginas de texto deste livro sugere uma meditação acerca do "fenómeno Humberto Delgado", após o golpe militar de 28 de Maio de 1926, até aos nossos dias, mesmo que não nos aventuremos pelos caminhos da crítica e nos limitemos – como é o caso – ao simples papel de leitores atentos e interessados. Eis algumas breves, e despretensiosas, dessas possíveis reflexões:
(1) É do mais elementar bom senso desconfiar das ideias feitas acerca da história, em particular, da “história oficial”, quando envolve personagens carismáticos e acontecimentos com forte carga política e emotiva;
(2) Os protagonistas que marcam, pelo seu pensamento e acção, a história das nações são homens com suas virtudes e defeitos transformando-se a si próprios a par das transformações que suscitam;
(3) O General Humberto Delgado foi um distinto militar de carreira, apoiante do golpe militar do 28 de Maio, e da ditadura entre 1926 e o dealbar dos anos 50, tendo acabado por sacrificar a carreira, e a própria vida, no combate sem tréguas ao regime fascista, após a ruptura política com Salazar, a partir das eleições presidenciais de 1958, às quais se candidatou, como independente, por vontade própria;
(4) Foi ele o verdadeiro precursor do 25 de Abril de 1974 pois defendeu (quase sempre) que a ditadura só cairia através da acção militar, que haveria de ser protagonizada pelas forças armadas, apoiadas pelo povo, o que viria, de facto, a acontecer pouco menos de nove anos após o seu assassinato que ocorreu em 13 de Fevereiro de 1965;
(5) Delgado foi, politicamente, um liberal democrata, fortemente influenciado pela cultura anglófona, e pela sociedade americana (o que lhe valeu o magnífico epíteto de “General Coca Cola”) influências assumidas ao longo de várias missões profissionais – em representação do estado português - na Inglaterra, Estados Unidos e também no Canadá;
(6) Delgado foi um político que nunca deixou de ser General e de cuja áurea anti-salazarista a esquerda, do seu tempo, se quis apropriar sem, na verdade, partilhar das suas ideias e acções, que desprezava apodando-as, pelo menos, de aventureiras;
(7) O General Humberto Delgado foi atraído a uma cilada e assassinado pela PIDE, por espancamento, e não a tiro, com conhecimento de Salazar, que sempre encobriu este hediondo crime, sob as mais variadas artimanhas, no plano interno e da diplomacia, entrando, inclusive, em rota de colisão com Franco;
(8) O julgamento dos autores materiais do crime – que não dos seus autores morais que sempre foram poupados pela democracia – em Tribunal Militar – foi uma triste farsa que não permitiu apurar a verdade e muito menos punir os criminosos;
(9) Todo o processo desde o assassinato de Delgado, passando pelo encobrimento do crime, à descoberta dos corpos, à investigação judicial e perícias forenses, realizadas pelas autoridades espanholas, até à condução do processo judicial em Portugal, julgamento e recursos judiciais, constitui um caso exemplar que permite, nos planos político e judicial, entender muitos aspectos da realidade contemporânea portuguesa e as peripécias de processos que ainda correm os seus trâmites;
(10) Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os políticos, militares, juízes, magistrados, jornalistas e decisores de todos os escalões da hierarquia do estado a começar pelo Senhor Presidente da República;
(11) Espero que o autor, cuja coragem não pode ser só uma herança de sangue, prossiga as suas investigações para que os portugueses possam conhecer todos os meandros do assassinato de Humberto Delgado, para que sejam identificados os seus autores, materiais e morais, assim como os encobridores, localizados os que ainda possam estar vivos, reabrindo, eventualmente, o processo, levando a que os criminosos paguem pelos seus actos e contribuindo, dessa forma, para que os portugueses se reconciliem com a justiça do seu país.
(12) Nunca nenhum processo-crime está definitivamente encerrado enquanto subsistirem fundadas suspeitas de que se não fez justiça. É o caso.
terça-feira, fevereiro 12
segunda-feira, fevereiro 11
MES - VASCULHANDO PELAS MEMÓRIAS
Reparei faz minutos, olhando de relançe, para uma das minhas incursões por um tema que parecerá exotérico como é o caso dos que resultam, a mais das vezes, do vício de vasculhar pelo meu baú do MES (Movimento de Esquerda Socialista). A republicação deste texto fica como homenagem a um discreto, mas importante, inteletual do nosso tempo: Nuno Brederode Santos. Escrevi-o um blogue de boa memória, que ainda jaz em arquivo, chamado Caminhos da Memória. O tempo não conta para o caso deste texto pois o que nele interessa é a trama e a história dela, com pessoas dentro, a politica não como reliquia do passado, mas como saudade do futuro.
Nas vésperas do almoço de celebração do 30º aniversário da extinção do
MES
Julgo não cometer nenhuma inconfidência grave se revelar que, um dia destes, almocei com o Nuno Brederode Santos. Os anos passaram e as minhas incursões pelas memórias do MES fizeram despertar nele, no meu entendimento, a necessidade de uma reflexão acerca de algumas reservas mentais que apimentaram a batalha do I Congresso do MES nos finais do ano da graça de 1974.
Curiosamente ficámos a saber, no decurso do repasto, que o nosso regresso às lides políticas, ocorreu em Outubro desse ano pelas mesmíssimas razões. Ele «guerreava» em Moçambique, no curso de uma longa comissão na guerra que combatíamos, eu «guerreava» na magna tarefa de instruir levas de milicianos – alguns deles ilustres intelectuais da nossa praça – habilitando-os para a deserção ou para o combate numa das frentes dessa guerra, para nós, desditosa.
Além de agradável, no plano pessoal, como haveria sempre de ser, a conversa revelou-me algumas facetas do primeiro conclave do MES que se me haviam varrido da memória e que, como consequência, levaram a omissões involuntárias nas anteriores deambulações que empreendi acerca do tema. Não é que a coisa tenha uma importância por aí além mas, na verdade, nunca me tinha apercebido de que o Nuno, ele próprio, fora um dos principais, senão o principal, tenor da tese da ruptura.
Se tivesse sido alcançada uma conciliação de posições permitindo manter a unidade, que acabou por se quebrar com estrondo no I Congresso do MES, seria uma derrota para a sua tese que, pelo que entendi, preconizava a criação de uma espécie de federação, inorgânica, de grupos convergentes que, sem um compromisso demasiado vincado com as forças partidárias emergentes, permitiria ganhar tempo, congregando vontades, para a formulação de um programa político à margem da inevitável opção entre um «compromisso histórico entre famílias socialistas» ou uma deriva esquerdista.
O Nuno revelou-me ainda algo que se me tinha varrido da memória e que, na sua opinião, foi um factor decisivo, pelo seu efeito psicológico, na consumação da ruptura com o MES daquele que seria conhecido como o grupo de Jorge Sampaio: uma intervenção radical, em pleno Congresso, de Afonso de Barros, filho de Henrique de Barros que, por razões geracionais era tido como elemento próximo do grupo com o qual, naquele momento, romperia de forma brutal.
Com essa intervenção de Afonso de Barros, da qual não me lembro uma palavra, NBS deu, de imediato, como adquirida a vitória da sua tese, fundada numa confessada reserva mental, ou seja, a da inevitabilidade da ruptura ainda antes da formalização do MES como partido político. Pois sendo a ruptura consumada num momento anterior ao acto final do I Congresso, não seria a reserva mental que presidiu à estratégia dos dissidentes revelada nem estes jamais seriam dissidentes de um partido ao qual, afinal, nunca haviam aderido.
Com esta revelação mais se vincou a ideia, que sempre tenho acalentado, de que teria sido possível celebrar um acordo entre as partes desavindas, com o empenho de meia dúzia daqueles a que NBS sempre designou por «zulus», derrotando a sua tese que, acabou por sair vencedora aproveitando a imaturidade, pessoal e política, da maioria desses «zulus» entre os quais eu me incluía.
Assim andámos todos, de um e outro lado, anos a fio, na dúvida acerca do lugar exacto, e do papel de cada um, nos acontecimentos dos primórdios do MES como se fosse importante manter reservas e distâncias quando a ruptura, provavelmente, nunca se chegou a concretizar pelo simples facto de nunca se ter criado o «corpus partidário» que poderia ter sido alvo dela.
O MES foi, porventura, um mal entendido extinto por quase todos os que se haviam confrontado no I Congresso, através do celebrado, e inédito, convívio de 7 de Novembro de 1981. Só faltam esclarecer uns pormenores que, com a passagem do tempo, se refinaram ganhando a patine das preciosidades inúteis que todas as famílias rejubilam em poder contar como património comum.
Julgo não cometer nenhuma inconfidência grave se revelar que, um dia destes, almocei com o Nuno Brederode Santos. Os anos passaram e as minhas incursões pelas memórias do MES fizeram despertar nele, no meu entendimento, a necessidade de uma reflexão acerca de algumas reservas mentais que apimentaram a batalha do I Congresso do MES nos finais do ano da graça de 1974.
Curiosamente ficámos a saber, no decurso do repasto, que o nosso regresso às lides políticas, ocorreu em Outubro desse ano pelas mesmíssimas razões. Ele «guerreava» em Moçambique, no curso de uma longa comissão na guerra que combatíamos, eu «guerreava» na magna tarefa de instruir levas de milicianos – alguns deles ilustres intelectuais da nossa praça – habilitando-os para a deserção ou para o combate numa das frentes dessa guerra, para nós, desditosa.
Além de agradável, no plano pessoal, como haveria sempre de ser, a conversa revelou-me algumas facetas do primeiro conclave do MES que se me haviam varrido da memória e que, como consequência, levaram a omissões involuntárias nas anteriores deambulações que empreendi acerca do tema. Não é que a coisa tenha uma importância por aí além mas, na verdade, nunca me tinha apercebido de que o Nuno, ele próprio, fora um dos principais, senão o principal, tenor da tese da ruptura.
Se tivesse sido alcançada uma conciliação de posições permitindo manter a unidade, que acabou por se quebrar com estrondo no I Congresso do MES, seria uma derrota para a sua tese que, pelo que entendi, preconizava a criação de uma espécie de federação, inorgânica, de grupos convergentes que, sem um compromisso demasiado vincado com as forças partidárias emergentes, permitiria ganhar tempo, congregando vontades, para a formulação de um programa político à margem da inevitável opção entre um «compromisso histórico entre famílias socialistas» ou uma deriva esquerdista.
O Nuno revelou-me ainda algo que se me tinha varrido da memória e que, na sua opinião, foi um factor decisivo, pelo seu efeito psicológico, na consumação da ruptura com o MES daquele que seria conhecido como o grupo de Jorge Sampaio: uma intervenção radical, em pleno Congresso, de Afonso de Barros, filho de Henrique de Barros que, por razões geracionais era tido como elemento próximo do grupo com o qual, naquele momento, romperia de forma brutal.
Com essa intervenção de Afonso de Barros, da qual não me lembro uma palavra, NBS deu, de imediato, como adquirida a vitória da sua tese, fundada numa confessada reserva mental, ou seja, a da inevitabilidade da ruptura ainda antes da formalização do MES como partido político. Pois sendo a ruptura consumada num momento anterior ao acto final do I Congresso, não seria a reserva mental que presidiu à estratégia dos dissidentes revelada nem estes jamais seriam dissidentes de um partido ao qual, afinal, nunca haviam aderido.
Com esta revelação mais se vincou a ideia, que sempre tenho acalentado, de que teria sido possível celebrar um acordo entre as partes desavindas, com o empenho de meia dúzia daqueles a que NBS sempre designou por «zulus», derrotando a sua tese que, acabou por sair vencedora aproveitando a imaturidade, pessoal e política, da maioria desses «zulus» entre os quais eu me incluía.
Assim andámos todos, de um e outro lado, anos a fio, na dúvida acerca do lugar exacto, e do papel de cada um, nos acontecimentos dos primórdios do MES como se fosse importante manter reservas e distâncias quando a ruptura, provavelmente, nunca se chegou a concretizar pelo simples facto de nunca se ter criado o «corpus partidário» que poderia ter sido alvo dela.
O MES foi, porventura, um mal entendido extinto por quase todos os que se haviam confrontado no I Congresso, através do celebrado, e inédito, convívio de 7 de Novembro de 1981. Só faltam esclarecer uns pormenores que, com a passagem do tempo, se refinaram ganhando a patine das preciosidades inúteis que todas as famílias rejubilam em poder contar como património comum.
domingo, fevereiro 10
Este dia de fevereiro frio
Fixo-me parte deste dia frio de fevereiro perto da ponta mais ocidental da Europa, sobre o mar salgado de Pessoa, Camões, e tantos outros, que cantaram da epopeia portuguesa o mar que quiseram fosse português (e foi). Escasseia a gente onde sobram as casas. O ar permanece limpo e o horizonte infinito. Assomam as memórias e os projetos do tempo presente. Para quê viver sem ideais? Sem projetos de futuro? Precisamos de política, do regresso da politica: a arte de fazer da diferença força e do ideal obra apropriável por todos. Adiante!
sábado, fevereiro 9
O sofrimento humano
sexta-feira, fevereiro 8
quinta-feira, fevereiro 7
terça-feira, fevereiro 5
segunda-feira, fevereiro 4
... le droit d´aimer sans mesure.
“Je comprends ici ce qu´on appelle gloire: le droit d´aimer sans mesure. Il n´y a qu´un seul amour dans ce monde. Étreindre un corps de femme, c´est aussi retenir contre soi cette joie étrange qui descend du ciel vers la mer.»
Albert Camus, in “Noces à Tipasa”
Na fotografia María Casares
Albert Camus, in “Noces à Tipasa”
Na fotografia María Casares
SE EU SAIR DAQUI VIVO
Se eu sair daqui vivo
da Casa de Saúde do Telhal
crivo numa pedra nua e resistente
o tamanho do meu mal.
Assanho-me de tal
e vou e venho
onde me seja mais natural.
Se sair daqui vivo
privo-me de tudo
da minha liberdade
que não sou um homem mudo
sou um homem de verdade.
Privo-me na idade
do bem que não fizeram
do bem que tudo tem.
É numa simplicidade
que convém.
António Gancho
14/3/96
Casa de Saúde do Telhal
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da Casa de Saúde do Telhal
crivo numa pedra nua e resistente
o tamanho do meu mal.
Assanho-me de tal
e vou e venho
onde me seja mais natural.
Se sair daqui vivo
privo-me de tudo
da minha liberdade
que não sou um homem mudo
sou um homem de verdade.
Privo-me na idade
do bem que não fizeram
do bem que tudo tem.
É numa simplicidade
que convém.
António Gancho
14/3/96
Casa de Saúde do Telhal
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A POESIA ESTÁ NA
RUA25º Aniversário 25 de
Abril
Conspiração
A poesia. A conspiração da metáfora saiu à rua. Num Abril assim: de palavras, de palavras sem endereço. Porque eram para todos os que as desejassem colher. Assim como quem colhe a manhã, ou um lírio ou um simples papel para amarrotar e atirar ao chão. Poesia na rua, no espaço livre e inalienável.
Será esta a sua casa? Em Abril será sempre esta a sua frágil casa.
A associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto agradece a todos os poetas que deram rosto à conspiração – simples afinal, frágil como a casa da poesia.
Francisco Duarte MangasPresidente da AJHLP
Poesia – Sonho de uma nova liberdade
O 25 de Abril foi um sonho que sobreviveu. Poucos acreditavam ser possível dar asas, em Portugal, a esse sonho de uma nova liberdade que a poesia antecipou, tantas vezes, em palavras escritas e ditas.
Sejamos claros e honestos: o regime político que exausto acabou os seus dias no 25 de Abril de 1974 era uma ditadura, certamente com adeptos entre os portugueses, que desprezava as mais elementares regras do respeito pelo povo, desde logo negando-lhe o direito à escolha, em eleições livres, do tipo de regime ou de governo que mais lhe aprouvesse.
As profundas aspirações do povo português à liberdade e à justiça foram, finalmente, cumpridas e para mim esse sonho transfigurou-se, no Quartel do Campo Grande, pela poesia dita pelo Mário Viegas, amigo e companheiro de armas, num desses dias febris de Abril aos militares reunidos de improviso.
Sem querer esconjurar os demónios do passado, a revolução, para mim, só ganhou sentido verdadeiro nesse momento mágico de poesia.
Eduardo Graça
Presidente do INATEL
Estes dois textos foram escritos em 1999 e impressos na caixa/envelope que guardou os 50 panfletos, de cores variadas, transportando as 50 poesias que outros tantos poetas escreveram, ou cederam, para esta iniciativa, levada a cabo a nível nacional, aquando do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974.
O mérito, alcance e êxito da mesma ficaram a dever-se, no essencial, a Manuela Espírito Santo, à época, Vice-presidente do INATEL, e a Francisco Duarte Mangas. Para eles as minhas homenagens.
Lembrei-me de arriscar um exercício de divulgação destes 50 poemas, de autores consagrados, à época todos vivos, associando, a cada um deles, uma fotografia da colecção que o Hélder Gonçalves ofereceu aos seus amigos pelos seus 50 anos, conforme o meu critério e gosto pessoal.
Aqui fica, deste modo, uma homenagem à poesia e, através dela, ao 33º aniversário do 25 de Abril.
Conspiração
A poesia. A conspiração da metáfora saiu à rua. Num Abril assim: de palavras, de palavras sem endereço. Porque eram para todos os que as desejassem colher. Assim como quem colhe a manhã, ou um lírio ou um simples papel para amarrotar e atirar ao chão. Poesia na rua, no espaço livre e inalienável.
Será esta a sua casa? Em Abril será sempre esta a sua frágil casa.
A associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto agradece a todos os poetas que deram rosto à conspiração – simples afinal, frágil como a casa da poesia.
Francisco Duarte MangasPresidente da AJHLP
Poesia – Sonho de uma nova liberdade
O 25 de Abril foi um sonho que sobreviveu. Poucos acreditavam ser possível dar asas, em Portugal, a esse sonho de uma nova liberdade que a poesia antecipou, tantas vezes, em palavras escritas e ditas.
Sejamos claros e honestos: o regime político que exausto acabou os seus dias no 25 de Abril de 1974 era uma ditadura, certamente com adeptos entre os portugueses, que desprezava as mais elementares regras do respeito pelo povo, desde logo negando-lhe o direito à escolha, em eleições livres, do tipo de regime ou de governo que mais lhe aprouvesse.
As profundas aspirações do povo português à liberdade e à justiça foram, finalmente, cumpridas e para mim esse sonho transfigurou-se, no Quartel do Campo Grande, pela poesia dita pelo Mário Viegas, amigo e companheiro de armas, num desses dias febris de Abril aos militares reunidos de improviso.
Sem querer esconjurar os demónios do passado, a revolução, para mim, só ganhou sentido verdadeiro nesse momento mágico de poesia.
Eduardo Graça
Presidente do INATEL
Estes dois textos foram escritos em 1999 e impressos na caixa/envelope que guardou os 50 panfletos, de cores variadas, transportando as 50 poesias que outros tantos poetas escreveram, ou cederam, para esta iniciativa, levada a cabo a nível nacional, aquando do 25º aniversário do 25 de Abril de 1974.
O mérito, alcance e êxito da mesma ficaram a dever-se, no essencial, a Manuela Espírito Santo, à época, Vice-presidente do INATEL, e a Francisco Duarte Mangas. Para eles as minhas homenagens.
Lembrei-me de arriscar um exercício de divulgação destes 50 poemas, de autores consagrados, à época todos vivos, associando, a cada um deles, uma fotografia da colecção que o Hélder Gonçalves ofereceu aos seus amigos pelos seus 50 anos, conforme o meu critério e gosto pessoal.
Aqui fica, deste modo, uma homenagem à poesia e, através dela, ao 33º aniversário do 25 de Abril.
[Curiosamente este post foi dado à estampa no dia 4 de fevereiro de 2007. Hoje, 4 de fevereiro de 2013, passam 10 anos sobre o dia em que fui exonerado de presidente da direção do INATEL. A resposta à questão subliminarmente colocada pelo título do poema escolhido é: sim, saí vivo!]
domingo, fevereiro 3
sábado, fevereiro 2
sexta-feira, fevereiro 1
O CORVO
1 Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de algúem que batia levemente a meus umbrais. "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais." "O Corvo", de Edgar Allan Poe, Tradução de Fernando Pessoa. Versão integral no IRAOFUNDOEVOLTAR |
quarta-feira, janeiro 30
terça-feira, janeiro 29
segunda-feira, janeiro 28
domingo, janeiro 27
Poemas para Lili
Pia, pia, pia
O mocho.
Que pertencia
A um coxo.
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia...
------------------
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa
O mocho.
Que pertencia
A um coxo.
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia...
------------------
Levava eu um jarrinho
P'ra ir buscar vinho
Levava um tostão
P'ra comprar pão:
E levava uma fita
Para ir bonita.
Correu atrás
De mim um rapaz:
Foi o jarro p'ra o chão,
Perdi o tostão,
Rasgou-se-me a fita...
Vejam que desdita!
Se eu não levasse um jarrinho,
Nem fosse buscar vinho,
Nem trouxesse uma fita
Pra ir bonita,
Nem corresse atrás
De mim um rapaz
Para ver o que eu fazia,
Nada disto acontecia.
Fernando Pessoa
sábado, janeiro 26
sexta-feira, janeiro 25
Para mí corazón ...
Para mí corazón...
Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.
Es en ti la ilusión de cada día.
Llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.
He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
Y entristeces de pronto, como un viaje.
Acogedora como un viejo camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.
......................
Para o meu coração...
Para meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a sua alma.
És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.
Pablo Neruda
“Vinte Poemas de Amor e
Uma Canção Desesperada”
Tradução de Fernando Assis Pacheco
Publicações D. Quixote
Para mi corazón basta tu pecho,
para tu libertad bastan mis alas.
Desde mi boca llegará hasta el cielo
lo que estaba dormido sobre tu alma.
Es en ti la ilusión de cada día.
Llegas como el rocío a las corolas.
Socavas el horizonte con tu ausencia.
Eternamente en fuga como la ola.
He dicho que cantabas en el viento
como los pinos y como los mástiles.
Como ellos eres alta y taciturna.
Y entristeces de pronto, como un viaje.
Acogedora como un viejo camino.
Te pueblan ecos y voces nostálgicas.
Yo desperté y a veces emigran y huyen
pájaros que dormían en tu alma.
......................
Para o meu coração...
Para meu coração basta o teu peito
para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a sua alma.
És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma.
Pablo Neruda
“Vinte Poemas de Amor e
Uma Canção Desesperada”
Tradução de Fernando Assis Pacheco
Publicações D. Quixote
quarta-feira, janeiro 23
SONETO
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
... Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Luís de Camões
(Edição de Lobo Soropita, de 1595
In Obras Completas - Círculo de Leitores)
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
... Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Luís de Camões
(Edição de Lobo Soropita, de 1595
In Obras Completas - Círculo de Leitores)
terça-feira, janeiro 22
segunda-feira, janeiro 21
domingo, janeiro 20
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
“SUBMÚLTIPLOS”
Na escala convencional
Me vou microdividindo
Na velha base decimal.
Eis-me micro-eu
Nano-eu e pico-eu
Fento-eu e atto-eu…
Depois… acabou-se a convenção
Os eus mais pequenos
Já não têm nome…
Vou ver se lhes arranjo um pro-nome
Pois sim! Serão:
Nileus
Embora apercebíveis
E, sempre, até mais ver,
Sempre divisíveis.
Se nileus não é pronome
É lá com os gramáticos.
Mas, meus Senhores!
Sejamos práticos!!
“Descompasso”, Círculo de Poesia – Nova Série
Moraes Editores, Lisboa, 1986
---------------------------------------------------------------------------
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
(Lisboa, 1914 – 2000, Lisboa)
Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo trabalhado, como meteorologista, no Serviço Meteorológico Nacional. A carreira científica levou-o de Lisboa às ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde) e dali a Angola e Moçambique.
Poeta, ensaísta, crítico literário e musical, investigador. No campo da investigação científica, directamente relacionada com a profissão, publicou vários estudos, nomeadamente a monografia Introdução ao Estudo das Correntes de Jacto (1955). Como crítico musical, colaborou em diversas publicações, e foi crítico literário na Emissora Nacional.
Foi uma das figuras literárias portuguesas de mais vasta cultura (em vários domínios) tendo sido adido cultural no Rio de Janeiro (1973-78) e vice-presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (1978-82).
Mas foi sobretudo como poeta que a sua personalidade mais se destacou. Foi fundador e co-director dos Cadernos de Poesia, em todas as séries, entre 1940 e 1953, tendo publicado ali alguns dos seus mais importantes poemas.
Estreou-se com o volume “Parva Naturalia” (1960, Prémio Fernando Pessoa), a que se seguiram “O Espaço Prometido” (1960), “Anticrítico” (1960, obra de reflexão ensaística), “Odes Pedestres” (1965, Prémio Casa da Imprensa), “Descompasso” (1987) e “Enéadas (1989).
Na escala convencional
Me vou microdividindo
Na velha base decimal.
Eis-me micro-eu
Nano-eu e pico-eu
Fento-eu e atto-eu…
Depois… acabou-se a convenção
Os eus mais pequenos
Já não têm nome…
Vou ver se lhes arranjo um pro-nome
Pois sim! Serão:
Nileus
Embora apercebíveis
E, sempre, até mais ver,
Sempre divisíveis.
Se nileus não é pronome
É lá com os gramáticos.
Mas, meus Senhores!
Sejamos práticos!!
“Descompasso”, Círculo de Poesia – Nova Série
Moraes Editores, Lisboa, 1986
---------------------------------------------------------------------------
JOSÉ BLANC DE PORTUGAL
(Lisboa, 1914 – 2000, Lisboa)
Licenciou-se em Ciências Geológicas pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo trabalhado, como meteorologista, no Serviço Meteorológico Nacional. A carreira científica levou-o de Lisboa às ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Cabo Verde) e dali a Angola e Moçambique.
Poeta, ensaísta, crítico literário e musical, investigador. No campo da investigação científica, directamente relacionada com a profissão, publicou vários estudos, nomeadamente a monografia Introdução ao Estudo das Correntes de Jacto (1955). Como crítico musical, colaborou em diversas publicações, e foi crítico literário na Emissora Nacional.
Foi uma das figuras literárias portuguesas de mais vasta cultura (em vários domínios) tendo sido adido cultural no Rio de Janeiro (1973-78) e vice-presidente do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (1978-82).
Mas foi sobretudo como poeta que a sua personalidade mais se destacou. Foi fundador e co-director dos Cadernos de Poesia, em todas as séries, entre 1940 e 1953, tendo publicado ali alguns dos seus mais importantes poemas.
Estreou-se com o volume “Parva Naturalia” (1960, Prémio Fernando Pessoa), a que se seguiram “O Espaço Prometido” (1960), “Anticrítico” (1960, obra de reflexão ensaística), “Odes Pedestres” (1965, Prémio Casa da Imprensa), “Descompasso” (1987) e “Enéadas (1989).
sábado, janeiro 19
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do téu sal
São lâgrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valéu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abysmo déu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
sexta-feira, janeiro 18
quinta-feira, janeiro 17
terça-feira, janeiro 15
segunda-feira, janeiro 14
sábado, janeiro 12
UMA APOSENTAÇÃO EXEMPLAR
Faz tempo que não escrevia directamente na tela branca do absorto como tantas vezes no passado. São ciclos que se cumprem conforme a disponibilidade, e vontade, da cada um em intervir no espaço público. Hoje o que me suscita a vontade de contrariar essa tendência é a notícia da passagem à aposentação da actual presidente da Câmara Municipal de Palmela por quem tenho a maior simpatia pessoal além do mais por ser uma autarca que conhece bem, por experiência profissional, o sector cooperativo ao qual tenho dedicado, no contexto da economia social, estes últimos anos da minha vida.
O que quero dizer neste espaço, reafirmando o que já tenho escrito, é que não há volta a dar à tendência para aumentar a idade de aposentação que resulta da chamado envelhecimento demográfico versus sistema de providência baseado no modelo de redistribuição. Toda esta matéria, sem prejuízo de pontos de vista diferente acerca das políticas a adoptar, está muito bem estudada tendo sido objecto de consensos alargados.
A minha posição acerca da questão em apreço é até bastante heterodoxa pois sou favorável a que, num enquadramento legal adequado, cada cidadão deverá ser livre de escolher a idade da aposentação, não existindo limite máximo de idade, mas que os valores das pensões deveriam ter um tecto (como acontece em alguns países) e ser atribuídas, conforme o tempo de trabalho, de forma equitativa.
Esta situação de aposentação e um titular de um cargo político com menos de 50 anos de idade com contagem de tempo a dobrar - no que respeita ao exercício da função política - só contribui para descredibilizar o sistema actual mostrando a ponta do icebergue das injustiças do modelo do designado "Estado Social".
Serve este episódio ( a meu ver infeliz) para alertar da necessidade, e urgência, de todas as forças politicas e sociais, sem excepção, encontrarem dentro de si próprias a capacidade de tolerância, participação e abertura ao diálogo para, nas sedes próprias, encontrarem as melhores soluções, em primeira linha, para que o "Estado Social" se mantenha e fortaleça - sim, fortaleça!, o que só poderá ser assegurado por mecanismos que assegurem, aos olhos de todos, mais justiça e equidade nas contribuições (receitas) e nas prestações (despesas) com o equilíbrio que o tempo presente reclama.
Se não formos capazes, como comunidade democrática e livre, de encontrar modelos de gestão dos recursos públicos ( de todos) resultantes do mais amplo consenso, não nos admiremos que ressurjam os mais desvairados populismos que, em última análise, tenderão a pôr em causa o próprio regime democrático. O assunto é sério!
O que quero dizer neste espaço, reafirmando o que já tenho escrito, é que não há volta a dar à tendência para aumentar a idade de aposentação que resulta da chamado envelhecimento demográfico versus sistema de providência baseado no modelo de redistribuição. Toda esta matéria, sem prejuízo de pontos de vista diferente acerca das políticas a adoptar, está muito bem estudada tendo sido objecto de consensos alargados.
A minha posição acerca da questão em apreço é até bastante heterodoxa pois sou favorável a que, num enquadramento legal adequado, cada cidadão deverá ser livre de escolher a idade da aposentação, não existindo limite máximo de idade, mas que os valores das pensões deveriam ter um tecto (como acontece em alguns países) e ser atribuídas, conforme o tempo de trabalho, de forma equitativa.
Esta situação de aposentação e um titular de um cargo político com menos de 50 anos de idade com contagem de tempo a dobrar - no que respeita ao exercício da função política - só contribui para descredibilizar o sistema actual mostrando a ponta do icebergue das injustiças do modelo do designado "Estado Social".
Serve este episódio ( a meu ver infeliz) para alertar da necessidade, e urgência, de todas as forças politicas e sociais, sem excepção, encontrarem dentro de si próprias a capacidade de tolerância, participação e abertura ao diálogo para, nas sedes próprias, encontrarem as melhores soluções, em primeira linha, para que o "Estado Social" se mantenha e fortaleça - sim, fortaleça!, o que só poderá ser assegurado por mecanismos que assegurem, aos olhos de todos, mais justiça e equidade nas contribuições (receitas) e nas prestações (despesas) com o equilíbrio que o tempo presente reclama.
Se não formos capazes, como comunidade democrática e livre, de encontrar modelos de gestão dos recursos públicos ( de todos) resultantes do mais amplo consenso, não nos admiremos que ressurjam os mais desvairados populismos que, em última análise, tenderão a pôr em causa o próprio regime democrático. O assunto é sério!
sexta-feira, janeiro 11
quinta-feira, janeiro 10
A BOLEIA PERDIDA
Nas férias de verão, em finais dos anos 60, costumava ir à
boleia de Faro a Armação de Pêra. Era uma boleia certa. Ida e volta. Eu ia
namorar. Mas um dia a boleia de volta falhou. Fiquei pendurado no sítio
combinado. À beira da estrada. E nada. Fez-se noite e as minhas esperanças
desvaneceram-se. Sem dinheiro, que só havia pouco, regressei a pé, à vila.
A namorada já estava longe e perto. Em casa de seus pais e eu lá não ia.
Na época não havia telemóveis e na casa de meus pais nem telefone fixo. Só na
loja mas tinha encerrado. Não os pude avisar da minha ausência para o jantar.
Havia que tomar medidas de emergência. Encontrar alguém amigo, ou
conhecido, para pedir algum emprestado. A minha decisão, inevitável, tinha sido
a de pernoitar em Armação de Pêra. Por sorte, à primeira volta pela vila,
apareceu uma mão amiga. Procurei uma pensão. Havia quartos disponíveis apesar de
ser verão. Sei que estávamos em 1968 pois retenho na memória as imagens dos
Jogos Olímpicos, desse ano, que passavam na TV.
Dormi e de manhã
regressei ao ponto de encontro habitual na praia. O meu surgimento, cedo, foi
uma surpresa. Breves explicações e o resto foram as carícias de um verão
promissor. Águas límpidas e areias finas, beber a vida de um trago, a
reencarnação da própria beleza...
Nesse dia regressei a casa o mais
depressa possível e, desta vez, sujeito ao horário do autocarro. Os meus pais
não me pediram qualquer explicação, nem disseram uma palavra. Sofreram, em
silêncio, a minha ausência inesperada. Imagino os seus receios e medos.
Fiquei a admira-los ainda mais. A sua confiança em mim era
ilimitada. Nunca os esquecia e eles sempre me perdoavam.
quarta-feira, janeiro 9
UM PEQUENO DETALHE (2ª EDIÇÃO)
Hoje na véspera da tomada de posse de Chávez, após ter ganho as eleições, sabemos que o acto não terá lugar. Chávez, a crer nos seus próprios correligionários, não está em condições de comparecer por razões de saúde. Neste contexto veio-me à memória o que escrevi em setembro de 2007 e que a presente situação, de forma dramática, confirma:
Não vale a pena ter contemplações com este tipo de projecto de poder. Não há ditaduras a prazo. Não há ditaduras democráticas. O que Chávez quer toda a gente entende muito bem. Quer o bem dos pobres. Todos os ditadores querem o bem dos pobres. É um caminho conhecido que acaba sempre mal. Ainda pior quando os ditadores são levados ao poder através de eleições. Um dia destes Chávez deu-se ao luxo de apresentar o seu projecto de poder comparando-o com o das democracias liberais nas quais, para ele, os políticos também se perpetuam no poder. Pura aldrabice! Salvo o caso das monarquias nas quais o poder do monarca é simbólico, ou de representação, todos os regimes democrático, nos países da UE, e não só, integram mecanismos que inviabilizam a perpetuação no exercício do poder de qualquer partido ou personalidade. Os modelos são diversos mas o princípio é o da livre escolha, através de eleições democráticas, regulares, dos presidentes e dos governos. Existe até, nalguns casos, limitação do número de mandatos. É o caso do presidente da República, em Portugal, que não pode exercer o cargo por mais do que dois mandatos seguidos. É claro que sempre nos podemos colocar naquela posição de pessimismo absoluto, à beira do niilismo, de considerar todos os regimes políticos e respectivos protagonistas desprezíveis. “São todos iguais!” diz o povo amiudadas vezes. Os seres pensantes têm por obrigação contrariar este populismo de pacotilha. Essa é mesmo uma condição essencial para que os que pensam da democracia o pior possível possam continuar a dispor da liberdade de dizer mal dela. Um pequeno detalhe na fronteira entre a liberdade e a tirania.
Não vale a pena ter contemplações com este tipo de projecto de poder. Não há ditaduras a prazo. Não há ditaduras democráticas. O que Chávez quer toda a gente entende muito bem. Quer o bem dos pobres. Todos os ditadores querem o bem dos pobres. É um caminho conhecido que acaba sempre mal. Ainda pior quando os ditadores são levados ao poder através de eleições. Um dia destes Chávez deu-se ao luxo de apresentar o seu projecto de poder comparando-o com o das democracias liberais nas quais, para ele, os políticos também se perpetuam no poder. Pura aldrabice! Salvo o caso das monarquias nas quais o poder do monarca é simbólico, ou de representação, todos os regimes democrático, nos países da UE, e não só, integram mecanismos que inviabilizam a perpetuação no exercício do poder de qualquer partido ou personalidade. Os modelos são diversos mas o princípio é o da livre escolha, através de eleições democráticas, regulares, dos presidentes e dos governos. Existe até, nalguns casos, limitação do número de mandatos. É o caso do presidente da República, em Portugal, que não pode exercer o cargo por mais do que dois mandatos seguidos. É claro que sempre nos podemos colocar naquela posição de pessimismo absoluto, à beira do niilismo, de considerar todos os regimes políticos e respectivos protagonistas desprezíveis. “São todos iguais!” diz o povo amiudadas vezes. Os seres pensantes têm por obrigação contrariar este populismo de pacotilha. Essa é mesmo uma condição essencial para que os que pensam da democracia o pior possível possam continuar a dispor da liberdade de dizer mal dela. Um pequeno detalhe na fronteira entre a liberdade e a tirania.
segunda-feira, janeiro 7
domingo, janeiro 6
O FUNERAL DE ALBERT CAMUS - 6 de JANEIRO DE 1960
Le 6 janvier
1960, une foule d´anonymes et quelques amis se retrouvent devant la grande
maison de Lourmarin où le corps d´Albert Camus a été transporté dans la nuit.
Quatre villageois portent le cercueil que suivent son épouse, son frère Lucien,
René Char, Jules Roy, Emmanuel Roblès, Louis Guilloux, Gaston Gallimard et
quelques amis moins connu, parmi lesquels les jeunes footballeurs du village.
Le cortège avance lentement dans cette journée un peut froide et atone de ce
« pays solennel et austère – malgré
sa beauté bouleversante ».
Devant le caveau,
Francine Camus jette une rose sur le cercueil. Le maire prononce une courte
allocution et le silence n´est troublé que par le bruit de la terre sue le bois
de la bière.
L´heure est de
recueillement. Les communiqués officiels, les télégrammes affluent. Tous
unanimes dans l´hommage et l´affliction conjugués.
Les temps ont
changé, et ils sont nombreux, les détracteurs d´hier qui saluent aujourd´hui la
disparition de celui aux côtés duquel ils avaient obstinément refusé de
marcher. Celui qui, au terme de tant d´attaques et de malveillance, avait choisi
de s´enfermer dans un douloureux silence.
Les premiers tirs
étaient venus de gauche, et plus particulièrement du parti communiste qui ne
pardonnait pas à cet ex-compagnon de route de prendre du recul, de regarder en
face certaines réalités. De dire l´intolérable :
le stalinisme, les camps, les idéaux mis au pas par des tyrans de
l´histoire.
In Les Derniers
Jours de la vie d´Albert Camus, José Lenzini, Actes Sud
sexta-feira, janeiro 4
ALBERT CAMUS - O DIA DA SUA MORTE NO ANO DO CENTENÁRIO [1913-1960]
Em 2013 celebra-se o
centenário de Albert Camus, nascido em 7 de novembro de 1913, na Argélia.
Não estranhará a ninguém que aqui o evoquemos ainda com mais assiduidade ao
longo deste ano. Este é o primeiro post de uma série que contamos dedicar à sua
personalidade e à sua obra. Hoje é o dia do 53º aniversário
da sua morte, ocorrida em 4 de janiro de 1960.
Camus publicou em vida dezanove obras, de 1937 a 1959, entre
as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as
novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro
(“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948,
“Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937,
“Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand”
em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar
três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de
Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a
obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.
Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais
se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de
trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de
1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”;
o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o
manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação
que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande
romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean
Grenier.
quarta-feira, janeiro 2
12-8
Hoje pela manhã cedo fui fazer os exames da medicina do
trabalho – pois eu trabalho e tenho muito orgulho em trabalhar – e sinto sempre
um vago sentimento de medo quando faço exames médicos seja de medicina do
trabalho, ou quejandos, e o medo faz-me subir a tensão arterial, (só a bata
branca me atemoriza), e disse-o ao médico, afável, que após a medição me disse
12-8, sem mais nem menos, admirável surpresa, tão baixa, e logo me lembrei quão
efémera é a vida. O dia seguiu sem mais surpresas… e longo será este ano!
terça-feira, janeiro 1
ANTÓNIO MARQUES JÚNIOR
HOMENAGEM A ANTÓNIO MARQUES JÚNIOR MILITAR DEMOCRATA E POLÍTICO DE CORPO INTEIRO, UM CIDADÃO ENTRE PARES, QUE PARTILHOU A LIDERANÇA DA REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL ASSUMINDO TODOS OS RISCOS SEM NADA PEDIR EM TROCA. QUE VIVA!
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