terça-feira, fevereiro 24

CESÁRIO VERDE


Num dia, por tradição, sempre festejado e, nos nossos dias, tão triste, lembrei-me deste extraordinário poema de Cesário Verde que aqui vos deixo.

Contrariedades


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.


Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.


Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.


Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...


O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.


Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.


A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.


Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.


Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.


Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.


Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.


A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...


E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!


Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!


Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?


Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...


E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!










Cada vez menos e mais velhos


"Portugal Terá Menos Um Milhão de Pessoas em 2050

A população portuguesa terá menos cerca de um milhão de pessoas em 2050 e estará ainda mais envelhecida, havendo perto de 2,5 idosos por cada jovem, segundo estimativas constantes de um relatório do Conselho da Europa."
A notícia de ontem reforça e agrava todas as expectativas acerca da evolução demográfica. O PÚBLICO põe em relevo as projecções acerca da população portuguesa. São os dados de um relatório do Conselho da Europa. Este Relatório reforça a minha ideia de que deveria ser criada uma estrutura, de âmbito nacional, sob patrocínio do Senhor Presidente da República, para acompanhar, estudar e apontar estratégias que permitam fazer face às catastróficas perspectivas de evolução da demografia em Portugal.

segunda-feira, fevereiro 23

Efeitos devastadores do envelhecimento

"Ministro fecha 2194 escolas

Até 2007 o Ministério da Educação vai fechar 2194 escolas primárias que estão a funcionar com menos de 11 alunos. Neste ano lectivo, 68 escolas têm apenas um estudante. "

Eis uma notícia abordada pelo EXPRESSO que mais não é que uma consequência devastadora do envelhecimento demográfico. Os jovens são uma raridade em muitas regiões do país. As escolas passam a ser peças de museu. Esta é uma questão estratégica para o futuro de Portugal e dos países do ocidente. Podem e devem discutir-se as razões, a metodologia e as consequências deste tipo de medidas. Mas o envelhecimento demográfico é uma questão abordada sistemáticamente pelas suas consequências e não pela sua raíz. Merecia uma abordagem ao mais alto nível. Um assunto para o Presidente da República?

IMIGRAÇÃO - entrevista


"Esta Política de Imigração É Abaixo de Zero Porque Não Vai Legalizar Praticamente Nenhum dos Imigrantes"

Esta é a manchete da PÚBLICA, de 22 de Fevereiro, que dá a conhecer a opinião de Inácio Mota da Silva acerca do tema e da política de imigração do governo português.


domingo, fevereiro 22

DOIS MESES DE ABSORTO - UMA EXPERIÊNCIA PARA CONTINUAR

No passado dia 19 passaram dois meses desde a criação do ABSORTO. Esta é uma experiência que não se dirige à blogosfera e seus fazedores mas fundamentalmente aqueles que estão de fora dela. Ainda não saimos da fase experimental que ainda vai durar mais algum tempo. Como acontece sempre neste tipo de projecto individual, pois o ABSORTO é uma inicitiva da única responsabilidade do seu editor, surgem problemas que carecem de tempo para serem superados. Não falo de problemas de concepção, ou de falta de ideias para partilhar com quem nos procura, mas de problemas técnicos. O ABSORTO tem um programa e vai continuar a desenvolver esse programa. Sabemos das dificuldades próprias deste instrumento de comunicação. Cometemos erros e estamos atentos à sua correcção. Vamos continuar. Com melhorias e algumas novidades. Hoje, fora do nosso lugar habitual de trabalho, sem o programa que nos ajuda a "postar" com mais eficácia, aqui junto à ponta mais ocidental da Europa, uma saudação para todas e todos que nos têm ajudado, das mais diversas formas, e nos visitam com assiduidade.
Com um abraço do EG

sábado, fevereiro 21

AQUI PORTUGAL


Aqui Portugal
Bicesse
O Fim-do-mundo mais perto de
Lisboa e da boa flôrdelis
e
Entre a Serra da Lua (Sintra)
As grutas e necrópoles daqueles
Que nascidos em Creta
Passaram em Homero
Em Cristo
E a vista de Roma
Saíram do Mediterrâneo
E aqui ficaram e passaram
Trazendo consigo para toda a parte
A civilização da Liberdade individual
Do Homem

Almada Negreiros

sexta-feira, fevereiro 20

Cadernos de Camus - 9



Esta é a última parte dos meus sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Camus. Esta leitura foi iniciada, certamente, antes de Abril de 1968, tinha eu a idade de 20 anos.

Os sublinhados que se apresentaram, com pequenas alterações de pormenor e raras supressões, foram assinalados nos livros, de forma "assassina", a esferográfica. Os livros, no entanto, sobreviveram e, recentemente, foram restaurados e encadernados a capa dura. Estão em condições de serem legados ao meu filho pois tenho a ambição de que um dia os venha a ler.

Com esta nona parte, segundo a minha nemeração, chega ao fim a estimulante tarefa que me foi suscitada pela ideia do José Pacheco Pereira. Mas devo confessar que um projecto semelhante a este, antes do surgimento dos Blogs, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação. Esta minha participação suscitou, para minha surpresa, uma mal disfarçada "azia" em algumas pessoas que devem viver ainda no tempo da "noite fascista" e persistem em separar os campos políticos e ideológicos com base em preconceitos e mal ultrapassadas relações com os respectivos pais. Há gente adulta e com responsabilidades na vida pública pública portuguesa que ainda não saíu das "cavernas" e suspeito que delas não sairá jamais. Paz à sua alma!

Esta é uma daquelas tarefa que me deu prazer autêntico, quer pelo facto de poder partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me ter sentido, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que reli. Continuo a sentir hoje a mesma adesão de fundo à filosofia de vida e de sociedade que, no essencial, Camus defende e que, de forma peculiar, foi explicitada nos Cadernos.

Além do mais devo confessar que este é, desde a minha juventude, um "livro de cabeceira" que, naturalmente, não li todos os dias mas que sempre esteve presente na minha vida mesmo quando os impulsos de uma desinteressada militância cívica e política exigiram, e continuam a exigir, a tomada de opções difíceis ou mesmo dolorosas.

Não sei ao certo qual o caminho que este projecto tomará mas, a partir de um dado momento, as participações numa empresa séria desta natureza carecem de ser enquadradas por uma metodologia e por objectivos precisos sem os quais cada um de nós se sentirá decerto constrangido. Estou disponível para aprofundar a minha participação.

Eis os meus últimos sublinhados do caderno nº 6 nos quais se inclui aquele que sempre me tem acompanhado e que constitui, para mim, um lema de vida: "os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade":

"Não se deve julgar um homem nem pelo que diz, nem pelo que escreve, segundo Beyle. Eu acrescento: nem pelo que faz."
(Camus deve referir-se a Marie Henri Beyle, ou seja, STANDHAL)

"Começa-se por não amar ninguém. Depois amam-se todos os homens em geral. A seguir apenas alguns, depois uma única e depois o único."

""Alexandre Block.
...
Só uma compaixão total pode produzir uma mudança. Reajo assim porque a minha consciência não está tranquila.""
(Escrevi dois pontos de interrogação)

"É pela recusa de uma parte deste mundo que este mundo é habitável? Contra o amor fati. O homem é o único animal que recusa ser o que é."

"Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade".

"Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual."

"Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca."

"Ensaio. Introdução. Porquê recusar a delação, a polícia, etc. .. se não somos nem cristãos nem marxistas. Não temos valores para isso. Enquanto não tivermos encontrado fundamento para esses valores, estamos condenados a escolher o bem (quando o escolhemos) de maneira injustificável. A virtude será sempre ilegítima até esse momento."

""A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça".
O Soviete de Saint-Peterburgo em 1905 apela para a greve aos gritos de abaixo a pena de morte.""

""Durante a Comuna de Moscovo, na Praça Trubnaia, perante um edifício destruído pelos canhões, um prato contendo um pedaço de carne humana é exposto com um cartaz com a seguinte inscrição: "dai o vosso óbolo para as vítimas.""

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).








quinta-feira, fevereiro 19

Europa - jogos perigosos


A cimeira dos Grandes


Sejamos claros e realistas: a UE só existirá enquanto houver um entendimento entre os chamados grandes. Basta conhecer um pouco da história da Europa. O alargamento da UE (mais 10+2 países) não muda nada esta questão crucial. Só dá mais peso aos grandes, entre outras razões, porque "puxa para leste" o centro geográfico da UE. A Alemanha, "potência continental", por excelência, alarga a sua área de influência; a Inglaterra "potência marítima, por excelência", vê estreitar-se a sua capacidade de influência na Europa e procura minorar o desgaste de uma "parceria aventureira" com a Administração conservadora dos EUA e a França não tem outra saída, para alimentar o velho sonho da Grande Europa, senão ceder à Alemanha salvaguardando a aliança central que dá sentido estratégico à UE.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) são forem aliados, no essencial, não há garantia de paz na Europa. Fica aberta a porta ao regresso das tendências belicistas que estiveram na origem das duas terríveis guerras mundiais do Séc. XX.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) não estiverem de acordo acerca do modelo de desenvolvimento da UE não haverá condições para o progresso económico, social, científico e tecnológico da Europa e será aberta a porta da sua decadência inexorável.

Os governos que subscreveram a recente Declaração dos 6, valha a verdade, contam pouco para a definição do essencial do futuro da EU e da Europa: guerra ou paz, progresso ou decadência, independência ou subserviência face aos desígnios estratégicos dos EUA?

O problema é que os conservadores que governam, no presente, os países do sul da Europa escolheram o caminho da subserviência face aos EUA e dão-se mal com os temas da chamada "Agenda de Lisboa" que, paradoxalmente, ou talvez não, os "Grandes" citam sem qualquer constrangimento. Interessante!

Os "grandes" que são acusados, aberta ou veladamente, de prosseguirem objectivos detestáveis e egoístas, assumem a "Agenda de Lisboa", ou seja, a componente social do desenvolvimento da Europa como noticia hoje o Público:

"Schroeder, Chirac e Blair Relançam "Agenda de Lisboa" para as Reformas Económicas e Sociais

Oficialmente, a reunião na capital alemã visou sobretudo delinear uma estratégia comum contra os problemas económicos e sociais que afectam a Europa, dando um novo impulso aos objectivos estabelecidos pela "Agenda de Lisboa" , de alcançar , até 2010, o pleno emprego e que a economia comunitária se torne na mais dinâmica e competitiva a nível mundial . É esta estratégia que se explana numa carta de seis páginas dirigida à presidência irlandesa da União Europeia, ao presidente da Comissão Romano Prodi e aos restantes chefes de Estado e de Governo.

Para alcançar as ambiciosas metas de Lisboa é necessário, de acordo com o chanceler alemão, que se dê maior ênfase às políticas de investigação e desenvolvimento. O investimento europeu neste domínio ainda está distante do objectivo dos 3 por cento do PIB europeu, o que é insuficiente "para permitir as empresas europeias estar na vanguarda tecnológica". Por seu turno, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, defendeu a necessidade de reformar os sistemas de protecção social na UE "para que sejam sustentáveis a prazo", uma maior qualificação dos trabalhadores e uma "melhoria da competitividade das nossas empresas".

Ao iniciar a sua intervenção o presidente francês Jacques Chirac considerou ser "normal que os países que representam mais de 50 por cento do PIB da UE" se reunam para discutir em conjunto preocupações comuns". Efectivamente, os problemas domésticos com que se confrontam o Reino Unido, a Alemanha e a França são semelhantes e em todos está em curso um processo de reformas estruturais. Como analisava a edição de ontem do o "Financial Times" os líderes de Berlim , Londres e Paris partilham o objectivo de "inflectir a política europeia de acordo com as respectivas prioridades e num sentido que lhes permita marcar pontos em casa".

Questões mais "interessantes" em privado - Já sem jornalistas os líderes passaram as analisar os dossiers que mais interessavam a estes últimos: os "nomeáveis" para presidente da Comissão, o Iraque, o Afeganistão, o Médio Oriente, assim como novas relações euro-americanas e as perspectivas de adesão da Turquia.

A cimeira de ontem foi vista pelos comentadores como um sinal de que algo está a mudar na Europa e que a política de alianças está a ser reformulada. A edição de ontem do diário "Le Monde" citava Bernard Nivet, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas em Paris, que frisava que a carta dos seis "demonstra uma degradação do clima de confiança entre os membros do Conselho europeu". Este mal-estar pode traduzir-se na passagem do casal franco-alemão a uma relação de "poligamia" germano-franco-britânica , a qual se juntará possivelmente mais tarde , isto segundo a diplomacia alemã, a Polónia."



Acácio Barreiros


Adeus

Não fui às cerimónias fúnebres. Mas hoje vesti-me a preceito. É como se tivesse ido. Ele não me exigiria mais. Nunca privei com ele. Mas eram-mos velhos conhecidos. Fez com a sua participação cívica, tantas vezes, vibrar muitos de nós. Nunca concordei com a UDP. Mas com ele concordei muitas vezes. É a diferença entre uma causa e a representação de uma causa.

É a questão do protagonismo. Ele foi um protagonista. No país, para surpresa dos "10 grandes educadores da opinião pública", há milhares de protagonistas. Sempre houve. Gente com qualidade. Pouco conhecida e, a mor das vezes, não reconhecida.

O Acácio Barreiros foi um dos que, no seu tempo, se destacou. Ele representou, durante uns bons anos, muita dessa gente, a maioria da minoria. Por fim optou por uma carreira política. A sua voz quase desapareceu. Respeito a sua opção. O Acácio Barreiros fica para sempre na minha (nossa) memória.

quarta-feira, fevereiro 18

José Gomes Ferreira


"Viver sempre também cansa"
Descobri pelos meus apontamentos nos Cadernos de Camus a leitura entusiástica que, pelos meus 19/20 anos, fiz da poesia de José Gomes Ferreira. Aqui está a explicação, dada pelo próprio poeta, das circunstâncias em que surgiu o poema "Viver sempre também cansa" e de como, nesse momento, se afirmou a própria identidade do poeta. Esta é uma época muito marcada pela resistência comunista ao Estado Novo quando a ditadura vivia a sua primeira fase ainda antes da Constituição de 1933. A qualidade deste poeta e do seu trabalho ultrapassa, no entanto, as circunstâncias históricas da época em que iniciou a sua criação poética. Vale a pena revisitar este poeta e a sua poesia.

"Na noite de 8 de Maio de 1931, num segundo andar da Rua Marquês de Fronteira, encontrei, finalmente, a expressão autêntica do poeta autêntico, há tanto procurada. À terceira tentativa, para uma série de poesias que eu intitulava Poemas de Reincidência, escrevi dum jacto e quase sem emendas o poema 'Viver sempre também cansa'. Mostrei-o ao Carlos Queiroz, então meu amigo de todos os dias, que, sem me consultar (e se consultasse daria logo o meu consentimento, claro), o enviou a João Gaspar Simões. Pouco depois aparecia na Presença. E assim entrei no âmbito da chamada Poesia Modernista. A propósito, devo dizer que nunca fiz parte do grupo presencista. Como nunca pertenci a qualquer grupo saudosista . Ou à Seara Nova. voltemos à noite de 8 de Maio de 1931 e à poesia de 'Viver sempre também cansa', onde já havia - coisa insólita na época! - uma referência a Mussolini...Desde então senti que surgia em mim a expressão do poeta verdadeiro. E para marcar bem, para separar bem o novo do antigo poeta, acrescentei sub-repticiamente ao Gomes Ferreira, com que assinara os 'Lírios do Monte' e as duas edições de 'Longe', o meu nome próprio: José! Passei a bagatela, reputo eu de valor psicológico importantíssimo. E, assim, num novelo terrível de ganhar a vida com artigos diversos, crónicas anedóticas, contos e contecos, anúncios das cintas Pompadour, publicidade, traduções de fitas, etc., iniciei a minha carreira de poeta, a que mais tarde chamei de poeta militante."

Viver sempre também cansa!


Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda me
nina no meu colo..."

José Gomes Ferreira (1931)

terça-feira, fevereiro 17

A notícia mais importante do dia


Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa


Foi hoje apresentado, em livro, o estudo que se intitula "Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa", de Maria João Valente Rosa, Hugo de Seabra e Tiago Santos. O Estudo conclui que a imigração é necessária e os seus efeitos são positivos atenuando o envelhecimento demográfico. Os interessados no tema, lendo o estudo, aliás, muito completo e interessante, entenderão a complexidade do fenómeno da imigração e a sua importância no futuro do desenvolvimento económico e social do Portugal e da Europa.

A LUSA divulgou uma síntese do estudo de que reproduzimos alguns passos.

"Os imigrantes contribuíram em um quinto para o aumento da população em Portugal, mas para que se conseguisse travar o envelhecimento do país teriam de entrar a cada ano mais 161 mil estrangeiros.

O mesmo se aplica à manutenção do número de pessoas em idade activa por pessoa em idade idosa. Para que o número de pessoas em idade activa por pessoa idosa mantivesse níveis idênticos aos observados em 2001, seria necessário (...), de 2001 a 2021, um saldo migratório anual em Portugal de mais 188 mil efectivos", conclui também a autora.

... na última década (a imigração) contribuiu "para que houvesse um movimento de reequilíbrio dos dois sexos". Porque "sem as populações estrangeiras, o predomínio das mulheres teria aumentado em Portugal, ao invés de diminuir".

Impacto também no reforço do volume de efectivos nas idades activas (em especial as mais jovens), atenuando os níveis de envelhecimento (em especial no topo) da população.

Os imigrantes contribuíram igualmente para atenuar os desequilíbrios de povoamento, porque se inicialmente optaram por residir nas regiões da Grande Lisboa e Península de Setúbal, mais recentemente, principalmente os do leste europeu e do Brasil, dispersaram-se pelo país todo.

Ao estarem na sua maioria em idades férteis, contribuíram também para o aumento de nados-vivos, e pelo mesmo motivo apresentaram uma inferior contribuição no aumento de mortalidade.

Em síntese, resume a professora, embora as populações de nacionalidade estrangeira sejam demograficamente diversas e ainda representem uma magra fatia da população residente em Portugal (2,2 por cento, segundo o Censo de 2001), as suas interferências no sistema demográfico português já assumem alguma importância.
Sem elas os níveis de envelhecimento seriam mais significativos, os níveis de natalidade mais baixos e o volume da população inferior.

Esta questão, diz também o livro, é comum a toda a Europa. O continente poderá perder na primeira metade deste século importância demográfica, o que aliás já está a acontecer, passando de 22 por cento em 1950 para 12 por cento em 2000. Em 2050 poderá chegar aos sete por cento.

Perante esta realidade a imigração para os países da União Europeia é "uma componente essencial do crescimento demográfico", sendo que na segunda metade da década passada se observaram saldos migratórios positivos em todos os Estados-membros. Segundo o Eurostat este saldo foi, aliás, responsável por cerca de três quartos do crescimento da população da UE após 1999."

EUROPA-jogos perigosos


"UE
Bruxelas aconselha Lisboa a gastar mais nas pessoas e menos em auto-estradas

Portugal vai ter de reorientar os fundos estruturais comunitários de apoio ao seu desenvolvimento para o reforço da qualificação dos recursos humanos, investigação científica e inovação, de modo a diminuir o peso das estradas e auto-estradas nos financiamentos da União Europeia (UE)." Público

Portugal tem, à partida, assegurado um volume razoável de fundos comunitários para o período 2007/2013. A negociação vai ser longa e decorre até 2006. O resultado final permitirá ao governo, em véspera das eleições legislativas, se forem no prazo previsto, "cantar vitória". A lógica da aplicação dos fundos vai ter de mudar. Ironicamente trata-se da aplicação da chamada "Agenda de Lisboa", do tempo do anterior governo, o tal da "pesada herança". O financiamento comunitário cresce 212% para as chamadas "prioridades de Lisboa", ou seja, "Competitividade para o crescimento e emprego" abarcando: investigação, rede transeuropeia de transportes, educação e diálogo social). Estranhos termos! Desta forma Portugal vai beneficiar da "pesada herança" do anterior governo.

O resultado final das negociações permitirá que Portugal, entre os 15, continue a beneficiar do Fundo de Coesão, ao contrário da Espanha e da Irlanda, e que sejam criadas condições para que diversas regiões europeias, como Lisboa e Vale do Tejo, ainda beneficiem de apoios financeiros através da criação de um novo estatuto, enquanto os 10+2 novos países aderentes receberão metade dos recursos financeiros disponíveis totais.

O que não se compreende é o facto do governo de Portugal subscrever declarações políticas de fidelidade ao PEC, contrariando posições recentes, conjuntamente com dirigentes conservadores dos países do sul (Itália, Espanha e Portugal) +Polónia+Holanda+Estónia, num claro afrontamento ao núcleo duro da EU. Qual a vantagem, em concreto, de hostilizar a França? Trata-se de apoiar Aznar, em plena pré-campanha eleitoral, sendo que a Espanha corre o risco de perder o Fundo de Coesão? Trata-se de fazer a política dos EUA, fragilizando a EU, através da "ameaça" do isolamento da França? Não esqueçamos que a França é um dos pilares centrais da EU e corre o risco de perder muito no quadro comunitário de apoio 2007/2013...assim como os outros países contribuintes líquidos…

A hostilização e o isolamento político da França, ou de qualquer outro país central na EU, só pode reverter contra aqueles que agora jogam esses jogos perigosos ou, se forem longe demais, na criação de um cenário de crise explosiva na EU...e depois?

segunda-feira, fevereiro 16

A notícia mais importante do dia

"Pessimismo em Portugal está deslocado e sem fundamento, diz Constâncio


O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, afirmou esta segunda-feira que o pessimismo que se vive em Portugal "está deslocado e sem fundamento".
O economista, que intervinha num almoço com associados das câmaras de comércio Portugal-Holanda e Luso-Francesa, afastou a pertinência dos receios sobre a capacidade de crescimento e concorrência da economia portuguesa, particularmente acentuados após a entrada desta em tendência recessiva.
Argumentou, inclusive, que já estivera em "momentos bastante mais difíceis do que os actuais" ao longo da sua carreira pública.
Constâncio entende que se está a viver apenas a correcção "necessária e inevitável" de um crescimento forte da economia, alimentado por um endividamento igualmente forte.
Tendência que chegou ao seu limite e começou a proceder, de forma espontânea, à sua auto-correcção, acentuou, sublinhando estar convicto de que a retoma da economia portuguesa já começou." Lusa
Bem podem os responsáveis ao mais nível, como o Dr. Constâncio, puxar pela ideia de que a retoma da economia está aí a chegar! Que a crise actual é um simples processo de reajustamento! O pessimismo, o optimismo, o conformismo, o estado de espírito... resultam de uma gestão das expectativas. O governo anda há quase dois anos a fazer uma desastrosa gestão das expectativas. Tudo começou e continua com a política da "pesada herança". Depois temos o Dr. Cadilhe, o Dr. Santana Lopes, o Dr. Jardim, o Dr. Portas, a Dra. Celeste Cardona...O governo entrou naquela fase em que tudo parece complicar-se ao contrário da propaganda. Além disso não é capaz de se libertar da tentação de invocar a "pesada herança" à qual o Dr. Constâncio, por acaso, também pertence. O pessimismo, infelizmente, está muito bem colocado e tem fundamentos. Até um dia...

IMIGRAÇÃO-alguns indicadores


A imigração não é uma questão de opção ideológica, de modelo económico ou de estratégia política. É uma realidade objectiva que resulta do envelhecimento demográfico. O que não quer dizer que acerca desta realidade não se perfilem diversas opções ideológicas, económicas ou políticas. Este é um assunto, aliás, onde se exercitam as tendências populistas dos partidos ultraconservadores.

O EUROSTAT aponta para Portugal, em estimativa, uma população, em Janeiro de 2004, de 10.840.000, comparável com 10.408.000, em Janeiro de 2003. Observa-se um saldo demográfico positivo mas que se fica a dever à imigração.

Esse saldo é o resultado da relação entre o crescimento natural em 2003 (diferença entre o n.º de nascimento e o n.º de mortes) que foi de 0,9 p/ mil habitantes e a migração líquida (diferença entre o n.º de imigrantes e o n.º de emigrantes) que foi de 6,1 p/ mil habitantes.

É interessante assinalar que, em 2003, a média do crescimento total da população, na EU, foi de 3,4 p/mil habitantes. A Irlanda é o país que apresenta o crescimento da população mais elevado, com 15,3 p/ mil habitantes, seguido da Espanha (7,2) e de Portugal (6,9).

Os saldos demográficos positivos ficam a dever-se, em todos estes países, à imigração. A posição destacada da Irlanda explica-se pelo facto deste país apresentar um indicador de "crescimento natural" muito elevado (8,3 p/ mil habitantes) ao contrário de Portugal (0,9) e de Espanha (1,7).

A Irlanda é, aliás, o país da EU que apresenta indicadores de crescimento da população mais encorajadores para uma estratégia de desenvolvimento sustentada adoptando, ao mesmo tempo, políticas de imigração menos restritivas.

domingo, fevereiro 15

A notícia mais importante do dia


Operadoras têm de revelar dados


"A ministra da Justiça, Celeste Cardona, anunciou hoje que os operadores de comunicações vão ser obrigados a facultar às autoridades policiais informações transmitidas através da Internet que sejam "úteis para a perseguição de criminosos".

"Com este projecto de diploma, que o Ministério da Justiça já tem pronto, vai ser possível aceder, com todo o respeito pelos direitos, liberdades e garantias, às informações transmitidas através da Internet, através de suporte electrónico, e que sejam úteis para a perseguição de criminosos", disse hoje Celeste Cardona."

Compreendem-se os cuidados postos no anúncio. Mas ainda muito haverá por esclarecer acerca desta medida que surge num contexto em que os governantes estimam como populares as opções securitárias. A Comissão de Base de Dados já se pronunciou, se bem entendi, contra o princípio geral do fornecimento das comunicações transmitidas, via Internet, salvo no caso de tal fornecimento ser determinado por mandato judicial.

Ontem, em entrevista a Teresa de Sousa, publicada no Público Manuel Castells afirma "…os governos odeiam a Internet…Porque a Internet rompe o monopólio da comunicação e da informação sobre o qual esteve assente o poder ao longo da História….A Internet facilita o terrorismo, há que controlar o terrorismo, por conseguinte, há que controlar a Internet. É esta a imagem que querem fazer passar. …o fenómeno do terrorismo é muito importante mas é muito mais séria e mais grave a reacção histérica e interessada do Governo dos EUA e de outros governos, como o espanhol, ao problema. Os conservadores do mundo acreditam que encontraram uma forma de governar para sempre assustando a gente: a política do medo".

Concordo com Castells. O poder dos governos é posto em causa pela Internet. Mas é mais provável que a Internet vença os governos do que o contrário. Quanto aos criminosos é preciso persegui-los cumprindo a lei. Para isso basta que haja vontade política e leis justas que não ponham em causa a liberdade de comunicação e informação, essenciais ao funcionamento dos Estados Democráticos. Parece ser um pouco complicado técnicamente "abrir todas as cartas" que circulam no tempo da sociedade da informação. E haja quem nos assegure que os criminosos não tenham capacidade para manipular as decisões dos governos ou dos parlamentos. Basta ler os clássicos… Maquiavel, entre outros. Mais vale correr os riscos da liberdade do que usufruir dos "benefícios da segurança", sem liberdade. As tiranias não nascem "por obra e graça do espírito santo" mas pela acção de homens determinados e providenciais...


O QUE A MUSA ETERNA CANTA


Cesse de uma vez meu vão desejo
de que o poema sirva a todas as fomes.
Um jogador de futebol chegou mesmo a declarar:
"Tenho birra de que me chamem de intelectual,
sou um homem como todos os outros."
Ah, que sabedoria, como todos os outros,
a quem bastou descobrir:
letras eu quero é pra pedir emprego,
agradecer favores,
escrever meu nome completo.
O mais são as mal-traçadas linhas.

Adélia Prado

sábado, fevereiro 14

Cadernos de Camus - 8



O Caderno n.º 6, integrado, na edição portuguesa, no volume Cadernos III, respeita ao período que decorre entre Abril de 1948 e Março de 1951.
Os sublinhados desde caderno n.º 6 serão divididos em duas partes para efeitos de inserção nos Cadernos de Camus. Eis a primeira parte dos mesmos:

"Arte moderna. Encontram o objecto porque ignoram a natureza. Refazem a natureza e não lhes resta outro recurso porque a esqueceram. Quando esse trabalho estiver concluído, começarão os grandes anos."

""Sem uma liberdade ilimitada de imprensa, sem uma liberdade absoluta de reunião e de associação, o domínio de largas massas populares é inconcebível" (Rosa Luxemburgo - A Revolução Russa).""

""Salvador de Madariaga: "A Europa só recobrará os seus sentidos quando a palavra revolução evocar vergonha e não orgulho. Um país que se ufana da sua gloriosa revolução é tão fátuo e absurdo como um homem que se ufanasse da sua gloriosa apendicite."
Verdade num certo sentido, mas discutível.""

"Segundo Richelieu, os rebeldes, sendo em tudo iguais, são sempre menos fortes do que os defensores do sistema oficial. Por causa da má consciência."

""G. Greene: ...
Id. "Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos, o mundo é um caos, é-se levado ao desespero""
(Sublinhado parcial de um conjunto de citações de G. Green. No final escrevi: "Atenção")

"Peça. O Orgulho. O orgulho nasce no meio das trevas"

"Os artistas querem ser santos, não artistas. Eu não sou um santo. Queremos o consentimento universal e não o teremos. Então?"
(Escrevi "Poema José Gomes Ferreira" cuja Poesia I, de 1948, deveria andar a ler)

""Título da peça. A inquisição em Cádis. Epígrafe: "A Inquisição e a Sociedade são os dois grandes flagelos da verdade." Pascal""

"Dilaceração por ter aumentado a injustiça julgando-se servir a justiça. Reconhecê-lo pelo menos e descobrir então essa dilaceração maior: reconhecer que a justiça total não existe. Ao cabo da mais terrível revolta, reconhecer que não se é nada, isso é que é trágico."

"Gobineau: Não descendemos do macaco, mas aproximamo-nos dele a toda a velocidade."

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).










sexta-feira, fevereiro 13

POEMA ERÓTICO


Vai ter início, por estes dias, o festival de poesia erótica de Veneza. Aqui fica um modesto contributo. Uma palavra de saudação ao meu amigo VR, que tão bem as declama e tão vasto reportório apresenta, "em família", deste género de poesia a que se dedicaram grandes poetas universais, também portugueses e brasileiros, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade.


NÃO QUERO SER O ÚLTIMO A COMER-TE


Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde

em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde

a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,

para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.

Carlos Drummond de Andrade

Em O Amor Natural
Editora Record


A NOTÍCIA MAIS IMPORTANTE DO DIA


"Governo agrava combustíveis


O preço dos combustíveis volta a aumentar a partir de segunda-feira. Esta subida resulta de um novo agravamento do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (ISP) estabelecido numa portaria conjunta dos ministérios das Finanças e Economia, ontem publicada Diário da República, apenas dois meses após a última revisão, em 31 de Dezembro.

De acordo com aquela portaria, a carga fiscal sobre o gasóleo será agravada em 0,85 cêntimos, mais IVA, o que significa, na prática, uma subida de um cêntimo por litro. Já nas gasolinas o imposto sobe 0,60 cêntimos, ou sejam 12 tostões por litro.

As três maiores distribuidoras do mercado português - Galp, BP e Shell - já admitiram que estão a ponderar um aumento dos preços para os próximos dias, uma vez que esse é, dizem, o caminho lógico.

Os revendedores é que não conseguem encontrar lógica numa liberalização que resulta num sistemático aumento de preços. Em declarações ao DN, o presidente da Associação Nacional dos Revendedores de Combustíveis (Anarec) lembra que, desde 31 de Dezembro, o preço da gasolina já aumentou três escudos e vinte centavos por litro(...)" Diário de Notícias

O mercado, o sacrosanto mercado, em Portugal, não funciona como vem nos manuais de economia. Pensavam que isto é a América, ou quê? O mercado, por cá, é assim uma espécie de elevador que só tem um sentido - sobe, sobe...e não desce...Estranho é que se não ouça bulir uma voz do lado dos vários operadores de transportes, em tempos idos, tão buliçosos...