POEMA ERÓTICO
Vai ter início, por estes dias, o festival de poesia erótica de Veneza. Aqui fica um modesto contributo. Uma palavra de saudação ao meu amigo VR, que tão bem as declama e tão vasto reportório apresenta, "em família", deste género de poesia a que se dedicaram grandes poetas universais, também portugueses e brasileiros, como é o caso de Carlos Drummond de Andrade.
NÃO QUERO SER O ÚLTIMO A COMER-TE
Não quero ser o último a comer-te.
Se em tempo não ousei, agora é tarde.
Nem sopra a flama antiga nem beber-te
aplacaria sede que não arde
em minha boca seca de querer-te,
de desejar-te tanto e sem alarde,
fome que não sofria padecer-te
assim pasto de tantos, e eu covarde
a esperar que limpasses toda a gala
que por teu corpo e alma ainda resvala,
e chegasses, intata, renascida,
para travar comigo a luta extrema
que fizesse de toda a nossa vida
um chamejante, universal poema.
Carlos Drummond de Andrade
Em O Amor Natural
Editora Record
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