Memorial Che Guevara
Visitei Cuba, em família, na qualidade de turista. Ninguém pode negar que Cuba exerce um enorme fascínio sobre o chamado “povo de esquerda”, mesmo entre aqueles que já não acreditam, ou nunca acreditaram, nos ideais da “sociedade sem classes”.
Pela minha parte acredito que a liberdade política, a democracia, como regime da livre escolha dos governos pelos cidadãos, como dizia Churchill, “é a pior forma de governo imaginável à excepção de todas as outras”. Desculpem a aparente banalidade desta referência mas, por vezes, parece que alguns dos nossos mais próximos interlocutores perderam a noção do valor inestimável da liberdade relativizando essa conquista das sociedades onde nos acomodamos (mas isso é outro assunto!) valor que, do meu ponto de vista, é dos poucos que continuam a merecer uma boa luta.
Atravessando uma larga região de Cuba, de autocarro, para visitar, em Santa Clara, o memorial erguido ao Comandante Ernerto Che Guevara, um dos objectivos mais estimulantes da nossa visita, observo os campos e os camponeses que, ora, solitários, capinam as bermas da estrada, ora arroteiam a terra, com juntas de bois, ora se aglomeram na busca de transporte, ora se transportam a cavalo, ora carregam às costas cargas pesados; vejo os putos que oferecem aos passantes os frutos da terra, rebanhos incontroláveis caminhando na estrada e aquele casal, de boleia, que balouça, de pé, na caixa aberta da carrinha…
Dizem-me que há camponeses que ganham acima da média, através da venda das suas produções e que, no campo, a habitação é de melhor qualidade, mas o que os meus olhos observam é uma paisagem, quase sempre limpa e cuidada, na qual se entrecruzam processos de cultivo ancestrais com culturas intensivas, resultantes de parcerias com empresas privadas de outros países, como por exemplo, um extenso laranjal que abrange mais de 50 hectares envolvendo capitais chilenos.
Se o bloqueio, económico e político, dos USA é uma realidade que continua presente e que, historicamente, tem sido altamente constrangedora para o desenvolvimento económico e social de Cuba, não é menos verdade que o bloqueio é, hoje, somente parcial pois não existe, por exemplo, por parte da China, do Canadá, de Espanha e de outros países, que têm vindo a investir em Cuba em diversas áreas como na agricultura, na exploração do petróleo e do níquel ou no turismo.
O que quero dizer é que não existe, a meu ver, uma relação directa entre o bloqueio dos USA e a ausência de liberdade económica e política pois, além do mais, o bloqueio já não é o que era há umas décadas atrás. Nada me leva a acreditar que seja possível, ao regime vigente em Cuba, sobreviver económica e politicamente, sem uma abertura que tanto pode levar a uma ruptura, de consequências imprevisíveis, como a uma política de reformas que suavize os custos da mudança. Tudo depende, a meu ver, da visão dos mais jovens dirigentes políticos cubanos (que os há) e da futura administração americana que, espero, sendo democrata, encete um diálogo construtivo com o governo cubano. O povo cubano e o povo americano não são, na verdade, protagonistas desta “guerra-fria”, que persiste, mas, tão-somente, os seus dirigentes políticos.
Fiquei com a convicção profunda que o povo cubano deseja mudanças pacíficas e que vive na expectativa de que elas possam ocorrer. Gostei muito de visitar Cuba, de novo, e de me confrontar com os sorrisos e as vozes quentes do seu povo que merece que o destino lhe não seja adverso. Por fim visitamos o Memorial de Che Guevara. É uma obra digna que honra a memória de um visionário e aventureiro que morreu, de forma trágica, na defesa dos seus ideais. Nada pouco nos dias que correm ...
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