A Guerra Colonial, ou a Guerra de África, ou, simplesmente, a Guerra. Fiz tudo para ver o primeiro dos 18 documentário acerca da Guerra Colonial (foi sempre assim que a designei) de Joaquim Furtado. Por um acaso que nunca fui capaz de explicar não fui mobilizado para qualquer dos teatros da guerra colonial apesar de ter cumprido três anos de serviço militar obrigatório. Não tive, pois, oportunidade de conhecer ao vivo a realidade de África.
De qualquer maneira nunca poderia ter assistido aos primeiros acontecimentos da guerra colonial, passados em Angola, incluindo o 15 de março de 1961, cujos detalhes, na maior parte desconhecidos de quase todos, foram o tema forte deste primeiro documentário. Os massacres da UPA, de Holden Roberto, recentemente falecido, que presta um longo depoimento habilidoso, eivado de uma cobarde fuga às responsabilidades, e a impotência dos portugueses em organizar a resistência, são impressionantes.
Os depoimentos dos guerrilheiros da UPA que estiveram no terreno revelam, ao contrário do seu chefe, uma clareza expositiva e uma dignidade humana surpreendentes. O ataque da UPA estava anunciado, foi longamente preparado, a sua inevitabilidade foi reportada, por vários responsáveis, para Lisboa, mas Salazar, ao que tudo indica, estava manietado pela oposição interna ao próprio regime, apoiada pelos americanos, (Botelho Moniz), tardou em desfazer-se dela, perdeu tempo e, quando proferiu a célebre frase “
Para Angola, rapidamente e em Força” renunciou a uma solução negociada e, na verdade, selou o trágico destino do império colonial português.
Fiquei impressionado com a qualidade do trabalho de Joaquim Furtado. Os testemunhos pessoais obtidos são de um valor histórico, e humano, extraordinário; a isenção, política e ideológica, na abordagem de um acontecimento dramático na vida de povo português, e do povo angolano, é um exemplo de profissionalismo e de coragem cívica exemplares.
A montagem permite recriar os ambientes da guerra com seriedade narrativa e estética tornando apetecível um tema repugnante, confrontando os antigos combatentes, desvendando os antecedentes e revelando detalhes desconhecidos mesmo dos próprios protagonistas.
Impressionou-me a narrativa implícita no documentário expondo a fraqueza de Portugal como potência colonial. Como foi possível manter um impérios com pés de barro durante tanto tempo? Afinal não existia em Angola, nem em qualquer outra colónia, nem planos de contingência, nem forças policiais e militares revelantes, nem infraestruturas, nem armas, nem outro projecto que não o da pura exploração das riquezas naturais e da mão de obra barata, herdeira do esclavagismo.
Aqueles portugueses que trabalhavam nas regiões do interior de Angola ficaram, de um dia para o outro, abandonados à sua sorte. Eles, na sua esmagadora maioria, não eram nem fascistas nem colonialistas. Foram vítimas de uma política que, como dizia, onteontem, com aguda lucidez, num debate na RTP, o General Galvão de Melo, radica no atraso de um processo de descolonização que deveria ter começado logo após o fim da Segunda Grande Guerra.
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