quinta-feira, outubro 20

Paquistão - 49.739 mortos, 74.000 feridos e 3 milhões de desalojados


Fotografia do Pakistan Times

Reproduzo, no IR AO FUNDO E VOLTAR, na íntegra, o "despacho" da LUSA acerca da situação que persiste após o sismo no Paquistão.

Sismo: ONU vive "pior pesadelo logístico" de sempre no Paquistão

Segundo a ONU, cerca de três milhões de pessoas estão desalojadas desde o sismo que, de acordo com um balanço hoje divulgado pelo chefe de operações de auxílio, general Farooq Ahmad Khan, fez 49.739 mortos e 74.000 feridos.

"O sismo, que abalou três países, torna-se pior a cada dia que passa, à medida que surge a necessidade de auxílio", disse Egeland.

Espera-se ajuda, em particular, do "grande império do bem" a um dos países aliados mais importantes na guerra do Iraque!

WILMA O FURACÃO MAIS FORTE


A LER NO NEW YORK ON TIME

"Wilma é o furacão mais intenso já registrado no Atlântico, categoria cinco, a mais forte. Não se sabe ainda onde o olho do furacão vai bater em terra firme, mas todo o Caribe, de Cuba e a Flórida à costa do México e da América Central, está em alerta, com previsão de chuvas torrenciais.

Ao mesmo tempo, anuncia-se que este último mês de setembro foi o mais quente jamais registrado no planeta desde que as temperaturas começaram a ser medidas. Nos Estados Unidos, apesar dos furacões, este setembro foi o mais quente e mais seco jamais registrado."

quarta-feira, outubro 19

DE KENNEDY A SOARES


A Biography of John F. Kennedy: The 35th President of the United States

Esta era a campanha que me apetecia fazer. Apetece-nos muita coisa, não é? Mas, assim por assim, como vamos entrar, a sério, na pré-campanha presidencial em Portugal aviso a navegação que vou, sem compromissos de espécie nenhuma, em plena liberdade, apoiar a candidatura de Mário Soares.

Os amigos que estão a apoiar outras candidaturas não levem a mal algumas palavras, porventura, mais contundentes, desabrimentos variados, desabafos, “bocas”, mas isto de eleger um presidente não é brincadeira nenhuma.

Eu apoio o mais velho em nome dos valores mais jovens.

TURISMHOTEL


Lisboa – Fotografia de Angèle

A revista TURISMHOTEL do grupo Editel, dirigida ao trade turístico, na edição de Setembro, destaca, por sua iniciativa própria, o artigo “O Seu a Seu Dono”, publicado no “Semanário Económico”, disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Ao seu director Russo Cabrita, a quem não falta a memória, os meus agradecimentos e parabéns pela persistência na sua actividade editorial e qualidade das publicações que dirige.

O GRITO DO SILÊNCIO


Paula Rego – “Salazar”

“um povo corrompido que atinge a liberdade
tem a maior dificuldade em mantê-la”.

Maquiavel

Como te calas, poesia, longamente
deixando-me em silêncio dentro de ti.
Tenho esperado amargurado e triste
por um sinal que faças, despertando,
e nada vem dizer-me do que penso e vivo
na solidão do longe em tempo ou espaço,
onde a tua voz lembrava ou distinguia
memórias ou ideias que o vivido já
lançava como luz no não-vivido ainda,
ou no que dia a dia em terra nos transforma.
Eu sei porque te calas. Não é só
que os anos vão passando e nos despindo
de quanto se imagina ou vai julgando
que importa à ciência vácua de pesar-se
nessa balança de palavras tuas
o não pensado acerca de experiências
tão sem-valia no existir sem ti.
Ah não é só. Inquieta-te outra coisa
como um terror além da solidão.
Tu calas-te de angústia. Aquele país
em que nasceste, e sempre tu quiseste
como teu mundo, ainda que no mundo
sempre hás pensado mais que em mundo teu,
se despedaça: os gritos e estalidos
de um povo e um lar abrindo-se em chagas
de irreparáveis ódios e desastres
(quando tanto sonhas-te vê-los livres,
fraternamente em lutas por destinos
tão desde sempre merecidos na desgraça
de ser-se uma nação sempre dos outros),
atingem-te na face, nos ouvidos,
cobrem-te os olhos de visões sangrentas,
e cruzam na tua boca mãos diversas
que tão contrárias tudo calam. Como
hás-de falar da simples vida humana,
ou do viver-se só do amor perdido?
Mas como hás-de de cantar (cantaste outrora)
de uma revolta agora a desfazer-se
em lutas suicidas que condenas?
Mas que hás-de condenar que não pareça
traição aquilo mesmo que aguardavas?
E que aguardavas tu nessa ilusão
de que uma paz é quanto prevalece,
se se abrem de uma vez as portas todas
a mais que à liberdade, a quanto é fúria cega,
ou é sonhar-se negramente a vida
como revolução dos impossíveis?
Eu sei que não tens medo. Mas, perplexa,
recusas misturar-te a uma desordem
em que todos se perdem. Todavia,
é teu dever gritar além os gritos.
Ao menos grita o teu protesto agudo.
O grito do silêncio que te amarra.
A liberdade, a paz, a ordem necessária
a que um país resista ao próprio mal
que leva no seu sangue secular.
Grita por isso a voz do teu silêncio.
Não pela História que as nações inventam.
Mas pelo povo que se esquece inteiro
de que viver-se povo e ser-se povo é mais
que apenas desejar-se morte e sombras,
em nome seja do que for. Ah grita:
importa pouco se te escuta alguém,
no redemoinho tenso da surdez danada.
Porque há-de haver quem ouça, ainda há-de haver
quem ouça. E pouco a pouco pode ser
que o ter ouvido seja como as águas sobem,
cobrindo tudo num cansaço enorme
por essas mesmas águas consumido.
Que as águas venham límpidas, lavando
este veneno antigo do fascismo vil
que nos pensou desordem quando livres fôssemos.
Que as águas venham para a terra seca
em séculos de glória e mesquinhez,
e em décadas de medo e de vergonha.
Tão seca há-de bebê-las. E a verdura
virá de verde recobri-la toda
(como à maldade como somos duros
de tanto ter bebido sangue humano),
trazendo sobre si aquele mundo
em que mesmo dos ódios se construa a casa
para um só povo que dos ódios faça
o espaço e o tempo de existir tranquilo,
com toda a raiva de viver que sempre
fez que viver nos fosse sendo a vida.

Jorge de Sena

Santa Bárbara, 19/10/75
(aniversário de um dia sangrento da história portuguesa)

In “40 Anos de Servidão” “Poemas Políticos e Afins "
(1972-1977) - Moraes Editores


(Um longo poema, no dia do 30º aniversário em que foi
escrito, pois um espaço público destes que mais pode ser
senão para dar a conhecer o que é tão raro ter-se
disponível à mesa dos telejornais e das bancas dos jornais.
Além do mais é, para mim, uma gota de água transparente
na reconciliação com a história que, nos dias
em que foi dado à luz este poema, tão extremados
estavam os campos nos quais, afinal, haviam simplesmente
portugueses que, na sua maioria, lutavam para restaurar
a dignidade de um povo e de um país que tinham sido
humilhados, e se deixaram humilhar, quantas vezes,
pelo fascismo. Isso mesmo o fascismo de Salazar
cuja triste memória tantos, ainda hoje, tentam
empurrar para debaixo do tapete.)



terça-feira, outubro 18

PORTUGAL ENTRE OS MENOS CORRUPTOS


ACABOU DE "CAIR" O "DESPACHO" DA LUSA QUE, NA ÍNTEGRA, REPRODUZO. APÓS TER OUVIDO A NOTÍCIA DE QUE KATIA GUERREIRO - A MÉDICA FADISTA - VAI SER MANDATÁRIA DA JUVENTUDE DO FUTURO CANDIDATO PRESIDENCIAL, NÃO RESISTI A REPRODUZIR O DITO "DESPACHO" QUE NOS ANUNCIA QUE, AFINAL, AO CONTRÁRIO DE TODA A PROPAGANDA, OPINIÃO, DITO CORRENTE, CONVICÇÃO, CERTEZA, JURA E CONJECTURA, PORTUGAL ESTÁ ENTRE OS PAÍSES MENOS CORRUPTOS DO MUNDO. ORA BOLAS CAVACO! COMEÇO A ACHAR QUE O PAÍS, DE FACTO, NÃO PRECISA DE TI.


Corrupção: "Muito grave" em 70 países, Portugal entre os menos corruptos

Lisboa, 18 Out (Lusa) – Setenta países têm um "problema muito grave de corrupção", segundo o Índice 2005 de Percepção da Corrupção, hoje divulgado pela organização não-governamental Transparency International, que coloca Portugal entre os 30 países menos corruptos do mundo.


O índice, elaborado anualmente pela organização com base na avaliação da percepção de corrupção por empresários e analistas, aponta como mais corruptos de um conjunto de 159 países o Chade e o Bangladesh, que obtiveram 1,7 pontos numa escala de 10, em que o valor máximo corresponde ao menor grau de corrupção.

Portugal, o 26/o mais transparente, subiu um lugar em relação a 2004, obtendo este ano 6,5 pontos na avaliação feita por nove fontes, entre as quais o Fórum Económico Mundial e o Centro de Pesquisa dos Mercados Mundiais.

Os membros da União Europeia (UE) mais bem classificados são a Finlândia (2/o lugar), Dinamarca (4), Suécia (6), Áustria (10), Holanda e Reino Unido (11), Luxemburgo (13), Alemanha (16), França (18), Bélgica e Irlanda (19), Espanha (23) e Malta (25).

Portugal está atrás destes, mas classifica-se à frente de dois dos quinze países da UE pré-alargamento - Itália (40/o lugar) e Grécia (47) - e de nove dos dez novos membros - Estónia (27), Eslovénia (31), Chipre (37), Hungria (40) Lituânia (44), República Checa e Eslováquia (47), Letónia (51) e Polónia, o mais corrupto dos países europeus, que se classifica em 70/0 lugar.

Destes, merecem "nota negativa" (abaixo de cinco pontos) a Lituânia, a República Checa, a Grécia, a Eslováquia, a Letónia e a Polónia.

E quatro - Finlândia, Dinamarca, Suécia e Áustria - integram o grupo dos "dez mais" transparentes: Islândia, Finlândia, Nova Zelândia, Dinamarca, Singapura, Suécia, Suíça, Noruega, Austrália e Áustria.

Mais de dois terços dos países da lista têm nota negativa, mas os casos qualificados de "muito graves" pela organização são 70 e correspondem aos países que obtiveram menos de três pontos na avaliação feita.

Entre eles figuram, além de Moçambique e Angola, países como a Índia, a Argentina, a Rússia, a Indonésia, o Paquistão, o Afeganistão e o Iraque.

No fundo da lista estão o Bangladesh e o Chade, como uma nota de 1,7 pontos, seguindo-se o Haiti, Birmânia e Turquemenistão, com 1,8 pontos, a Costa do Marfim, Guiné Equatorial e Nigéria, com 1.9 pontos, e Angola, com 2 pontos.

Para a organização, o índice "testemunha o duplo fardo da corrupção e da pobreza carregado pelos países menos desenvolvidos do mundo": "A corrupção é a principal causa da pobreza e, ao mesmo tempo, o maior obstáculo à sua eliminação", disse Peter Eigen, presidente da Transparency International.

No comunicado que acompanha a divulgação do relatório, a organização refere que todos os 19 países que beneficiaram de perdões parciais da sua dívida ao abrigo da Iniciativa para os Países Altamente Endividados do FMI e do Banco Mundial, obtiveram uma pontuação de quatro ou menos pontos, que corresponde a "níveis graves ou muito graves de corrupção".

O texto refere, por outro lado, que se registaram "progressos assinaláveis" no último ano na Estónia, França, Hong Kong, Japão, Jordânia, Cazaquistão, Nigéria, Qatar, Taiwan e Turquia.

Em contrapartida, sofreram retrocessos ao nível da corrupção países como o Brasil, que passou do 59/o lugar em 2004 para o 62/o, Moçambique (do 90/o para o 97/o), Angola (do 133/o para o 151/o), e ainda Rússia, Costa Rica, Gabão, Nepal, Papuásia Nova-Guiné, Seicheles, Sri Lanka, Suriname, Trinidade e Tobago e Uruguai.


MDR.
Lusa/fim


(Os sublinhados são meus e as minhas desculpas pela imensidão do post mas já sei que a comunicação social vai tornar esta notícia, provavelmente, noutra notícia...).

CARLO E SOPFIA


Carlo Ponti e Sophia Loren (1966)

Uma imagem extraordinária de ternura (ou pura pose?) de duas figuras marcantes do cinema europeu de duas décadas. A ligação perfeita entre a capacidade de produzir e de seduzir!

Espanha - El inaplazable reto del "made in Spain"


Continuando a reflexão acerca da situação espanhola no âmbito da tecnologia, ciência e inovação, o "El País", de hoje, aprofunda o seu diagnóstico implacável.

"España es un 20% menos rica por la falta de inversión en I+DEl - conjunto de las empresas privadas 'tira' de la investigación mucho menos que la media de los países de la Unión Europea.

El salto adelante que propone el Gobierno sólo tendrá éxito si la empresa privada abandona su tibieza investigadora y acompaña a los poderes públicos en ese esfuerzo extraordinario. España precisa, desde luego, de una mayor y mejor financiación pública, pero, sobre todo, de una cultura empresarial de compromiso con la investigación aplicada.

El fútbol goza de mayor relevancia social en España que la ciência

La mayoría de los ejecutivos no ve en la Universidad un motor de desarrollo económico

La tibieza investigadora de la empresa privada obliga al sector público a cargar con el esfuerzo”.

Ler texto integral no IR AO FUNDO E VOLTAR.

segunda-feira, outubro 17

CORPO DE AROMA


Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como uma lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância, linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.

António Ramos Rosa

No dia do seu aniversário. Poeta maior
da língua portuguesa e da minha cidade
de Faro, por lembrança
de Pura Coincidência da qual “roubo” a
fotografia e mudo o poema,

In “Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa”
de Eugénio de Andrade. “Campo das Letras".

NADA CONSTA


Fotografia de Angelle

Falta-me a folha cinco
E entretanto a barba foi crescendo
a minha barba veio crescendo ferozmente
indiferente à morte de um ou outro amigo
às letras protestadas aos desgostos domésticos
às viagens lunares às convenções às lutas
Quando as coisas se erguem contra o homem
se eriçam agressivas contra ele
nem ao poeta basta o parapeito das palavras
Eu por exemplo homem de pouco tempo
trazido pelos dias aqui estou
Continuo a dizer: se alguma coisa há
que podias perder e ainda não perdeste
de que já a perdeste podes estar certo
Falta-me a folha cinco
Estou com a barba feita
Ainda este ano talvez em marienbad
eu vi mulheres curtidas pelos lutos
Mal de morte é o meu
em plena posição de pé às três da tarde
em meio do movimento do rossio
sentado à tarde no cinema em dias de semana
Já caem carnes já se perdem pêlos
já quase só me resta a devoção
lisboa certos dias um amigo às vezes
Poucas coisas importantes pensei durante a vida
uma mesa de sol em pleno inverno
um mar incontroverso alguns papéis
- continua a faltar-me a folha cinco -
pois apesar de tudo nada consta

Ruy Belo

"País Possível"
Editorial Presença

ESPANHA - "Se buscan 60.000 Científicos"


Observatorio de Roque de los Muchachos en la isla de La Palma.
(INSTITUTO DE ASTROFÍSICA DE CANARIAS)

Dou a conhecer um artigo, publicado no "El País", no qual se expoem as preocupações dos espanhóis acerca do seu atraso no plano tecnológico. É muito útil para comparar com os projectos portugueses na mesma área, aliás bandeira política do governo socialista, que se deverão espelhar no OE, para 2006, apresentado hoje mesmo.

"Ésa es la cifra (60.000) que calculan los expertos para permitir que España se suba al tren tecnológico. Mientras tanto, el crecimiento de la economía puede ser sólo un espejismo a medio plazo

La investigación científica se ha convertido en la palanca que marca diferencias en el crecimiento económico. Aunque el conocimiento y la información han sido siempre fuentes de riqueza y poder, nunca habían adquirido un papel tan relevante en el mercado. España se la juega en unos pocos años si quiere alcanzar el tren de la nueva economía.

España dedica a I+D la mitad que Francia y una tercera parte que EE UU. En 2000 registró poco más de 100 patentes, frente a las 6.000 de Alemania y las 15.000 de EE UU”.

(Texto integral do artigo no IR AO FUNDO E VOLTAR)

domingo, outubro 16

A TUA MÃO


Fotografia de Bogdan Jarocki

A tua mão é outra que não a mão
Com as rugas que reconheci
A tua mão louca
Na minha mão entrelaçada

A tua mão solta
Em minha mão determinada
Lhe reconheço as unhas
A tua mão na minha carne cravada

A tua mão fala
Soletra sons e alinhava palavras
Lhe reconheço a voz
A tua mão na minha reticulada

A tua mão vive
Curiosa audaz expedita
Lhe reconheço o toque no corpo
E me excita na minha mão pousada

Lisboa, 14 de Julho de 2005

COUPLE


Couple - In "Femmes fatales"

Que me desculpem os que gostam de futebol – com mil razões – mas este, sim, é o acontecimento mais importante para a humanidade.

BENFICA


Nuno Gomes

FCPorto-0 Benfica-2

Que me desculpem os que detestam o futebol – com mil razões – mas este, sim, é um acontecimento verdadeiramente importante!

sábado, outubro 15

ANTEVISÃO


“Olhar da Sofia” – Fotografia de Hélder Gonçalves

“Um povo corrompido que atinge a liberdade tem a maior dificuldade em mantê-la”.

Maquiavel

Epígrafe ao poema “O Grito do Silêncio” (19/10/75) de Jorge de Sena

Retribuição


Monica Bellucci

Ai como me tenho esquecido de retribuir aqueles que se não esqueceram do mim!

Em Dezembro farei uma revisão desta matéria e também das simpatias, citações e referências relevantes.

Para agora, em retribuição, linkei os seguintes blogs:

Aviso à Navegação

Mapa dos Dias

Diários do Inesperado

Ligeiramente Desfocado

O Cafajeste

Viagem

Inquietações

Bloco das Musas

ALI FARKA TOURÉ

IMAGENS DE MARROCOS

A Política Segue Dentro de Momentos


Nas palavras do inefável Espada, Cavaco tem dado mostras de um “notável sentido de equilíbrio” (in “Expresso”). Mas se alguém se der ao trabalho de analisar as datas dos diplomas que criaram os corpos especiais na administração pública, os institutos públicos, as empresas municipais, as bonificações da contagem do tempo de serviço, os sistemas de saúde especiais, e por aí adiante, verificará que ostentam, na sua maior parte, datas de 1985 a 1995.

Nesses dez anos Cavaco concretizou uma política de distribuição de rendimentos apoiado na abastança dos fundos da adesão plena de Portugal à UE (1985) que Soares viabilizou e a que ele, num primeiro momento, se opôs (lembram-se?).

Cavaco, ao contrário do que querem fazer crer os seus epígonos, foi um despesista. Ora o povo quanto mais se lhe dá mais exige. O príncipe perde o brilho com as mãos vazias face às clientelas que criou. Foi o que, em 1995, aconteceu a Cavaco.

Hoje, dez anos passados, Cavaco representa uma desvantagem para Sócrates pois não é fácil ao candidato apoiado pelo PS (Soares) defender o desmantelamento do sistema de privilégios que Cavaco propiciou a vastas clientelas dentro, e fora, da administração pública.

Cavaco vai surgir como o homem providencial que deu progresso ao país e um relativo bem-estar ao povo, com honestidade e competência. Mas Cavaco corre o risco de vir a ser apelidado de esquerdista, quer pela sua tendência irreprimível para interferir na acção do governo, quer pela necessidade de dar satisfação ao eleitorado, da extrema-direita à extrema-esquerda, que nele procurará refúgio para a “salvação” de privilégios em vias de extinção.

Soares vai surgir como o político que, em Portugal, é o expoente máximo da democracia e do europeísmo o que, convenhamos, não é nada pouco. Soares garantirá uma magistratura de influência aberta, fundada na experiência e na distância face às minudências da governação. Mas Soares corre o risco de não conseguir distanciar-se da imagem do “homem do regime” sobre o qual se avolumam as sombras de fim de época.

Tudo visto e ponderado, apesar da dramatização da campanha presidencial, até finais de 2008, seja qual for o futuro presidente, não haverá crise política a sério. A razão é simples: o Estado não terá, nos próximos anos, nada para distribuir que valha a maçada de uma crise política pura e dura.

A não ser que haja um golpe de estado constitucional! Pois se até Alberto João Jardim anunciou o seu apoio a Cavaco e Morais Sarmento, seu incondicional, afirmou ontem: “O Presidente deve sobrepor-se ao Governo”.

sexta-feira, outubro 14

... é a coerência.


Imagem In ph&-no

“ – Está certo de que o contágio é inevitável, de que o isolamento é recomendável? – Já não tenho a certeza de nada, mas tenho a certeza de que os cadáveres abandonados, a promiscuidade, etc., não são recomendáveis. As teorias podem mudar, mas há qualquer coisa que vale sempre e em todos os tempos, é a coerência.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

SYLVIE VARTAN


Sylvie Vartan – 1964

Lembra-me o primeiro vídeo a cores que vi. Foi na feira de Faro. Num caixote enorme luzia a figura e a voz de Sylvie Vartan… Depois do som das “caixas de discos” nascia o reino da imagem … a meus olhos um momento raro e deslumbrante … “Tous mes copains” …

quinta-feira, outubro 13

Amar é a arte de esquecer


in my solitude Fotografia de adelaide teles
in Olhares


Não sei que dizer e se me fiz entender
Se me dou a conhecer se me faço ler
E não sei sequer perdido nada de mim
Se me ouves as palavras que alinho
Não sei porque te escrevo e adivinho
Teus passos ouço o teu coração bater
Baixinho tuas falas de ti contigo
Nas ruas do bairro à beira postigo
Onde te confessas sem nada esconder
Sigo os pensamentos e não os sigo
Perdido por te perder não te persigo
Sei que amar é a arte de esquecer.

Azenhas do Mar, 24 de Julho de 2005

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS - OS COMENTÁRIOS


Fotografia in Algo … Análogo …

Curioso fenómeno o dos comentários aos resultados das eleições autárquicas: nunca são referidos os resultados!

Os dirigentes do PS comportam-se como derrotados, tendo sido vencedores; os dirigentes do PSD como vencedores, tendo sido derrotados; o PSD “esconde” a aliança com o CDS/PP; o CDP/PP esconde-se por detrás dessa aliança.

Texto integral em IR AO FUNDO E VOLTAR

HAROLD PINTER


Harold Pinter - Nobel da Literatura 2005. Desta vez fiquei contente.

Veja mais informação acerca de Harold Pinter aqui

Site do Nobel da Literatura atribuído a Harold Pinter

PAULETA


Pauleta, no jogo de ontem com a Letónia, último da fase de apuramento para a final do Campeonato Mundial de Futebol, a disputar na Alemanha, em Junho de 2006, bateu o record de golos de Eusébio, que durava desde 1973.

Marcando dois golos, na vitória de Portugal (3-0), Pauleta, que joga em França, no PSG, alcançou 42 golos ao serviço da equipa nacional portuguesa, tornando-se o maior goleador português de todos os tempos a nível de selecção.

Um feito que vai perdurar, certamente, durante uma geração.

(Além do mais nasceu em 28 de Abril pelo que comemoramos o aniversário no mesmo dia - parabéns!)

quarta-feira, outubro 12

Confissão ...


Mónica Bellucci

“Não posso viver fora da beleza. É o que me torna fraco diante de certos seres.”

Albert Camus


Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

A Direita Perdeu as Eleições Autárquicas - 2005


Fotografia in PELA LENTE

Deixo aqui as conclusões de uma reflexão acerca dos resultados finais das eleições autárquicas de 2005 já disponibilizados pelo STAPE.

A sua versão integral pode ser lida no IR AO FUNDO E VOLTAR.

1 - A direita (e não o PSD), em 2005, é maioritária em número de Presidências de Câmara, como já o era em 2001, mas perde expressão em votos, mandatos, percentagem e Presidentes de Câmara.

2- O PS recua ligeiramente, em número de Presidências de Câmara, face a 2001, mas melhora os seus resultados, em votos, mandatos e percentagem.

3- A esquerda no seu conjunto, cresce eleitoralmente, em todos os itens, face a 2001, sendo maioritária excepto em número de Presidências de Câmara.

4 - Nestas eleições autárquicas, comparadas com as de 2001, a direita perdeu expressão eleitoral e, em contrapartida, a esquerda ganhou.

5 - As notícias em contrário são manifestamente falsas!

(Se alguém se der ao trabalho de conferir os números e algum estiver errado diga qualquer coisa.)

EUSÉBIO


Eusébio no Mundial de 1966 em Inglaterra

Eusébio da Silva Ferreira é o maior jogador do futebol português de sempre.

É ele o detentor do record de golos marcados ao serviço da selecção nacional de futebol.

Curiosamente hoje Portugal disputa, contra a Letónia, no Porto, o último jogo da fase de apuramento para o Campeonato do Mundo a realizar na Alemanha no próximo ano e Pauleta, neste jogo, pode igualar ou ultrapassar o record de 41 golos marcados por Eusébio.

Por outro lado o próximo campeonato do mundo realiza-se, exactamente, 40 anos após o de 1966, em Inglaterra, em que Eusébio alcançou o máximo de notoriedade e do qual ficou célebre a fotografia que escolhi para este post.

Faço, assim, questão de assinalar a data em que a selecção nacional de futebol se qualifica para a fase final do mundial de futebol. Porque é um acontecimento relevante para o desporto nacional e também para a projecção da imagem de Portugal no mundo.

Eusébio bem merece assistir a este feito e, mais do que isso, deveria a Federação Portuguesa de Futebol encontrar uma fórmula de associar Eusébio à campanha que decorre deste este dia até à final do Campeonato do Mundo no qual Portugal pode aspirar a alcançar um lugar cimeiro.

terça-feira, outubro 11

"MORREU DOM FUAS, ..."


Fotografia daqui

Morreu Dom Fuas, gato meu sete anos,
pomposo, realengo, solene, quase inacessível,
na sua elegância desdenhosa de angorá gigante,
cendrado e branco, de opulento pêlo,
e cauda com pluma de elmo legendário.

Contudo, às suas horas, e quando acontecia
que parava em casa mais que por comer
ou visitar-nos condescentemente como
a duquesa de Guermantes recebendo Swann,
tinha instantes de ternura toda abraços,
que logo interrompia retornando
aos seus paços de império, ao seu olhar ducal.

Nunca reconheceu nenhuma outra existência
de gato que não ele nesta casa. Os mais
todos se retiravam para que ele passasse
ou para que ele comesse, eles ficando
ao longe contemplando a majestade
que jamais miou para pedir que fosse.

Andava adoentado, encrenca sobre encrenca,
e via-se no corpo e no opulento pêlo,
como no ar da cabeça quanta humilhação
o sofrimento impunha a tanto orgulho imenso.
Por fim, foi internado americanamente,
no hospital do veterinário. E lá,
por notícia telefónica, sozinho, solitário,
como qualquer humano aqui, sabemos que morreu.

A única diferença, e é melhor assim,
em tão terror ambiente de ser-se o animal que morre
foi não vê-lo mais. Porque ou nós morremos,
como dantes se morria em público,
a família toda, ou toda a corte à volta, ou
é melhor que se não veja no rosto de qualquer
- mesmo ou sobretudo no de um gato que era tão orgulho em vida -
não só a marca desse morrer sozinho de que se morre sempre
mesmo que o mundo inteiro faça companhia,
mas de outra solidão tecnocrata, higiénica
que nos suprime transformados em
amável voz profissional de uma secretária solícita.

Dom Fuas, tu morreste. Não direi
que a terra te seja leve, porque é mais que certo
não teres sequer ter tido o privilégio
de dormir para sempre na terra que escavavas
com arte cuidadosa para nela pôres
as fezes de existir que tão bem tapavas,
como gato educado e nobre natural.
Nestes anos de tanta morte à minha volta,
também a tua conta. Nenhum mais
terá o teu nome como outros tantos gatos
antes de ti foram já Dom Fuas.

18/12/77

Jorge de Sena

X – Dois “Poemas Só Pessoais” (1977-1978)
in “40 Anos de Servidão”, (2ª edição revista)
Morais Editores

sabor a sal


Fragmento de uma obra-prima de Margarida Delgado em sabor a sal

segunda-feira, outubro 10

Autárquicas - uma manipulação e uma "vitória moral"


“Trás os Montes” - Fotografia de Hélder Gonçalves

A SIC continua a passar a informação de que, nestas eleições autárquicas, “o PS sofreu a pior derrota dos últimos vinte anos”. O rodapé na “SIC Notícias” faz gala desta afirmação e esta ideia foi passada diversas vezes, ontem, dizendo-se que o PS, nestas eleições, tinha regredido ao nível dos resultados das autárquicas de 1985.

Eis uma manipulação grosseira da verdade com a finalidade de valorizar o resultado do PSD e humilhar publicamente o resultado do PS. Pretende-se dar a imagem de uma vitória esmagadora da direita que, de facto, não corresponde à verdade dos números.

É uma manipulação que medra no esquecimento e que permite passar mentiras descaradas por verdades incontestadas. Nem dá para entender como os dirigentes do PS não desmontaram logo na hora tais notícias.

Em 1985 o PS obteve 1.330.388 votos, correspondendo a 27,4%, tendo conquistado 79 Presidências de Câmara. O PSD, nesse ano, obteve 1.649.560 votos, 34%, correspondendo a 149 Presidências. O CDS, 471.838 votos, 9,7%, 27 Presidências e o PCP 942.197 votos, 19,4%, 47 Presidências.

É óbvio que a situação política é, hoje, muito diferente daquela que ocorria vinte anos atrás mas é notório que o PS, nestas eleições, obteve resultados muito superiores aos de 1985. Logo não podem as eleições de 1985 servir como baliza para contar os tais 20 anos. Senão vejamos.

Nas presentes eleições de 2005, o PS obterá entre 108 e 109 Presidências de Câmaras e o PSD, sozinho e em coligação com o CSDS/PP, obterá entre 159 e 160 Presidências (faltando apurar o resultado em um só concelho).

Em 1985, o somatório do PSD e do CDS valeu a estes partidos 176 Presidências de Câmara, ou seja, um número bastante superior aquele que obterão nas presentes eleições.

Se quiséssemos fazer comparações, entre 1985 e 2005, o PS obtém hoje mais Presidências e a direita (PSD+CDS) menos, comparativamente com as eleições de há vinte anos, pelo que a direita sai a perder no cotejo com o PS (sempre sozinho pois, em 85, não havia sequer a coligação de esquerda na Câmara de Lisboa).

Quanto muito poder-se-iam tomar como referência as eleições de 1989 em que o PS ganhou 116 Presidências de Câmara e o conjunto do PSD e do CDS, 133. Então os tais 20 anos ficavam reduzidos a 16.

Mas o mais honesto é fazer a comparação com os resultados das eleições autárquicas de 2001 e tomados estes verificar-se-á um ligeiro recuo do PS (108 a 109 Presidências, em 2005, para 111 em 2001) e, da mesma forma, um ligeiro recuo do número de Presidências para o PSD/PP (159 a 160, em 2005, para 162 em 2001).

Ora vejam como o avanço da direita é nulo nestas eleições autárquicas, face aos resultados de 2001, o que transforma a sua vitória numa verdadeira “vitória moral”. Os grandes números, reais, falam por si … as expectativas são outra coisa.

(Dados Oficiais do STAPE)

A Última Ceia


Uma paródia à vida política nacional em época de eleições!
(Clique em cima da imagem para ampliar).

O sol nas noites e o luar nos dias


Salvador Dalí (1904 - 1989) - Figura en la Ventana 1925
Por sugestão de um comentário de Aguarelas de Turner

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Natália Correia

Poesia Completa
Publicações Dom Quixote -1999

Autárquicas - 2005


Faro - "Arco da Vila"

Os resultados conhecidos, a esta hora, das eleições autárquicas confirmam o que era previsível.

O PSD ganhou, como seria de esperar, consolidando, no essencial, as posições conquistadas em 2001, tendo ganho ainda algumas autarquias relevantes, que estavam nas mãos do PS, como é o caso de Aveiro.

O PS, no governo, com as despesas de uma política de austeridade, nunca poderia recuperar terreno face à derrota de 2001. Poderia aspirar, quanto muito, a não perder muitas posições. A sua política de "gestão de danos" foi bem sucedida.

Os chamados independentes “arguidos”, com excepção de Amarante, ganharam. Pela minha parte recuso-me a aceitar que a vitória destes candidatos “rebeldes” seja uma derrota da democracia pois nenhum deles, salvo o que perdeu, está condenado pela justiça e nada os poderia impedir de se candidatarem e, como aconteceu em três casos, serem eleitos.

O PCP ganhou posições, em votos, Câmaras e mandatos capitalizando o descontentamento face à política de austeridade do governo. O BE, na mesma onda, ganhou pelo efeito conjugado da maior cobertura nacional das candidaturas apresentadas e pelo crescimento eleitoral nos grandes centros urbanos.

E, já agora, confirmou-se a vitória do PS em Faro para contentamento do meu bairrismo. Daí a ilustração deste post.

Seja qual for o resultado final global, a esta hora ainda não conhecido, o mais importante é que haja respeito pela decisão dos eleitores e que cada directório partidário retire do veredicto das urnas as devidas lições. Com perspicácia, pertinência e proporcionalidade.

Quanto à atitude política a tomar face a eleições democráticas remeto para o que escrevi em “Reflexão Final”.

domingo, outubro 9

Mais que tudo o mar


Sofia Areal Sem Título/2002 [Mixed on Canvas]

Mais que tudo o mar
me fala dos homens
de ti,

Meteste o pé na água
molhaste o teu corpo

Mais que tudo o mar
que te arrepia a pele
eu vi,

E o teu olhar aflito me
toma desejado absorto

Mais que tudo o mar
o azul além do tempo
infinito,

O olhar breve fugaz
grita um grito aflito

Mais que tudo amar
Mais que tudo o mar
bendito,


Faro, 14 de Julho de 2004

FREEDOM


Freedom Fotografia de Zoe Wiseman in XUPACABRAS

Veja aqui as últimas sondagens, referentes às eleições autárquicas, em Faro, Oeiras, Sintra, Porto e Lisboa e os respectivos comentários.

A única certeza é a vitória do PS em Faro. Tanto quanto podem haver certezas a partir de sondagens. A normalidade deverá voltar à minha cidade. Ficarei feliz se assim for.

Aqui pode seguir a evolução dos resultados do escrutínio real destas eleições a partir da hora do fecho das urnas.

sábado, outubro 8

"Curioso ideal..."


Imagem In ph&-no

“Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

ANTIGA DOR


Paula Rego - A Janela (Looking Out) - 1997

O subtil, o reflexo, o vago, o indefinido,
Tudo o que o nosso olhar só vê por um momento,
Tudo o que fica na Distância diluído,
Como num coração a voz do sentimento.
Tudo o que vive no lugar onde termina
Um amor, uma luz, uma canção, um grito,
A última onda duma fonte cristalina,
A última nebulosa etérea do Infinito...
Esse país aonde tudo principia
A ser névoa, a ser sombra ou vaga claridade,
Onde a noite se muda em clara luz do dia,
Onde o amor começa a ser uma saudade;
O longínquo lugar aonde o que é real
Principia a ser sonho, esperança, ilusão;
O lugar onde nasce a aurora do Ideal
E aonde a luz começa a ser escuridão...
A última fronteira, o último horizonte,
Onde a Essência aparece e a Forma terminou...
O sítio onde se muda a natureza inteira
Nessa infinita Luz que a mim me deslumbrou!...
O indefinido, a sombra, a nuvem, o apagado,
O limite da luz, o termo dum amor
Tornou o meu olhar saudoso e magoado,
Na minha vida foi minha primeira dor...
Mas hoje, que o segredo oculto da Existência,
Num momento de luz, o soube desvendar,
Depois que pude ver das Cousas a essência
E a sua eterna luz chegou ao meu olhar,
Meu infinito amor é a Alma universal,
Essa nuvem primeira, essa sombra d’outrora...
O Bem que tenho hoje é o meu antigo Mal,
A minha antiga noite é hoje a minha aurora!...

Teixeira de Pascoais

sexta-feira, outubro 7

Reflexão Final


Fotografia de Bogdan Jarocki

O meu tio Ventura, noutros tempos, foi regedor. Lembro-me de discutir política com ele. No tempo da ditadura. As minhas ideias deviam soar-lhe a utopias sem raízes na terra seca que cultivava. As dele soavam-me ao velho mundo que, para mim, estava para sucumbir. Não sabia a data, nem o modo, mas estava para acabar. Eu, na verdade, não sabia nada da vida. Mas tinha convicções fortes e ele gostava de me ouvir. Eu, pelo meu lado, gostava de o ouvir a ele.

Mesmo hoje, nos seus mais de 90 anos, gosto do seu discurso enérgico. Com ele compreendi que somos, sempre, ao mesmo tempo, derrotados e vencedores. Nunca definitivamente derrotados, nem nunca definitivamente vencedores. Aprendi que é possível um radicalismo tolerante. Ou uma tolerância radical. Ser-mos absolutamente contra, aceitando as diferenças. Exigir aos outros que nos aceitem e exigir, a nós próprios, a aceitação dos outros. Sempre, toda a vida, sem quebras nem desfalecimentos.

Por isso compreendo que, nas eleições democráticas, todos os concorrentes se declarem vencedores mesmo que tenham sido vencidos. Todos compreendemos que é um jogo. Com ele os homens evitam degladiar-se através da violência física. As eleições democráticas são um ritual de tolerância mesmo quando as vozes se elevam mais alto e estalam as recriminações. Mesmo quando são eleitos aqueles que julgamos desmerecer do voto popular.

Apesar de ter votado tantas vezes (todas) sinto orgulho na democracia portuguesa e um prazer especial no dia das eleições e no acto de votar. Sinto-me constrangido ao ler tanta abjecção intelectual, tanta intolerância, face às imperfeições do homem – candidatos e eleitores – que se revelam, abertamente, na disputa democrática. Os críticos, descrentes, abstinentes, ausentes e presentes, não se observam a si próprios?

Eu sempre votei como se fosse colocar uma flor aos pés de um corpo perfeito de mulher.

"God told me to invade Iraq"


“The Independent” on line revela que ele falou com Deus. O mundo está, de facto, nas mãos de um fanático religioso que se chama George Bush. Pode ser tudo uma montagem para mostrar um louco ao comando da única super potência e, assim, desacreditar a sua política. Mas são demasiadas coincidências …

"Bush: God told me to invade Iraq - President 'revealed reasons for war in private meeting'

President George Bush has claimed he was told by God to invade Iraq and attack Osama bin Laden's stronghold of Afghanistan as part of a divine mission to bring peace to the Middle East, security for Israel, and a state for the Palestinians.


The President made the assertion during his first meeting with Palestinian leaders in June 2003, according to a BBC series which will be broadcast this month."

Bem vistas as coisas ...


Fotografia in “on Namah Shivaya”

”Bem vistas as coisas, se fizermos uma análise sincera da contestação social às medidas anunciadas, e concretizadas, pelo governo socialista, muitas corporações sentir-se-iam bem mais confortáveis com um governo de direita.”

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo que subscrevo com os título e "entrada" em epígrafe.

quinta-feira, outubro 6

Lisboa e Porto/Últimas Sondagens


Fotografia de José Marafona

As sondagens mais recentes, para as eleições autárquicas, em Lisboa e Porto, dão vantagem à direita. Com algumas curiosidades. No Porto, tomando sempre como referência as sondagens da U. Católica (para mim, as mais credíveis), a coligação PSD/PP desce 12 pontos entre Julho e Outubro e o PS sobe 7 pontos, no mesmo período. A diferença, na sondagem mais recente, cifra-se em 7 pontos. Vejam os comentários... .

Em Lisboa a diferença, entre PSD e PS, cifra-se nos 5 pontos, favoráveis ao PSD. Aqui, entre Julho e Outubro, o PSD mantém a mesma pontuação (36) e o PS desce 10 pontos. Mas é necessário levar em conta, em qualquer caso, o enorme peso dos indecisos.

A minha expectativa é que, no Porto, o PS se vai aproximar do PSD, até ao fim, podendo acontecer uma surpresa. Em Lisboa, apesar da diferença actual, entre PSD e PS, ser menor do que no Porto, será mais difícil ao PS captar o voto dos indecisos.

Em qualquer caso ninguém deve contar com vitórias antecipadas. Em Lisboa e Porto a direita tem mais hipóteses de ganhar mas o PS pode “marcar no último minuto”. Ninguém vai ficar de pernas cruzadas …

Actualização - as mais recentes sondagens da Intercampos (presenciais) mostram uma subida do PS em Lisboa e no Porto. Se os seus resultados colassem á realidade, o que duvido, significaria um volte face, ou seja, aquele golo do PS no último minuto.

Ver no Margens de erro.

O Poeta em Lisboa


BB - 1956

Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.

Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.

Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.

Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.

Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.

Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.

Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos.
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.

António José Forte

Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Parceria A.M. Pereira
Livraria Editora, Lda.

Judith and Holofernes


Francesco Furini - Judith and Holofernes -1636 [Oil on canvas, 116 x 151 cm Galleria Nazionale d'Arte Antica, Rome]

Obra que me ocorre divulgar após passar, por breves instantes, pelos debates televisivos entre candidatos às eleições autárquicas, sem prejuízo da beleza intrínseca da pintura que muito aprecio.

Nos debates está a avaliar-se o quê? A obra realizada? Como? Quais os critérios e os termos de comparação para afirmar que este candidato é mais capaz do que aquele. E a propaganda: os cartazes, as palavras de ordem, os formatos, a imagem física dos candidatos, os suportes utilizados? (após um circuito pela zona rural do concelho de Sintra).

Nas campanhas eleitorais não se exigem prodígios na arte de debater no lugar do puro confronto, nem exposições de arte no lugar da propaganda. Mas que diabo, um pouco mais de decência e de bom gosto sempre ajudavam a prestigiar a nobre arte da política.

quarta-feira, outubro 5

UMA LÁGRIMA


Lágrima de Cláudia Perenzalez

uma lágrima
não minha
mas dela
caída
no recado
da despedida

as mãos
me escaparam
de seu corpo
distante
que esquecera
e procurara
tarde de mais

a lágrima secara

In “ Ir pela sua mão”
Editora Ausência - 2003

REPÚBLICA


Imagem e texto in “O Portal da História”

A CONSTITUIÇÃO DE 1911

Texto constitucional aprovado, após largo debate, em 21 de Agosto de 1911, pela Assembleia Nacional Constituinte, eleita por sufrágio directo, em consequência da revolução republicana de Outubro de 1910.

A República foi proclamada em Lisboa em 5 de Outubro de 1910. Desse mesmo dia data a organização do Governo Provisório, que, dispondo dos mais largos poderes, se ocupou da administração do País e foi presidida por Teófilo Braga. A Assembleia Constituinte reuniu-se, pela primeira vez, em 19 de Junho de 1911; sancionou a revolução republicana, e veio a eleger uma comissão encarregada de elaborar o projecto-base do novo texto constitucional.

Foram apresentados à Assembleia textos como o de Teófilo Braga. Basílio Teles publicou também umas bases de Constituição. A discussão que precedeu a aprovação da Constituição foi, bastante larga, incidindo principalmente sobre o problema do presidencialismo, orientação que foi rejeitada, e sobre a questão da existência de uma ou duas Câmaras.

Veja aqui uma breve história da República (1910 a 1926)

"O que ilumina o mundo ..."


EXPO (Lisboa) - Fotografia de “Sombra de Prata”
in Olhares

“O que ilumina o mundo e o torna suportável é o habitual sentimento que temos dos nossos laços com ele – mais particularmente do que nos liga aos seres. As relações com os seres ajudam-nos sempre a continuar porque pressupõem desenvolvimentos, um futuro – e também porque vivemos como se a nossa única tarefa fosse precisamente o manter relações com os seres.

Mas nos dias em que nos tornamos conscientes de que não é a nossa única tarefa, sobretudo nos dias em que compreendemos que só a nossa vontade conserva esses seres ligados a nós – deixem de escrever ou de falar, isolem-se e verão como eles fundem em vosso redor – verão como a maioria está na realidade de costas voltadas (não por malícia, mas por indiferença) e que o resto conserva sempre a possibilidade de se interessar por outra coisa, quando imaginamos desta forma tudo quanto entra de contingente, de jogo das circunstâncias no que costuma chamar-se um amor ou uma amizade, então o mundo regressa à sua noite e nós a esse grande frio de que a ternura humana por um momento nos tinha afastado.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

EMPATES


Isaltino e Seara à frente, respectivamente, em Oeiras e Sintra, em todas as sondagens mas por diferenças mínimas. Sendo assim estamos perante empates técnicos nas disputas eleitorais entre Isaltino Morais e Teresa Zambujo e Fernando Seara e João Soares. Tudo pode acontecer!

terça-feira, outubro 4

JANIS


JANIS JOPLIN - 19 de Janeiro de 1943 - 4 de Outubro de 1970.

"O Dia do Tempo"


“Correrias da minha infância” – Fotografia de Hélder Gonçalves

O meu filho (14 anos) acabou de ler ontem, quase de um só fôlego, as 800 páginas de “Eldest”, de Christopher Paolini. Boa leitura? Má leitura? Foi escolha dele, leitura dele, prazer dele. Cada um toma as leituras que quer. As leituras não se medem aos palmos mas eu nunca li, de um só fôlego, (ou quase), um livro de 800 páginas.

O mais extraordinário é que ele lê nos intervalos de uma parafernália tremenda de mensagens, imagens e sons. É interessante como a leitura exige, como sempre, recolhimento. Os saberes estratificam-se no silêncio e, ao mesmo tempo, na trepidação de uma cascata de interesses contraditórios.

Nesta estrada, repleta de encruzilhadas, as leituras impostas pela escola são uma espécie de violentação da liberdade de escolha: ele nunca escolheria Camões (“Os Lusíadas”) ou Gil Vicente (“O Auto da Barca do Inferno” e o “O Auto da Índia”). São as leituras “chatas” que, no caso de Gil Vicente, quase sei de cor. Sorte dele.

Os desejos e as obrigações exigem um balanceamento difícil das nossas disponibilidades. Em todas as idades e condições. Na maioria dos casos um balanceamento impossível. É essa a raiz de um dos dramas maiores da nossa sociedade: e escola e suas taxas avassaladoras de insucesso e abandono escolar.

É preciso tempo (em todos os sentidos) para ganhar disponibilidade e nunca há tempo para nada mesmo quando não se tem nada para fazer. É esta uma marca terrível do nosso tempo. Devia ser criado o “dia do tempo”.

Desconhecida


Marilyn Monroe

“Agora que sabe o seu preço, sente-se frustrado. A condição da posse é a ignorância. Até mesmo na ordem física: só possuímos bem a desconhecida.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).