Natal à chuva. Uma raridade a sul onde me habituei a ver brilhar o sol em todas as estações. Uma nota pessoal para assinalar que, neste Natal, ao cimo das escadas, da casa/loja/oficina onde vivi tantos anos, havia uma surpresa: uma foto grande de meu irmão e, ao lado, uma placa reproduzindo o post que intitulei
“O meu irmão Dimas (morreu)”.
Uma comovente surpresa. Na placa foi omitida a palavra “morreu” pois, de facto, ele não morreu.
Aliás assinalei a sua morte física, a 25 de Fevereiro passado, com um post no qual, explicitamente, a não refiro. As ruas da minha cidade de Faro, batidas pela chuva miúda e fustigadas pelo frio, não escondiam a tristeza dos lugares abandonados à sua sorte. Ninguém cuidou de preservar a nobreza do centro da cidade. Os poderes públicos desertaram da sua função e as gentes desertaram do seu lugar de eleição.
Muito o meu irmão se preocupava com esta outra morte. Ele foi daqueles comerciantes, de sucesso, que não desertou para o “Centro Comercial” dos arrabaldes mantendo-se firme na Rua de Santo António, o “Centro Histórico”, comercial e cultural, da cidade.
Sei que muito o entristecia esse crime sem castigo, repetido, em nome do progresso, em muitas cidades do país e a que ninguém põe cobro. A celebrada política das cidades não é, em Portugal, mais do que um slogan que, infelizmente, não é para levar a sério.
Mas o negócio não perdeu brilho, nem bom gosto, nem qualidade e, ao fim de muito trabalho persistente, a cidade haverá de reconquistar a nobreza do seu centro e ele renascerá. Apesar de se não encontrarem sinais de “Faro, Capital da Cultura – 2005”.