quinta-feira, maio 15

HUMBERTO DELGADO (II)


Voltando à biografia de Humberto Delgado e à conferência de imprensa do Café Chave de Ouro. Para que se fique com uma imagem mais clara acerca da dureza da campanha eleitoral que Delgado protagonizou e da sua coragem pessoal e politica.

Um dos temas fortes foi o do americanismo do candidato que era utilizado pelo regime para o atacar. A uma pergunta de Manuel Rolão, correspondente do jornal Juventud de Madrid solicitando um comentário de Delgado acerca do facto de um artigo do New York Times o apresentar como “partidário dos Estados Unidos” (resposta cortada pela censura):

“ – Traduttore traditore. O que se queria dizer é que sou amigo dos americanos. É diferente. Não me fica mal. Portugal tem, aliás, tropas estrangeiras no seu território, o que acho muito bem. Em 1917, portugueses e norte americanos combateram lado a lado em França. Durante a segunda Guerra Mundial, Portugal concedeu bases aos Estados Unidos nos Açores. Somos, assim, dois países ligados por uma antiga e sólida amizade. É, portanto, natural, que um candidato à Presidência da República Portuguesa seja amigo dos Estados Unidos.”

Mas o correspondente do Juventud de Madrid não ficou satisfeito e voltou à carga perguntando se o NYT tinha razões para definir o candidato como “partizan of USA”. Irritado, Humberto Delgado respondeu “com uma expressão que ecoou na sala” e que “todos julgaram ter ouvido” da seguinte forma:

“Não faça perguntas idiotas!”

Nessa altura, o espanhol Adolfo Lizon, representante do jornal falangista ABC, saltou em defesa do seu colega, “a protestar com palavras desabridas” por ter sido cometida uma injúria contra um profissional da imprensa”:

“Você não pode insultar um jornalista!”

Esta tirada era uma clara provocação para que o candidato perdesse a compostura, mas não surtiu o efeito pretendido. Humberto Delgado respondeu-lhe:

“Você é estrebaria. Eu sou General e tenho nome.”

Foi um dos momentos mais tensos da conferência de imprensa. (…) O mesmo jornalista ainda perguntou nessa altura:

“Gostaria que o Sr. General me dissesse se isto é uma conferência de imprensa ou um meeting.”

Humberto Delgado respondeu:

“Isto chama-se o que o senhor quiser chamar-lhe, embora constitua uma reunião para troca de perguntas e respostas concretas, entre mim e os jornalistas. Se não tem outra pergunta a fazer, então cale-se!”

Mas Adolfo Lizon não se calou:

“Então todos os que estão à sua volta, na mesa, não são políticos?

Humberto Delgado, “com veemência e severidade”, mandou-o de novo calar:

“O Senhor já fez duas perguntas. Já acabou!”

[Transcrição de “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”. Omiti as notas que remetem para as fontes, em regra, provas censuradas da imprensa da época. Continua.]
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CHINA

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quarta-feira, maio 14

CARLOS MINC

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PEDIR DESCULPA

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CHINA - UMA TRAGÉDIA

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NA IMINÊNCIA DE UMA CRISE MUNDIAL


A Europa e o mundo vivem sob o espectro de uma crise financeira, energética e alimentar. Três choques, em simultâneo, que põem em risco o equilíbrio em que assenta o mundo do pós guerra. Os chamados países emergentes, com a China à cabeça, estão no centro da crise. Esses países passaram de sociedades miseráveis a sociedades de consumo. A China é como uma fogueira gigante que consome crescentes recursos que afluem de todo o mundo e, ao mesmo tempo, alimenta outras fogueiras que, de igual modo, consomem mais do que a humanidade é capaz de produzir. Entramos numa nova fase da vida das nações que exigirá mudanças profundas também nas estruturas das instituições internacionais. A questão: como gerir essas mudanças sem guerra?

[Do meu diário - 7/5/2008]
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terça-feira, maio 13

DEZ ANOS DE UNIÃO MONETÁRIA


Teodora Cardoso, no Jornal de Negócios, conduz-nos a um documento no qual se faz o balanço e se apontam os desafios resultantes de dez anos de União Monetária. Aqui deixo a parte final do artigo que nos introduz, de forma didáctica, à matéria, apontando-nos o link para o documento original.

A perspectiva do documento é sobretudo a de avaliar os desafios futuros, o que não deixa de exigir que se analise criticamente o passado. No caso da economia portuguesa, as questões que se mantêm relevantes para o futuro referem-se, em primeiro lugar, à necessidade de encarar, séria e estavelmente, o compromisso de equilíbrio das finanças públicas e de adaptar, onde necessário, os preceitos institucionais que as regem. As enormes diferenças registadas nesta matéria entre Portugal e Espanha não deixam dúvidas quanto ao facto de ela constituir uma condição necessária da desejada convergência real da economia, um conceito que obviamente só faz sentido no médio/longo prazo.
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A segunda questão-chave diz respeito ao emprego e às condições para o seu crescimento estável. A análise quantificada da evolução das duas economias ibéricas identifica o comportamento do emprego como o factor com a maior contribuição para os diferentes desempenhos em termos de crescimento económico, face a evoluções semelhantes em matéria de produtividade. Esta será inquestionavelmente uma variável fundamental na evolução futura, mas Portugal tem de adaptar as instituições do mercado do trabalho, não só com vista a garantir o maior crescimento, mas também condições de equidade e de estímulo à formação e ao ajustamento ao novo enquadramento internacional.
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Os aspectos mais relevantes do documento agora publicado pela Comissão Europeia são os que respeitam à forma como a Zona Euro deve preparar-se para vencer os desafios que defronta. Estes resultam, por um lado, do fraco crescimento do produto potencial e das incertezas que daí decorrem para a manutenção do bem-estar dos cidadãos e, por outro, da necessidade de proteger eficazmente os interesses da Zona Euro no contexto da economia global.
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Dois conjuntos de recomendações são especialmente importantes nestas áreas: (i) as que se referem à necessidade de coordenação das reformas estruturais, no seio da própria Zona Euro; e (ii) as que respeitam à consolidação da representação da Zona nos fora internacionais relevantes. Resta esperar que as propostas agora avançadas tenham a sequência apropriada.
1* http://ec.europa.eu/economy_finance/emu10/emu10report_en.pdf – successes and challenges after ten years of Economic and Monetary Union, disponível “online”.
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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE (III)

Fotografia daqui

Escrevo acerca de alguns episódios da campanha interna do PSD sempre com algum atraso. É para me certificar acerca da autenticidade das notícias. A propaganda está enfeitada de truques e, na política, a imagem destronou a mensagem.

Não aceito, em circunstância alguma, o estigma da idade para diminuir um candidato ou um simples cidadão. A vida é para viver até ao fim, em pleno, no exercício livre de todos os direitos cívicos e políticos. Os 67 anos de Manuela Ferreira Leite não a diminuem no cotejo com os 50 e poucos de Santana nem com os 40 e picos de Passos Coelho. Acho até que a idade beneficia Ferreira Leite na disputa partidária e ainda mais a beneficiará na disputa eleitoral a nível nacional.

O país ganhará com um líder da oposição experimentado e, neste caso, líder/mulher, que sabemos fundamentar a sua acção no ideário social-democrata, afastado das pulsões populistas que avassalam a direita europeia. Por este lado estamos conversados.

Quanto à imagem física a minha posição ainda é mais radical. É repugnante centrar qualquer crítica, ou tomada de posição, seja explícita, ou subliminar, fundada na tipologia física de um candidato, seja lá qual for o grau da nossa antipatia para com as suas ideias.

Para os incautos é bom que pensem duas vezes e sustenham os seus impulsos de abordagem gerontológica e/ou caracteriológica de Manuela Ferreira Leite. Porque esse é o caminho clássico, e perigoso, da ideologia e propaganda fascistas. Por isso mesmo é que me atenho, na crítica à candidatura de Manuela Ferreira Leite, às questões da ética na acção política.
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PETRÓLEO

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segunda-feira, maio 12

FUTEBOL - A SELECÇÃO NACIONAL


A notícia do dia é a convocatória de Scolari apesar das convocatórias de Scolari já terem deixado de ser notícia. Dizem que são demasiado previsíveis. E são. Mesmo assim desta vez deixou de fora Maniche e Caneira e convocou Postiga, vá lá saber-se porquê, e Jorge Ribeiro, Moutinho e Miguel Veloso (aplausos!). O tema é pouco estimulante para uma parte dos meus amigos que me encontram neste espaço. Mas tenham paciência que este tema me apaixona.

Somos um país pequeno e pobre com um futebol pequeno e pobre. O facto é fácil de reconhecer para quem acompanha estas coisas nas notícias de todos os dias. Mas a selecção nacional, por contraste, é grande e rica pois é feita à base de emigrantes que, na sua maioria, também eram pequenos e pobres antes de emigrarem. O futebol – gostemos ou não - tem este sortilégio muito especial. É democrático. Expõe à vista de todos a ascensão social de jovens que à força do seu talento, e muito trabalho, alcançaram o sucesso. Expõe à sociedade as virtudes da simbiose entre o individualismo e o colectivismo. É um jogo complexo de gestos técnicos moldados pelo pensamento intuitivo. Um por todos, todos por um.

A beleza da força em movimento - a entrada de cabeça de Ronaldo naquele jogo recente - e a força da beleza dos gestos nobres - o golo que o jogador do Desportivo da Corunha se recusou a marcar na baliza do Levante quando os seus jogadores pararam em protesto. É um negócio com espectáculo dentro. Um jogo jogado, salvo o guarda-redes, com os pés, o corpo e a cabeça, as partes mais inábeis para alcançar o fim em vista. E, mais do que tudo, o futebol é imprevisível nos resultados, ao contrário das eleições em ditadura.

Não acredito já no Sr. Scolari. Acomodou-se, ganhou ar de burocrata, parece displicente e obrigado pela família ao sacrifício de ficar por cá. Mas acredito que as selecções, como as nações, precisam da energia criadora dos seus melhores para vencer. Sei que os jogadores que Scolari, inevitavelmente, seleccionou são dos melhores do mundo. E foi ele, honra seja feita, que criou a mística da selecção que até pode empatar ou perder mas nunca perde a esperança de dar a volta por cima.

O povo de um país pequeno e pobre pode, hoje, dar-se ao luxo de acreditar que pode ganhar sempre. Dizem os puristas que é alienação. Seja! Mas os adversários, hoje em dia, temem-nos e dá-me gozo ver jogar a selecção!
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CHINA

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domingo, maio 11

INATEL - ALBUFEIRA

Não conhecia os desenvolvimentos que esta notícia revela, acerca do património do INATEL de Albufeira, que são posteriores à minha saída daquela organização. Para quem não saiba fui presidente da direcção do INATEL entre 21 de Fevereiro de 1996 e 4 de Fevereiro de 2003. Neste período o património do INATEL, que é de natureza pública, foi muito cobiçado, em particular, o de Albufeira. Denunciei publicamente, em tempo oportuno, as tentativas de apropriação ilegítima de que foi alvo. Verifico que tiveram lugar, após a minha exoneração, novas acções destinadas a retirar ao INATEL, através de expropriação, a posse de parte do seu património mais valioso. Acerca deste assunto quero dizer duas coisas: gastei muito tempo, e energias, na luta pela defesa do património a que se refere esta notícia não por razões corporativas mas por razões de direito e da garantia da sua continuidade ao serviço dos fins públicos a que se destina, no contexto da organização a que está afecto; por outro lado, esta notícia ajuda-me a compreender melhor as razões da minha exoneração pelo Dr. Bagão Félix e, em consequência, a verdadeira natureza dos processos que me foram movidos. O tempo é implacável para com os vendilhões do templo e ajuda os justos, sendo persistentes, na revelação da verdade e obtenção da justiça.
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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE (II)


A candidata Manuela Ferreira Leite desdobra-se em declarações tentando passar uma ideia salvífica da sua futura acção na presidência do PSD ideia na qual, valha a verdade, ninguém acredita. Diz que não vai fazer promessas não se dando conta da promessa que faz. Que devia ser proibido aos políticos anunciar baixas de impostos, mas propõe a revisão do IMI que, neste momento, impõe «encargos demasiados elevados» às famílias, mas, mais interessante, desculpem a insistência, dá sucessivos sinais de uma duvidosa concepção de ética na acção política. Neste caso mistura, premeditadamente, o tema da educação, e do desemprego dos jovens licenciados, com um tema da política nacional de sarjeta (estão a ver o tema abordado no debate nas eleições legislativas!):
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FARENSE

Farense 1970
(Clique na Imagem para ampliar)

O Sporting Clube Farense o clube do meu coração, um pequeno clube de província, afastado da ribalta, subiu ontem à 3ª Divisão Nacional. Que viva e organizem-se!
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sábado, maio 10

HUMBERTO DELGADO (I)


Tenho dedicado parte do meu tempo à leitura da Biografia de Humberto Delgado, escrita pelo seu neto Frederico Delgado Rosa. Na verdade é uma obra notável não só pela descrição pormenorizada da vida e obra de alguém que, tendo sido um indefectível apoiante de Salazar até cerca da 2ª grande guerra, o desafiou numa luta, que havia de ser de vida ou morte, como por ter sido escrita por um seu familiar confirmando a incúria dos poderes públicos, em Portugal, em honrar os mais elementares compromissos na defesa da verdade histórica, fazendo justiça aos seus maiores.

Passam hoje, exactamente, 50 anos sobre o dia em que teve início a campanha presidencial de Humberto Delgado: 10 de Maio de 1958. Respigo algumas passagens da conferência de imprensa inaugural da campanha no antigo Café Chave de Ouro, em Lisboa. As respostas do General, desde a mais conhecida a outras, são notáveis ainda para mais se atentarmos ao contexto político da época em que foram proferidas.

“Dez horas são dez horas!”Cultor da pontualidade, Humberto Delgado tomou o seu lugar na mesa de honra.

Não foi preciso muito tempo para saber o que tinha Humberto Delgado a dizer quanto às suas intenções a respeito de Oliveira Salazar. Com efeito, essa pergunta delicada, perigosa e mais ansiada que todas, foi logo a primeira a ser colocada, pela boca do correspondente em Lisboa da agência France-Presse desde 1948, o jornalista Lindorfe Pinto Basto. (…)

“Sr. General, se for eleito Presidente da República, que fará do Dr. Presidente do Conselho?”

Cortando cerce o silêncio de sepulcro que se instalou no vasto salão de chá, Humberto Delgado proferiu firme e secamente estas palavras que tomando toda a gente de surpresa e de assalto, incluindo os seus mais próximos correligionários, ficaram para a posteridade e são uma das frases mais célebres e mais citadas da história contemporânea de Portugal:

“Obviamente demito-o!”*

*(… )“no entanto o jornalista Lindorfe Pinto Basto afirmaria, passados muitos anos, que a resposta de Humberto Delgado foi: “Demito-o, é óbvio!” (…)
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QUESTÕES DE HIGIENE

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sexta-feira, maio 9

ANIVERSÁRIO



Não omito nada do meu gostar
nem o sobressalto de descobrir um dia
que não queria nada do que quis.
Ofereço o tempo futuro todo
à descoberta da arte de transformar
amando o desconhecido ou quase que é
afinal o que é amar.
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In Primeiros Poemas, Dez 2007.

[No dia do Aniversário de minha mulher Guida.]
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AGOSTINHO ROSETA

(Jantar de Extinção do MES - 7 de Novembro de 1981)
“A virtude é meritória, hoje. Os grandes sacrifícios não são continuados. Os mártires são esquecidos. Eles erguem-se. As pessoas olham-nos. Uma vez tombados, os jornais continuam.”
Albert Camus - in Cadernos

[No dia do 13º Aniversário da morte do Agostinho Roseta]
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CAPITULAÇÃO DO REICH

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CLARIFICAÇÃO OU IMPLOSÃO


Não sei porquê a campanha para a liderança do PSD parece um bocado mortiça mas admito que o jogo de bastidores esteja ao rubro. Cheira-me que Jardim ainda pode avançar. A lógica seria a da balcanização total. Jardim, Santana, Manuela, Passos, Patinha e Neto Lda. Perdidos por um … o Jardim ainda pode ganhar! Pelo andar da carruagem, com o provável adiamento do Congresso, para finais de Junho, só em Setembro teremos oposição ao governo. Mesmo assim será necessário que do Congresso resulte uma clarificação e não uma implosão. Em ambos os casos a realidade emergente pode tomar diversas cambiantes na qualidade e no tempo. Já agora espero que não se lembrem de marcar o Congresso para dias de jogos de Portugal na fase final do Europeu de Futebol. Deixo aqui o calendário do europeu. É que, por incrível que pareça, as datas coincidem mesmo.
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quinta-feira, maio 8

FUTEBOL - SUAS DESGRAÇAS E LIÇÕES


"Lo que sé acerca de la moral y de las obligaciones de los hombres se lo debo al fútbol". Esta opinión de Albert Camus, Nobel de literatura, fue tomada a chanza por un deporte que en el que se aplaude la pillería y no se acostumbra a censurar la marrullería. Ayer en Riazor, el fútbol no desdijo al escritor francés. Los jugadores del Levante, ya descendido, saltaron al campo vistiendo camisetas con lemas reivindicativos. "Solución o dimisión. Queremos cobrar, ya". La protesta fue jaleada con gritos de ánimo por la grada, que entiende la situación desesperada de una plantilla que lleva dos años sin llevar a casa la soldada y sopesa plantarse la próxima jornada.

Todo parecía escrito en el guión. El Levante, con cinco canteranos y dos juveniles en la convocatoria, se presentaba como el rival más asequible para que el Depor prolongase una racha de seis victorias consecutivas que le permitan disputar el próximo año la UEFA. Señaló el árbitro el inicio del partido. Bodipo tocó la pelota para Sergio, pero los jugadores levantinos continuaron abrazados a orillas del círculo central. Sergio condujo el balón hasta el área del rival. Llegó solo, sin ningún contrario que le hiciese sombra. El centrocampista catalán volvió la cabeza y cuando se enfrentó a la portería vacía, decidió tirar la pelota fuera. En vez de una sonora pitada, la afición premió el gesto con una calurosa ovación por parte de la afición y de sus compañeros. Albert Camus ganaba por un gol a cero.
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L'irrésistible poussée de la droite en Europe

Harry Gruyaert1994. Alfama
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quarta-feira, maio 7

ALÍPIO RIBEIRO

Alípio Ribeiro

Nos bancos dos jardins, nos corredores das repartições, nas mesas dos cafés, nos transportes públicos, através de conversas ao telemóvel ou de mensagens electrónicas, seres imbuídos de uma poderosa intuição política, muito louvada no Portugal democrático, falam de tudo e mais alguma coisa. Esta introdução não permite caracterizar os portugueses como seres diferentes dos restantes. Com mais ou menos sofisticação de meios, mais ou menos liberdade cidadã e política, aqui, e em toda a parte, os seres emitem opiniões, elaboram juízos, julgam, lavram sentenças, condenam inocentes, absolvem criminosos, investigam, denunciam, louvam e condecoram, enfim, emitem opinião. Os responsáveis políticos eleitos e os dirigentes da administração, aos vários níveis, também são cidadãos e, como tal, livres de emitir opinião. Algumas escolas de gestão apontam mesmo como um benefício para a transparência e o desempenho da administração a liberdade de criação de canais de comunicação através dos quais os responsáveis políticos, eleitos ou não, tornem públicas as suas opiniões pessoais mesmo tratando-se de matérias sobre as quais incida a sua própria responsabilidade profissional. Tal processo carece, está bem de ver, do estabelecimento de regras. A mesquinhez de muitas apreciações da opinião pública, a mor das vezes anónimas, transmitidas sob a forma de boato, acerca das decisões, e da vida pessoal dos políticos, assim como dos dirigentes da administração, tantas vezes ampliadas pela comunicação social, não encontrará espaço para o contraditório se não for possível a criação de canais de comunicação onde esses mesmos responsáveis, dando a cara, expliquem o sentido das suas decisões, defendam as suas opções e ripostem às criticas e aos ataques dos seus detractores. Isto vale para todos seja qual for a sua cor política ou textura ideológica. Tudo isto vem a despropósito do ainda Director da Polícia Judiciária. Assim que o dito veio a público lançar uma ideia, que parece possuída de toda a lógica, se abateram sobre ele raios e coriscos. As corporações revolveram-se em indignadas proclamações como se tivesse sido dita alguma indignidade. O ainda director da Polícia Judiciária, que não conheço pessoalmente, tem um problema, do qual não se consegue desembaraçar: é um homem probo, culto e sensível. Disse publicamente o que pensava dando a cara. Vai embora e o mais certo é que nunca mais faça ouvir a sua voz em defesa das suas ideias e opiniões. Fez-me lembrar um anterior Director daquela mesma polícia que, ao que dizem, fazia passar mais do que duvidosas ideias e opiniões, através de conversas sigilosas, com jornalistas do género conversa de café. Ah, portugueses, essa memória!
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OBAMA

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terça-feira, maio 6

UM CASO PARA INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DAS "CIÊNCIAS OCULTAS"


Estou farto de perguntar a ver se alguém, desde políticos, gestores ou taxistas, me consegue explicar esse mistério de nunca ter sido construída a linha de metro para o Aeroporto da Portela. Ainda por cima é uma linha recta desde, por exemplo, o Areeiro. Confesso que nunca ninguém me conseguiu dar uma explicação cabal para o caso.

Mas também nunca ninguém – ao longo de decénios - fez muita questão em tornar esta extraordinária omissão numa reivindicação. Estranho, não é? É um caso de estudo na área das “ciências ocultas” ou dos silêncios mórbidos que rodeiam a gestão das cidades.

E os responsáveis políticos pela gestão da cidade - e do país – ameaçam prosseguir no caminho das opções inexplicáveis, à luz do bom senso, encerrando Santa Apolónia (estação ferroviária terminal) agora que o metro, a muito custo, acaba de lá chegar. Isto é caso de polícia ou de doença! É um daqueles casos em que vale a pena os cidadãos meterem-se em trabalhos para acabar com a macacada!
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JIMI HENDRIX

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segunda-feira, maio 5

Yoani Sánchez

O El País dá relevo ao caso de Yoani Sánchez como um teste à vontade de abertura política do regime cubano.
Tenho acompanhado com atenção a evolução política recente em Cuba. Visitei Cuba em 1976, antes da abertura ao negócio turístico, e, recentemente, como vulgar turista, tendo-me sido permitido falar com cidadãos que manifestavam de forma aberta, mas parcimoniosa, a necessidade urgente de uma abertura, pelo menos, no plano da economia. A expectativa do povo cubano numa evolução pacífica do regime é a nota dominante. É fácil reconhecer que se assiste ao início de um processo de mudança sob a liderança de Raul Castro.
Recentemente um conhecido dissidente do regime que vive em Cuba – em entrevista ao Público – afirmou que estava a ser possível realizar aquela entrevista, via telefone, sem interferências (que disse serem recorrentes) e referiu uma diferença profunda entre a personalidade de Fidel e de seu irmão Raul.
Acredito que estejamos, de facto, a assistir a um processo de abertura que muitos, no entanto, relativizam considerando tratar-se, simplesmente, da reposição da situação anterior a 1989 quando o regime tomou – após a queda do muro de Berlim – um conjunto de medidas excepcionais, e ainda mais gravosas para o povo cubano, no acesso a bens de consumo e ao exercício da cidadania.
As medidas de abertura sucessivamente anunciadas e, nalguns casos, já iniciadas são um sinal de esperança na viabilidade da transição pacífica para um modelo económico de abertura ao mercado – no caso trata-se, verdadeiramente, de criar um mercado que não existe – sendo mais difícil vislumbrar a viabilidade de uma transição pacífica para a democracia política.
É neste terreno que se coloca a questão de Yoani Sánchez. A autorização para a sua viajem a Madrid, para receber um prémio que lhe foi atribuído, como autora de um blogue seria, aparentemente, uma pequena concessão do regime cubano à vontade de uma cidadã cubana corajosa mas, caso se concretizasse, um grande passo no caminho da liberdade.

O BLOGUE DE LUIZ CARVALHO

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A ÉTICA SEGUNDO MANUELA FERREIRA LEITE

O mês de Maio vai ser pródigo em política espectáculo lá para as bandas do PSD mesmo que alguns dos artistas – através de um truque já conhecido – afirmem não actuar em palco. Nesta campanha para a liderança do PSD, ainda antes de se saber se Jardim arromba as portas do circo, há uma candidata que é "vendida" como sendo portadora de “superioridade moral” sobre os restantes. Mas para começo de conversa – pois eu próprio posso dar umas achegas – já mostrou a qualidade do seu conceito de ética em política. Olhem só para o diálogo final da entrevista que concedeu ao Expresso.

Quanto pensa gastar na campanha?
O mínimo possível. Não vou ter cartazes, não vou ter almoços, não vou ter jantares.

Passos Coelho tem cartazes muito apelativos.
Quando se tem dinheiro é assim...

Podemos terminar a entrevista com meia dúzia de perguntas-relâmpago?
Não, não pode. Recuso terminantemente. Numa entrevista séria não se pode acabar com perguntas de algibeira. Isto não é um concurso para ganhar prémios no fim.
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FRANCISCO M. RODRIGUES (CONT.)

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domingo, maio 4

sexta-feira, maio 2

JANIS JOPLIN

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“The show must go on”.


Eu não acredito na infalibilidade das sondagens. Elas fazem parte do jogo político. Estão por dentro e não por fora desse jogo. Esta surge num momento crítico para o PSD. O drama que ela confirma é o da erosão política da direita. Mesmo Cavaco sofre por ter pactuado com o estatuto de inimputável de Jardim. Só pode ser essa a explicação para a queda abrupta da sua popularidade.

O PSD corre o sério risco de entrar num beco sem saída. A sua implosão deixou de ser uma hipótese académica. As eleições directas para a presidência do partido podem agravar as divisões internas, aprofundando a crise de representação política da direita. Pois ninguém pense que o PS – como alguns vaticinam – se possa tornar numa espécie de Partido Institucional.

Realisticamente é possível conceber a sobrevivência do PSD, transitoriamente sob a direcção de Manuela Ferreira Leite, numa lógica de contenção de danos face às eleições de 2009, com o sacrifício da sua ala populista? Uma espécie de regresso ao PSD cavaquista?

Como pode Manuela Ferreira Leite credibilizar um programa, e um discurso político, alternativos ao PS de Sócrates sob o peso da coincidência das mesmas propostas programáticas? As desvantagens de Sócrates não são capitalizáveis por Manuela. As desvantagens de Manuela são capitalizáveis por Sócrates.

É um círculo vicioso, estrategicamente vantajoso para o PS, que só poderia ser quebrado por uma candidatura de ruptura, ou seja, por um candidato de direita, com um programa, ao mesmo tempo, inovador e respeitável e um discurso populista, género “português suave”. O drama é que esse candidato a primeiro-ministro não existe. Ou, pelo menos, não foi ainda revelado.
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Marianne Faithfull

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quinta-feira, maio 1

FLORES DE MANUELA FERREIRA LEITE


Reparei na notícia das afirmações de Manuela Ferreira Leite na 1ª acção de campanha para a liderança do PSD e não quis acreditar. O discurso político dela tem a vantagem de parecer que se distancia dos discursos dos políticos profissionais. Um bocado hesitante e atrapalhado. Mas o que disse ela na Ajuda?

Faz-me lembrar quando há muitos anos, porque é 1º de Maio, o MES realizou a primeira acção de campanha eleitoral – para a constituinte ou para as primeiras legislativas – com uma sessão em Campolide. Era terreno do “inimigo” e, à última da hora, verificou-se que não havia mobilização. Nós acreditávamos na mobilização espontânea do povo em apoio das boas ideias. Nada. Logo na manhã do dia seguinte os jornais controlados pelo PCP puxaram para cima a notícia do fracasso … e morremos logo ali.
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MAIO DE 1968 ... TODOS OS MAIOS


A força das efemérides leva-nos ao Maio de 68. Passaram 40 anos. Àqueles que me questionam acerca das vivências desse tempo respondo, entre o sério e o irónico, que não me lembro de nada. Claro que me lembro mas as minhas vivências não me mobilizam para a reflexão. Frequentava a Universidade e, mesmo antes de nela ter ingressado, desde 1965, que participava dos movimentos de oposição à ditadura.

Durante os acontecimentos de Maio de 68 devo ter feito tanta coisa … ajudei a elaborar, imprimir e distribuir cadernos que divulgavam abundante informação acerca do que estava a acontecer em França. Lembro-me deles mas não me lembro do título da colecção. Discutia-se, no fundo, porque éramos modestos, uma coisa comezinha que era … a tomada do poder na universidade. Que afinal não era utopia porque viria a tornar-se realidade pouco tempo depois. Uma das vítimas foi o jovem assistente Cavaco Silva.

Em Abril de 1968 lia os “Cadernos” de Albert Camus, disso tenho a certeza, pois neles escrevi a data exacta da primeira leitura apaixonada (Abril – 3 – 1968 – FARO – CAIS.) Tal só foi possível porque as minhas preferências, no pensamento e acção, pelos 20 anos, nada tinham a ver com o Partido Comunista ou com os grupos marxistas-leninistas emergentes.

Eu vinha das vivências culturais, ligadas ao teatro amador; interessava-me o teatro e lia os dramaturgos, nalguns casos como ofício prático, clássicos e não só, (Gil Vicente, Eugène Ionesco, Luigi Pirandello, Thornton Wilder…) e também poetas (José Gomes Ferreira, encantava-me …) romancistas, de várias correntes e, claro, os neo-realistas (Urbano Tavares Rodrigues …). Filósofos, ícones da época, mais Gramsci que Marx, mais Lukács que Lenin, mais Camus que Sartre … mais Marcuse que Engels … Já para não entrar no encantamento pela rebeldia e música de Mary Joplin, Jimmy Hendrix e outros, além dos francófonos e dos portuguesíssimos que todos sabem quais são!.. E ainda, sem saber, militava numa estrutura da LUAR no Algarve.

As minhas experiências, anteriores ao Maio de 68, por razões de geração, eram mais próximas do espírito de Maio do que eu próprio supunha. Estavam mais próximas dos ideais libertários do que da ortodoxia comunista, pró soviética ou pró chinesa. Nunca na vida militei, nem simpatizei, com o PCP nem com os diversos grupos marxistas-leninistas que estavam a desabrochar. Respeitava a tradição da luta do PCP mas não me interessavam os valores em que ela assentava.
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Este desalinhamento político-ideológico manteve-se ao longo do tempo e havia de desembocar na aventura colectiva de criação do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Esta foi a resposta de muitos de nós à angústia de um desejo de empenhamento político que não encontrava resposta em qualquer das ideologias e organizações instaladas na esquerda que víamos como demasiado disciplinadoras na militância e ortodoxas nas ideias.

A gestação de um movimento autónomo de contestação ao regime – nas escolas, sindicatos, quartéis, igrejas, bairros e fábricas – correu antes, e depois, do Maio de 68 que incendiou, ainda mais, essa vontade de construir uma alternativa que a guerra colonial tornava urgente.

A ideia da criação desse movimento político, anti-autoritário, anti-fascista, anti-capitalista e anti-colonialista, ganhara corpo no sucesso de muitas lutas sectoriais, na preparação de candidaturas independentes a direcções de sindicatos, associações de estudantes e recreativas, na experiência de criação de comités que desencadeavam greves e reivindicações à revelia das estruturas sindicais e associativas tradicionais.

Enfim estávamos confiantes que o caminho do futuro passava pela criação do nosso próprio movimento de contestação ao regime fascista, a partir das bases, sem obediência a chefes nem a hierarquias que, na verdade, nos repugnavam.

Entre os anos de 1965 a 1968 fiz a minha aprendizagem na luta política de base. Fui um soldado raso na revolta da juventude contra a tirania. No teatro amador, na secção cultural da associação de estudantes de económicas, ou na sua reprografia, (secção de folhas), que dirigi, na direcção da cooperativa livreira Livrelco; em comissões de curso; na organização de acções de propaganda e de manifestações (as relâmpago eram as melhores! …) contra o governo; na CDE de 1969, antecedida pela tentativa, falhada, e pouco conhecida, de aproximação à CEUD de Mário Soares …

Muitas e boas razões para me lembrar do Maio de 68, vivido em Portugal, que deixou raízes mais fundas do que muitos, hoje, querem fazer crer, mas que, para mim, é uma simples memória no cotejo com os desafios do presente e do futuro.
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CULPADO

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quarta-feira, abril 30

CARTAZES DO MES




Porque estamos na véspera do 1º de Maio uma sequência de cartazes do MES (Movimento de Esquerda Socialista) de 1975. Foram-me enviados, em 2006, pela investigadora Margarida Boto. Publiquei-os, anteriormente, ilustrando os seguintes postes: A B C D
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ESQUERDA SOCIALISTA - Nº 1

E como estamos em véspera do 1º de Maio aqui fica o número um do “Esquerda Socialista” jornal do Movimento de Esquerda Socialista, disponível na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa. Pode ser folheado aqui.

O jornal foi dado à estampa tardiamente – 16 de Outubro de 1974 – e o seu design gráfico, tal como o símbolo do MES, são de autoria do Robin Fior. O seu primeiro director foi o César de Oliveira. Antes, pela passagem do 1º aniversário do golpe militar que derrubou Allende, no Chile, 11 de Setembro, já tinha saído o nº0 com uma tiragem de loucura! Aí uns 100 000 exemplares, ou estou enganado? [Post corrigido.]
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terça-feira, abril 29

O RIDÍCULO MATA

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O CASO MENTAL PORTUGUÊS


Compreendo muito bem o que Francisco Sarsfield Cabral escreveu, no Público, domingo passado, acerca do provincianismo português: UM CASO DE PROVINCIANISMO, que respigo do Jumento.

Este é um tema que pensadores e artistas portugueses já ilustraram com o talento da sua escrita. Uma das reflexões mais interessantes é a de Fernando Pessoa numa nota de estilo crítico intitulada: O CASO MENTAL PORTUGUÊS, publicada em 1932.

Começa assim: Se fosse preciso usar de uma só palavra para com ela definir o estado presente da mentalidade portuguesa, a palavra seria «provincianismo».

E acaba assim: O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre política são servilmente plagiadas do estrangeiro - aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou italianas, ou russas, ou o quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias. Seria trágico, à força de deixar de ser cómico, o resultado de uma investigação sobre, por exemplo, as ideias dos nossos poetas célebres. Já não quero que se submetesse qualquer deles ao enxovalho de lhe perguntar o que é a filosofia de Kant ou a teoria da evolução. Bastaria submetê-lo ao enxovalho maior de lhe perguntar o que é o ritmo.

É sempre muito estimulante e útil a sua leitura, em particular, nos dias de hoje.
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ANIVERSARIANDO


Rosário: são magníficas as coincidências. Agradeço e envio, na volta do correio, um pequeno álbum de imagens de Javier Bardem.
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segunda-feira, abril 28

JESSICA


Andei à procura de uma moça com uma máquina promocional a sério que tivesse nascido no dia de hoje. O mesmo dia em que eu nasci. Já estava um bocado farto da companhia do António (Salazar). Encontrei a Jessica que, mesmo sem o apoio do Sr. António Cunha Vaz, está no top. Vá lá saber-se porquê! Deve ter a trabalhar para ela uma formidável máquina promocional. E o Sr. António Cunha Vaz ocupa a primeira página do Público. Porquê? Juro que fui obrigado a fazer um esforço brutal para deslindar quem era a figura. Passaram-me pela cabeça as mais desvairadas candidaturas à liderança do PSD. Mas não encaixava, e daí? Tive que ler as legendas. Foi difícil. Ou o negócio está mal ou está a preparar-se para fazer carreira política! Só pode ser no PSD. É o António Cunha Vaz. A coisa está preta.
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