Se quiserem saber o que pensa Pedro Magalhães acerca de sondagens vejam o “margens de erro”.
Destaco:
“Três certezas a 99,9% (como quem diz)”
1. O PS ganha;
2. PSD e CDS-PP não fazem maioria;
3. Subida forte do BE em relação a 2002;
4. Se não tiver maioria absoluta, PS necessita apenas de um parceiro à esquerda para a formar."
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, fevereiro 20
"O Aprendiz de Feiticeiro"
sábado, fevereiro 19
A Partir de Amanhã
Como hoje é dia de reflexão decidi reflectir. Serão uma série de textos relativamente longos. Acerca de temas que têm incidência na governação “a partir de amanhã”. Uns mais estruturados, resultantes de estudo prévio, outros mais especulativos, provindos de ideias e experiências concretas. Publicados espaçadamente.
Deles fixarei aqui as primeiras linhas. O primeiro versa sobre o desemprego. Pode ser lido, na íntegra, no ir ao fundo e voltar.
Desemprego é uma palavra pesada. Na linguagem dos liberais já devia ter sido riscada do dicionário. Ela arrasta a ideia de emprego. Talvez tenha, para os liberais, a desprezível ressonância de “emprego para toda a vida”. A ideia de constância e não de temporalidade. A ideia de permanência e não de ocasião. O presságio de uma realidade que se afasta da ideia de trabalho temporário. O fantasma da rigidez dos custos e da não flexibilidade. A imagem da instalação fabril, associada a um espaço físico e comunitário, a não-deslocalização. Quando, no fundo, o que interessa é o trabalho! Mas não existe a palavra destrabalho. Nunca se diz de alguém que “ficou no destrabalho”.
Causas
A campanha eleitoral acabou. Já vi muitas. Esta pode ser a da primeira vitória absoluta do PS. Um dia teria de acontecer. Este seria o momento certo. Mas se não acontecer basta que o PS ganhe. Essa vitória destrói a coligação de direita. Restitui a decência à política portuguesa. Mostra que a maioria dos portugueses entendeu que a extrema-direita estava no coração do poder. E que a maioria quer ter um governo livre da extrema-direita. Reparei que o BE encerrou a campanha pedindo o voto da esquerda para retirar a maioria absoluta ao PS. Acho que não interessa nada ao país substituir a extrema-direita pela extrema-esquerda. São estas as palavras exactas que quero empregar. Os discursos “beatos” dos líderes do PP e do BE simulam uma "postura de estado", a concórdia nacional, o afecto pelos pobres e desfavorecidos, mas ocultam ideologias e programas fanáticos próprios das velhas autocracias. O PS, como sempre, continua a ser a esquerda possível. Capaz de vencer eleições e constituir governos aceitáveis pela maioria da opinião pública. É pouco? É muito? É o que é! Não é a chamada “esquerda das causas” mas a “esquerda dos compromissos”. Os compromissos que viabilizam as causas, pois as causas impostas sem compromissos são o princípio da barbárie. É preciso conhecer um pouco de história para perceber esta diferença essencial. Em 1979 deixei de votar na “esquerda das causas”, na qual militei, porque percebi que as causas não são propriedade da esquerda. As verdadeiras “causas” pelas quais vale a pena lutar são património dos democratas que estão presentes em todos os quadrantes políticos, ideológicos e partidários. Essas causas resumem-se em dois palavras simples: liberdade e justiça.
Foto de Helder Gonçalves - Chile
sexta-feira, fevereiro 18
Sondagens: O Inferno Para a Direita
Hoje é um dia infernal para a direita. Todas as sondagens apontam para a vitória do PS nas eleições de domingo.
A única dúvida que persiste é a de saber se o PS chega à maioria absoluta. Salvo a sondagem do Expresso todas dão a maioria absoluta como adquirida.
Acho difícil que todas se enganem ao mesmo tempo. Mas esta unanimidade pode gerar um efeito perverso e resultar numa desmobilização prejudicial ao PS.
Aqui fica a sondagem que faltava: a do Correio da Manhã.
A única dúvida que persiste é a de saber se o PS chega à maioria absoluta. Salvo a sondagem do Expresso todas dão a maioria absoluta como adquirida.
Acho difícil que todas se enganem ao mesmo tempo. Mas esta unanimidade pode gerar um efeito perverso e resultar numa desmobilização prejudicial ao PS.
Aqui fica a sondagem que faltava: a do Correio da Manhã.
quinta-feira, fevereiro 17
Últimas Sondagens
Nem sempre tem acontecido mas, desta vez, verifica-se uma curiosa coincidência nas previsões dos resultados eleitorais das últimas sondagens.
Hoje a sondagem publicada pelo Público dá a maioria absoluta ao PS e a publicada pela TVI segue a mesma tendência
A do Diário deNotícias/TSF confirma a maioria absoluta do PS e uma muito fraca votação no PSD
Por sua vez a da SIC/Expresso/RR não desmente aquela tendência moderando a sua evidência.
Sondagem da Universidade católica publicada pelo Público:
"Em que partido tenciona votar para as próximas eleições legislativas (para a Assembleia da República)?
Intenção directa de voto/resultados brutos:
PS: 34 %
PSD: 22%
BE: 5%
CDS-PP: 4%
CDU: 3%
Outros: 1%
Não vai votar: 12%
Ainda não sabe: 14%
Não responde/brancos/nulos: 5%
Estimativa de resultados eleitorais:
(Obtida calculando a percentagem das intenções directas de voto em cada partido em relação ao total de votos válidos [excluindo abstenção e indecisos]. Estas estimativas reflectem o peso relativo que cada círculo eleitoral tem para os resultados nacionais, e têm valor meramente indicativo, dado que diferentes métodos de estimação poderão gerar resultados diferentes)
PS: 46% (118-124 deputados)
PSD: 31% (80-84)
CDU: 7% (8-12)
BE: 7% (8-12)
CDS-PP: 6% (6-10)
Outros: 1% (0)
Brancos/nulos: 2%
A grande vitória política da direita está reduzida, a partir de agora, a perder sem que o PS consiga alcançar a maioria absoluta. Interessante!
Hoje a sondagem publicada pelo Público dá a maioria absoluta ao PS e a publicada pela TVI segue a mesma tendência
A do Diário deNotícias/TSF confirma a maioria absoluta do PS e uma muito fraca votação no PSD
Por sua vez a da SIC/Expresso/RR não desmente aquela tendência moderando a sua evidência.
Sondagem da Universidade católica publicada pelo Público:
"Em que partido tenciona votar para as próximas eleições legislativas (para a Assembleia da República)?
Intenção directa de voto/resultados brutos:
PS: 34 %
PSD: 22%
BE: 5%
CDS-PP: 4%
CDU: 3%
Outros: 1%
Não vai votar: 12%
Ainda não sabe: 14%
Não responde/brancos/nulos: 5%
Estimativa de resultados eleitorais:
(Obtida calculando a percentagem das intenções directas de voto em cada partido em relação ao total de votos válidos [excluindo abstenção e indecisos]. Estas estimativas reflectem o peso relativo que cada círculo eleitoral tem para os resultados nacionais, e têm valor meramente indicativo, dado que diferentes métodos de estimação poderão gerar resultados diferentes)
PS: 46% (118-124 deputados)
PSD: 31% (80-84)
CDU: 7% (8-12)
BE: 7% (8-12)
CDS-PP: 6% (6-10)
Outros: 1% (0)
Brancos/nulos: 2%
A grande vitória política da direita está reduzida, a partir de agora, a perder sem que o PS consiga alcançar a maioria absoluta. Interessante!
Eu Voto PS
Eu voto PS. O meu voto, no próximo domingo, não vai falhar como nunca falhou. Não vai mudar como nunca mudou.
Até 1979 votei MES e, a partir desse ano, sempre votei no PS. Aliás em 1979 o MES, antes ainda da sua original imolação político/festiva, aconselhou, expressamente, o voto no PS ou na APU. O meu voto, desde esse apelo, nunca sofreu qualquer desvio em eleições legislativas e presidenciais.
Alguns dos meus amigos alinharam nas “aventuras” de Pintassilgo ou de Zenha, do PRD ou UEDS, mas eu sempre votei no PS. É um voto pela liberdade e pela justiça. Não somente pelas utopias que nos alimentam os sonhos por uma vida e um mundo melhores, mas também pela defesa da concretização possível desses sonhos.
É uma opção tomada em consciência, formada através de muitas experiências, que deram para compreender que os valores supremos a defender pelo voto são a justiça e a liberdade. E o partido que melhor assegura a defesa desses valores, no nosso tempo, é o PS.
Até 1979 votei MES e, a partir desse ano, sempre votei no PS. Aliás em 1979 o MES, antes ainda da sua original imolação político/festiva, aconselhou, expressamente, o voto no PS ou na APU. O meu voto, desde esse apelo, nunca sofreu qualquer desvio em eleições legislativas e presidenciais.
Alguns dos meus amigos alinharam nas “aventuras” de Pintassilgo ou de Zenha, do PRD ou UEDS, mas eu sempre votei no PS. É um voto pela liberdade e pela justiça. Não somente pelas utopias que nos alimentam os sonhos por uma vida e um mundo melhores, mas também pela defesa da concretização possível desses sonhos.
É uma opção tomada em consciência, formada através de muitas experiências, que deram para compreender que os valores supremos a defender pelo voto são a justiça e a liberdade. E o partido que melhor assegura a defesa desses valores, no nosso tempo, é o PS.
"Pensar noutra mulher, noutro romance."
“Horas depois, continuo em frente da janela. Na rua há um pouco de vento e a lâmpada balança, desnivela os telhados, desequilibra as paredes. Não consigo saber se os prédios pombalinos na realidade oscilam ou se a impressão me vem da vidraça embaciada que fechei quando Luciana desapareceu. Deixou de chover (inexplicavelmente aliás) e o luar surgiu, as estrelas também. Para quê, tão tarde?
Apesar deste tom de elegia a vida continua, não é verdade? Tenho de esquecer Luciana e o romance. Pensar noutra mulher, noutro romance.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pág. 15, 16 e 17 (6 de 6)
Fotografia de Helder Gonçalves
quarta-feira, fevereiro 16
"Desatou a Chover"
“ O tempo que demorou a descrição gastámo-lo nós a chegar. Exactamente o mesmo tempo. E então, as gotas esparsas engrossaram, precipitaram-se umas atrás das outras. Desatou a chover. Não confessei ainda que a chuva me fascina, mas é verdade. Desde a infância, quando dobrava as costas contra o peitoril da janela e deixava a água alagar-me a cara ou a bebia com todo o vagar, de olhos fechados. Foi essa mania inocente que perdeu Luciana. Abri a janela, estendi-me para fora e a chuva passou por mim à pressa escorregando-me no rosto, entrou no quarto, caiu como quis nas poucas folhas do rascunho poisadas sobre a mesa diante da vidraça aberta, dissolveu o perfil de Luciana ainda mal esboçado, apagou-lhe a voz rouca, desfez-lhe o cabelo azul, sumiu-a, sem eu dar por nada. Com que facilidade desaparecem as mulheres, as palavras, numa simples mancha de água e tinta. Frágeis, como a cor dos telhados ou a chama dum grão de areia que a chuva apaga.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Chuva) – pág. 15, 16 e 17 (5 de 6)
Fotografia de Helder Gonçalves
Debate 4/5
Digam as simpatias que quiserem Jerónimo de Sousa não podia falhar, e falhou. Tinha que falar, não falou. Logo tinha a seu lado um concorrente directo, Louçã, falante de primeira, que não falhou.
O seu silêncio forçado assume o simbolismo da morte do PCP. Ou, pelo menos, o seu apagamento e, de certeza, um forte sinal de fraqueza. Em televisão, naquelas circunstâncias, é uma fatalidade cruel um líder ter de abandonar o palco. Só com Santana não teria a mesma importância. Porque simbolicamente Santana já o abandonou.
O episódio, certamente, não representa a morte do PCP, mas a representação da autenticidade pessoal de um líder em política tem limites. O BE ficou a ocupar o espaço do PCP. Surgiu, naquele momento, em cena, o que é o desenho político que muitos adivinham para o futuro. O BE ocupando todo o espaço da esquerda além do PS. Este acontecimento vai ter consequências eleitorais e políticas para o futuro próximo.
O resto foi conforme as expectativas salvo a declaração final de Portas que esteve fora do seu registo habitual. Inseguro. Nervoso. Desarticulado. Algo inexplicável.
O seu silêncio forçado assume o simbolismo da morte do PCP. Ou, pelo menos, o seu apagamento e, de certeza, um forte sinal de fraqueza. Em televisão, naquelas circunstâncias, é uma fatalidade cruel um líder ter de abandonar o palco. Só com Santana não teria a mesma importância. Porque simbolicamente Santana já o abandonou.
O episódio, certamente, não representa a morte do PCP, mas a representação da autenticidade pessoal de um líder em política tem limites. O BE ficou a ocupar o espaço do PCP. Surgiu, naquele momento, em cena, o que é o desenho político que muitos adivinham para o futuro. O BE ocupando todo o espaço da esquerda além do PS. Este acontecimento vai ter consequências eleitorais e políticas para o futuro próximo.
O resto foi conforme as expectativas salvo a declaração final de Portas que esteve fora do seu registo habitual. Inseguro. Nervoso. Desarticulado. Algo inexplicável.
terça-feira, fevereiro 15
A Carta de Santana
Não acreditei no que estava a ler mas depois fui confirmar e era verdade. O País Relativo divulga a carta de Santana Lopes aos eleitores.
Ela aqui está, na íntegra, para vergonha de todos nós e, em particular, dos eleitores social-democratas.
"Caro(a) Amigo(a),
Não pare de ler esta carta. Se o fizer, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses e as portuguesas.
Portugal precisa do seu voto para fazer justiça. Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem. Você não costuma votar, e não é por acaso. Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar.
E quem são eles? Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma. Incluindo a velha maneira de fazer política. Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso? Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema.
Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles Tratem tão mal como a mim? Também o tratam mal a si. Já somos vários. Ajude-me a fazer-lhes frente. Desta vez, venha votar.
É um favor que lhe peço! Por todos nós,
Pedro Santana Lopes"
Ela aqui está, na íntegra, para vergonha de todos nós e, em particular, dos eleitores social-democratas.
"Caro(a) Amigo(a),
Não pare de ler esta carta. Se o fizer, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses e as portuguesas.
Portugal precisa do seu voto para fazer justiça. Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem. Você não costuma votar, e não é por acaso. Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar.
E quem são eles? Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma. Incluindo a velha maneira de fazer política. Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso? Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema.
Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles Tratem tão mal como a mim? Também o tratam mal a si. Já somos vários. Ajude-me a fazer-lhes frente. Desta vez, venha votar.
É um favor que lhe peço! Por todos nós,
Pedro Santana Lopes"
"As Primeiras Gotas"
“Entretanto caem as primeiras gotas. Luciana obriga-me a regressar. Quando a chuva chega o costume é um mês inteiro de água.
O rio pouco denso ganha dia a dia corpo, galga bruscamente as margens, rolam na espuma a fruta podre, os bichos arrancados às tocas, a lenha dos madeireiros, as árvores mais fracas a que a torrente mina o chão (a estabilidade). Nos caminhos barrentos, lutando contra o enxurro, os pastores e o gado voltam à serra. A cidade baixa fica inundada, há canoas nas vielas do Terreiro da Erva, esta Veneza de prostitutas ordenadas numa hierarquia instável, onde se começa quase sempre pelo alto da tabela: casas de cem, cinquenta, vinte e dez mil reis. A cheia bate no portal de Santa Cruz, torna a bater, invade a igreja, submerge o túmulo de Afonso o Fundador. E por fim, em torno das colinas enregeladas, há só um lago enorme com choupos, cegonhas, o frémito do frio.”
“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos – (Chuva) pág. 15, 16 e 17 (4 de 6)
Fotografia de Helder Gonçalves
Votar: Um Bem Essencial
Gostei desta notícia do Compromisso Portugal. Muitos vacilam no momento da decisão. Estes doutos empresários não. Ao menos deram-se ao trabalho de cotejar programas. Dar-lhes crédito. Encontram neles confluência de propósitos.
Valorizam a maioria absoluta. Absoluta, ou seja, que suplanta o somatório de todas as minorias juntas. Mas que as não elimina nem apaga a luz da liberdade. Em democracia as eleições são a batalha rainha. Os seus resultados são sagrados. Votando escolhemos.
Devíamos sentir orgulho na democracia portuguesa. Que nos deu essa extraordinária oportunidade de escolher. Liberdade de escolher, quase limpa de atropelos e violências. E digo quase porque a pureza, em si mesma, não existe. Passaram mais de 30 anos e as escolhas, em democracia, sucedem-se. Ainda bem. Antes assim que a tentação da tirania.
Outra coisa são os detalhes.
De hoje até domingo decidem-se detalhes. Muitos reclinam-se no voto de protesto, seja branco ou colorido ou, em alternativa, ausentam-se justificando a abstenção pela descrença nas alternativas partidárias. É o juízo final dos que olham o poder à imagem da realidade ideal que não existe. Nem na sociedade nem na vida de cada um de nós.
Os que exigem ao sistema político democrático a perfeição são os mesmos que a não exigem a nenhum outro sistema, nem ao seu próprio sistema individual de comportamento. Todos sabemos que é assim. É um detalhe mas que não põe em causa o essencial: a participação cívica da maioria dos portugueses nas eleições.
Se para uma minoria de iluminados votar é um bem supérfluo para a maioria dos portugueses votar é um bem essencial.
Valorizam a maioria absoluta. Absoluta, ou seja, que suplanta o somatório de todas as minorias juntas. Mas que as não elimina nem apaga a luz da liberdade. Em democracia as eleições são a batalha rainha. Os seus resultados são sagrados. Votando escolhemos.
Devíamos sentir orgulho na democracia portuguesa. Que nos deu essa extraordinária oportunidade de escolher. Liberdade de escolher, quase limpa de atropelos e violências. E digo quase porque a pureza, em si mesma, não existe. Passaram mais de 30 anos e as escolhas, em democracia, sucedem-se. Ainda bem. Antes assim que a tentação da tirania.
Outra coisa são os detalhes.
De hoje até domingo decidem-se detalhes. Muitos reclinam-se no voto de protesto, seja branco ou colorido ou, em alternativa, ausentam-se justificando a abstenção pela descrença nas alternativas partidárias. É o juízo final dos que olham o poder à imagem da realidade ideal que não existe. Nem na sociedade nem na vida de cada um de nós.
Os que exigem ao sistema político democrático a perfeição são os mesmos que a não exigem a nenhum outro sistema, nem ao seu próprio sistema individual de comportamento. Todos sabemos que é assim. É um detalhe mas que não põe em causa o essencial: a participação cívica da maioria dos portugueses nas eleições.
Se para uma minoria de iluminados votar é um bem supérfluo para a maioria dos portugueses votar é um bem essencial.
segunda-feira, fevereiro 14
Sigamos o Cherne
No domingo passado comprei um livro. “Quinze Poetas Portugueses do Século XX”, com selecção e prefácio de Gastão Cruz. Não sei se ainda me falta publicar ao menos um poema de cada um deles no Absorto. Talvez um ou dois.
Mas achei curioso que a série de poemas de autoria de Alexandre O´Neill (1924-1986) abra com um de que falou muito nas eleições legislativas de 2002.
Leiam-no agora a esta distância respeitável e da leitura retirem as lições que vos apetecer.
SIGAMOS O CHERNE
(Depois de ver o filme “O Mundo do Silêncio” de Jacques-Yves Cousteau)
Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa…
Mas achei curioso que a série de poemas de autoria de Alexandre O´Neill (1924-1986) abra com um de que falou muito nas eleições legislativas de 2002.
Leiam-no agora a esta distância respeitável e da leitura retirem as lições que vos apetecer.
SIGAMOS O CHERNE
(Depois de ver o filme “O Mundo do Silêncio” de Jacques-Yves Cousteau)
Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…
Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…
Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa…
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