segunda-feira, fevereiro 14

Sigamos o Cherne

No domingo passado comprei um livro. “Quinze Poetas Portugueses do Século XX”, com selecção e prefácio de Gastão Cruz. Não sei se ainda me falta publicar ao menos um poema de cada um deles no Absorto. Talvez um ou dois.

Mas achei curioso que a série de poemas de autoria de Alexandre O´Neill (1924-1986) abra com um de que falou muito nas eleições legislativas de 2002.

Leiam-no agora a esta distância respeitável e da leitura retirem as lições que vos apetecer.

SIGAMOS O CHERNE

(Depois de ver o filme “O Mundo do Silêncio” de Jacques-Yves Cousteau)

Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria…

Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado…

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa…

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