Nos corredores corre uma aragem fria. Não me refiro a nenhum corredor em particular. Em todos os corredores. Neles se distribuem as entradas. É por isso que nos corredores corre uma aragem fria. Não se passa nada nos corredores. A não ser passar-se por eles a caminho de uma entrada. Nesse caso chamam-se os corredores do poder.
O poder tem sempre os corredores cheios de gente. Os habitantes dos corredores não se importam de sofrer com o frio. É o sacrifício necessário para espreitar a oportunidade de entrar. De vez em quando aparecem uns antigos militantes com cartão de um dígito e muitos galhardetes e cartas de recomendação.
Há mesmo militantes com vários cartões, de diversas cores, conforme as ocasiões. Estão sempre no lugar certo na hora certa. Se acaso entram sem se dar por eles apresentam logo o filho ou o sobrinho que está lá fora à espera de ocupar um lugar na hora.
Dizer que não a um militante de um dígito é o cabo dos trabalhos. Pode custar uma carreira. Há quem diga que não aos militantes de um dígito. Mas esses têm direito a uma ou várias campanhas na comunicação social. Ou, em alternativa, ao silêncio eterno.
Nos corredores corre uma aragem fria. Estão cheios de bactérias à espera de um órgão que esteja maduro para se instalarem. Vejo uma nuvem delas a pulular pelos corredores. Vivem enquanto dispõem de alimento de órgãos em decomposição. A decomposição de órgãos da administração é favorável para este tipo de cliente voraz e preparado para qualquer lugar.
Reparo que, neste momento, os clientes estão quase todos servidos. Os escolhidos, ao nível das estruturas partidárias locais, já devem ter entrado nos suplentes. É tudo a multiplicar por dois.
Ouve-se, à distância, o regurgitar de mil bocas a sorver o caldo da malga. O poder vai enlouquecê-los. Mas o pior virá depois.
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