sábado, outubro 15

A Política Segue Dentro de Momentos


Nas palavras do inefável Espada, Cavaco tem dado mostras de um “notável sentido de equilíbrio” (in “Expresso”). Mas se alguém se der ao trabalho de analisar as datas dos diplomas que criaram os corpos especiais na administração pública, os institutos públicos, as empresas municipais, as bonificações da contagem do tempo de serviço, os sistemas de saúde especiais, e por aí adiante, verificará que ostentam, na sua maior parte, datas de 1985 a 1995.

Nesses dez anos Cavaco concretizou uma política de distribuição de rendimentos apoiado na abastança dos fundos da adesão plena de Portugal à UE (1985) que Soares viabilizou e a que ele, num primeiro momento, se opôs (lembram-se?).

Cavaco, ao contrário do que querem fazer crer os seus epígonos, foi um despesista. Ora o povo quanto mais se lhe dá mais exige. O príncipe perde o brilho com as mãos vazias face às clientelas que criou. Foi o que, em 1995, aconteceu a Cavaco.

Hoje, dez anos passados, Cavaco representa uma desvantagem para Sócrates pois não é fácil ao candidato apoiado pelo PS (Soares) defender o desmantelamento do sistema de privilégios que Cavaco propiciou a vastas clientelas dentro, e fora, da administração pública.

Cavaco vai surgir como o homem providencial que deu progresso ao país e um relativo bem-estar ao povo, com honestidade e competência. Mas Cavaco corre o risco de vir a ser apelidado de esquerdista, quer pela sua tendência irreprimível para interferir na acção do governo, quer pela necessidade de dar satisfação ao eleitorado, da extrema-direita à extrema-esquerda, que nele procurará refúgio para a “salvação” de privilégios em vias de extinção.

Soares vai surgir como o político que, em Portugal, é o expoente máximo da democracia e do europeísmo o que, convenhamos, não é nada pouco. Soares garantirá uma magistratura de influência aberta, fundada na experiência e na distância face às minudências da governação. Mas Soares corre o risco de não conseguir distanciar-se da imagem do “homem do regime” sobre o qual se avolumam as sombras de fim de época.

Tudo visto e ponderado, apesar da dramatização da campanha presidencial, até finais de 2008, seja qual for o futuro presidente, não haverá crise política a sério. A razão é simples: o Estado não terá, nos próximos anos, nada para distribuir que valha a maçada de uma crise política pura e dura.

A não ser que haja um golpe de estado constitucional! Pois se até Alberto João Jardim anunciou o seu apoio a Cavaco e Morais Sarmento, seu incondicional, afirmou ontem: “O Presidente deve sobrepor-se ao Governo”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Keep up the good work
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