Na véspera do jogo com a Coreia do Norte lembro-me de ter visto pela TV, a preto e branco, o jogo do Mundial de 1966 que amanhã se repete. Um jogo raro. Por todas as razões. A Coreia do Norte era, e ainda é, um país que vive isolado do mundo. O isolamento próprio das ditaduras. Eu sei que as ditaduras têm, entre nós, admiradores mas nem por isso deixam de ser abomináveis. Tão abomináveis como os seus admiradores.
Nesse ano longínquo de 1966, o Mundial de futebol decorreu na Inglaterra e Portugal dispunha de uma grande equipa. O jogo com a Coreia do Norte era considerado fácil e julgo que se disputou em Manchester. Aí pelos 23 minutos da primeira parte já estávamos a perder por 3-0. O público rejubilava de admiração e espanto. Era impensável o que se estava a passar. Lembro-me que fiquei gelado na sala da sociedade onde havia televisão que em casa de meus pais ainda não.
Mas Eusébio resolveu transformar a tragédia em glória. Eusébio corria como uma gazela e lutava como um leão. Nesse jogo marcou 4 dos 5 golos de Portugal. Não esqueço aquela sua característica de ir sempre buscar a bola ao fundo da baliza do adversário e de a levar à mão para o centro do campo. Nem esqueço a sua gentileza para com os adversários cuja cabeça acariciava quando lhe parecia tê-los magoado.
Nunca vi ninguém como Eusébio. O jogador, o homem e o desportista. Que mais não seja em sua homenagem os jogadores da selecção de Portugal deviam, amanhã, vencer e convencer. Com todo o respeito pelos jogadores norte coreanos que nada têm a ver com a ditadura que impera no seu país como em 1966 Eusébio, e os jogadores portugueses, nada tinham a ver com a ditadura salazarista.
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