segunda-feira, junho 7

CV-14

La vie en blues "Enredo: Sobre o tempo, o amor e outras coisas estranhíssimas."

Mais um blog do Brasil. Uma aproximação visual (e não só) ao meu próprio universo. Ao fim de quase seis meses só não uso ainda imagens. Lá iremos. Mas um gosto pela literatura em que se encontram pontos comuns. La vie en blues, gosto.

domingo, junho 6

6 de Junho de 1944

Neste dia, 60 anos atrás, os aliados desembarcaram nas praias da Normandia. É o princípio do fim da ocupação nazi da Europa. Morrem, em poucos dias, muitos milhares de soldados das forças libertadores e das forças ocupantes. Os relatos hoje retomados, em toda a sua dimensão heróica e trágica, engrandecem os vencedores e os valores da liberdade.

Camus por estes dias escreveu no seu Caderno:

"Criação corrigida.
O carro de assalto que se volta e se debate como uma centopeia.
Bob nos prados de Verão da Normandia. O seu capacete coberto de goiveiros e ervas bravas.
Cf. Relatório da comissão inglesa no Times sobre atrocidades.
O jornalista espanhol de Suzy (pedir o texto) (crianças mostravam-lhe os cadáveres, rindo).
Duche frio no coração durante uma hora.
Fala-se durante o dia da possibilidade de comer uma sopa de leite à noite porque isto faz urinar várias vezes durante a noite. Que os W.C. ficam a cem metros do prédio, que faz frio, etc.
- Ao entrarem na Suíça, as mulheres deportadas dão gargalhadas ao verem um enterro:
- "É assim que tratam os mortos, aqui!"
- Jacqueline.
- Os dois rapazes polacos a quem obrigam a queimar, aos catorze anos, a sua casa, estando os pais lá dentro. Dos catorze aos dezassete anos, Buchenwald.
- A porteira da Gestapo instalada em dois andares de um prédio da rua Pompe. De manhã, trata da casa no meio dos torturados. "Nunca me ocupo do que fazem os meus inquilinos."
- Jacqueline no regresso de Koenisberg a Ravensbruck - 100 quilómetros a pé. Numa grande tenda dividida em quatro. São tantas as mulheres, que não podem deitar-se no chão, a não ser encaixando-se umas nas outras. A disenteria. Os W.C. a cem metros. Mas é preciso passar por cima dos corpos e até pisá-los. Faz-se ali mesmo.
- Aspecto mundial no diálogo entre a política e a moral. Perante esse aglomerado de forças gigantescas: Sintes (…).
- X. deportada, libertada com uma tatuagem sobre a pele: serviu durante um ano no campo dos S.S. de …"


In "Cadernos II" (Caderno nº 4 - Janeiro 1942 - Setembro 1945), Albert Camus, Edições Livros do Brasil


Os "progressos da civilização"

A intervenção dos EUA no Iraque produz mais um notável resultado, certamente, inspirado pelo lado mais soturno da democracia americana - versão Bush - o restabelecimento da pena de morte.

No dia da celebração dos 60 anos do desembarque dos aliados na Normandia, princípio do fim da ocupação nazi da Europa, no qual os americanos desempenharam um papel decisivo e abnegado, o anúncio da pena de morte no Iraque "libertado" pelos americanos não deixa de ser uma triste ironia da história.

"O novo ministro da Justiça iraquiano, Malek Dohane al- Hassan, revelou domingo à imprensa que o seu país vai restabelecer a pena de morte após 30 de Junho e que o antigo presidente Saddam Hussein poderá nela incorrer.

"A pena de morte apenas está suspensa no Iraque, mas com o regresso da soberania nada obrigará a manter essa suspensão." - Lusa

Devo estar a ficar louco...

O Primeiro Ministro inaugurou hoje um troço do Metro do Porto. Mais uma obra oriunda da "pesada herança" do anterior governo. As próprias notícias são convincentes: o túnel foi escavado entre 2000 e finais de 2002. A iniciativa do projecto e a parte dura da obra decorreram, em grande parte, no período do Governo socialista. Nada mais natural do que um governo inaugurar obras projectadas e desenvolvidas pelo governo anterior. As mudanças de governo fazem parte da essência de democracia. Pode acontecer que o que um governo inicia outro governo conclua.

Mas no caso das obras inauguradas, recentemente, pelo actual governo é diferente. As inaugurações decorrem em plena campanha eleitoral. Toda a gente já acha normal! Mas que diabo. Tudo é apresentado como obra própria? E, ao mesmo tempo, prossegue a campanha alegre do "descalabro" da gestão do anterior governo? Este é um caso em que o governo, e a maioria que o suporta, atingiram os limites da baixeza na luta política democrática.

Mais demonstrativo da consciência da falta de obra própria é o anúncio realizado, nos últimos dias, de um projecto para a construção de outro túnel. Outro túnel? Sim. Desta vez o metro submarino ligando Lisboa a Almada. Além da Ponte 25 de Abril? Do comboio que já circula na mesma Ponte? Da travessia de barco entre as "duas bandas" do Tejo? Da ponte Vasco da Gama? Das encrencas do "Túnel do Marquêz" e do Estação de Metro doTerreiro do Paço?

É preciso mostrar ideias e iniciativas! Muitas e de preferência túneis! Desta vez a notícia que vi tinha uma curiosidade. Quem fazia o anúncio era o Ministro Óscar Fragoso! Pensei no velho General! O falecido Presidente! Óscar Fragoso! ...Carmona? Através deste lapso curioso recuamos às figuras de 1928 e às imagens do início da ditadura. Devo estar a ficar louco... (já não consegui linkar a notícia).

Na véspera das eleições os túneis nascem como cogumelos. E até o nome do velho General Carmona teve direito a regressar às notícias do dia! Devo estar a ficar louco...ou é a maioria que está a ficar, prematuramente, cansada?

sexta-feira, junho 4

CV-13

Navegar Impreciso Aqui vos apresento um criativo blog do Brasil. Gostei muito. Desde logo do título. Navegar é preciso, se transfigurou - navegar impreciso. Bonito. (republicado com uns retoques).

Jorge de Sena

Jorge de Sena faleceu no dia 4 de Junho de 1978 em Santa Bárbara, Estados Unidos da América, e jaz no cemitério do Calvário em campa rasa. A transladação do seu corpo permanece letra morta.

Jorge de Sena é escritor maior e um dos mais extraordinários poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Exilado de Portugal trabalhou e viveu no Brasil e nos Estados Unidos da América onde viria a falecer. Desde que conheci a sua obra Sena ganhou em mim um admirador apaixonado. Aqui lhe deixo uma homenagem singela reproduzindo um poema dedicado ao grande poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.


A DRUMMOND QUANDO FIZER SETENTA ANOS

Mistral (Gabriela) Asturias (Miguel Ângelo)
e o Pablo de Neruda Chile - a ti coisa nenhuma.
Os Castros de Ferreira mais Amados Jorges
partilham prémios do Lácio de Paris - a ti coisa nenhuma.
E todos acabam académicos e tu não vais pedir
os votos académicos - a ti coisa nenhuma.

Escreves em português e o Brasil é um só - as bananas
das repúblicas hispânicas são muitas, à
esquerda e à direita. Não és embaixador,
não foste nunca embaixador senão lá de Itabira.
Andrade isso és mas não és de São Paulo,
cubista ou folclorista. Pelo Rio
passaste sempre esguio entre as mulheres,
os literatos e os arranha-céus, silente e pisco.

O maior, todos concordam. Mas em crónica
como em poesia tens cultura a mais,
poesia a mais, humanidade a mais,
e dignidade a mais - a ti coisa nenhuma.
Carlos (Magno) Drummond (of Hawthornden quiçá
filho bastardo do suspeito Shakespeare)
de (partícula que irrita os bibliotecários norte-americanos)

Andrade - aos setenta anos como sempre
fazendeiro do ar no brejo das almas,
fabricando claros enigmas de alguma poesia,
encomendando às amendoeiras que falem por ti
a rosa do povo, o sentimento do mundo,
e a vida ( a tua e a dos outros) passada a limpo.

30/10/72

In "Tempo de Exorcismos" (1970-1972)



AINDA PODE LER AQUI QUATRO SONETOS A AFRODITE ANADIÓMENA E AS NOTAS DO POETA ACERCA DELES





quinta-feira, junho 3

FUTEBOL

Gosto de futebol. Desde a minha mais tenra infância. De jogar e de ver jogar. É um prazer inexplicável. Uma paixão que está do outro lado do negócio em que o futebol profissional se transformou.

Tudo o que possa acontecer de bom para o futebol português, ao nível de clubes e de selecção, é bom para mim. Logo, na minha visão "distorcida", bom para os portugueses e para o progresso do país. Parece uma visão um bocado redutora, não é? Não há volta a dar.

Por isso compreendo o projecto do Euro-2004 uma das "pesadas heranças" deste governo. O futebol é uma "fileira" da actividade económica em que Portugal é competitivo. No futebol Portugal gera talentos e tem organização. Ganha no cotejo com muitos outros países com mais elevados padrões de desenvolvimento. Dizem alguns: "terceiro mundo". Bom, mas não se pode ser "terceiro mundo" naquilo em que somos maus e "terceiro mundo" naquilo em que somos bons.

Ora vejam só o dia de ontem: selecção nacional de sub-21 - vitória (2-1) contra a Alemanha (na Alemanha), com hipóteses de apuramento para os Jogos Olímpicos; selecção nacional (julgo, de sub-20) - vitória (1-0) contra o Brasil (isso mesmo o Brasil!) no Torneio de Toulon e vitória do Farense contra o F.C. Porto (1-0) na fase final do campeonato nacional de iniciados. Aqui o Farense (o meu verdadeiro clube do coração) emparelha com o Sporting, Boavista e F.C. Porto…e ganha.

Estás a ver José Rebelo como se explicam as bandeiras nacionais que os taxistas desfraldaram. Eu por mim trago sempre uma bandeira desfraldada no meu coração quando está em causa o resultado da minha equipa predilecta. No caso do Euro-2004, a selecção.

O resto é meter golos na própria baliza…

(Também disponível no blog ABÉBIA VADIA)

A crise mais longa dos últimos 25 anos

Esta é a realidade da situação da economia portuguesa, no presente, segundo o governo. Notícia, na íntegra, do Semanário Económico aqui.

"De acordo com a estimativa do Governo, o 1º trimestre de 2004 terá, pela sétima vez consecutiva, uma variação homóloga do PIB negativa.

Portugal deverá, a confirmarem-se as últimas estimativas do Governo, ter registado no início deste ano o sétimo trimestre consecutivo de variação homóloga do PIB negativa, a série mais longa de resultados negativos dos últimos 25 anos.

Norberto Rosa, secretário de Estado do Orçamento, afirmou esta semana na Assembleia da República que, no primeiro trimestre deste ano, se voltaria a verificar uma variação homóloga negativa. Desde a segunda metade de 2002 que este indicador apenas apresenta valores negativos.

Nem nas crises de 1983 e 1992 se tinha verificado um período tão longo de variações homólogas trimestrais negativas."


Fragmentos de Leituras

"A moranguina

O sabor do bom vinho (o sabor direito do vinho) é inseparável da comida. Beber vinho é comer. Com pretextos dietéticos, o dono do restaurante T. fornece-me a regra desse simbolismo: se bebermos um copo de vinho antes da refeição, ele quer que o acompanhemos com um pouco de pão: que se crie um contraponto, uma concomitância; a civilização começa com a duplicidade (a sobredeterminação): não será o bom vinho aquele cujo sabor se desprende, se desdobra, de tal maneira que o gole efectuado não tenha exactamente o mesmo sabor do gole iniciado? No trago de bom vinho há, como na abordagem do texto, uma torsão, uma gradação: há um acamado, como uma cabeleira.

Ao relembrar as pequenas coisas de que tinha sido privado na sua infância, encontrava aquilo de que gosta hoje: por exemplo, as bebidas geladas (cervejas muito frias), porque nesse tempo ainda não havia frigoríficos (a água da torneira, em B., nos verões intensos, estava sempre morna)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -15
(Fragmento 2 de 3, pag. 8)

Edição portuguesa: "Edições 70"

quarta-feira, junho 2

Mulheres e ...Médicas

"Alunas em maioria este ano lectivo
Defendidas quotas para travar entrada de mulheres nos cursos de Medicina

O crescente número de mulheres a entrar nas faculdades de Medicina está a causar apreensão entre alguns sectores da classe médica e das próprias instituições de ensino. Há mesmo quem defenda a criação de quotas para homens, numa tentativa de travar a presença maioritária das universitárias nestes cursos." Público

A notícia é real. Em síntese diz-se que há quem defenda o estabelecimento de "quotas" para homens no acesso aos cursos de medicina. Se não for uma brincadeira os deuses devem mesmo estar loucos.

Vamos adoptar modelos de discriminação negativa, sexista, ...? E caso se inscrevam muitos alunos negros? E homosexuais? E imigrantes? E com menos de 1,54cm. ou mais de 1,90 cm. de altura?…

Cuidado!... Vejam a notícia, na íntegra, aqui.


Dirigir sem partitura

Ouvi na rádio (RDP-2, que o Governo ia fechar, mas não fechou) um trabalho notável de José António Cartaxo. Trata-se da descrição de casos de Maestros que dirigem longas sinfonias sem recurso à partitura. De memória.

Era o caso de Toscanini. Um dia Toscanini dirigia uma sinfonia de Wagner. Para espanto de todas tinha aberta, na sua frente, uma partitura. Que estaria a acontecer? Perda de memória? Algo intrigante para os conhecedores da maneira de actuar do famoso maestro.

Finalmente o seu assistente explicou a razão de ser de tal anomalia. Toscanini regia Wagner e estudava, ao mesmo tempo, uma peça de Verdi, … para o dia seguinte.

Sousa Franco

Logo aquando da apresentação de Sousa Franco como cabeça de lista do PS para as eleições para o Parlamento Europeu afirmei, sem hesitações, que tinha sido uma boa escolha. Acabo de participar na apresentação pública da Comissão de Honra da candidatura do PS, a qual integro, com muito gosto, a convite do Secretário-geral.

O facto mais relevante desta apresentação foi a intervenção política de Sousa Franco. Trata-se de um homem oriundo das correntes católicas, austero, na figura e na palavra, social-democrata autêntico, na tradição portuguesa da valorização do social.

As suas ideias confluem, no essencial, com os princípios do socialismo democrático moderno, ou seja, defesa da liberdade com solidariedade social. Sousa Franco, para surpresa de alguns, que não minha, demonstrou, mais uma vez, clarividência na defesa destes princípios e foi duro, quanto baste, na crítica à deriva populista da coligação de direita.

Os seus discursos são articulados e coerentes, pedagógicos e mobilizadores. Uma pedrada no charco. O contrário do que possa transparecer da imagem que a direita tenta "vender" de um Ministro desmazelado e esbanjador que, de facto, nunca foi. Como gosta de dizer foi com ele, como Ministro das Finanças de um Governo Socialista, que Portugal integrou o grupo de países que adoptaram o Euro, moeda única europeia. Como em 1985 já tinha sido com um Governo socialista que Portugal aderiu, de pleno direito, à União Europeia.

A memória é curta mas a verdade é para se dizer e fazer valer nas grandes ocasiões.

terça-feira, junho 1

CV-12

Revelo um novo blog do Brasil que dá pelo título de Cera.Quente

Bom de escrita. Eis o CV da autora:

"26 anos, mulher e criança todos os dias, ácida, um tanto mal-humorada, fanática por cinema, amante do bom e velho rock 'n' roll, se dói quando vê criança ou animal sofrendo, leal, cheia de defeitos, antítese em pessoa, meio áspera, mas verdadeira. Alma delicada e inofensiva, língua cortante muitas vezes agressiva. Aspirante a algo ainda não descoberto, sentimental e tímida que acha que finge bem ser extrovertida. É só."


Turismo em Crise

Na actividade turística as notícias são impiedosas. Em 2003 as viagens internas caíram 16,6% e as viagens ao estrangeiro 12,4%. Este não é só mais um indicador da crise económica. O turismo é uma actividade transversal e multidisciplinar, na economia e na sociedade, constituindo um revelador muito sensível do "estado da nação".


Os resultados da actividade turistica nacional, em 2003, foram maus. Os de 2004 não deverão ser melhores. Todos os indicadores apontam para uma situação desastrosa, este ano, das taxas de ocupação da hotelaria, em particular, no Algarve, o maior destino turístico nacional.

A crise na actividade turística não aproveita a ninguém? Certamente que perdem a maioria das empresas (fracos negócios)e os cidadãos (menos qualidade de vida). Mas os preços das viagens, da hotelaria (e da restauração), sobem como se o país vivesse uma época do "ciclo alto" da economia.

Há quem queira ganhar muito em pouco tempo. Por influência, e sob o pretexto, do Euro 2004, os preços dos produtos turísticos subiram astronómicamente. Serão verdadeiras as notícias de acordos, entre diversos operadores, tendo em vista a obtenção de vantagens ilícitas da forte procura no curto período da realização do Euro?


Vistas de Rua (5)

Rua das Janelas Verdes

A rua das Janelas Verdes é uma referência na cidade de Lisboa. Nunca morei lá. Não sei muito bem porquê. Mas está naquela categoria de ruas que me seduzem. Umas porque nelas vivi, como a Sampaio Bruno (Campo de Ourique), a Travessa do Possolo (Lapa) ou a Calçada da Estrela, outras porque sim...

A Rua das Janelas Verdes tem um encanto muito especial talvez pela fusão de diversos encantos. Corre debruçada sobre o Tejo mas não o toca, é debruada a casas amigáveis e assume uma fusão de estilos, tradições e ressonâncias da cultura portuguesa que nos abraça.

Tem hotéis que não agridem o espaço originário. Tem Largos e escapatórias para outras ruas e largos que só vistos. Tem quase tudo o que se pode exigir a uma rua antiga onde se respira a memória do tempo. Mora lá o Museu Nacional de Arte Antiga.

O seu jardim e as refeições que lá tomei, em tempos idos, com pessoas do meu coração, fazem, para mim, a beleza do lugar. Talvez essa seja uma das razões do meu fascínio. Mas o Museu é, em si mesmo, uma preciosidade. Nele se encontram algumas das mais importantes obras de arte residentes em Portugal. No entanto julgo saber que é muito pouco visitado pelos portugueses.

Com os seus pecadilhos, que agora não vêm ao caso, a rua das Janelas Verdes é um encanto.

segunda-feira, maio 31

"Glória" de Vivaldi

O José Pedro Castanheira, prestigiado jornalista do Expresso, divulgou pelos amigos uma iniciativa que merece mais ampla difusão:

"Concertos, esta semana, não são apenas no Rock in Rio. Quem gostar, também pode assistir ao "Glória" de Vivaldi. É já na quarta feira, ou então durante o fim-de-semana.

Desde o princípio do ano que o Grupo Coral de Benfica (de que este vosso amigo faz parte, como baixo) tem vindo a trabalhar esta peça fantástica do grande compositor de Veneza. É um grupo inteiramente amador, mas superiormente dirigido pela Ana Venade. Chegou agora a vez de cantarmos para os nossos amigos. À frente da Orquestra Jovens Músicos e do Grupo Coral de Benfica estará o maestro Henrique Piloto. Os solistas serão a soprano Ana Leonor Pereira e o contratenor Manuel Brás da Costa.

Aqui ficam as informações dos três espectáculos:

- Quarta-feira, 2 de Junho, 21.30 horas, na Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Lisboa (junto ao Centro Comercial Fonte Nova);
- Sábado, 5 de Junho, 21.30 horas, em Sintra, na Igreja de São Martinho;
- Domingo, 6 de Junho, 16.00 horas, em Lisboa, na Igreja de São Mamede (à Rua da Escola Politécnica).

A entrada é livre

Espero que gostem. Um abraço do
José Pedro Castanheira"

(Para depois fica um comentário ao livro de que o JPC é co-autor acerca da odisseia da filha do major Silva Pais - para quem não sabe, ou já se esqueceu- director da PIDE, polícia política do regime fascista, até ao 25 de Abril de 1974. Já li o livro. É fantástico e merece uma abordagem mais aprofundada.)


CV-11

Um belíssimo blog do Brasil: ALBERGUE MENTAL que se apresenta com esta legenda: "A difícil arte de abrigar tantas personalidades em uma só cabeça. Arquétipos meus separados e humanizados, dividindo mensalmente o mesmo cérebro."



domingo, maio 30

Feira do Livro - 2004

É uma devoção como outra qualquer. Tenho poucas. Para mim é sagrada uma ida à feira do livro que mais não seja por um breve momento. Mesmo umas horas largas são, neste caso, um breve momento. Tenho uma colecção de livros emblemáticos (para mim) comprados, ano a ano, na feira do livro. De vez em quando, na balbúrdia das estantes, descubro um.

Este ano o livro da feira foi "Uma faca nos dentes", de António José Forte (1931/1988), com fotos e desenhos de Aldina, edição da parceria A. M. Pereira. Um livro com toda a obra deste poeta maior do surrealismo português. Com uma "nota inútil" de Herberto Hélder.

O livro estava exposto numa tenda em que se apresentam, em comum, as pequenas editoras. Ali se encontram algumas obras maiores da nossa literatura. Nos fundos da feira sem atendimento pessoal nem cuidados estéticos ou ambientais. Não era de esperar outra coisa. A indústria nem sempre perdoa à criação. A criação que "não vende" é empurrada pela portas dos fundos.

Aqui vos deixo um poema de António José Forte:

Poema

Alguma coisa onde tu parada
fosses depois das lágrimas uma ilha
e eu chegasse para dizer-te adeus
de repente na curva duma estrada

alguma coisa onde a tua mão
escrevesse cartas para chover
eu partisse a fumar
o fumo fosse para se ler

alguma coisa onde tu ao norte
beijasses nos olhos os navios
e eu rasgasse o teu retrato
para vê-lo passar na direcção dos rios

alguma coisa onde tu corresses
numa rua com portas para o mar
e eu morresse
para ouvir-te sonhar

Fragmentos de Leituras

"O amor, a loucura

Ordem do dia de Bonaparte, Primeiro Cônsul, à sua guarda: "O granadeiro Gobain suicidou-se por amor; era, de resto, muito boa pessoa. É a segunda vez que se verifica um acontecimento desta natureza durante o último mês. O Primeiro Cônsul ordena que seja fixado na ordem da guarda: que um soldado tem de vencer a dor e a melancolia das paixões; que há tanta coragem em sofrer com constância as penas da alma como em ficar em sentido sob a metralha de uma bateria…"

Estes granadeiros amorosos, melancólicos, de que linguagem extraíram eles as suas paixões (pouco concordantes com a imagem da sua classe e da sua profissão)? Que livros teriam eles lido - ou que histórias teriam ouvido? Perspicácia de Bonaparte ao assimilar o amor a uma batalha, não no facto - banal - de dois intervenientes que se enfrentam, mas porque a rajada amorosa, cortante como a metralha, provoca a surdez e o temor: crise, convulsão do corpo, loucura: aquele que está apaixonado à maneira romântica conhece a experiência da loucura. Ora, a este louco nenhuma palavra moderna é dada hoje em dia, e é afinal por isso que ele se sente louco: nenhuma linguagem para roubar - a não ser muito antiga."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -14
(Fragmento 3 de 3, pag. 7)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Escrevi a páginas 7 do meu "livro artesanal" de excertos de leitura deste livro: "a luta para encontrar a equidistância entre a paixão e o prazer do acto de "estar com" (nem só uma nem só outra daquelas duas atitudes normais, nem o meio termo, mas outra forma de relação)."

sábado, maio 29

José Augusto Seabra

Morreu, em Paris, José Augusto Seabra. Não o conhecia pessoalmente nem discuto o valor da sua obra literária. Assinalo, simplesmente, duas facetas da sua vida que, indirectamente, me ligam a ele. O seu doutoramento em Paris sob a orientação de Roland Barthes cuja obra sempre me fascinou.

As leituras de Barthes foram para mim um prazer e influenciaram fortemente (com as de Camus) a minha formação cultural. De facto sempre me interessei mais pelas "letras" do que pelas "ciências", apesar da minha formação académica de economista. Daí que este blog assuma, para estranheza de alguns, a publicação de uma sequência de posts com textos de Barthes.

Outra faceta tem a ver com o facto de ter sido do seu tempo de Ministro de Educação, por volta de 1983, que decorreu uma experiência de relançamento do ensino técnico profissional de cuja avaliação muito beneficiou o processo, em 1989, de concepção e lançamento do ensino profissional e, em particular, das escolas profissionais de cujo projecto fui coordenador.

A este assunto voltarei no próximo fim-de-semana a propósito de um artigo, de minha autoria, que será publicado no Semanário Económico.