Fragmentos de Leituras
"O amor, a loucuraOrdem do dia de Bonaparte, Primeiro Cônsul, à sua guarda: "O granadeiro Gobain suicidou-se por amor; era, de resto, muito boa pessoa. É a segunda vez que se verifica um acontecimento desta natureza durante o último mês. O Primeiro Cônsul ordena que seja fixado na ordem da guarda: que um soldado tem de vencer a dor e a melancolia das paixões; que há tanta coragem em sofrer com constância as penas da alma como em ficar em sentido sob a metralha de uma bateria…"
Estes granadeiros amorosos, melancólicos, de que linguagem extraíram eles as suas paixões (pouco concordantes com a imagem da sua classe e da sua profissão)? Que livros teriam eles lido - ou que histórias teriam ouvido? Perspicácia de Bonaparte ao assimilar o amor a uma batalha, não no facto - banal - de dois intervenientes que se enfrentam, mas porque a rajada amorosa, cortante como a metralha, provoca a surdez e o temor: crise, convulsão do corpo, loucura: aquele que está apaixonado à maneira romântica conhece a experiência da loucura. Ora, a este louco nenhuma palavra moderna é dada hoje em dia, e é afinal por isso que ele se sente louco: nenhuma linguagem para roubar - a não ser muito antiga."
"Roland Barthes por Roland Barthes" -14
(Fragmento 3 de 3, pag. 7)
Edição portuguesa: "Edições 70"
Escrevi a páginas 7 do meu "livro artesanal" de excertos de leitura deste livro: "a luta para encontrar a equidistância entre a paixão e o prazer do acto de "estar com" (nem só uma nem só outra daquelas duas atitudes normais, nem o meio termo, mas outra forma de relação)."
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