Ao receber o telefonema imaginem aquele silêncio da espera em que nos queremos tornar simpáticos ao interlocutor que se não identifica. E que confia que seremos capazes de o reconhecer.
Desta vez estava do outro lado o Infante da Costa. Queria à viva força que o reconhecesse pela voz. Mas eu não o vejo, nem falo com ele, vai para 15 anos! Nem a referência a Pombal ajudou.
Mas depois de se identificar viu-o na perfeição com os traços mais carregados do longo tempo que, entretanto, passou. É que somos capazes de desenhar, na nossa cabeça, imagens de que não temos ideia de que somos depositários. Os sonhos explicam-nos isso muito bem.
Ele queria que eu fizesse um depoimento acerca da primeira Escola Profissional criada em Portugal na época moderna. 1989 – Pombal. Assim foi, na verdade. Estava eu no GETAP, do ME, que já não existe, (o GETAP, é claro) a convite da Margarida Marques, que tinha sido convidada pelo Joaquim Azevedo, que tinha sido convidado pelo Roberto Carneiro.
Os principais mentores e entusiastas da Escola Profissional de Pombal foram, à época, o Guilherme Santos, Presidente da Câmara Municipal de Pombal e o Portela Fernandes, Presidente da Associação Industrial de Pombal.
O caso é tanto mais extraordinário pelo facto da Câmara Municipal ser de maioria socialista e o governo ser, em 1989, de maioria (absoluta) social-democrata. E foi esse o projecto escolhido para inaugurar a nova geração de escolas profissionais em Portugal. Em Pombal andaram mais depressa criando as condições para o lançamento do projecto.
Mas o caso ainda é mais dramático se nos lembrarmos que o Guilherme Santos faleceu em 1989, ainda antes da inauguração da escola, e o Portela Fernandes (por coincidência, meu colega de faculdade) faleceu em 1990. Mas o projecto sobreviveu aos seus principais mentores. São muitos ingredientes juntos para não despertarem uma reacção emocional.
Como tenho estado doente – fechado em casa – com estas coisas das febres, dores de cabeça, dores no corpo, falta de apetite …. aproveitando uma aberta, à base de “ben-u-ron”, redigi o depoimento e enviei-o pouco tempo depois para o Infante da Costa que é a verdadeira alma da Escola desde a sua criação.
É que participar na criação, desde a raíz, num projecto “pesado” e inovador, neste pobre país, e poder regozijar-se pelo seu 15º aniversário, não é para todos nem para todos os dias.
Fiz, a despropósito, acompanhar o envio do dito depoimento com um pedido de desculpas pela rapidez. O Infante da Costa vai compreender. É o gozo das coisas.
1 comentário:
abraço e melhoras, amigo
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