segunda-feira, julho 18

CESÁRIO VERDE


Cesário Verde - Morreu a 19 de Julho de 1886

Lúbrica

Mandaste-me dizer,
no teu bilhete ardente,
que hás-de por mim morrer,
morrer muito contente.

Lançaste no papel
as mais lascivas frases;
a carta era um painel
de cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
teus dedos delicados
traçaram do prazer
os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
é muito mais fogoso,
que a febre epistolar
do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
os olhos tão nefandos
traduzem menos mal
os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
libidinosa Marta,
teus olhos dizem mais
que a tua própria carta.

As grandes comoções
tu, neles, sempre espelhas;
são lúbricas paixões
as vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
mulher, que me dissecas,
teus olhos dizem mais,
que muitas bibliotecas!

3 comentários:

Anónimo disse...

Linda poesia
Senhor Eduardo Graça...
a leitura é mágica

Rose...

Eduardo Graça disse...

Não foi por acaso que esta poesia foi integrada na colectânea da "Poesia Erótica e Satírica Portuguesa". Fui buscá-la aí ... para celebrar - um dia antes do tempo - a morte de Cesário Verde. Um abraço

Anónimo disse...

"Lúbrica" - uma poesia que se publica sempre a pensar no prazer do desejo. Longe ou perto esse alguem faz-se presente na imaginação de quem não tem acesso ao objecto do desejo.
Du