Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, julho 10
O Azul Ficou
Fotografia de Joana Darc in Om Namah Shivaya
Quando era criança e os meus pais foram viver para a vivenda nova, em S. Luís, entre hortas, eu adivinhei os primeiros sinais da guerra que tinha terminado havia já uns anos.
O céu da minha infância era sempre azul e cobria de uma luz radiosa a terra. Não sabia interpretar nem os exílios nem as guerras. Na casa da Horta do Rodolfo, ao fundo da minha rua, vivia uma família alemã.
Os mais jovens dessa família eram diferentes de todos nós. Louros e atléticos. O Otto era conhecido de todos e a irmã dele era um deslumbramento. Nunca cheguei a saber qual o estatuto daquela família. Fosse qual fosse eram muito estimados e admirados por todos.
De vez em quando desfila pelo écran da minha memória a imagem elegante e enérgica do Otto e de sua irmã. Um dia foram embora e nunca mais soube nada deles. Mas o azul ficou.
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