segunda-feira, outubro 10

Autárquicas - uma manipulação e uma "vitória moral"


“Trás os Montes” - Fotografia de Hélder Gonçalves

A SIC continua a passar a informação de que, nestas eleições autárquicas, “o PS sofreu a pior derrota dos últimos vinte anos”. O rodapé na “SIC Notícias” faz gala desta afirmação e esta ideia foi passada diversas vezes, ontem, dizendo-se que o PS, nestas eleições, tinha regredido ao nível dos resultados das autárquicas de 1985.

Eis uma manipulação grosseira da verdade com a finalidade de valorizar o resultado do PSD e humilhar publicamente o resultado do PS. Pretende-se dar a imagem de uma vitória esmagadora da direita que, de facto, não corresponde à verdade dos números.

É uma manipulação que medra no esquecimento e que permite passar mentiras descaradas por verdades incontestadas. Nem dá para entender como os dirigentes do PS não desmontaram logo na hora tais notícias.

Em 1985 o PS obteve 1.330.388 votos, correspondendo a 27,4%, tendo conquistado 79 Presidências de Câmara. O PSD, nesse ano, obteve 1.649.560 votos, 34%, correspondendo a 149 Presidências. O CDS, 471.838 votos, 9,7%, 27 Presidências e o PCP 942.197 votos, 19,4%, 47 Presidências.

É óbvio que a situação política é, hoje, muito diferente daquela que ocorria vinte anos atrás mas é notório que o PS, nestas eleições, obteve resultados muito superiores aos de 1985. Logo não podem as eleições de 1985 servir como baliza para contar os tais 20 anos. Senão vejamos.

Nas presentes eleições de 2005, o PS obterá entre 108 e 109 Presidências de Câmaras e o PSD, sozinho e em coligação com o CSDS/PP, obterá entre 159 e 160 Presidências (faltando apurar o resultado em um só concelho).

Em 1985, o somatório do PSD e do CDS valeu a estes partidos 176 Presidências de Câmara, ou seja, um número bastante superior aquele que obterão nas presentes eleições.

Se quiséssemos fazer comparações, entre 1985 e 2005, o PS obtém hoje mais Presidências e a direita (PSD+CDS) menos, comparativamente com as eleições de há vinte anos, pelo que a direita sai a perder no cotejo com o PS (sempre sozinho pois, em 85, não havia sequer a coligação de esquerda na Câmara de Lisboa).

Quanto muito poder-se-iam tomar como referência as eleições de 1989 em que o PS ganhou 116 Presidências de Câmara e o conjunto do PSD e do CDS, 133. Então os tais 20 anos ficavam reduzidos a 16.

Mas o mais honesto é fazer a comparação com os resultados das eleições autárquicas de 2001 e tomados estes verificar-se-á um ligeiro recuo do PS (108 a 109 Presidências, em 2005, para 111 em 2001) e, da mesma forma, um ligeiro recuo do número de Presidências para o PSD/PP (159 a 160, em 2005, para 162 em 2001).

Ora vejam como o avanço da direita é nulo nestas eleições autárquicas, face aos resultados de 2001, o que transforma a sua vitória numa verdadeira “vitória moral”. Os grandes números, reais, falam por si … as expectativas são outra coisa.

(Dados Oficiais do STAPE)

1 comentário:

Sizandro disse...

Ainda p'ra mais no total absoluto nacional (com penas 1 freguesia por apurar) o PS tem mais votos (1929442 - 35,83%), do que o PSD (1522928 - 28,28%). Portanto, e apesar de eu não ser do PS nem nele ter votado, tenho alguma dificuldade em discurtinar essa tal vitória laranja, a não ser que agora Lisboa e Porto sejam o país e nós sejamos todos uns marrécos.
Mas foi mais o Sócrates que se enterrou todo com o discurso que fez... porque afinal uma leitura reorganizada dos números poderia ter baralhado as cartas e a coisa passava sem este cantar vitória do PSD, que quanto a mim, é apenas o que se esperava (ou até menos) de umas eleições em pleno período de contestação ao Governo.