Quando eu era pequeno em casa de meus pais – ainda na rua Coelho de Melo e redondezas – trabalhava o Damião de que me lembro muito bem de ouvir falar. Um dia o Damião emigrou para a Argentina. Foi um drama. O meu irmão ficou em estado de choque e, ao que contavam os meus pais, eu desfiz-me num mar de lágrimas. Muitos anos mais tarde ao receber um grupo de emigrantes portugueses que visitaram Portugal no âmbito do programa "Portugal no Coração", que o INATEL acolhia, aquando das apresentações, um homem ao ouvir o meu nome soltou um sonoro grito num algarvio espanholado do país das pampas: Graça! Era um farense que tinha largado a cidade, na mesma leva do Damião, quase cinquenta passados. Comovemo-nos. Ele por reconhecer em mim os meus pais e irmão. Eu por reconhecer nele a lembrança do Damião. Fiquei a saber que aquele por quem tanto tinha chorado havia morrido sem nunca mais visitar a sua terra natal. Entendi como é relativo o valor exacto do nosso olhar sobre a evolução da Cidade. Pois a cidade emigrou para a periferia e já há muitos anos que não temos notícias dela.
[A propósito das fotografias do Sr. Rodrigues e da sua casa comercial na Rua de Santo António]