quarta-feira, março 17

Música

As notícias acerca do volume de jovens que, em Portugal, abandonam precocemente a escola é preocupante. Sejam os valores apresentados pela UE (quase 50%), ou outros valores mais suaves, é uma situação de emergência nacional.

Não está em causa a estatística mas as vidas que se escondem por detrás da estatística. Os jovens, na maior parte dos casos, abandonam a escola por razões económicas no quadro de situações familiares à beira do limiar da sobrevivência.

Contrariar esta tendência é uma tarefa do Estado, quer dizer, da comunidade. O núcleo essencial para atacar o problema é a escola. A comunidade escolar conhece os problemas dos alunos, as suas dificuldades, as tensões que atravessam as suas vidas concretas.

O combate ao abandono da escola, antes do fim da escolaridade obrigatória, deveria ser considerado um grande desígnio nacional. Assim uma espécie de Euro 2004. Com prazos fatais. E obras emblemáticas. E figuras públicas reconhecidas envolvidas na promoção. Uma campanha a sério com objectivos quantificados e fiscalização da sua execução. Assim uma espécie da campanha, realizada anos atrás, para o uso do cinto de segurança nos automóveis.

Não sei se seremos capazes de planear a médio/longo prazo um projecto de reducção drástica desta hemorragia de recursos que representa o abandono escolar. Seria necessário muita clareza nas medidas e muita determinação e rigor nos procedimentos e nas acções a empreender para as tornar mobilizadoras para toda a comunidade nacional. Não se trata tanto de uma questão de recursos materiais mas de vontade política e de mobilização cívica.

Mas o futuro de Portugal depende de sermos capazes de pôr fim a esta situação anómala de muitas famílias e jovens encararem a escola como uma obrigação que se pode abandonar sem uma fortíssima penalização social. É um projecto que exige uma complexa engenharia de meios financeiros, materiais e humanos. Exige o fim das querelas e disputas entre as instituições que gerem os recursos destinados à formação profissional e à educação. A participação empenhada dos parceiros com papel no terreno: professores, funcionários, sindicatos, associações de pais, autarquias, etc.

Eis uma tarefa gigantesca que exige ambição e vontade de reforma autêntica. O título deste post - música - deve-se ao facto de o ter pensado, inicialmente, para dar notícia que o meu filho, de 13 anos, obteve a nota máxima em mais um teste de música. Uma trivialidade que serve para concluir que o sucesso do processo educativo não passa só pela boa prestação dos alunos nas áreas tradicionais em que assumem papel prepoderante as disciplinas de matemática e português. Atenção às artes, às ciências e ao ensino profissional.

Um debate nacional é urgente. Quem o promove?

ÓPERA

" Os Fugitivos" sobem ao palco do Teatro da Trindade que acolhe, esta quarta-feira, a estreia de "Os Fugitivos", uma ópera em português com libreto escrito por Rui Zink. As récitas vão até ao dia 04 de Abril. Com o objectivo declarado de fazer uma ópera acessível, José Eduardo Rocha e Rui Zink criaram, a convite do Teatro da Trindade, "Os Fugitivos".
Esta notícia tem um especial significado para mim. A ideia de assumir este projecto foi do Carlos Fragateiro, director do Teatro da Trindade, desde 1999. Raros são aqueles que sabem mas o TT é uma estrutura do INATEL.
Quem aprovou a produção desta ópera foi o INATEL quando eu exercia as funções de Presidente da Direcção. Uma ousadia e um risco num país de sacanas onde impera a inveja e a vil baixeza. Felizmente que ninguém foi capaz de atropelar os fugitivos. Este é certamente um espectáculo digno e de qualidade, realizado com poucos recursos.
Onde estão as óperas do Teatro S. Carlos? E o Teatro D. Maria, que é feito?

Aniversário

O Governo ficou, de súbito, muito preocupado com a ameaça terrorista no território português. Ou melhor ficou preocupado com a vitória do PSOE. Os socialistas espanhóis têm na própria sigla um sem número de horrores: PSOE - Partido Socialista Operário Espanhol. Socialista e Operário. Ao fim de dois anos o Governo português tem, certamente, razões para estar preocupado. Mas os portugueses podem ficar descansados. A retoma vem aí. Os Ministros da Administração Interna, da Defesa e da Justiça dão garantias de segurança e o Dr. Delgado, à frente da Lusa, dá garantias de verdade e isenção na informação. Além do mais Portugal não é a Espanha. Aqui quem está no Governo não é o PP, é o PSD. Já repararam?

Soneto VI


De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça... -Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!

Não há verdade: o mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

Jorge de Sena
In Génesis - Coroa da Terra (1946)

25 de Abril - notas pessoais


Intolerável absurdo


O golpe militar foi a consequência inevitável do predomínio dos ultraconservadores na governação. O Estado Novo, na sua fase terminal, esmagou a "ala liberal" na qual, muitos de nós, tínhamos depositado esperanças de mudança. De facto o grande acontecimento político do século XX português, depois da implantação da República, em 1910, teria sido a transição pacífica da ditadura para a democracia.

Depois da morte política de Salazar o que terá passado pela mente de Marcelo Caetano? Porque não agiu? Por falta de coragem? Por falta de um verdadeira desígnio reformista? A razão de fundo para essa trágica omissão terá sido a política colonial que, desde o início dos anos 60, foi conduzida com o recurso à guerra, em desfavor da negociação com os movimentos de libertação. O regime foi conduzido a um beco sem saída. Os reformistas civis não foram capazes de forjar uma aliança consequente com os reformistas militares.

Ainda hoje está por explicar, por outro lado, o papel da diplomacia das potências ocidentais nesta estranha situação de arrastamento de uma crise que se havia declarado, a partir de 1958, aquando da fracassada candidatura presidencial do General Humberto Delgado. As diplomacias ocidentais, que certamente estavam bem informadas dos acontecimentos em Portugal mantiveram, salvo raras e honrosas excepções, uma plácida e comprometedora inércia, que nem o cruel assassinato de Humberto Delgado desbloqueou. Será possível que os EUA e as potências europeias tenham sido apanhadas desprevenidas pelo 25 de Abril?

Intolerável absurdo!

(3 de 32 continua)

Mudança

Hoje processou-se uma mudança na apresentação do absorto. Três meses depois de ter iniciado a sua participaçãp na blogosfera era tempo de encetar uma mudança de visual. Por outro lado o editor do absorto tinha programado assumir plenamente a sua autoria passada uma primeira fase experimental. Apesar da próxima criação de um blogue colectivo, no qual participarei, e que deverá ser apresentado por alturas do dia 25 de Abril, o absorto manter-se-à com autoria individual. As mudanças vão continuar porque acreditamos que, apesar de todas as resistências, enganos e mal entendidos, a internet é o futuro.
Eduardo Graça

terça-feira, março 16

25 de Abril - notas pessoais

16 de Março - um mau prenúncio


O chamado "Golpe das Caldas" ocorreu a 16 de Março de 1974. Passam hoje exactamente 30 anos.

Cumpria, como Oficial Miliciano, o serviço militar obrigatório no 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (2º GCAM), onde hoje está instalada, no Campo Grande, em Lisboa, a "Universidade Lusófona". Depois de conhecidas as notícias do avanço da coluna militar, a partir das Caldas da Rainha, instalou-se uma grande agitação no quartel. Era sábado mas eu estava lá talvez porque estivesse de serviço. Finalmente surgia uma manifestação concreta de revolta militar mas eram notórias as dúvidas e incerteza acerca do destino do golpe.

Pela manhã desse dia recebi ordem do Comandante para recolher ao quarto. Estive preso umas breves horas. Após o golpe ter fracassado, na manhã seguinte, mandaram-me sair. Fiquei aliviado. Iniciava-se, assim, a fase final do verdadeiro e decisivo golpe militar.

Não o podíamos adivinhar mas o "Estado Novo" que, desde a ditadura militar, instaurada pelo golpe de 28 de Maio de 1926, iria perfazer 48 anos, estava a breves semanas do fim. Várias gerações de portugueses viveram toda, ou grande parte, das suas vidas sem conhecerem a cor da liberdade, pesando sobre as cabeças dos conspiradores a responsabilidade de pôr fim ao pesadelo. (2 de 32 continua)

segunda-feira, março 15

As "Esquerdas Terroristas" ("ETs")

Bem me queria parecer que esta coisa das eleições podia dar chatices. É claro que a maioria dos "10 grandes educadores da opinião pública" ficaram tristes com o sentido do voto dos "nuestros hermanos". A democracia, para eles, não está em causa. O problema é a surpresa. O povo vota muitas vezes com o coração. Se a esquerda ganha o povo vota de uma forma impensada. Influenciado pelas más razões. É vingativo. Pouco generoso. A democracia não está educada mas não está em causa. No caso de "nuestros hermanos" este resultado foi uma vitória para os terroristas. A partir deste momento histórico sempre que a direita perder eleições quem ganha não é a esquerda, é o terrorismo! Eis um extraordinário argumento democrático. A associação da palavra esquerda a "terrorismo", tornando socialistas e social-democratas, nas suas diversas formulações no Mundo Ocidental, em "ETs" - "esquerdas terroristas". Tanto mais que na esquerda, que se saiba, são estas formações políticas que ganham eleições. A democracia é, para a direita, um valor absolutamente intocável caso ganhe as eleições. Mas, caso ganhe a esquerda, a democracia passa a ser um subtil instrumento dos desígnios tenebrosos do terrorismo internacional. Eis ao ponto a que chegou o rigor ético do pensamento político dos publicistas da direita. Bem vistas as coisas os 10 milhões e meio de espanhóis que votaram no PSOE são aliados dos terroristas e, nalguns casos, serão mesmo terroristas. Se Kerry ganhar as eleições nos EUA a maioria dos americanos passarão à condição de suspeitos de terrorismo senão mesmo terroristas... Este é o jogo da direita ultraconservadora e da extrema direita para descredibilizar a democracia. Que os "educadores da opinião pública", com passado e, nalguns casos, presente, socialista e social-democrata, caiam nesta armadilha é que espanta e … assusta!

domingo, março 14

25 de Abril - notas pessoais

O passado e o futuro


25 de Abril de 1974. Passaram 30 anos.

Pouco tempo na história de um país. Muito tempo para uma geração. As datas históricas ganham espessura com o passar do tempo. Mas os seus protagonistas não devem apresentar-se como sobreviventes de uma época em que fizeram história. Apesar de todas as vicissitudes, excessos e erros, o 25 de Abril foi o dia da reconquista da liberdade. A data é uma circunstância. Ela identifica o tempo dos acontecimentos.

Este é o primeiro de 32 textos, fragmentos sem cronologia, notas pessoais escritas de memória, com referências a factos, alguns inéditos, que não têm pretensão de escrever história. No Portugal contemporâneo celebrar o 25 de Abril, deveria ser uma oportunidade para debater os grandes desígnios nacionais do presente e do futuro: a reforma da democracia representativa e o reforço da integração de Portugal na Europa. São estes os temas que há que debater a nível nacional.

Não creio que esta celebração seja um contributo relevante para esse debate e para a consolidação e desenvolvimento das extraordinárias conquistas políticas e sociais dos últimos 30 anos. A tendência das celebrações é a de evocar o passado e Portugal precisa, com urgência, de repensar o futuro. Apesar da mentira espreitar, as mais das vezes, nas evocações do passado, realçando o lado mais favorável das nossas próprias memórias, escondendo erros, fracassos e injustiças próprias, que outro acontecimento foi mais importante, no Século XX português, do que o 25 de Abril?

Por isso decidi correr o risco...

(1 de 32 continua)



Eleições em Espanha

Se a participação popular nas eleições for forte será uma vitória para a democracia e para a liberdade. Ganhe quem ganhar. Isso é o mais importante. O terrorismo é uma realidade com a qual a Espanha convive desde há muitos anos. Não é uma novidade nem para os espanhóis nem para ninguém. A Europa não é, nem nunca foi, um paraíso imune ao terrorismo como nos querem fazer crer. Tem havido recentemente atentados na Europa. Desde logo em Espanha através da ETA mas lembremo-nos do assassinato da Ministra dos Estrangeiros Sueca, antes dela, do líder do partido de extrema-direita holandês, ou antes ainda Olof Palme e lembremo-nos dos atentados em Itália e da situação na Irlanda…É um assunto abordado por pensadores, políticos e artistas desde há muitos séculos. O cinismo e a mentira também não são novidade na política e na diplomacia. A propósito de atentados, como o de 11 de Março em Madrid, mais vale não acreditar no que afirmam os governos, em particular, em véspera de eleições. Mas, em qualquer circunstância, os povos têm direito a saber a verdade e os governos democráticos a obrigação de lhes dizer a verdade..

sábado, março 13

25 de Abril - notas pessoais

As 32 notas pessoais que publicarei, a partir de 2ª feira, dia 15 de Março, sob o título "25 de Abril - notas pessoais", podem ser desenvolvidas no futuro. Depende exclusivamente da minha vontade. Nunca nada está encerrado na nossa memória mas a memória individual não é eterna. Como disse Camus "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos." Concordo plenamente. Resta sermos justos no exercício da nossa liberdade de expressão.

As notícias que se fazem…

Madrid - ainda os cadáveres das vítimas dos atentados de dia 11 não estavam todas identificadas e já a diplomacia espanhola dava orientações para todo o mundo para que os embaixadores tomassem a iniciativa de divulgar que tinha sido a ETA. Não acreditar em nenhuma informação...venha de onde vier.

Construção Civil - o sector da construção civil em Portugal apresentou, em 2003, o pior desempenho entre todos os países da EU. A construção civil é um bom barómetro da situação económica e esta notícia confirma a recessão de 2003. No entanto a primeira página do Expresso apresenta um mapa com uma análise comparativa de Portugal com as regiões de Espanha, simulando a Ibéria, e uma foto do Santana Lopes a ser recebido pelo Papa.

Aparição



Vens á tardinha, pousas a meu lado,
e a tua voz murmura como um canto...
Ondeia em névoas de astros o teu manto...
É um clarão do Além teu vulto alado!

Ergues mãos as rosas do Passado,
que ao seio apertas, lacrimosa, - enquanto
elas derramam úmidas de pranto,
o sangue dum amor crucificado...

Jardim lilás e oiro, a tarde finda,
toda a esfolhar-se em luz crepuscular...
Vens quando é noite já, e dia ainda...

Vens de enigma desta hora entercida,
quando a tarde é um beijo a soluçar,
- um beijo em pranto, como a nossa vida!

Bernardo de Passos



sexta-feira, março 12

Uma notícia com significado

O PÚBLICO noticia que "Numa circular enviada ontem às embaixadas de todo o mundo a Chefe da diplomacia espanhola instruiu embaixadores a defender tese da ETA.
A ministra dos Negócios Estrangeiros espanhola, Ana Palacio, enviou ontem uma circular aos embaixadores de Espanha, instruindo-os a defenderem a tese de que a ETA foi a autora dos atentados de Madrid, noticia a rádio Cadena Ser, que diz ter tido acesso a uma cópia do documento."

Tudo é possível com respeito á autoria dos atentados mas estas certezas, como já antes se provou, são muito duvidosas.

25 de Abril - notas pessoais


A partir de 2ª feira, dia 15 de Março, terá início a edição de 32 posts, sob o título "25 de Abril - notas pessoais", referindo acontecimentos em que o próprio editor do absorto participou.
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Um soneto de Camilo Pessanha



Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
¿Quem as esparze - quanta flor! -, do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?



quinta-feira, março 11

IMIGRAÇÃO, REALISMO E POPULISMO - III

A Igreja, em Portugal, tem abordado a questão da imigração com frontalidade e coragem. D. Januário Torgal Ferreira, face ao discurso que identifica "os imigrantes com o espectro do desemprego dos portugueses", diz o essencial: "essa lógica restritiva é de pessoas que não conhecem o terreno..." e crítica os que se intitulam de cristãos (nos partidos do governo) afirmando que "esperava que aparecessem igualmente com a capacidade de utopia e de exigência que faz parte dos critérios do Evangelho".
Por sua vez o Presidente da CIP, Francisco Van Zeller, em entrevista, ao Diário Económico, de 29 de Janeiro passado, referindo-se à quota de 6.500 imigrantes, que o Governo estabeleceu para 2004 deu uma resposta elucidativa: "Ninguém faz caso dela, porque os imigrantes vão continuar a entrar ilegalmente e as empresas a empregá-los."
O que os números revelam é que estamos perante uma questão estruturante que condiciona a viabilidade do desenvolvimento económico e social da União Europeia e dos países que a constituem.
Por outras palavras toda a gente compreende que esta é uma questão em que o realismo é inimigo do populismo cujo discurso radical encobre, e favorece, a imigração clandestina, abre as portas aos sentimentos xenófobos e ao enfraquecimento das políticas de integração social das comunidades imigrantes.


Madrid - 11 de Março de 2004

Pelas 8,30 da manhã de hoje, 7,30 de Espanha, senti uma sensação de forte angústia, ao tomar o pequeno-almoço, no sítio habitual. Senti-me mal. Há muito que não tinha a visita deste tipo de sensação. Certamente uma mera coincidência. Mas exactamente à mesma hora, pois consultei o relógio, estavam a rebentar as bombas em Madrid. O terrorismo não tem ideologia. É sempre um fenómeno que favorece a tirania. Resta saber, neste caso, ao certo, quem foram os autores. Se existem ligações directas com a "guerra santa" e o apoio de Espanha à intervenção norte americana no Iraque. Ou terá sido a ETA, como afirmam as autoridades espanholas? As palavras de condenação são unânimes. Ninguém pode ficar de fora do protesto e da condenação deste tipo de actos. Mas estão as forças da direita ultra-conservadora, no poder em muitos países, como os EUA e Espanha, na melhor posição para travar um combate bem sucedido ao terrorismo? Acendo uma vela para que Kerry vença nos EUA. Posso estar enganado mas tenho a intuição de que a segurança no mundo ia melhorar
A notícia na sua brutalidade diz tudo.
"Atentado em Madrid faz 186 mortos e mais de 1.000 feridos, aponta novo balanço

Pelo menos 186 pessoas morreram e mais de 1.000 ficaram feridas nos atentados bombistas perpetrados hoje em comboios de Madrid e atribuídos à ETA pelo Ministro do Interior espanhol, Angel Acebes.
Segundo Acebes, os explosivos - 13 no total - usados nos atentados são do tipo normalmente utilizado pela organização separatista basca."


quarta-feira, março 10

IMIGRAÇÃO, REALISMO E POPULISMO - II

A imigração é efectivamente responsável pelos saldos demográficos positivos em todos os países. A posição destacada da Irlanda explica-se pelo facto deste país apresentar um indicador de "crescimento natural" muito elevado ao contrário de Portugal (0,9) e de Espanha (1,7).
A Irlanda é, aliás, o país da EU que apresenta indicadores de crescimento da população mais encorajadores para uma estratégia de desenvolvimento sustentada adoptando, ao mesmo tempo, políticas de imigração menos restritivas.
O estudo "CONTRIBUTOS DOS IMIGRANTES NA DEMOGRAFIA PORTUGUESA" é explícito: "Para que o número de pessoas em idade activa por pessoa idosa mantivesse níveis idênticos aos observados em 2001, (...) seria necessário observar-se, de 2001 a 2021, um saldo migratório anual em Portugal de +188.000 efectivos".
Um saldo migratório tão elevado é um sinal de que não é realista pensar que o envelhecimento possa ser travado exclusivamente à custa de saldos migratórios positivos.
Mas as políticas de imigração têm de ser flexíveis, de modo a que afastando o modelo de "portas abertas", que ninguém de bom senso defende, permitam que os países beneficiem das vantagens da imigração, em particular, favorecendo a inversão da tendência de diminuição dos efectivos nas idades jovens e activas.
De facto, em todos os países, os estudos contrariam as orientações políticas restritivas, facto para o qual veio hoje chamar a atenção o Comissário Europeu António Vitorino.
UM ESTUDO RECENTE, divulgado na Irlanda, assinala, por exemplo, que a Irlanda necessitará de cerca de 300.000 licenciados, entre 2001 e 2010, dos quais 100.000 serão imigrantes dos países do leste. Tal situação deve-se ao facto de ser previsível, na Irlanda, até 2010, uma diminuição de 15% no número de jovens entre os 15 e os 24 anos.
(continua)


terça-feira, março 9

PORTO

Grande Porto! Os Ingleses receberam uma lição que bem mereceram. A sua arrogância é insuportável e foi-lhes fatal. O FC Porto é uma preciosidade na promoção de Portugal na Europa e no Mundo. Vencedores, não é?

IMIGRAÇÃO, REALISMO E POPULISMO - I

Portugal já foi um país de emigração mas hoje é um país de imigração e será, no futuro, um país de imigração. A imigração não é uma questão de opção ideológica, de modelo económico ou de estratégia política. É uma realidade objectiva que resulta do envelhecimento demográfico. O que não quer dizer que acerca desta realidade não se perfilem diversas opções ideológicas, económicas ou políticas. Este é um assunto, aliás, onde se exercitam as tendências populistas dos partidos ultraconservadores. O EUROSTAT aponta para Portugal, em estimativa, uma população, em Janeiro de 2004, de 10.840.000, comparável com 10.408.000, em Janeiro de 2003. Observa-se um saldo demográfico positivo mas que se fica a dever à imigração. Esse saldo é o resultado da relação entre o crescimento natural em 2003 (diferença entre o n.º de nascimento e o n.º de mortes) que foi de 0,9 p/ mil habitantes e a migração líquida (diferença entre o n.º de imigrantes e o n.º de emigrantes) que foi de 6,1 p/ mil habitantes.
É interessante assinalar que, em 2003, a média do crescimento total da população, na EU, foi de 3,4 p/mil habitantes. A Irlanda é o país que apresenta o crescimento da população mais elevado, com 15,3 p/ mil habitantes, seguido da Espanha (7,2) e de Portugal (6,9).
(Continua)

25 de Abril - Comemorações

A notícia foi dada por um responsável governamental. O 30º Aniversário do 25 de Abril terá como lema a palavra "EVOLUÇÃO". Vejam como o prestigiado "Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea", da Academia das Ciências de Lisboa, define "EVOLUÇÃO" e "REVOLUÇÃO":

EVOLUÇÃO

"Processo de transformação gradual que se opera ao longo de determinado período de tempo."

REVOLUÇÃO

"1. Acção de realizar mudanças profundas; acto ou efeito de revolucionar. (...) 2. Levantamento armado contra a autoridade, a ordem estabelecida. (...) 3. Movimento de caracter insurreccional, com o objectivo de instaurar uma alteração profunda no quadro político e institucional que pode conduzir à queda do regime."

Está claro que o 25 de Abril foi uma "EVOLUÇÂO"!

segunda-feira, março 8

Fecho de telejornal

Hoje, 2ª feira, o pivot do Telejornal da RTP, das 20 horas, anuncia uma reportagem com a chegada a Portugal dos medalhados dos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta. Era a última notícia. A reportagem não entra e o pivot fecha, apressadamente, o Telejornal. A seguir entra o programa diário acerca do Euro 2004. Uma omissão vergonhosa…

União Europeia precisa de imigrantes

"A maioria dos europeus considera que os imigrantes são necessários em alguns sectores da economia, revela um eurobarómetro, publicado hoje pela Comissão Europeia. A sondagem mostra que 62 por cento dos portugueses considera que os imigrantes são necessários e 81 por cento admite que os que estão legalizados deviam ter os mesmos direitos que os cidadãos nacionais.
Os inquiridos apoiam as políticas europeias de asilo existentes e defendem que estas deviam ser iguais em todo o espaço comunitário. Nove em cada 10 europeus gostariam que houvesse uma cooperação judicial em matéria civil e familiar, ou seja, que questões relacionadas com o divórcio ou a custódia dos filhos fossem reconhecidas em toda a União Europeia. A sondagem foi realizada entre 8 e 16 de Dezembro e ouviu 7500 pessoas em todo o espaço comunitário".

Luís Salgado de Matos,

hoje no PÚBLICO, deixa cair esta frase: "Nos últimos anos adquirimos os hábitos dos ricos e conservámos os recursos dos pobres. Ganhámos vícios sociais demasiado caros para a nossa bolsa. Símbolo deste desequilíbrio é o aumento paralelo do desemprego e da imigração: os nossos desempregados acham que os postos de trabalho disponíveis estão abaixo deles". Há uma relação directa entre o aumento da imigração e o aumento do desemprego? Não está provado. Há um efeito perverso das regalias sociais na disponibilidade para aceitar ofertas de trabalho? Nalguns casos certamente. Mas será essa a regra? Não parece que estejamos à beira de constituir os desempregados como delinquentes potenciais. A tese das correntes da direita ultraconservadora associa desemprego com imigração e imigração com insegurança. Mas a maior parte dos estudos sérios não confirmam as teses da direita ultraconservadora. O ocidente precisa dos imigrantes na justa medida em que não consegue promover a reposição das gerações: é a questão demográfica; o ocidente não consegue dispor de uma massa crítica de mão de obra disponível capaz de assegurar o funcionamento da economia: é a questão económica. As sondagens podem ser discutíveis mas os estudos disponíveis, dos quais indiquei ontem alguns, são elucidativos do erro das posições radicais em matéria de imigração.

domingo, março 7

Imigração - para compreender a questão

Para os interessados na questão da imigração é útil ver uma notícia de hoje, domingo, no PÚBLICO referente à estratégia da extrema-direita face ás políticas de imigração na EU; reflectir acerca de um ESTUDO IRLANDÊS acerca das necessidades de licenciados, até 2010, naquele país e reflectir também nas conclusões do ESTUDO PORTUGUÊS: "Contributos dos Imigrantes para a Demografia Portuguesa".

Naide

Tenho acompanhado o seu percurso desportivo. Naide Gomes pareceu-me logo estar destinada a grandes feitos. Mas tudo podiam não passar de falsas expectativas. Ás vezes acontece não se confirmarem os talentos quando a competição começa a ser muito exigente. Mas neste caso temos seguramente uma campeã. Isto sim é uma bênção para qualquer país. Ainda por cima encanta o seu sorriso. Os seus gestos técnicos parecem perfeitos. A alta competição não a intimida. O seu corpo jovem promete estar muito longe de ter atingido a maturidade. Campeã do mundo do pentatlo é mais do que ser uma campeã qualquer. O pentatlo é uma prova que exige muita capacidade técnica. É diferente de uma maratona ou de uma corrida de fundo. Deveria ter enchido com a sua imagem as primeiras páginas dos jornais e preenchido longamente as aberturas dos telejornais. Mas não é muito popular! Ainda se fosse o Avelino…ou uma denúncia escandalosa.

sábado, março 6

A lista PS e a sua cabeça

Vejam este caso singular. Desta vez, com invejável distância e profissional rigor, o PS escolheu a sua lista às eleições europeias. Tudo foi feito e apresentado publicamente nos conformes. O Dr. Sousa Franco nem sequer é militante do PS. Até o director do Expresso que, nos últimos tempos, mais parece um "valium 10" fora de prazo, vem hoje reconhecer que o homem escolhido para encabeçar esta batalha pelo PS é de alta categoria, uma mais valia para o PS e, deduz-se, um contributo válido para a qualidade do debate político em Portugal. Mas nota-se uma reacção na opinião publicada de perplexidade pelo facto, imagine-se! de a lista escolhida ser boa demais. Assim os bons dirigentes do PS, participando nas eleições europeias, estariam a abandonar o barco. Por outro lado, dizem que o líder elevou a fasquia demais quando anunciou que quer ganhá-las. Ora para ganhar um "campeonato" tem de se ter uma boa equipa e, no PS, ninguém perdoaria ao líder se não entrasse para o ganhar. E ganhando-o, está bem de ver, ninguém estará em condições de pedir a cabeça do líder. Para "tramar" o líder teria de ter acontecido tudo ao contrário: Sousa Franco não ter aceite ser cabeça de lista e os melhores dirigentes do PS serem afastados de a integrar gerando profundas divisões internas. Nada disso aconteceu e o PS pode, além do mais, apresentar-se ao povo português como um partido que valoriza a questão europeia. O mesmo não poderá dizer o PSD ao ser "obrigado" ao embaraço de fazer uma coligação com o PP.

sexta-feira, março 5

SONETO POR OCASIÃO DA ASCENSÃO
DOS DOIS AERONAUTAS
MR POITEVIN E UM JUMENTO
NO PORTO, A 23 DE AGOSTO DE 1857


Intrépido francês! - Bem mal conheces
A terra onde aumentar tentas a glória!
Não deixarás aqui longa memória,
Nem aplausos terás - que os não mereces!

Se, um burro ao ar erguendo, te engrandeces,
Lá na França, onde tens fama notória,
Basta que esse país te dê na história
O lugar que te deve, e que apeteces:

Embora um asno aqui suba contigo,
Só porque vais com ele, exposto aos ventos,
Entre essas multidões achas abrigo:

Vai mais longe mostrar os teus inventos,
Que é costume, no Porto, muito antigo,
Subirem, mais que os homens, os jumentos.

epigrama


Um sujeito, em mim atento,
ver um mau homem, dizia.
- Reflectiam, como espelhos,
certos botões que eu trazia.

outro epigrama


Certo adorador de Baco
mandou fazer seu retrato
por afamado pintor.
para adorno de uma casa
de que ele era benfeitor.

"Percebo - lhe diz o artista
com afectados carinhos -
"Quer colocá-lo na sala
da Companhia dos Vinhos!"

de:
SÁTIRAS, de Faustino Xavier de Novais. Organização e prefácio de José Viale Moutnho. Lisboa: Ulmeiro, 1998.

(Poemas gentilmente enviados por José Viale Moutinho)






quinta-feira, março 4

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha


Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


FLORBELA ESPANCA (1894-1930)


Envelhecimento activo

O envelhecimento activo é um dos grandes desafios do mundo ocidental para os próximos decénios. Uma utopia que assumiu a forma de objectivo colocado pela "Estratégia de Lisboa" sendo uma das primeiras prioridades da EU. O objectivo é atingir 50% de taxa de emprego, até 2010, para as pessoas do grupo etário dos 55 aos 64 anos. A taxa actual é de 40,1%. Este é um assunto politicamente relevante. Trabalhar até mais tarde, em boas condições físicas e mentais, é um sinal de progresso. Não é um objectivo conservador. Tem coerência social e económica num contexto de forte envelhecimento demográfico. Este é, nos nossos tempos, um dos maiores desafios de qualquer política progressista. Quem trata desta questão a sério no nosso País?


quarta-feira, março 3

Assoprando o lume do populismo

Sousa Franco

não presta para candidato às europeias pelo PS porque tem passado. É o que deixam no ar algumas opiniões publicadas. Por enquanto aludem, ao de leve, aos males de um passado que, pelo simples facto de existir, é em si mesmo um perigo. A "pesada herança" volta sempre à tona. Mais tarde virão, em força, as notícias desses males. O passado, em democracia, tornou-se um cutelo sobre a cabeça dos cidadãos que aspirem à participação cívica e política. O passado do primeiro governo do PS começa a ser um bocado longínquo. Governante ou gestor, público, semi-público ou privado, com experiência, desde que tenha passado, não presta. Mas será possível encontrar algum candidato, cidadão experiente, que não tenha passado? O PSD arrisca embarcar nesta dança perigosa. O populismo empurra a opinião pública para a depreciação ou excomunhão dos políticos experientes ("são todos iguais!") e estimula a veneração dos "impolutos salvadores da Pátria". No posicionamento dos partidos acerca do

"aborto"

avulta, pelo avesso, a mesma questão. Desta vez não é a opinião publicada mas alguns deputados do PSD que votam ao contrário das suas declaradas convicções políticas. "Estou de acordo, por isso voto contra!", ou seja, colocam a democracia no fio da navalha. Abrem o caminho à volúpia populista que tudo faz para minar a credibilidade das instituições democráticas. A direita radical exulta e a confiança do povo na democracia esmorece.

terça-feira, março 2

ESTRATÉGIA DE LISBOA

Teresa de Sousa escreveu hoje no Público um importante artigo sob o título: "Um Relatório aterrador e uma sala quase vazia". Já abordei, diversas vezes, este mesmo tema.
Não posso estar mais de acordo.

IMIGRAÇÃO

Estudo da UE

Um Estudo da União Europeia aponta para que, mesmo em caso de adopção de um modelo de plena livre circulação, os fluxos migratórios provenientes do conjunto dos 10 novos Estados aderentes para o conjunto dos 15 Estados membros actuais, ao longo dos próximos 5 anos, representariam cerca de 1% da população activa dos novos Estados da EU, ou seja, 220.000 pessoas, por ano, num universo de 450 milhões de habitantes da EU. Mostra-se assim como são infundados os receios de que venha a ocorrer uma "invasão" dos 15 actuais Estados membros por imigrantes provenientes dos 10 novos países aderentes.

Serra da Estrela

O post "Venha a Portugal" inserido hoje no blog da Direcção da Associação de Estudantes de Direito da Nova, cujo tema me interessa, suscita-me um comentário.

A Serra da Estrela tem sido um lugar de equívocos no que respeita à sua vocação turística. Desde há anos que alguns responsáveis da Região de Turismo e de outras entidades querem tornar a Serra da Estrela um destino turístico "de neve". Essa estratégia tem tido múltiplos desenvolvimentos e diversas associações de interesses. Mas há um pequeno problema: a Serra da Estrela não tem neve com abundância, previsibilidade e durabilidade. Para tornar a estratégia "destino neve" ainda mais absurda os pontos mais altos da Serra não são dotados de acessos que correspondam às expectativas dos visitantes nos poucos dias em que neva. Os autênticos destinos de neve, atraentes para os portugueses, estão fora de Portugal. Estão, para não ir mais longe, em Espanha. São destinos previsíveis, pois há sempre neve, e acessível em termos de distância e de preços. A Serra da Estrela, no contexto da Beira Interior, pode ser um magnífico destino turístico de Inverno no qual a neve é um factor complementar de atracção. O que existe, em permanência, na Serra da Estrela são a paisagem, as gentes e a gastronomia. A única estratégia turística, com viabilidade e rentabilidade, a desenvolver na Serra da Estrela, é a que assentar na natureza - "turismo em espaço rural", com alojamento qualificado e diferenciado, caminhos e "rotas", homologadas e seguras, para percorrer a pé, de bicicleta e em veículos todo-o-terreno, desporto aventura, termalismo, gastronomia...O desenvolvimento de uma estratégia de promoção da Serra da Estrela, a nível nacional e internacional, por outro lado, só será viável no contexto de uma região mais vasta: a Beira Interior. Em síntese: a Serra da Estrela não tem "massa crítica" para ser um "destino de neve" mas, no contexto da região da Beira Interior, é um destino de Inverno com imenso potencial.

segunda-feira, março 1

PRESIDENTE EUROPEISTA
A intervenção do Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, a que me referi num post anterior, foi proferida na Sessão de Abertura do Seminário: "QUE PORTUGAL NA NOVA EUROPA ?", organizado pelo Conselho Económico e Social, na Assembleia da República, em 27 de Fevereiro de 2004. Agora disponível, na íntegra, no site oficial da Presidência da República.

Faro Cidade desfigurada


Visitei este fim-de-semana uma cidade desfigurada. A minha cidade de Faro.

O processo de destruição é antigo. Mas acelerou nos últimos anos. A cidade foi desfigurada pela mistura de todos os géneros de prédios, fachadas, estilos e materiais. Em compensação podia ter-se desenvolvido uma nova dinâmica, em particular, através da preservação da "baixa alargada". Não foi assim. A cidade está desfigurada. Não se trata de ser contra a construção e sabemos que alguns responsáveis pelo gestão da cidade se preocuparam. Mas o panorama que se pode observar é um desastre. Não é possível aceitar que se não cumpram as regras mínimas nas intervenções urbanas. Parece que passou por ali uma "guerra civil" que feriu a cidade de morte. E a destruição continua. Observei, este fim-de-semana, demolições de prédios tradicionais. As poucas vivendas que resistem são aprisionadas por construções em altura. As casas antigas, com qualidade (outras existem sem interesse arquitectónico) são emparedadas, isoladas, privadas da luz do sol, cercadas pela especulação que abocanha o território sem piedade. As modernas zonas verdes são escassas e descuidadas e os tradicionais quintais desapareceram. O comércio mal sobrevive na paisagem desoladora da "baixa", com pouca animação e quase deserta de gente e de bulício. As grandes superfícies comerciais, criadas nas antigas hortas dos arrabaldes, são um atractivo mas não acrescentaram cidade à cidade. O cais industrial está abandonado à extracção de areias, as obras meritórias, como a Biblioteca Municipal, parecem escondidas e desvalorizadas. As novas obras, em curso, são projectos antigos e sobredimensionados. A eventual "Capital da Cultura", em 2005, pode dar visibilidade à cidade mas não acode aos seus verdadeiros problemas de fundo. O que falta é uma ideia clarividente e mobilizadora para a regeneração da cidade. Creio que muitos ainda acreditam que o progresso não é destruição, horror urbano e pura especulação.

domingo, fevereiro 29

A TV NO SEU MELHOR

Três reportagens magníficas

Vi recentemente três reportagens, de grande qualidade, na SIC, abordando temas delicados e comoventes. É a TV mobilizadoras da nossa vontade de participação cívica.

Desemprego

Uma reportagem mostra imagens da tragédia do desemprego. Mulheres, quase só mulheres, de rosto nobre e comovido, despedindo-se das companheiras de trabalho. Nalguns casos uma vida inteira de trabalho em comum. A despedida de uma vida de esperanças perdidas. Lágrimas e sorrisos, palavras sussurradas e cúmplices, olhares embaciados e amargos de raiva e incerteza. Mas paira no ar, na respiração da reportagem, uma réstia de esperança. As pessoas parecem dispostas a enfrentar as dificuldades da vida.

Doença

Uma outra ousa penetrar, até ao âmago, na tragédia da doença. Na Unidade de Cuidados Paliativos da Instituto de Oncologia do Porto a esperança de encontrar o conforto no fim da vida. Os corredores e os espaços parecem não ter sentido. Os gestos serenos das enfermeiras e os rostos e vozes das doentes, quase só mulheres, apesar de dolorosos, deixam transparecer amargura, mas também lucidez e gratidão. As imagens mostram como a vida pode ser vivida com dignidade até ao fim. Lutar para que os outros vivam, cuidando deles, sem nunca perder a esperança. O voluntariado e as ajudas desinteressadas! A vida no seu melhor, perto do fim ou a meio caminho. Afinal não está a vida sempre perto do fim? Quem sabe?

Jogo

A última reportagem aborda a epopeia da equipa de futebol do Culatrense, Ilha da Culatra, Concelho de Faro, mas com tudo a ver com Olhão. A Ilha tem uma população jovem onde falta quase tudo. Mas a equipa participa no Campeonato Distrital do Algarve. Imagens magníficas da Ria Formosa: os azuis fortes do mar e o voo suave das aves a propósito das viagens de barco na travessia da ilha para a cidade. Metade da equipa treina na ilha e outra metade em Olhão. Juntam-se à 5ª feira. A vontade de participar no jogo sem outro interesse senão a pura participação. Prémios simbólicos no sucesso, tácticas de jogo desenhadas, a marcador, nos azulejos do balneário. A realidade real do país contruída pelos seus cidadãos. O regresso quase perfeito aos primórdios de uma relação pura entre a vida, o trabalho e o jogo. Os homens pisam o chão e lutam por ganhar no velho Estádio Padinha, em Olhão, onde tantas vezes fui, pela mão de meu pai. Como se fora num qualquer estádio do Euro.

As TVs passam, vezes sem conta, notícias repugnantes na busca exclusiva de audiências. Mentiras e indignidades. É a sua vertente mercantil. Mas, outras vezes, recompensam-nos com o melhor da vida e de nós. É a sua vertente humana. E nos revemos nelas.

SOUSA FRANCO

Uma boa escolha do PS.

Em primeiro lugar porque é um cabeça de lista para as eleições europeias que precisa do aparelho mas só no ouvido; em segundo porque é muito selectivo a ouvir e, em terceiro, embora não pareça, é um político a sério…O PS, desta vez, fez as coisas bem feitas: antecipou-se, marcou o terreno, colocou os adversários na defensiva. Dá até a sensação que a coligação PSD/PP foi obrigada a adoptar, à pressa, um slogan perigoso para o PSD: "Força Portugal". Por outro lado não há, no terreno empresarial e social, sinais de retoma económica. Para o perceber basta ouvir os empresários sejam pequenos, médios ou grandes. Na economia, até Junho, nada de essencial vai mudar.

sexta-feira, fevereiro 27

UM PRESIDENTE EUROPEISTA


O Presidente da República, Jorge Sampaio, na parte final de um discurso de hoje, crítica directamente aqueles que menosprezam a Europa em favor da "Aliança Atlântica". O interesse desta alusão está no facto de ser explícita e… vinda de quem vem...

"E é forte a convicção de que seria um desastroso erro de estratégia, de incalculáveis consequências negativas, conceber que o futuro de Portugal possa ter lugar à margem do processo de integração europeia.
Aos que nisso acreditem - num salutar direito de opinião - responderei apenas que se esquecem que vivemos num mundo globalizado em que, só pertencendo a um espaço integrado, se conseguirá assegurar a defesa eficaz dos nossos interesses nacionais, no plano político, no campo económico, no domínio cultural. É, pois, pela Europa, e não contra a Europa, que nos devemos bater, pela defesa intransigente do acervo de valores e princípios que até agora têm modelado o seu rosto, nomeadamente, pela preservação da igualdade, pelo reforço da solidariedade e pela manutenção da coesão entre todos os seus Membros.
Aos que à integração europeia e ao alargamento atribuem o ónus das nossas presentes dificuldades económicas, lembrarei que aumentar a produtividade, investir numa economia competitiva, num sistema produtivo moderno, inovador, tecnologicamente avançado, capaz de produzir bens e serviços de qualidade nos mercados internacionais é responsabilidade que cabe, em primeira mão, aos empresários, aos trabalhadores, ao Governo e aos poderes locais e que, nestes domínios, a União Europeia desempenha afinal um papel decisivo ao criar um quadro de regulação necessário a um desenvolvimento sustentado e equitativo.
E aos que imaginam que a alternativa à Europa está no Atlântico, lembrarei também que muita da nossa capacidade de intervenção nos espaços tradicionais da acção externa portuguesa dependerá do lugar útil que conseguirmos assegurar no seio da União Europeia, como parceiro activo e empenhado.
Pela minha parte, não tenho quaisquer dúvidas de que para Portugal a aposta certa é a Europa e que, para Portugal, a participação no processo político de integração europeia é uma questão de identidade."

Uma estranha notícia

"ESPAÇO
Lançamento de Rosetta adiado novamente"

A cultura portuguesa vê assim adiada mais uma oportunidade da ganhar visibilidade...

TC avalia Sector Empresarial do Estado

Durão Barroso já criou 39 novas empresas públicas


Será verdade, será mentira? Vem no SEMANÁRIO ECONÓMICO

quarta-feira, fevereiro 25

DR. CORDEIRO - I



"Prescreveram poucos genéricos

Medicamentos: farmácias culpam médicos pelo aumento da despesa dos utentes

O presidente da Associação Nacional das Farmácias responsabilizou hoje os médicos pelo aumento de 85 mil euros da despesa dos utentes com medicamentos em 2003, alegando que a prescrição de genéricos ainda é insuficiente. " Público
Bem me queria parecer que a despesa com medicamentos a cargo dos consumidores ia aumentar! O Dr. Cordeiro acusa os médicos! O Dr. Cordeiro faz a gestão dos dinheiros! Dr. Cordeiro a Ministro da Saúde, Já!

DR. CORDEIRO - II

"Gastos com medicamentos


Nova política prejudica os utentes Os portugueses estão a gastar mais em medicamentos. As despesas com os fármacos abrangidos pela nova forma de comparticipação aumentaram 85 mil euros em 2003. A conclusão é da Associação Nacional de Farmácias (ANF) que, esta quarta-feira, faz o balanço da política do medicamento". SIC
Um ângulo diferente de abordagem da mesma questão. O Dr. Cordeiro prepara-se para assumir a defesa de uma política social para o medicamento. Afinal a nova política do medicamente prejudica os cidadãos. O Dr. Cordeiro prepara qualquer coisa...

DR. CORDEIRO - III


"Preço dos medicamentos para os mais pobres pode subir em 2005

O presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF) alertou hoje para o risco de aumento do preço dos medicamentos para os doentes mais pobres no próximo ano, se o Governo não garantir a manutenção do acréscimo na comparticipação dos genéricos.

João Cordeiro defende a política do medicamento desenvolvida pelo Ministério da Saúde, mas alerta que há um risco de acréscimo de preço para os medicamentos dos doentes mais pobres porque a taxa de majoração na comparticipação do Estado para os medicamentos com genéricos equivalentes no mercado só está em vigor até ao final deste ano" PÚBLICO/lLUSA

Está devendado o mistério. O Dr. Cordeiro quer mais dinheiro. Verseja e com razão...

EM DEFESA DO OPEN DE PARAPENTE DE LINHARES

O Open de Parapente de Linhares da Beira foi abordado no FORUM VOO LIVRE e numa entrada no absorto, de autoria de Pedro Pedrosa, dando notícia que os parapentistas teriam de começar a pagar por cada aterragem que fizessem em Linhares da Beira. A ironia da questão está em que o terreno em causa só se valorizou pela existência do próprio parapente em Linhares e pelo afluxo de parapentistas e de visitantes-espectadores interessados. Na suposição de que a questão não se tenha resolvido convém esclarecer o seu enquadramento mais geral tomando a defesa daquela actividade por tudo o que ela representa de positivo.
A região da Beira Interior é uma das menos desenvolvidas de Portugal. O programa "Aldeias Históricas de Portugal" foi concebido, no início dos anos 90, para contrariar esse subdesenvolvimento.
Linhares da Beira, no Concelho da Celorico da Beira, é uma das Aldeias Históricas abrangidas pelo projecto. As intervenções físicas destinadas a reconstruir 10 Aldeias Históricas, da Região da Beira Interior, foram apoiadas por um programa designado PPDR, que já acabou, tendo permitido realizar uma obra notável.
O financiamento comunitário e nacional vertido neste projecto foi dinheiro bem aplicado mas a intervenção não está concluída. Nalgumas aldeias faltam obras, em quase todas faltam programas de animação que atraiam os visitantes e, certamente, faltam actividades económicas viáveis e criação de emprego. Não é pois um projecto concluído e todas as entidades, com responsabilidade, nele envolvidas, têm consciência desse facto.
O Open de Parapente de Linhares da Beira foi uma das mais antigas e emblemáticas actividades concebidas como âncora da animação para o desenvolvimento daquela região, constituindo um factor de atracção de visitantes, com a vantagem de ser uma actividade não poluente, amigável para as populações locais e dinamizadora da economia local, em suma, uma actividade estruturante de um modelo de desenvolvimento sustentável.
O mesmo se pode dizer da "CARTA DA LAZER DAS ALDEIAS HISTÓRICAS" e da "GRANDE ROTA DAS ALDEIAS HISTÓRICAS", actividades inovadoras na região que deram origem a actividades e publicações notáveis que só encontram rival em países, com grande tradição nestas actividades, como a França.
Quer o "Open", numa primeira geração, quer a "Grande Rota", mais recentemente, são actividades que apresentam uma relação custo/benefício altamente vantajosa para o desenvolvimento local e regional.

Desde o início dos anos 90, até 2003, o INATEL tomou a iniciativa de promover estas actividades, em parceria com as autarquias, com o apoio de técnicos entusiastas e competentes.
As dificuldades conjunturais, originadas pelos pequenos interesses locais, não podem servir de pretexto para lhes por fim. Estas actividades são verdadeiros e genuínos exemplos de promoção do desenvolvimento local e regional. O tal desenvolvimento sustentável de que tanto se fala e tão pouco se pratica.

terça-feira, fevereiro 24

CESÁRIO VERDE


Num dia, por tradição, sempre festejado e, nos nossos dias, tão triste, lembrei-me deste extraordinário poema de Cesário Verde que aqui vos deixo.

Contrariedades


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.


Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.


Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.


Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...


O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.


Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.


A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.


Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.


Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.


Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.


Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.


A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...


E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!


Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!


Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?


Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...


E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!










Cada vez menos e mais velhos


"Portugal Terá Menos Um Milhão de Pessoas em 2050

A população portuguesa terá menos cerca de um milhão de pessoas em 2050 e estará ainda mais envelhecida, havendo perto de 2,5 idosos por cada jovem, segundo estimativas constantes de um relatório do Conselho da Europa."
A notícia de ontem reforça e agrava todas as expectativas acerca da evolução demográfica. O PÚBLICO põe em relevo as projecções acerca da população portuguesa. São os dados de um relatório do Conselho da Europa. Este Relatório reforça a minha ideia de que deveria ser criada uma estrutura, de âmbito nacional, sob patrocínio do Senhor Presidente da República, para acompanhar, estudar e apontar estratégias que permitam fazer face às catastróficas perspectivas de evolução da demografia em Portugal.

segunda-feira, fevereiro 23

Efeitos devastadores do envelhecimento

"Ministro fecha 2194 escolas

Até 2007 o Ministério da Educação vai fechar 2194 escolas primárias que estão a funcionar com menos de 11 alunos. Neste ano lectivo, 68 escolas têm apenas um estudante. "

Eis uma notícia abordada pelo EXPRESSO que mais não é que uma consequência devastadora do envelhecimento demográfico. Os jovens são uma raridade em muitas regiões do país. As escolas passam a ser peças de museu. Esta é uma questão estratégica para o futuro de Portugal e dos países do ocidente. Podem e devem discutir-se as razões, a metodologia e as consequências deste tipo de medidas. Mas o envelhecimento demográfico é uma questão abordada sistemáticamente pelas suas consequências e não pela sua raíz. Merecia uma abordagem ao mais alto nível. Um assunto para o Presidente da República?

IMIGRAÇÃO - entrevista


"Esta Política de Imigração É Abaixo de Zero Porque Não Vai Legalizar Praticamente Nenhum dos Imigrantes"

Esta é a manchete da PÚBLICA, de 22 de Fevereiro, que dá a conhecer a opinião de Inácio Mota da Silva acerca do tema e da política de imigração do governo português.


domingo, fevereiro 22

DOIS MESES DE ABSORTO - UMA EXPERIÊNCIA PARA CONTINUAR

No passado dia 19 passaram dois meses desde a criação do ABSORTO. Esta é uma experiência que não se dirige à blogosfera e seus fazedores mas fundamentalmente aqueles que estão de fora dela. Ainda não saimos da fase experimental que ainda vai durar mais algum tempo. Como acontece sempre neste tipo de projecto individual, pois o ABSORTO é uma inicitiva da única responsabilidade do seu editor, surgem problemas que carecem de tempo para serem superados. Não falo de problemas de concepção, ou de falta de ideias para partilhar com quem nos procura, mas de problemas técnicos. O ABSORTO tem um programa e vai continuar a desenvolver esse programa. Sabemos das dificuldades próprias deste instrumento de comunicação. Cometemos erros e estamos atentos à sua correcção. Vamos continuar. Com melhorias e algumas novidades. Hoje, fora do nosso lugar habitual de trabalho, sem o programa que nos ajuda a "postar" com mais eficácia, aqui junto à ponta mais ocidental da Europa, uma saudação para todas e todos que nos têm ajudado, das mais diversas formas, e nos visitam com assiduidade.
Com um abraço do EG

sábado, fevereiro 21

AQUI PORTUGAL


Aqui Portugal
Bicesse
O Fim-do-mundo mais perto de
Lisboa e da boa flôrdelis
e
Entre a Serra da Lua (Sintra)
As grutas e necrópoles daqueles
Que nascidos em Creta
Passaram em Homero
Em Cristo
E a vista de Roma
Saíram do Mediterrâneo
E aqui ficaram e passaram
Trazendo consigo para toda a parte
A civilização da Liberdade individual
Do Homem

Almada Negreiros

sexta-feira, fevereiro 20

Cadernos de Camus - 9



Esta é a última parte dos meus sublinhados da leitura de juventude dos Cadernos de Camus. Esta leitura foi iniciada, certamente, antes de Abril de 1968, tinha eu a idade de 20 anos.

Os sublinhados que se apresentaram, com pequenas alterações de pormenor e raras supressões, foram assinalados nos livros, de forma "assassina", a esferográfica. Os livros, no entanto, sobreviveram e, recentemente, foram restaurados e encadernados a capa dura. Estão em condições de serem legados ao meu filho pois tenho a ambição de que um dia os venha a ler.

Com esta nona parte, segundo a minha nemeração, chega ao fim a estimulante tarefa que me foi suscitada pela ideia do José Pacheco Pereira. Mas devo confessar que um projecto semelhante a este, antes do surgimento dos Blogs, já me tinha, por diversas vezes, assaltado a imaginação. Esta minha participação suscitou, para minha surpresa, uma mal disfarçada "azia" em algumas pessoas que devem viver ainda no tempo da "noite fascista" e persistem em separar os campos políticos e ideológicos com base em preconceitos e mal ultrapassadas relações com os respectivos pais. Há gente adulta e com responsabilidades na vida pública pública portuguesa que ainda não saíu das "cavernas" e suspeito que delas não sairá jamais. Paz à sua alma!

Esta é uma daquelas tarefa que me deu prazer autêntico, quer pelo facto de poder partilhar uma leitura de toda a vida, quer por me ter sentido, não raras vezes, surpreendido pela actualidade das referências contidas nos excertos que reli. Continuo a sentir hoje a mesma adesão de fundo à filosofia de vida e de sociedade que, no essencial, Camus defende e que, de forma peculiar, foi explicitada nos Cadernos.

Além do mais devo confessar que este é, desde a minha juventude, um "livro de cabeceira" que, naturalmente, não li todos os dias mas que sempre esteve presente na minha vida mesmo quando os impulsos de uma desinteressada militância cívica e política exigiram, e continuam a exigir, a tomada de opções difíceis ou mesmo dolorosas.

Não sei ao certo qual o caminho que este projecto tomará mas, a partir de um dado momento, as participações numa empresa séria desta natureza carecem de ser enquadradas por uma metodologia e por objectivos precisos sem os quais cada um de nós se sentirá decerto constrangido. Estou disponível para aprofundar a minha participação.

Eis os meus últimos sublinhados do caderno nº 6 nos quais se inclui aquele que sempre me tem acompanhado e que constitui, para mim, um lema de vida: "os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade":

"Não se deve julgar um homem nem pelo que diz, nem pelo que escreve, segundo Beyle. Eu acrescento: nem pelo que faz."
(Camus deve referir-se a Marie Henri Beyle, ou seja, STANDHAL)

"Começa-se por não amar ninguém. Depois amam-se todos os homens em geral. A seguir apenas alguns, depois uma única e depois o único."

""Alexandre Block.
...
Só uma compaixão total pode produzir uma mudança. Reajo assim porque a minha consciência não está tranquila.""
(Escrevi dois pontos de interrogação)

"É pela recusa de uma parte deste mundo que este mundo é habitável? Contra o amor fati. O homem é o único animal que recusa ser o que é."

"Os deveres da amizade ajudam a suportar os prazeres da sociedade".

"Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual."

"Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca."

"Ensaio. Introdução. Porquê recusar a delação, a polícia, etc. .. se não somos nem cristãos nem marxistas. Não temos valores para isso. Enquanto não tivermos encontrado fundamento para esses valores, estamos condenados a escolher o bem (quando o escolhemos) de maneira injustificável. A virtude será sempre ilegítima até esse momento."

""A revolução de 1905 principiou pela greve de uma tipografia moscovita cujos operários pediam que os pontos e as vírgulas fossem contados como caracteres na avaliação "por peça".
O Soviete de Saint-Peterburgo em 1905 apela para a greve aos gritos de abaixo a pena de morte.""

""Durante a Comuna de Moscovo, na Praça Trubnaia, perante um edifício destruído pelos canhões, um prato contendo um pedaço de carne humana é exposto com um cartaz com a seguinte inscrição: "dai o vosso óbolo para as vítimas.""

Extractos, in "Cadernos" (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições "Livros do Brasil", Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).








quinta-feira, fevereiro 19

Europa - jogos perigosos


A cimeira dos Grandes


Sejamos claros e realistas: a UE só existirá enquanto houver um entendimento entre os chamados grandes. Basta conhecer um pouco da história da Europa. O alargamento da UE (mais 10+2 países) não muda nada esta questão crucial. Só dá mais peso aos grandes, entre outras razões, porque "puxa para leste" o centro geográfico da UE. A Alemanha, "potência continental", por excelência, alarga a sua área de influência; a Inglaterra "potência marítima, por excelência", vê estreitar-se a sua capacidade de influência na Europa e procura minorar o desgaste de uma "parceria aventureira" com a Administração conservadora dos EUA e a França não tem outra saída, para alimentar o velho sonho da Grande Europa, senão ceder à Alemanha salvaguardando a aliança central que dá sentido estratégico à UE.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) são forem aliados, no essencial, não há garantia de paz na Europa. Fica aberta a porta ao regresso das tendências belicistas que estiveram na origem das duas terríveis guerras mundiais do Séc. XX.

Se a Alemanha+França (+Inglaterra) não estiverem de acordo acerca do modelo de desenvolvimento da UE não haverá condições para o progresso económico, social, científico e tecnológico da Europa e será aberta a porta da sua decadência inexorável.

Os governos que subscreveram a recente Declaração dos 6, valha a verdade, contam pouco para a definição do essencial do futuro da EU e da Europa: guerra ou paz, progresso ou decadência, independência ou subserviência face aos desígnios estratégicos dos EUA?

O problema é que os conservadores que governam, no presente, os países do sul da Europa escolheram o caminho da subserviência face aos EUA e dão-se mal com os temas da chamada "Agenda de Lisboa" que, paradoxalmente, ou talvez não, os "Grandes" citam sem qualquer constrangimento. Interessante!

Os "grandes" que são acusados, aberta ou veladamente, de prosseguirem objectivos detestáveis e egoístas, assumem a "Agenda de Lisboa", ou seja, a componente social do desenvolvimento da Europa como noticia hoje o Público:

"Schroeder, Chirac e Blair Relançam "Agenda de Lisboa" para as Reformas Económicas e Sociais

Oficialmente, a reunião na capital alemã visou sobretudo delinear uma estratégia comum contra os problemas económicos e sociais que afectam a Europa, dando um novo impulso aos objectivos estabelecidos pela "Agenda de Lisboa" , de alcançar , até 2010, o pleno emprego e que a economia comunitária se torne na mais dinâmica e competitiva a nível mundial . É esta estratégia que se explana numa carta de seis páginas dirigida à presidência irlandesa da União Europeia, ao presidente da Comissão Romano Prodi e aos restantes chefes de Estado e de Governo.

Para alcançar as ambiciosas metas de Lisboa é necessário, de acordo com o chanceler alemão, que se dê maior ênfase às políticas de investigação e desenvolvimento. O investimento europeu neste domínio ainda está distante do objectivo dos 3 por cento do PIB europeu, o que é insuficiente "para permitir as empresas europeias estar na vanguarda tecnológica". Por seu turno, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, defendeu a necessidade de reformar os sistemas de protecção social na UE "para que sejam sustentáveis a prazo", uma maior qualificação dos trabalhadores e uma "melhoria da competitividade das nossas empresas".

Ao iniciar a sua intervenção o presidente francês Jacques Chirac considerou ser "normal que os países que representam mais de 50 por cento do PIB da UE" se reunam para discutir em conjunto preocupações comuns". Efectivamente, os problemas domésticos com que se confrontam o Reino Unido, a Alemanha e a França são semelhantes e em todos está em curso um processo de reformas estruturais. Como analisava a edição de ontem do o "Financial Times" os líderes de Berlim , Londres e Paris partilham o objectivo de "inflectir a política europeia de acordo com as respectivas prioridades e num sentido que lhes permita marcar pontos em casa".

Questões mais "interessantes" em privado - Já sem jornalistas os líderes passaram as analisar os dossiers que mais interessavam a estes últimos: os "nomeáveis" para presidente da Comissão, o Iraque, o Afeganistão, o Médio Oriente, assim como novas relações euro-americanas e as perspectivas de adesão da Turquia.

A cimeira de ontem foi vista pelos comentadores como um sinal de que algo está a mudar na Europa e que a política de alianças está a ser reformulada. A edição de ontem do diário "Le Monde" citava Bernard Nivet, do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas em Paris, que frisava que a carta dos seis "demonstra uma degradação do clima de confiança entre os membros do Conselho europeu". Este mal-estar pode traduzir-se na passagem do casal franco-alemão a uma relação de "poligamia" germano-franco-britânica , a qual se juntará possivelmente mais tarde , isto segundo a diplomacia alemã, a Polónia."



Acácio Barreiros


Adeus

Não fui às cerimónias fúnebres. Mas hoje vesti-me a preceito. É como se tivesse ido. Ele não me exigiria mais. Nunca privei com ele. Mas eram-mos velhos conhecidos. Fez com a sua participação cívica, tantas vezes, vibrar muitos de nós. Nunca concordei com a UDP. Mas com ele concordei muitas vezes. É a diferença entre uma causa e a representação de uma causa.

É a questão do protagonismo. Ele foi um protagonista. No país, para surpresa dos "10 grandes educadores da opinião pública", há milhares de protagonistas. Sempre houve. Gente com qualidade. Pouco conhecida e, a mor das vezes, não reconhecida.

O Acácio Barreiros foi um dos que, no seu tempo, se destacou. Ele representou, durante uns bons anos, muita dessa gente, a maioria da minoria. Por fim optou por uma carreira política. A sua voz quase desapareceu. Respeito a sua opção. O Acácio Barreiros fica para sempre na minha (nossa) memória.

quarta-feira, fevereiro 18

José Gomes Ferreira


"Viver sempre também cansa"
Descobri pelos meus apontamentos nos Cadernos de Camus a leitura entusiástica que, pelos meus 19/20 anos, fiz da poesia de José Gomes Ferreira. Aqui está a explicação, dada pelo próprio poeta, das circunstâncias em que surgiu o poema "Viver sempre também cansa" e de como, nesse momento, se afirmou a própria identidade do poeta. Esta é uma época muito marcada pela resistência comunista ao Estado Novo quando a ditadura vivia a sua primeira fase ainda antes da Constituição de 1933. A qualidade deste poeta e do seu trabalho ultrapassa, no entanto, as circunstâncias históricas da época em que iniciou a sua criação poética. Vale a pena revisitar este poeta e a sua poesia.

"Na noite de 8 de Maio de 1931, num segundo andar da Rua Marquês de Fronteira, encontrei, finalmente, a expressão autêntica do poeta autêntico, há tanto procurada. À terceira tentativa, para uma série de poesias que eu intitulava Poemas de Reincidência, escrevi dum jacto e quase sem emendas o poema 'Viver sempre também cansa'. Mostrei-o ao Carlos Queiroz, então meu amigo de todos os dias, que, sem me consultar (e se consultasse daria logo o meu consentimento, claro), o enviou a João Gaspar Simões. Pouco depois aparecia na Presença. E assim entrei no âmbito da chamada Poesia Modernista. A propósito, devo dizer que nunca fiz parte do grupo presencista. Como nunca pertenci a qualquer grupo saudosista . Ou à Seara Nova. voltemos à noite de 8 de Maio de 1931 e à poesia de 'Viver sempre também cansa', onde já havia - coisa insólita na época! - uma referência a Mussolini...Desde então senti que surgia em mim a expressão do poeta verdadeiro. E para marcar bem, para separar bem o novo do antigo poeta, acrescentei sub-repticiamente ao Gomes Ferreira, com que assinara os 'Lírios do Monte' e as duas edições de 'Longe', o meu nome próprio: José! Passei a bagatela, reputo eu de valor psicológico importantíssimo. E, assim, num novelo terrível de ganhar a vida com artigos diversos, crónicas anedóticas, contos e contecos, anúncios das cintas Pompadour, publicidade, traduções de fitas, etc., iniciei a minha carreira de poeta, a que mais tarde chamei de poeta militante."

Viver sempre também cansa!


Viver sempre também cansa!
O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinza, negro, quase verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.
O Mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.
As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.
Tudo é igual, mecânico e exacto.
Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.
E há bairros miseráveis, sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...
E obrigam-me a viver até à Morte!
Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois, achando tudo mais novo?
Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.
Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."
E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda me
nina no meu colo..."

José Gomes Ferreira (1931)

terça-feira, fevereiro 17

A notícia mais importante do dia


Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa


Foi hoje apresentado, em livro, o estudo que se intitula "Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa", de Maria João Valente Rosa, Hugo de Seabra e Tiago Santos. O Estudo conclui que a imigração é necessária e os seus efeitos são positivos atenuando o envelhecimento demográfico. Os interessados no tema, lendo o estudo, aliás, muito completo e interessante, entenderão a complexidade do fenómeno da imigração e a sua importância no futuro do desenvolvimento económico e social do Portugal e da Europa.

A LUSA divulgou uma síntese do estudo de que reproduzimos alguns passos.

"Os imigrantes contribuíram em um quinto para o aumento da população em Portugal, mas para que se conseguisse travar o envelhecimento do país teriam de entrar a cada ano mais 161 mil estrangeiros.

O mesmo se aplica à manutenção do número de pessoas em idade activa por pessoa em idade idosa. Para que o número de pessoas em idade activa por pessoa idosa mantivesse níveis idênticos aos observados em 2001, seria necessário (...), de 2001 a 2021, um saldo migratório anual em Portugal de mais 188 mil efectivos", conclui também a autora.

... na última década (a imigração) contribuiu "para que houvesse um movimento de reequilíbrio dos dois sexos". Porque "sem as populações estrangeiras, o predomínio das mulheres teria aumentado em Portugal, ao invés de diminuir".

Impacto também no reforço do volume de efectivos nas idades activas (em especial as mais jovens), atenuando os níveis de envelhecimento (em especial no topo) da população.

Os imigrantes contribuíram igualmente para atenuar os desequilíbrios de povoamento, porque se inicialmente optaram por residir nas regiões da Grande Lisboa e Península de Setúbal, mais recentemente, principalmente os do leste europeu e do Brasil, dispersaram-se pelo país todo.

Ao estarem na sua maioria em idades férteis, contribuíram também para o aumento de nados-vivos, e pelo mesmo motivo apresentaram uma inferior contribuição no aumento de mortalidade.

Em síntese, resume a professora, embora as populações de nacionalidade estrangeira sejam demograficamente diversas e ainda representem uma magra fatia da população residente em Portugal (2,2 por cento, segundo o Censo de 2001), as suas interferências no sistema demográfico português já assumem alguma importância.
Sem elas os níveis de envelhecimento seriam mais significativos, os níveis de natalidade mais baixos e o volume da população inferior.

Esta questão, diz também o livro, é comum a toda a Europa. O continente poderá perder na primeira metade deste século importância demográfica, o que aliás já está a acontecer, passando de 22 por cento em 1950 para 12 por cento em 2000. Em 2050 poderá chegar aos sete por cento.

Perante esta realidade a imigração para os países da União Europeia é "uma componente essencial do crescimento demográfico", sendo que na segunda metade da década passada se observaram saldos migratórios positivos em todos os Estados-membros. Segundo o Eurostat este saldo foi, aliás, responsável por cerca de três quartos do crescimento da população da UE após 1999."

EUROPA-jogos perigosos


"UE
Bruxelas aconselha Lisboa a gastar mais nas pessoas e menos em auto-estradas

Portugal vai ter de reorientar os fundos estruturais comunitários de apoio ao seu desenvolvimento para o reforço da qualificação dos recursos humanos, investigação científica e inovação, de modo a diminuir o peso das estradas e auto-estradas nos financiamentos da União Europeia (UE)." Público

Portugal tem, à partida, assegurado um volume razoável de fundos comunitários para o período 2007/2013. A negociação vai ser longa e decorre até 2006. O resultado final permitirá ao governo, em véspera das eleições legislativas, se forem no prazo previsto, "cantar vitória". A lógica da aplicação dos fundos vai ter de mudar. Ironicamente trata-se da aplicação da chamada "Agenda de Lisboa", do tempo do anterior governo, o tal da "pesada herança". O financiamento comunitário cresce 212% para as chamadas "prioridades de Lisboa", ou seja, "Competitividade para o crescimento e emprego" abarcando: investigação, rede transeuropeia de transportes, educação e diálogo social). Estranhos termos! Desta forma Portugal vai beneficiar da "pesada herança" do anterior governo.

O resultado final das negociações permitirá que Portugal, entre os 15, continue a beneficiar do Fundo de Coesão, ao contrário da Espanha e da Irlanda, e que sejam criadas condições para que diversas regiões europeias, como Lisboa e Vale do Tejo, ainda beneficiem de apoios financeiros através da criação de um novo estatuto, enquanto os 10+2 novos países aderentes receberão metade dos recursos financeiros disponíveis totais.

O que não se compreende é o facto do governo de Portugal subscrever declarações políticas de fidelidade ao PEC, contrariando posições recentes, conjuntamente com dirigentes conservadores dos países do sul (Itália, Espanha e Portugal) +Polónia+Holanda+Estónia, num claro afrontamento ao núcleo duro da EU. Qual a vantagem, em concreto, de hostilizar a França? Trata-se de apoiar Aznar, em plena pré-campanha eleitoral, sendo que a Espanha corre o risco de perder o Fundo de Coesão? Trata-se de fazer a política dos EUA, fragilizando a EU, através da "ameaça" do isolamento da França? Não esqueçamos que a França é um dos pilares centrais da EU e corre o risco de perder muito no quadro comunitário de apoio 2007/2013...assim como os outros países contribuintes líquidos…

A hostilização e o isolamento político da França, ou de qualquer outro país central na EU, só pode reverter contra aqueles que agora jogam esses jogos perigosos ou, se forem longe demais, na criação de um cenário de crise explosiva na EU...e depois?

segunda-feira, fevereiro 16

A notícia mais importante do dia

"Pessimismo em Portugal está deslocado e sem fundamento, diz Constâncio


O governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, afirmou esta segunda-feira que o pessimismo que se vive em Portugal "está deslocado e sem fundamento".
O economista, que intervinha num almoço com associados das câmaras de comércio Portugal-Holanda e Luso-Francesa, afastou a pertinência dos receios sobre a capacidade de crescimento e concorrência da economia portuguesa, particularmente acentuados após a entrada desta em tendência recessiva.
Argumentou, inclusive, que já estivera em "momentos bastante mais difíceis do que os actuais" ao longo da sua carreira pública.
Constâncio entende que se está a viver apenas a correcção "necessária e inevitável" de um crescimento forte da economia, alimentado por um endividamento igualmente forte.
Tendência que chegou ao seu limite e começou a proceder, de forma espontânea, à sua auto-correcção, acentuou, sublinhando estar convicto de que a retoma da economia portuguesa já começou." Lusa
Bem podem os responsáveis ao mais nível, como o Dr. Constâncio, puxar pela ideia de que a retoma da economia está aí a chegar! Que a crise actual é um simples processo de reajustamento! O pessimismo, o optimismo, o conformismo, o estado de espírito... resultam de uma gestão das expectativas. O governo anda há quase dois anos a fazer uma desastrosa gestão das expectativas. Tudo começou e continua com a política da "pesada herança". Depois temos o Dr. Cadilhe, o Dr. Santana Lopes, o Dr. Jardim, o Dr. Portas, a Dra. Celeste Cardona...O governo entrou naquela fase em que tudo parece complicar-se ao contrário da propaganda. Além disso não é capaz de se libertar da tentação de invocar a "pesada herança" à qual o Dr. Constâncio, por acaso, também pertence. O pessimismo, infelizmente, está muito bem colocado e tem fundamentos. Até um dia...