domingo, fevereiro 29

A TV NO SEU MELHOR

Três reportagens magníficas

Vi recentemente três reportagens, de grande qualidade, na SIC, abordando temas delicados e comoventes. É a TV mobilizadoras da nossa vontade de participação cívica.

Desemprego

Uma reportagem mostra imagens da tragédia do desemprego. Mulheres, quase só mulheres, de rosto nobre e comovido, despedindo-se das companheiras de trabalho. Nalguns casos uma vida inteira de trabalho em comum. A despedida de uma vida de esperanças perdidas. Lágrimas e sorrisos, palavras sussurradas e cúmplices, olhares embaciados e amargos de raiva e incerteza. Mas paira no ar, na respiração da reportagem, uma réstia de esperança. As pessoas parecem dispostas a enfrentar as dificuldades da vida.

Doença

Uma outra ousa penetrar, até ao âmago, na tragédia da doença. Na Unidade de Cuidados Paliativos da Instituto de Oncologia do Porto a esperança de encontrar o conforto no fim da vida. Os corredores e os espaços parecem não ter sentido. Os gestos serenos das enfermeiras e os rostos e vozes das doentes, quase só mulheres, apesar de dolorosos, deixam transparecer amargura, mas também lucidez e gratidão. As imagens mostram como a vida pode ser vivida com dignidade até ao fim. Lutar para que os outros vivam, cuidando deles, sem nunca perder a esperança. O voluntariado e as ajudas desinteressadas! A vida no seu melhor, perto do fim ou a meio caminho. Afinal não está a vida sempre perto do fim? Quem sabe?

Jogo

A última reportagem aborda a epopeia da equipa de futebol do Culatrense, Ilha da Culatra, Concelho de Faro, mas com tudo a ver com Olhão. A Ilha tem uma população jovem onde falta quase tudo. Mas a equipa participa no Campeonato Distrital do Algarve. Imagens magníficas da Ria Formosa: os azuis fortes do mar e o voo suave das aves a propósito das viagens de barco na travessia da ilha para a cidade. Metade da equipa treina na ilha e outra metade em Olhão. Juntam-se à 5ª feira. A vontade de participar no jogo sem outro interesse senão a pura participação. Prémios simbólicos no sucesso, tácticas de jogo desenhadas, a marcador, nos azulejos do balneário. A realidade real do país contruída pelos seus cidadãos. O regresso quase perfeito aos primórdios de uma relação pura entre a vida, o trabalho e o jogo. Os homens pisam o chão e lutam por ganhar no velho Estádio Padinha, em Olhão, onde tantas vezes fui, pela mão de meu pai. Como se fora num qualquer estádio do Euro.

As TVs passam, vezes sem conta, notícias repugnantes na busca exclusiva de audiências. Mentiras e indignidades. É a sua vertente mercantil. Mas, outras vezes, recompensam-nos com o melhor da vida e de nós. É a sua vertente humana. E nos revemos nelas.

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