sexta-feira, dezembro 19

MES – Os dirigentes eleitos no I Congresso (IV)


Retornando ao objectivo inicial deste conjunto de crónicas é evidente que nenhum dos subscritores do documento referido no post «MES – O DOCUMENTO DA RUPTURA DO GRUPO DE JORGE SAMPAIO NO I CONGRESSO (III)» integrou os órgãos dirigentes saídos do I Congresso por terem abandonado o Movimento ou, numa versão politicamente mais distanciada, o Movimento os ter abandonado a eles. Mas nem por isso deixaram de ficar para a história como dirigentes do MES pois, na realidade, o foram, em plenitude, no período que antecedeu o I Congresso.

Finalmente os dirigentes que foram eleitos pelo I Congresso para a «Comissão Política Nacional», «o organismo dirigente máximo do MES entre Congressos», podem ser vistos, sentados, na mesa da sessão de encerramento do Congresso: Jerónimo Franco, Fernando Ribeiro Mendes (*), Afonso de Barros (*), Carlos Pratas, Augusto Mateus (*), José Dias, Nuno Teotónio Pereira (*), Rogério de Jesus (*), Francisco Farrica (*) e António Machado.

Foram também eleitos para a CPN outro grupo de dirigentes, que também tomaram lugar na mesa, embora não surjam nesta fotografia: Edilberto Moço (*), Paulo Bárcia (Didas), Vítor Wengorovius (*), Marcolino Abrantes (*), Luís Martins (*), Vítor Silva (*) e Celso Cruzeiro (*)  [1] [2].

E, finalmente, foram eleitos para a CPN outro grupo de dirigentes, cujos nomes, não foram tornados públicos: João Mário Anjos (*), Eduardo Graça (*) e Eduardo Ferro Rodrigues (*), no meu caso e no do João Mário, por termos cessado o cumprimento do serviço militar, havia poucas semanas, e no caso do Ferro Rodrigues por estar, à data do Congresso, a cumprir serviço militar.

Julgo ainda interessante fazer uma referência ao pano de fundo do I Congresso que foi desenhado, em parte, com os pés. Queríamos fazer transbordar o símbolo do seu círculo fechado, subvertê-lo, criar uma imagem de movimento, mostrar um partido como lugar de caminhada e de encontro, um lugar de todas as utopias.

A Luísa Ivo que, amavelmente, me enviou a fotografia acrescentou alguns detalhes:
«o congresso iniciou-se sem o pano; estive com o Tolas, durante essa manhã, a continuar ou a terminar a pintura. A Mafalda controlava o processo. A uma certa altura eu e ele decidimos que deveriam aparecer mais marcas de pés a entrar para o círculo do que a sair. Então ele molhou os pés na tinta, foi até ao centro, fez o pino e saiu a caminhar com as mãos no chão e os pés para cima… Só nessa altura soube que ele praticava ginástica a um nível muito avançado!».
A fotografia fixa um momento da sessão de encerramento, no dia 22 de Dezembro de 1974, no qual está em palco Rossana Rossanda, consagrada dirigente da esquerda italiana, representante do movimento IL Manifesto, acompanhada, ao que me parece, por Manuel Braga da Cruz que traduzia o seu discurso para português.

Rossana, tal como Luciana Castellina, visitaram Portugal, mais do que uma vez
no período da revolução, ao contrário de Lúcio Magri e de Luigi Pintor, todos do mesmo grupo de dissidentes do PCI, fundadores do IL Manifesto.

[1] Esta lista de membros da CPN foi fixada após ter sido, por mim, cotejada com outras fontes. O facto de integrar 20 elementos faz crer que corresponde a uma das alternativas que constam da «proposta de bases estatutárias» apresentada ao Congresso.

[2] Assinalo com (*) os nomes que tendo pertencido à CPN, eleita no I Congresso, transitaram para o Comité Central eleito no II Congresso, realizado em Fevereiro de 1976.

(In Caminhos da Memória, republico a propósito do 40ª aniversário do I Congresso do MES.)

ABSORTO - 11º ANIVERSÁRIO

Fotografia de Hélder Gonçalves 

Deixar uma marca

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.

(um programa para o absorto)

quinta-feira, dezembro 18

MES – O documento da ruptura do grupo de Jorge Sampaio no I Congresso (III)


Dando sequência à republicação dos posts publicados em 2008 nos Caminhos da Memória, tomando por tema os "dirigentes fundadores", surge este que faz uma abordagem da questão política mais relevante que esteve presente desde a preparação até à realização do próprio I Congresso do MES.  40 anos depois ... imaginem!

Pretendia abordar, tão só, a temática dos dirigentes fundadores do MES, neste caso os que foram eleitos no I Congresso, realizado nos dias 21 e 22 de Dezembro de 1974, na Aula Magna da Cidade Universitária, de Lisboa. Mas, neste caso, terei que ser um pouco mais extenso já que o I Congresso, como é do conhecimento geral, foi marcado pela cisão protagonizada pelo grupo que viria a dar origem ao GIS («Grupo de Intervenção Socialista»).

Esse conjunto de activistas do MES apresentou ao Congresso um longo, e muito bem estruturado, documento intitulado: O MES E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO, datado de 30 Novembro de 1974, subscrito por Armando Trigo e Abreu, César Oliveira, Francisco Soares, Joaquim Mestre, João Bénard da Costa, João Cravinho, Jorge Sampaio, José Manuel Galvão Teles e Nuno Brederode Santos [1].

Reli, quase 34 anos depois, com os olhos de hoje, as 39 páginas (3 delas quase ilegíveis) do documento em apreço e senti uma inesperada sensação de espanto e perplexidade acerca das razões dessa ruptura protagonizada por algumas das personalidades mais proeminentes da esquerda portuguesa.

Serei o mais breve possível, atendendo, em particular, à natureza deste meio, tomando como base desta reflexão o reencontro tardio com um documento que pairava na minha memória e que logo na apresentação toma todos os cuidados sendo apresentado, pelos seus autores, como base de uma iniciativa destinada a «contribuir para o debate interno com vista à preparação do Congresso».
Há neste documento, pelo menos, dois aspectos a sublinhar:

1) Desde logo o seu título: O M.E.S E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO que parece denotar uma verdadeira, e autêntica, intenção de participação. No documento é apresentada uma proposta de metodologia e são avançados os temas destinados a alimentar a discussão no qual avultam dois pontos genéricos: «Análise da situação actual e as tarefas imediatas” e as «Linhas Programáticas Sectoriais». No entanto, atentas as datas e a memória que guardo, a discussão, anterior ao Congresso, foi bastante irrelevante o que demonstra que a iniciativa deste grupo de personalidades, tendo sido precedida de um confronto prático aceso acerca do papel de um Partido de «esquerda socialista» naquele concreto «processo revolucionário», deve ter sido encarada como uma espécie de anúncio e explicação de uma ruptura inevitável.

2) O documento surge, em qualquer caso, como uma tentativa notável, no contexto da época, de encontrar os temas e o tom para um debate sério em torno de «soluções políticas», ou seja, das diversas alternativas de regime político que se poderiam perfilar como saída possível para a designada «actual fase da luta revolucionária». É notório, ao longo do texto, que os autores não escaparam à utilização dos estereótipos da linguagem revolucionária nem à adopção de propostas cujo teor – à luz dos condicionalismos da época – poderiam ter sido, caso tivesse havido vontade e capacidade negocial de ambas as partes, uma boa base para a criação de um partido que teria, certamente, relevância política e eleitoral após aquele Congresso inaugural. Assim não aconteceu e, pela parte que me toca, muito me penalizo por isso.

Poder-se-á questionar, então, quais as diferenças políticas entre as duas posições que se confrontaram no I Congresso do MES e as verdadeiras razões da ruptura que se produziu para além dos aspectos meramente pessoais que, tendo existido, terão sido irrelevantes. Não vou tentar construir uma teoria acerca do assunto. Mas é de todo evidente que no período que decorreu desde as vésperas do 25 de Abril de 1974 até ao final do mês de Dezembro desse ano, data de realização do I Congresso, (os meses de uma verdadeira, e rara, «fusão revolucionária») se delapidou o capital de confiança, pessoal e política, que permitiria conciliar um modelo de «esquerda socialista», inspirado no PSU, de Rocard, e um outro de «esquerda revolucionária», influenciado pela ideologia da «democracia directa», designada por «Poder Popular», na linha da tradição anarco-sindicalista e dos movimentos revolucionários da América latina (Chile de Allende incluído), que pensava encontrar legitimidade no próprio curso dos acontecimentos que se viviam, freneticamente, em Portugal, sob o olhar atónito do mundo.

É claro que as propostas levadas ao debate por Jorge Sampaio, e seus companheiros, não deixavam de fazer referência ao «poder popular», mas preocupavam-se, numa leitura mais distanciada e atenta, em atenuar a deriva revolucionária como, por exemplo, quando se escrevia no final do ponto 3), intitulado, significativamente, «As soluções políticas»:
«A eventualidade da revolução socialista em Portugal e mau grado certo desenvolvimento das forças produtivas parece afastada, pelas razões seguintes:
a) A posição que Portugal ocupa no contexto capitalista europeu e internacional faz cair o país na órbita da esfera da influência americana e torna-o peça essencial no sistema da NATO e do imperialismo donde sairia com extrema dificuldade e necessariamente a médio ou longo prazo;
b) A ausência de memória colectiva das classes trabalhadoras e, por conseguinte, de uma consciência de classe e de organização autónomas dado, por um lado, a repressão fascista das lutas de classe e, por outro, o facto de toda a mobilização popular e luta politica se haver feito em torno da luta anti-fascista e democrática que conjugavam classes e sectores sociais com interesses objectivos diversos, o que implicou a confusão sistemática entre objectivos de luta proletária e objectivos de luta democrática.»
E este capítulo que escolhi como paradigma das dificuldades de afirmação de uma ideia de «reforma da revolução» remata com uma cautelosa, e surpreendente, solução que busca, em qualquer caso, atentos os condicionalismos da época, conciliar o inconciliável:
«Neste quadro restará questionar a viabilidade de uma solução que evitando o autoritarismo burguês e o militarismo progressista avance formas transitórias no sentido da instauração a médio ou longo prazo de um futuro regime socialista que se reconhece impossível de instituir a breve trecho.
Este projecto será revolucionário na medida em que se proporá a alteração das relações de produção substituindo a propriedade colectiva à propriedade privada mas terá de saber inserir-se no contexto específico da sociedade portuguesa actual evitando a transposição mecânica de estratégias ou modelos exteriores e a repetição verbalista de fórmulas vazias de conteúdo prático.»
O ponto 4), intitulado «A crise do reformismo e do esquerdismo», elabora, por outro lado, uma crítica radical às orientações políticas do PS e do PCP que culmina com a rejeição da chamada «democracia burguesa»:

«O reformismo, ao defender a democracia burguesa, apoia, no fundo, a única forma possível dessa democracia: o autoritarismo burguês de fachada democrática»; critica, depois, de forma não menos radical o «esquerdismo«, ou seja, a própria essência da orientação com a qual se confrontava no seio do MES: «O esquerdismo tem a vantagem da simplicidade e os inconvenientes da abstracção»; «O esquerdismo é incapaz de propor etapas, estádios, e objectivos intermédios susceptíveis de mobilizar as massas. O esquerdismo é, assim, uma teoria apocalíptica da tomada do poder»; «O esquerdismo esquece que todo o projecto político exige uma alternativa concreta e também uma aliança de forças políticas capazes de o apoiar e levar a cabo».

E depois de escalpelizar o reformismo e o esquerdismo conclui: «Saber ligar a mobilização de base à luta política, a luta no local de trabalho à luta global, ou seja, encontrar a tradução na instância política das lutas de massa, é tarefa revolucionária principal das organizações políticas verdadeiramente de esquerda.»

Mas é no ponto 6) do documento, sob o título O M.E.S. e as tarefas actuais que, deverá ter estado o busílis da questão da ruptura política deste I Congresso. Nunca abandonando a defesa da autonomia política do M.E.S., nem o jargão revolucionário próprio da época, os autores avançam com uma proposta de um «pacto» que permitisse
«agrupar um conjunto de forças políticas e organizações partidárias capazes de veicular, ao nível das instâncias políticas, a luta de massas e de traduzir politicamente essa alternativa apoiada nas massas (…) a constituição de um bloco de forças de esquerda não terá impacto político nem credibilidade se não for capaz de aliar as forças socialistas não dogmáticas com forças reformistas (P.C. e P. S) numa unidade de tipo popular» salvaguardando, no entanto, que «esta unidade pode não revestir a natureza de uma frente política limitando-se a um acordo sobre uma base de realizações mínimas aceitáveis pelo MFA».
O «pacto» político a que se faz apelo, fosse qual fosse a fórmula adoptada, e a sua viabilidade prática, teria uma repercussão significativa no posicionamento do MES face às eleições que estavam no horizonte:
«Julga-se que a participação eleitoral do M.E.S. se deveria fazer no âmbito do pacto político explicitado acima, agrupando um conjunto significativo de forças da esquerda, incluindo as reformistas, cujo apoio popular é inegável.
Este pacto político seria, no tocante à generalidade das forças agrupadas, um acordo de princípio salvaguardando a total autonomia política do M.E.S. e a possibilidade de explicitação da sua perspectiva revolucionária, alternativa ao reformismo e expressão da autonomia de classe do proletariado.»
Vista com o distanciamento que só a passagem do tempo permite, apesar de todas as salvaguardas, que este último parágrafo ilustra, as teses contidas nesta proposta apresentada ao I Congresso, na verdade, pouco discutida, estavam condenadas à derrota por uma maioria radicalizada sendo apelidadas de «posições oportunistas quase sempre encobertas na ambiguidade da fazer o “máximo de revolução possível”, o que sempre veio a dar em não “fazer “revolução nenhuma» [2] … originando a ruptura que designei, noutro texto, como «a primeira morte do MES».

[1] A Joana Lopes teve a amabilidade de me enviar uma cópia em papel desse documento pois, na verdade, não o tinha na minha posse.

[2] In «Relatório da Comissão Política ao II Congresso – 13, 14 e 15 de Fevereiro de 1976».

ALBERT CAMUS - o tempo ...

 

"O tempo não corre depressa quando o observamos. Sente-se vigiado. Mas tira partido das nossas distracções. Talvez haja mesmo dois tempos, o que observamos e o que nos transforma."

Albert Camus, in Cadernos

(Post de 21 de dezembro de 2003 com referência ao autor mas sem referência à obra. Na verdade a obra de Camus esteve desde o início presente como uma marca forte deste blogue. Não foi, no entanto, para divulgar a sua obra, pela qual me apaixonei desde a juventude, que foi criado. Foi criado porque senti a necessidade de dispor de um meio de comunicação pessoal que me permitisse manter uma ligação com os amigos num período difícil da minha vida. O tempo resolveu esse problema e, como sempre acontece, criou outros.)

quarta-feira, dezembro 17

RELAÇÕES USA/CUBA - UM PASSO DE GIGANTE



Em 11 de outubro de 2009 reproduzi um excerto de um artigo de Fidel Castro no qual este apoiava a atribuição do Nobel da Paz a Obama considerando-a uma medida positiva . Castro viu mais longe e Obama não desiludiu os amantes da paz e concórdia entre as nações. 

Estava em vias de manifestar a minha opinião de como as reacções à atribuição do Nobel da Paz a Obama permitem separar os campos entre os defensores consequentes da liberdade e da democracia e os outros. Mas não se podem fazer distinções apressadas, nem juízos definitivos, acerca das convicções dos homens e, muito menos, dos políticos. A confirmação desta realidade foi-me dada pela tomada de posição de Fidel Castro acerca do Nobel atribuído a Obama no final de um longo artigo intitulado Las campanas están doblando por el dólar:

En horas de la mañana de hoy viernes 9, el mundo se despertó con la noticia de que "el Obama bueno" del enigma, explicado por el Presidente Bolivariano Hugo Chávez en las Naciones Unidas, recibió el Premio Nobel de la Paz. No siempre comparto las posiciones de esa institución, pero me veo obligado a reconocer que en estos instantes fue, a mi juicio, una medida positiva. Compensa el revés que sufrió Obama en Copenhague al ser designada Río de Janeiro y no Chicago como la sede de las Olimpiadas del 2016, lo cual provocó airados ataques de sus adversarios de extrema derecha.

Muchos opinarán que no se ha ganado todavía el derecho a recibir tal distinción. Deseamos ver en la decisión, más que un premio al Presidente de Estados Unidos, una crítica a la política genocida que han seguido no pocos presidentes de ese país, los cuales condujeron el mundo a la encrucijada donde hoy se encuentra; una exhortación a la paz y la búsqueda de soluciones que conduzcan a la supervivencia de la especie.
.

MES – Os dirigentes fundadores (II)


Este é o segundo de quatro posts acerca da organização do MES, no imediato pós 25 de abril, incidindo no que apelidei os seus dirigentes fundadores. Republico-os a propósito da passagem do 40º aniversário do I Congresso do MES, realizado na Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa, em 21 e 22 de dezembro de 1974.Tendo sido escritos em 2008 podem conter alguns detalhes datados mas que não põem em causa o essencial. Foram publicados no blogue Caminhos da Memória.

Uma surpresa com que me deparei, tempos atrás, ao revolver maços de papéis antigos do MES (Movimento de Esquerda Socialista) foi ter encontrado três folhas A4, apresentando sinais de longa afixação numa parede, nas quais se divulga a estrutura, e constituição, dos primeiros órgãos dirigentes do Movimento no período imediatamente posterior ao dia 25 de Abril de 74.

Muitos dos nomes são meus velhos conhecidos, mesmo amigos, alguns prematuramente falecidos, outros (poucos) são vagas reminiscência que a memória não reteve, sendo todos, politicamente, frutos da época, apanhados na voragem de uma mudança radical na sociedade portuguesa para a qual, de verdade, nenhum de nós estava preparado.

Um caso exemplar é o primeiro nome que surge na lista, sem hierarquia, da estrutura designada por «Comissão Política»: Mário Simões Maciel. Trata-se de uma bizarria, própria do ambiente de frenética agitação da época, que o primeiro nome que surge a encabeçar a «Comissão Política» seja de alguém cuja inclusão naquela lista, ainda hoje, me desperta a maior perplexidade. (Alguém que explique!). Além do Mário Maciel só não referencio, dos restantes catorze, o António J. Pereira e o Pedro Martins. Assinalo que o Braga da Cruz é o Manuel – actual Reitor da Universidade Católica.

Eis a constituição da «Comissão Política», de dezasseis membros, aprovada na «Reunião Geral de militantes do M.E.S., realizada 45 dias após o 25 de Abril, no dia 9 de Junho de 74»:

Mário Simões Maciel, (Eduardo) Ferro Rodrigues, (António) Santos Júnior, Agostinho Roseta, Nuno Teotónio Pereira, Carlos Pratas, Jerónimo Franco, Francisco Farrica, António J. Pereira, José Catela, Pedro Martins, Vítor Wengorovius, Luís Filipe Fazendeiro, Braga da Cruz, Rogério de Jesus, Jorge Ivo.

Naquela mesma reunião de militantes, realizada em 9 de Junho de 1974, havia sido aprovado um conjunto de Comissões que foram preenchidas numa reunião posterior da Comissão Politica, realizada três dias depois, a 12 do mesmo mês. As comissões eram o Secretariado (supunha-se da Comissão Política mas ver-se-á a originalidade da opção tomada!), a Comissão de Imprensa e Propaganda, a Comissão de Relações Exteriores, a Comissão de Expansão (que designação!), a Comissão Sindical, o Secretariado dos Socioprofissionais e a Intervenção Local.

Eis as respectivas composições:

Secretariado 

Afonso de Barros, José Dias, António Pinto Basto, Mário Maciel, Eduardo Graça, António Dias.
(Todos os nomes do Secretariado surgem, no documento, com um sinal indicativo de terem aceite o encargo.)
A constituição do Secretariado apresenta a curiosidade de só integrar um membro da Comissão Política (e logo o Mário Maciel!), sendo que os restantes membros foram cooptados fora da Comissão Política, outorgando a este Secretariado, aparentemente, um estatuto com poder autónomo e independente.

Visto a esta distância, é como se a Comissão Política fosse um órgão de representação externa, digamos legal, respondendo a uma fase repleta de incertezas acerca do futuro da revolução, e o Secretariado um órgão semi-clandestino constituído por dois oficiais milicianos no activo que havia sido decidido não darem a cara publicamente – eu próprio e o António (Cavalheiro) Dias – e um responsável pelo embrionário aparelho partidário (José Dias), além de Afonso de Barros e de António Pinto Basto (aliás o jornalista Ribeiro Ferreira).

A ideia de salvaguardar, através do Secretariado, as condições para resistir a um eventual contra golpe, parece ser a única justificação para este modelo de estrutura e constituição do Secretariado, ideia que é reforçada pelo facto de nenhum dos seus membros integrar qualquer das outras Comissões que, por sua vez, apresentam uma constituição, embora ainda provisória (na verdade, à época, tudo era provisório, incluindo os governos!) razoavelmente compreensível.

Comissão de Imprensa e Propaganda:

Eduardo Ferro Rodrigues (+), César Oliveira (+), (João) Benard da Costa, Salgado Matos, Vilaverde Cabral (riscado mesmo no esboço), (António) Machado (+), Abelho, Vítor Silva.
(Os nomes assinalados já haviam aceite o encargo.)

Comissão de Relações Exteriores

Joaquim Mestre, Jorge Sampaio, José Manuel Galvão Teles, António Santos Júnior (+), Agostinho Roseta (+).
(Os nomes assinalados já haviam aceite o encargo. Curiosa a concentração nesta Comissão dos “pesos pesados” do futuro GIS (Grupo de Intervenção Socialista), que não integraram a sobre citada «Comissão Política», e haveriam de sair do MES, em finais de Dezembro de 74, aquando da realização do seu I Congresso.)

Comissão de Expansão

Nuno Teotónio Pereira (+), Carlos Pratas (+), M. Santos (riscado mesmo no esboço), Francisco Cordovil (+), Silvestre (+), Espadaneira (+), (António) Romão (+), Borges Pires (+), José Dias – Ligação com o Secretariado.
(Nesta Comissão todos os nomes estão assinalados por haverem aceite o encargo. Além desse facto, esta é a única Comissão em que é notada a presença de um elemento do secretariado tendo em vista assegurar a ligação o que demonstra a importância atribuída, nesta fase, à expansão e implantação do Movimento.)

Comissão Sindical 

(António) Santos Júnior, (Jerónimo) Franco, Marcolino (Abrantes), Almeida, Agostinho (Roseta)

Secretariado dos Socioprofissionais
(Augusto) Mateus, Rogério (de Jesus), (Francisco) Farrica, Abelho, (António) Machado, António.

Intervenção Local

(José) Catela, Fonseca Ferreira, João Cordovil,
(Todos os elementos referidos aceitam o encargo – a partir da Comissão Sindical).

O Documento termina, no final da 3ª página, com a menção, escrita à mão: «DOCUMENTO INTERNO».

Resta acrescentar que todas estas estruturas, ou seja, os seus activistas, muitas vezes entregues a si próprios, atravessaram o verão de 74 funcionando num ambiente mais ou menos caótico, num sobressalto permanente, acolhendo adesões e correspondendo a entusiasmos, desdobrando-se a cada hora, na crença de que a revolução socialista, afinal, poderia transformar-se de utopia em realidade.

Esta crença mostrou-se, na verdade, uma pura utopia. Ainda bem! Aqui para nós, que ninguém nos ouve!

LIBERDADE


Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

Albert Camus, in Cadernos

(Remate de um post publicado em 30 de dezembro de 2003.)

terça-feira, dezembro 16

MES – Os dirigentes fundadores (I)


Reproduzo, a propósito do 40º aniversário do I Congresso do MES, (21 e 22 de dezembro) o primeiro de quatro textos que escrevi para o blogue Caminhos da Memória nos quais faço uma recensão dos dirigentes que assumiram notoriedade, mais ou menos duradoira, no momento dos acontecimentos ou posteriormente, nalguns casos, até ao presente. Haja saúde!

Prosseguindo uma breve digressão pelas memórias do MES (Movimento de Esquerda Socialista) julgo interessante enunciar as personalidades que, ao nível de direcção, desde os primórdios da sua criação, deram vida ao seu programa de acção. [Todas as informações que vou aqui divulgar são reproduzidas de documentos originais que tenho em minha posse.]

Na vertente de identificação dos dirigentes fundadores do MES não serei exaustivo, prevenindo qualquer involuntária omissão, nem, porventura, serei capaz de fazer vir à memória de todos a figura física de alguns nomes que a voragem do tempo fez esquecer. Mas, desta forma, far-se-á justiça a algumas personalidades que não tendo obtido consagração pelos seus feitos políticos deram, no entanto, por regra, um contributo notável na esfera do activismo sectorial.

Os nomes dos primeiros dirigentes fundadores do MES surgiram como subscritores da «DECLARAÇÃO DO MOVIMENTO DE ESQUERDA SOCIALISTA (MES)» (sem data), tornada pública imediatamente após o 25 de Abril de 1974 o que é comprovado tanto pelo seu teor, como por anunciar a Sede Central do Movimento na Av. D. Carlos I, 146 – 1º Dto., em Lisboa, com indicação do horário de funcionamento que, em boa verdade, nunca foi cumprido. [Por curiosidade aqui deixo o «horário»: das 14 às 20 horas e das 21,30 às 24,30 horas de 2ª a 6ª e das 9 às 24,30 horas aos sábados e domingos.]

FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS



    Hoje foi necessário que fosse à loja do cidadão das Laranjeiras, em Lisboa, para tratar de um assunto. O atendimento que procurava situava-se perto do que trata do Cartão de Cidadão. Não era muito o movimento, disseram-me que era próprio da época. O nosso tempo é propício à depreciação dos dirigentes e dos funcionários públicos, mesmo à sua lapidação nas redes sociais, ao ódio à sua própria existência. Assisti, em particular, a dois atendimentos na área do cartão do cidadão que são uma lição de vida. Uma senhora idosa que, pelo que me pareceu ouvir, deverá ter nascido pelos idos de 1922, bem composta, boina na cabeça (que está frio!) cobrindo sua cabeleira branca. A atenção dos funcionários, sua delicadeza, o cuidado que ficasse bem na fotografia, a criação de um ambiente contra natura à frieza do espaço burocrático, assine aqui… De seguida uma senhora que levava uma bebé de poucos meses, a meu lado, perguntada, com voz firme, se era para a bebé, que sim, que teria depois de tirar o passaporte, que sim, seria necessário que a bebé mantivesse os olhos abertos para a fotografia. A bebé dormia profundamente, vamos dar um tempo… a mãe aconchega-a nos braços, faz-lhe mimos, luta para a acordar, sem pressões,… aproxima-se do balcão, e aí uma funcionária segura a bebé, como uma mãe faria, sorri, leva-a para próximo do espaço da fotografia, passeia-a para que de olhos abertos a fotografia possa valer, já está,… de regresso à mãe, segue o processo. Difícil lidar com tantas, e singulares situações, sem um esgar de mal-estar com a vida, os funcionários públicos ao serviço dos cidadãos, como seria difícil fazer melhor… os seus detractores deveriam passar umas horas a ver trabalhar, à vista de todos, os funcionários públicos que eu hoje pude observar.

MORAL DA LIBERDADE


"É sempre um grande crime destruir a liberdade de um povo sob o pretexto de que ele a utiliza mal"

Tocqueville

(Publicado em 30 de dezembro de 2003.)

segunda-feira, dezembro 15

ADÉLIA PRADO



Fatal 

Os moços tão bonitos me doem, 
impertinentes como limões novos. 
Eu pareço uma atriz em decadência, 
mas, como sei disso, o que sou 
é uma mulher com um radar poderoso. 
Por isso, quando eles não me vêem 
como se dissessem: acomoda-te no teu galho 
eu penso: bonitos como potros. Não me servem. 
Vou esperar que ganhem indecisão. E espero. 
Quando cuidam que não, 
estão todos no meu bolso. 



(Publicado em 22 de dezembro de 2003.) 

domingo, dezembro 14

I CONGRESSO do Movimento de Esquerda Socialista (MES) - 40 ANOS


Pano de fundo do I Congresso do MES (Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa)

O I Congresso do MES realizou-se nos dias 21 e 22 de dezembro de 1974. As efemérides valem o que valem, mas não poderia deixar passar em claro o 40º aniversário do I Congresso do MES. As razões são muitas, e diversas, e no último destes posts evocativos, a publicar daqui a uma semana, tentarei acrescentar algo ao que já foi sendo dito e escrito (embora pouco) ao longo dos últimos anos. Por agora republico os posts dedicados a esse I Congresso que foram dados à estampa no blogue Caminhos da Memória

I Congresso do MES – algumas reflexões tardias 

 «Nuno Teotónio Pereira (NTP) considera mesmo que a cisão ocorrida no MES, em Dezembro de 1974, em razão da qual “saíram os melhores quadros”, “foi uma verdadeira tragédia”. Sem ela, talvez não tivesse ocorrido “a deriva esquerdista do MFA, que foi fatal”.»

Esta reflexão de Nuno Teotónio Pereira (NTP) acerca do I Congresso do MES, surgida numa entrevista concedida a Joana Lopes (em conjunto com Edmundo Pedro), fez-me pensar no interesse de trazer a lume algumas memórias, em jeito de reflexão, acerca da minha própria vivência naquele movimento político que publiquei, nos primórdios da existência do meu blogue ABSORTO, no início de Abril de 2004, certamente, para uma escassíssima audiência. Seleccionei quatro postas das quais trago hoje a lume duas acerca do I Congresso do MES realizado em Dezembro de 1974.

O I Congresso do MES – I

O Movimento de Esquerda Socialista, forjado no período ante-25 de Abril, rompeu-se no seu 1º Congresso, realizado na Aula Magna, em Lisboa, a meio do mês de Dezembro de 1974.
Nesse congresso estavam em confronto duas concepções do papel de um Partido da esquerda socialista no «processo revolucionário».

Uma maioria, fortemente radicalizada, sentia-se legitimada, pelo curso dos acontecimentos, para impor, ao futuro MES, uma orientação política anti-capitalista que, em si mesmo, não tinha originalidade, não fora ser fortemente influenciada pela ideologia da democracia directa que, no caso do MES, tomaria a designação de Poder Popular.

Ficava assim subalternizada a aceitação programática do modelo de democracia representativa vigente na maioria dos países da Europa ocidental.

A minha participação nesse congresso foi marcada pela dilaceração de ter percebido que não seria possível, na prática, evitar uma ruptura entre o grupo liderados por Jorge Sampaio e o grupo maioritário dos delegados ao Congresso.

Alguns dirigentes com responsabilidades, nos quais me incluía, tomamos, pelo silêncio, o partido da maioria, deixando que o coração vencesse a razão, abrindo, assim, a porta a uma deriva esquerdista com a qual, apesar de tudo, tempos mais tarde, tivemos a capacidade de cortar de forma original.

O I Congresso do MES – II

A ruptura política operada no 1º Congresso, e a consequente saída de Jorge Sampaio do nascente MES, não foi inesperada. Ela resultou de um longo processo de debate que durou semanas, ou meses, ao longo dos quais não se estabeleceram as pontes pessoais e políticas que poderiam ter inflectido aquele desenlace.

Recebi, pela minha parte, abundantes avisos e missivas alertando para a gravidade da ruptura que se adivinhava no horizonte. Tenho em minha posse os originais de duas cartas que me foram dirigidas, a título pessoal, que testemunham a consciência daquela situação.

Uma foi-me enviada, do Porto, por José Galamba de Oliveira, datada de 7 de Novembro de 1974, afirmando:

«(…) Parece-me que estamos numa encruzilhada. Não prevejo que futuro está traçado a curto e médio prazo para este país nem vejo claro o que deveremos e poderemos fazer para inflectir favoravelmente o desenrolar do processo histórico. Embora não pense que a luta de classes se desenrole nas cúpulas, gostava de saber o que está arquivado nas gavetas das secretárias de Ford, Brejnev e companhia. Cada vez mais o que se passa num país é menos independente do panorama internacional, e continuo sem ver claro qual o projecto do PCP cá para o burgo lusitano.»

E afirma a propósito do Congresso que se avizinhava: «Não estamos suficientemente fortes para depurações. Toda a flexibilidade e diplomacia são poucas para preservar o essencial.»

Numa longa carta, de 15 de Dezembro de 1974, que me enviou de Moçambique, Luís Salgado de Matos adverte:

«…rezo aos meus santinhos para que não façam cisões – sobretudo a cisão na confusão. Corre-se mais o risco da grupuscularização sem dogma que da social democratização derrapante: não defendo a síntese da carne e do peixe (…) mas julgo que é um risco grave cortar o pano sem ver o tecido. Cisão, a haver – pelo que se pode desenhar – afastará o social democratismo (…) mas reduzirá o MES ao nível do grupinho necessariamente sectário mas sem um conjunto rígido de princípios (que costuma ser a safa destes grupinhos).»

Sábias palavras…

CARLOS DE OLIVEIRA


TURISMO (1942) - Título da obra poética de estreia de Carlos de Oliveira.

Cinza,
os sinos dobrados
já pela tarde fria.

Porque arde em mim ainda,
de mágoa e bronze,
o sol do dia?

(Poema VIII, In Turismo
Trabalho Poético - Circulo de Leitores)

(Publicado em 23 de dezembro de 2003.)

sábado, dezembro 13

Pranto pelo dia de hoje


Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas.

Sophia de Melo Breyner Andresen
In “Livro Sexto” – 1962

(Nas vésperas do 11º aniversário do ABSORTO, criado a 19 de dezembro de 2003, republico alguns dos primeiros posts - este de 28 de dezembro de 2003.)

sexta-feira, dezembro 12

A CAMINHO DO FUTURO

O meu filho Manuel, faz tempo, a caminho da escola. Ao longo de 15 anos, quase invariavelmente, o mesmo caminho sempre percorrido perto de casa. Em breve partirá para uma escola mais longe de casa por um período de tempo ainda assim moderadamente longo. A vida e o tempo. E nós por dentro dele. A caminho do futuro.    

OS USA E A TORTURA


    Uns dias atrás o relatório, na integra, foi publicado pela imprensa americana. Estive para o trazer para aqui mas é demasiado longo e o sentido do debate acerca dele nos USA exige uma tábua de interpretação fora do alcance da compreensão imediata da maioria dos europeus. Os Estados Unidos, país onde impera um regime democrático, sem interrupções desde a fundação, com suas virtudes e defeitos, tem destas coisas esplêndidas através das quais a política se credibiliza. 

    O que quer dizer, entre um sem número de ensinamentos, que os povos (e países) que aceitam, de livre vontade, viver em regime democrático, onde os princípios da liberdade e da justiça, foram conquistados, a mor as vezes, com o sacrifício da vida de milhões de cidadãos, não podem condenar os outros povos (e países) por praticar politicas, e atos criminosos, que eles próprios praticam, escondendo-os de forma ardilosa. 

    Dirão os céticos que nada muda de essencial pois neste preciso momento podem estar a ser praticados atos que serão condenados daqui a uns anos e assim sucessivamente. O essencial dos interesses em disputa não muda mas na vida, como na política, tomam-se decisões que podem mudar o curso da história.

quarta-feira, dezembro 10

MANOEL DE OLIVEIRA

Manoel de Oliveira, cineasta, uma vida cheia de vida e de arte, goste-se ou não da sua obra, extensa e valiosa, seja qual for o ângulo pelo qual seja olhada. Amanhã Oliveira será lembrado, e celebrado, não tanto por ela, a obra, mas pela longevidade do artista, um caso raro: na verdade, celebrar o 106º aniversário é obra!

domingo, dezembro 7

MÁRIO SOARES - 90º ANIVERSÁRIO


                                                                       Mário Soares, por Júlio Resende
Aqui deixo, no dia do 90º aniversário de Mário Soares o que escrevi, neste mesmo blogue (dando-me conta de quão antigo é), pelo seu 80º aniversário. Dez anos é muito ,ou pouco, tempo conforme os ângulos pelos que olhemos a vida. O tempo não para e o mais que tenho a acrescentar acerca do aniversariante é pouco. Somente replicar o que li, ou ouvi, um dia destes, acerca da personagem em questão: pode pensar-se o que se quiser, ser afável (ou feroz) adversário, admirador incondicional ou simpatizante  complacente, Mário Soares será dos raros nomes, senão o único, que ficará na memória coletiva na história do século XX português.  
Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.

Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.

O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.

Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.


A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.
O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.

MÁRIO SOARES - 90 ANOS

                                                      Mário Soares -  por Júlio Pomar

sábado, dezembro 6

RUY BELO - NADA CONSTA



Falta-me a folha cinco
E entretanto a barba foi crescendo
a minha barba veio crescendo ferozmente
indiferente à morte de um ou outro amigo
às letras protestadas aos desgostos domésticos
às viagens lunares às convenções às lutas
Quando as coisas se erguem contra o homem
se eriçam agressivas contra ele
nem ao poeta basta o parapeito das palavras
Eu por exemplo homem de pouco tempo
trazido pelos dias aqui estou
Continuo a dizer: se alguma coisa há
que podias perder e ainda não perdeste
de que já a perdeste podes estar certo
Falta-me a folha cinco
Estou com a barba feita
Ainda este ano talvez em marienbad
eu vi mulheres curtidas pelos lutos
Mal de morte é o meu
em plena posição de pé às três da tarde
em meio do movimento do rossio
sentado à tarde no cinema em dias de semana
Já caem carnes já se perdem pêlos
já quase só me resta a devoção
lisboa certos dias um amigo às vezes
Poucas coisas importantes pensei durante a vida
uma mesa de sol em pleno inverno
um mar incontroverso alguns papéis
- continua a faltar-me a folha cinco -
pois apesar de tudo nada consta 

Ruy Belo

"País Possível"
Editorial Presença

dezembro - dia 6


Passam hoje 15 dias que José Sócrates foi detido no aeroporto de Lisboa de regresso de Paris. Julgo não me enganar no acontecimento, nem na data, e todas as notícias dizem que lhe foi aplicada, como medida de coação, "prisão preventiva", tendo sido conduzido para a prisão de Évora. Não tenho lido nada de notável, certamente por distração, acerca da história dos governos de Portugal, e dos respetivos chefes de governo. Na minha memória, raquítica de história, resta a lembrança de chefes de governo que duraram até à morte física, caso de Salazar /apesar da parte final ter sido uma ficção/, até chefes de governo que duraram poucos dias/fenómeno fértil na 1ª república/ mas frequente na presente/Nobre da Costa e Lurdes Pintassilgo/esta 100 dias/, casos de chefes de governo assassinados/António Granjo/, situações surtidas, gestos e ações desesperadas, decisões difíceis e, porventura pérfidas, como é próprio a mais das vezes da vida política. Mas casos de chefes de governo, ou ex chefes de governo, caídos em desgraça e, pior que presos, obrigados ao exílio na sua própria terra, só me lembro, nos tempos mais próximos, imagine-se, do Marquês de Pombal. Os acontecimentos contemporâneos não permitem o distanciamento necessário para emitir opinião razoável e despida de paixão ou de ódio. O recluso, sem dúvida, sofre e os comuns mortais interrogam-se acerca das razões da justiça. Fico a refletir acerca do curriculum de Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal (Lisboa, 13 de Maio de 1699Pombal, 8 de Maio de 1782).

segunda-feira, dezembro 1

dezembro - dia 1


O PS realizou o seu XX Congresso no passado fim de semana. Não vou dissertar acerca da história dos partidos modernos - herdeiros do movimento associativo que irrompeu da revolução industrial com epicentro na Inglaterra - pois nos levaria por um caminho que, sendo muito interessante, não vem ao caso. O PS com este Congresso fechou um ciclo, ou deverá tê-lo fechado, sob pena de entrar num declínio irreversível.

Não é mais possível lutar pelo poder em regime democrático na base de programas políticos fundados em promessas irrealizável ou que as direcções politicas têm consciência que não têm condições para cumprir. Não cauciono, nem por um momento, que os partidos proclamem nos seus programas - e discursos - a morte das ideologias nem, muito menos, acentuem a desesperança que povoa o imaginário dos portugueses. O que quero dizer, simplesmente, é que não vale a pena prometer o "paraíso na terra" se quisermos ser fieis aos próprios princípios da honra republicana e da decência cívica.

Para vencer eleições, e alcançar o poder, o caminho mais seguro - apesar de mais difícil -  é o da elaboração, e apresentação clara, de propostas com viabilidade, que não carecem de aspirar a ir mais longe do que aconselha o bom senso e o bom gosto. Os protagonistas contam muito, ou sejam, as lideranças personalizadas e as equipas, mas também conta muito a credibilização das propostas não só pela percepção das suas diferenças, face a outras propostas concorrentes com as quais se confrontam - pois a democracia é o confronto em torno de propostas diferentes - mas também  pela coragem em assumir a continuidade e previsibilidade das politicas, anteriormente realizadas, reconhecendo os seus méritos e autores.

Para mim este XX Congresso representou a abertura de um novo ciclo da política em Portugal, em particular,1) pela decisão de abertura do PS à sociedade civil que deverá prosseguir com coerência, e resultados práticos, na elaboração da proposta de programa de governo a apresentar às eleições legislativas, e 2) na afirmação de uma nova liderança se for capaz de manter uma relação autêntica com o seu eleitorado natural, e a sociedade em geral, com respeito por todos os partidos democráticos, sem excepção, as forças sociais organizadas e, em geral, os cidadãos que anseiam, ao contrário do que muitos pensam, por oportunidades de participar na vida democrática, de forma livre, respeitada e com consequências.

Não só uma participação formal através do voto livre, conforme manda a lei, mas, ao mesmo tempo, através de uma autêntica participação nas escolhas de protagonistas e de orientações políticas consagradas nos programas partidários.    

sábado, novembro 29

ENQUANTO CRESCE A REVOLTA

No dia da abertura do XX Congresso do PS retomo um texto que escrevi, e aqui publiquei, em 3 de julho de 2007, dirigido ao então Ministro da Solidariedade, José António Vieira da Silva.
Passaram muitos anos e tendo tropeçado com esse texto, salvo algumas expressões datadas, vejo que mantém atualidade. No fundo este XX Congresso do PS marca, simbolicamente, a consagração de um novo líder - António Costa. O tempo dirá até onde a nova liderança será capaz de conceber, e realizar, politicas diferentes daquelas que têm sido levadas a cabo pela atual maioria politica. Entre todas as políticas, a meu ver, aquela de que PS é depositário por tradição de responsabilidades acrescidas é a que respeita à questão social. As politicas sociais, em toda a sua amplitude e complexidade, são as que  melhor permitem aferir na doutrina, e na prática, as diferenças, por vezes subtis, entre o centro direita e o centro esquerda. Qual a importância do papel atribuído pela nova liderança do PS às políticas orientadas para a valorização das pessoas, numa comunidade organizada, em regime democrático, no qual imperem os valores da justiça e da liberdade? A ver vamos!

Há pessoas que se entregam em plenitude a um projecto e depois a outro, e assim sucessivamente, uma vida inteira, ao serviço do público ou do privado, rentabilizando recursos materiais e imateriais, abarcando várias áreas do saber, exigindo muito mais que saberes formais, tornando-se depositários de experiências únicas e intransmissíveis, julgando-se úteis, assumindo a plenitude das suas capacidades e eis que, subitamente, surge o ditame de uma qualquer nomenclatura, um critério de selecção, uma norma imperceptível, um código de ética, uma teia de interesses, algo de ininteligível, e o sujeito é arrumado na penumbra, vê o tempo estreitar-se, adensar-se o silêncio, esfumar-se a auto estima, tornar-se um potencial “excedentário”, enquanto a esperança de vida aumenta e o discurso oficial é o de corrigir a retirada precoce da vida activa. Eu até estou de acordo com a filosofia minoritária, talvez utópica, herdada da tradição camponesa, do trabalho até ao fim da vida, ou seja, a aceitação natural do adiamento infinito da retirada da vida activa, mas desde que a sociedade honre essa inevitabilidade e os governos sejam consequentes no discurso e na prática pela salvaguarda da igualdade de tratamento de todos os cidadãos. Que a sociedade se não valoriza sem a experiência dos seus trabalhadores é discurso recorrente que carece de ser caucionado pela política dos governos e a prática das empresas. Mas não esqueçamos que o pensamento dominante é exactamente o contrário, ou seja, buscar todas as formas de antecipar a idade da reforma e lançar pela janela fora essa ideia da valorização da experiência individual. "As vítimas da fome", nas sociedades ditas desenvolvidas, são os novos deserdados que se auto excluem, ou são excluídos, da vida activa, na plenitude das suas capacidades, humanas e profissionais. Esses desocupados, a tempo inteiro, ou parcial, desempregados, despedidos, dispensados, sub empregados e reformados, sábios de experiência feita, novos e velhos, homens e mulheres, indígenas e imigrantes, são o rastilho de uma nova revolução. Não há estado que lhes valha nem mercado que os compreenda. Estão cercados e quando o seu número, e desespero, atingirem o ponto de ruptura teremos o confronto, não sabemos sob que forma, do qual surgirá um novo paradigma de estado social. Tantas perguntas para tão poucas respostas!

quinta-feira, novembro 27

novembro - dia 27


Nos últimos dias têm vindo a avolumar-se, ainda com contornos indefinidos, os sinais da construção de um muro que divide transversalmente a sociedade portuguesa. Não se tratam já das naturais divergências de opinião, com expressão na política partidária e no exercício de opiniões diversas, mas de um muro criado em torno de ódios e ressentimentos. Avolumam-se os sinais de apagamento das vozes autorizadas, e dos poderes empossados, que têm por missão, de direito e por tradição, exercer um papel de moderação na sociedade organizada sob as regras da democracia pluralista. À semelhança da maioria dos países da Europa acentuam-se as tendências para a diabolização dos políticos, e dos partidos, em que assenta a base da democracia representativa. São tímido os apelos, e não se sentem as ações, daqueles a quem cabe assumir a defesa do diálogo que permita que a justiça coabite com a liberdade. Um velho tema que sempre emerge com inusitada força em períodos de escassez.  

domingo, novembro 23

novembro - dia 23



Uma nota acerca de um fato relevante. Este fim de semana, goste-se ou não, está a ser ocupado, no plano mediático, social e político, pelo Eng.º Sócrates. Assinalo a extraordinária capacidade de José Sócrates de polarizar sentimentos, criando ódios e incendiando paixões. A nossa história, desde sempre, está cheia de políticos com mais ou menos carisma, alvo de processos dos quais resultaram exílios, degredos, enxovalhos, encarceramentos, e até assassinatos, no sentido literal, nas ruas e praças do nosso país. É recapitular a história. O "país dos brandos costumes" é uma ficção. A vantagem do nosso regime democrático actual, apesar de todos os seus defeitos, é a de ter instituído e feito vigorar o estado de direito, com separação de poderes, a liberdade de imprensa e, em geral, a liberdade de expressão de pensamento. O mais difícil é o modo do exercício dos poderes, todos sem exceção, assim como o da liberdade, a custo conquistada. Eis uma situação concreta para, por todas as razões que não cabem neste escrito, cada um de nós exercer o direito à liberdade, sem condicionar a liberdade alheia. E já agora prevenir-se da maledicência, ou seja, de falar do que não conhece. Assim enquanto é suposto o arguido José Sócrates estar a ser ouvido pelo juiz circulam, na esfera pública, abundantes peças jornalísticas, e de toda a natureza, descrevendo ao detalhe o suposto crime sem que se conheça, no presente, acusação alguma. As instâncias da justiça podiam, sem dificuldade, dar pública, e oficial notícia, em tempo oportuno, acerca dos mais significativos passos do processo em curso. Dessa forma salvaguardavam não só os cidadãos indiciados neste processo, e potencialmente indiciados em qualquer outro (o tema interessa a todos e a qualquer um de nós), assim como reforçavam o prestígio da justiça. Desprezando, ou desvalorizando, a informação à comunidade abrem caminho à sanha populista que empurra para a chamada "justiça de pelourinho", ou seja, "justiça pelas próprias mãos", e à infiltração subtil na sociedade da ideia da superioridade do justicialismo, ou seja, do totalitarismo. Existem abundantes experiências históricas, e literatura de qualidade, acerca deste hediondo fenómeno, e das causas da sua emergência, perante o qual os cidadãos honrados, que clamam pela verdadeira justiça, não podem capitular.

[Fotografia de Hélder Gonçalves.]    

quinta-feira, novembro 20

novembro - dia 20


Está a despontar o sabor a inverno, chove em Lisboa, o frio entra pelas dobras do corpo, nada afinal parece ter mudado na caminhada do tempo meteorológico. Nunca me interessou contestar o tempo em qualquer dos seus sentidos. O tempo faz o seu caminho sem contemplações. O futuro é uma construção do homem em debate com o tema da eternidade que, sabiamente, Camus dizia ser uma realidade sem futuro. Ficamos assim emparedados entre os desafios do presente, com seus rigores e alegrias, e os sonhos do futuro afinal uma incógnita sem solução. São difíceis todos os tempos mesmo quando sopram aparências de bonança. Nada de novo. Creio no valor da ideias, dos valores e dos princípios antes, e muito para além, do império do dinheiro. Os vencedores finais das guerras económicas e financeiras, afinal a motivação última de todas as guerras de destruição, com suas vicissitudes particulares, conforme as épocas, os opositores, as armas e os espaços geográficos, são sempre os povos, guiados por lideres que se orientam pelos princípios da liberdade e da fraternidade. Não pensemos contudo que tais lideres dispensam as elites, e suas organizações, que nutram profunda aderência a esses princípios e estejam dispostas a lutar por eles.

sexta-feira, novembro 14

MANOEL DE BARROS (II)



O menino que carregava água na peneira.

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de interromper o voo de um pássaro
botando ponto final na frase.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos

Manoel de Barros

MANOEL DE BARROS

O ROCEIRO


No clarear do dia vou para o roçado
A capinar.
Até de tarde eu tiro o meu eito.
Arranco inços, tranqueiras, juás e bosta de macaco
que não serve nem pra esterco.
Abro a terra e boto as sementes.
Deixo as sementes para a chuva enternecer.
Dou um tempo.
Retiro de novo as pragas, dejetos de anta,
adjectivos.
Retiro os adjectivos porque eles enfraquecem
as plantas.
E deixo o texto a germinar sobre o papel: em
pura masturbação com as pedras e rãs.


Manoel de Barros

Campo Grande (Brasil)

quarta-feira, novembro 12

O MARQUÊS MORREU



















Faleceu hoje Fernando Mascarenhas, Marquês de Fronteira, como é conhecido. Não evoco aqui os títulos mas o cidadão de parte inteira,  democrata, homem amante das artes e da cultura. Cultor e divulgador da cultura deixa uma marca desde logo através dos seus esforços por conservar, com cuidada minúcia, e colocando-o ao serviço da comunidade o Palácio de Fronteira que fez questão de manter como sua habitação. Um Palácio vivo na cidade. A Fundação que criou, e que passa por dificuldades burocráticas, foi uma iniciativa ousada destinada, no essencial, a manter um património de elevado valor para a cidade e para o país. Fui por ele convidado, faz muitos anos, para integrar o Conselho Fiscal da Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, a título gracioso, o que muito me honra. Fernando Mascarenhas é, e será sempre, uma referencia da cultura nacional - uma ponte luminosa entre a tradição e a modernidade. Honra à sua memória!  

sexta-feira, novembro 7

MES - 33º ANIVERSÁRIO DO JANTAR DE EXTINÇÃO
















No dia 7 de novembro de 1981, data encontrada pelas razões que descrevo num texto publicado algures, após uma longa caminhada desde a criação formal do MES no seu I Congresso, de dezembro de 1974, ocorreu um ato que, em abono da verdade, não foi unânime, mas foi original e politicamente definitivo. Passaram 33 anos sobre esse dia e não pretendo celebrar nada senão manter viva a memória de um partido político que foi porta voz dos ideais, e dos sonhos, de um punhado de cidadãos, na sua esmagadora maioria, generosos e honrados.