quinta-feira, janeiro 22

OBAMA: O REGRESSO AOS VELHOS VALORES

O que mais me impressionou no discurso de posse de Obama, 44º Presidente dos Estados Unidos, foi a coragem de enunciar velhos valores que receava terem sido arredados para sempre do centro do discurso político. São os valores que orientaram a vida de meus pais, e dos pais dos meus pais, e que quero deixar de herança a meu filho. Pode ser que a palavra, ao mesmo tempo, erudita e cidadã, de Obama, Presidente, seja a semente da qual nasça uma nova esperança para o futuro do homem: “trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo”. Que viva!

Porque, por mais que o governo possa e deva fazer, a nação assenta na fé e na determinação do povo americano. É a generosidade de acomodar o desconhecido quando os diques rebentam, o altruísmo dos trabalhadores que preferem reduzir os seus horários a ver um amigo perder o emprego que nos revelam quem somos nas nossas horas mais sombrias. É a coragem do bombeiro ao entrar por uma escada cheia de fumo, mas também a disponibilidade dos pais para criar um filho, que acabará por selar o nosso destino. Os nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores de que depende o nosso sucesso – trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo – estas coisas são antigas. Estas coisas são verdadeiras. Têm sido a força silenciosa do progresso ao longo da nossa história. O que é pedido, então, é o regresso a essas verdades. O que nos é exigido agora é uma nova era de responsabilidade – um reconhecimento, da parte de cada americano, de que temos obrigações para connosco, com a nossa nação, e com o mundo, deveres que aceitamos com satisfação e não com má vontade, firmes no conhecimento de que nada satisfaz mais o espírito, nem define o nosso carácter, do que entregarmo-nos todos a uma tarefa difícil. Este é o preço e a promessa da cidadania.
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A AMIZADE SUAVE E DISCRETA DAS MULHERES

“31 de Março.
Tenho a sensação de emergir pouco a pouco.
A amizade suave e discreta das mulheres.”

“31 mars.
Il me semble que j´émerge peu à peu.
L´amitié douce et retenue des femmes. »*


Sei do teu prazer em desejar a amizade

suave, à distância e dela te bastares sem

dizer nada, discreta a arte de ser mulher.


* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 24, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.

[No Caderno de Poesia]
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terça-feira, janeiro 20

OBAMA - DIA 0

Escrevo no momento histórico da investidura do Obama no palco do mundo em que se transformou aquele pequeno espaço ocupado por um só homem que, em breve, será um homem só. A sua cabeça encher-se-á de cabelos brancos e o seu rosto vincar-se-á com a passagem do tempo e o peso das responsabilidades. Não duvido que Obama é um homem diferente e será um Presidente diferente; que existirá uma América antes de Obama e outra América depois de Obama; que o mundo olhará para a América com mais esperança no futuro e menos reverência pelo passado; que milhões de cidadãos, sem distinção de pátria, género, raça e condição social, que não tinham em quem acreditar, ao menos por um momento, se sentirão irmanados por uma fé que lhes iluminará os rostos; que muitas lágrimas serão vertidas no pressentimento que um novo coração baterá, a partir de hoje, no corpo da velha política. Policy!
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segunda-feira, janeiro 19

AMOR E RELIGIÃO

Fotografia do final da segunda década do século passado - ramo materno da minha família, com os meus avós, na ponta esquerda, a minha mãe e meu tio, crianças, sentadas, em baixo, à esquerda. [Clique para aumentar]

Tenho uma convicção muito forte – que os meus traços físicos não desmentem - de que sou fruto do amor longínquo entre um(a) muçulmano(a) e um(a) cristão (ã). O que hei-de pensar dos amores trilhados, a sul, pelos meus antepassados? Como foi possível o amor sobreviver no seio de tão fundas diferenças religiosas? Será que o amor é mais forte que a religião?
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domingo, janeiro 18

CARTA DE OBAMA A SUAS FILHAS

These are the things I want for you - to grow up in a world with no limits on your dreams and no achievements beyond your reach, and to grow into compassionate, committed women who will help build that world. And I want every child to have the same chances to learn and dream and grow and thrive that you girls have. That's why I've taken our family on this great adventure.

(Texto integral no IR AO FUNDO E VOLTAR com uma tradução para português de um sítio brasileiro do qual reproduzo a fotografia.)
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OBAMA: FALTAM 2 DIAS

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sábado, janeiro 17

MANUELA: PRESA NO SEU LABIRINTO


Uma nota para o estado da arte das sondagens com a ajuda do Margens de Erro. A última que foi divulgada confirma, no essencial, que o PSD, com Manuela Ferreira Leite, não descola. Com pequenas oscilações a posição relativa dos vários partidos apresenta uma tendência de estabilidade com o PS sempre na frente com intenções de voto em torno dos 40%. O outro facto notável é a ascensão do Bloco de Esquerda. Para o partido de oposição que, no nosso regime rotativista, é candidato a ser governo, a liderança de Ferreira Leite tem mostrado ser demasiado fraca, apresentando intenções de voto sempre abaixo dos 30%. Para agravar a situação os indicadores de popularidade dos líderes apontam para uma sistemática descida de Ferreira Leite. Não é de admirar que se pressagie, a curto prazo, um cenário de queda da actual liderança do PSD. Na política não há milagres e mesmo o agravamento da crise económica, com significativos impactos sociais, não favorece Manuela Ferreira Leite que, a cada prestação pública, transmite a imagem de se debater num ciclo infernal de luta pela sobrevivência. Parece mais próxima do seu fim, presa no labirinto do partido, do que do início de uma caminhada para uma vitória eleitoral nas próximas eleições legislativas. O assunto é sério!
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sexta-feira, janeiro 16

Sully


Desde que, ontem, comecei a ver, em directo, as estranhas imagens do avião flutuante e, mais tarde, as que mostravam a ilusão dos passageiros a caminhar sobre a água, que me lembrei da tripulação que havia de ter conduzido a manobra desesperada e salvadora. Eis aqui um herói desconhecido e, ainda por cima, cinquentão. Dá para continuar a acreditar na capacidade do homem na luta contra a adversidade.
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quarta-feira, janeiro 14

O PATRIARCA TEM QUE ESCLARECER

Pensava eu que Portugal era um dos países da Europa com maior capacidade de aceitação das diferenças, incluindo as religiosas, mau grado o cinismo que encobre certas formas de aceitação das diferenças; pensava eu que conhecia o patriarca de Lisboa como um homem aberto às diferenças e ao diálogo, tolerante perante todos os perigos que sempre acompanham os audazes; pensava eu que Portugal era um país que se podia ufanar de contar com um líder da Igreja Católica afável no trato, clarividente nas ideias e moderado na apreciação das outras religiões. Não creio ter-me enganado. Espero que o Patriarca esclareça, de viva voz, perante os portugueses, e o mundo, o que quis dizer pois não deve ter cuidado o suficiente a expressão do seu pensamento.
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terça-feira, janeiro 13

EDUARDO LOURENÇO POR ANTÓNIO LOBO ANTUNES

Sábado jantei com Eduardo Lourenço. No fim disse que não queria boleia, que o hotel era mesmo ali e vi-o atravessar a rua em baixo, sozinho, um pouco curvado, no seu passo miúdo e comoveu-me vê-lo caminhar noite fora, de cachecol ao pescoço, a ferver de vida entre os candeeiros. Eu passo o tempo a delirar, dizia ele, mas só deliro para dentro porque se delirar para fora internam-me. E fico a assistir, calado, enquanto fala.

Breve resenha histórica da imprensa do MES - O jornal «Poder Popular» (III)


A aventura do jornal Esquerda Socialista decorreu entre 12 de Setembro de 1974, data da edição do nº 0, e 16 de Julho de 1975, com a saída do nº 38. Considerando o nº 0, e a edição especial de 13 de Março de 1975, foram publicados 40 números do Esquerda Socialista. Desde a edição do nº 1, a 16 de Outubro de 1974, o jornal saiu, sem interrupções, com uma periodicidade semanal, durante dez meses.

O outro órgão de imprensa do MES - o Poder Popular - foi criado no âmbito da campanha eleitoral para a Assembleia Constituinte. O seu título corresponde plenamente à deriva esquerdista do MES, dando eco a uma das palavras de ordem adoptadas: «Lutar, Criar, Poder Popular».

A 1ª série consistiu em 7 números, editados entre 3 e 23 de Abril de 1975, formato grande, semelhante ao do DN da época, com uma tiragem de 10 000 exemplares, em edição bissemanal - às quintas-feiras e domingos. O seu director foi o Paulo Bárcia, tendo sido impresso na ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas) e, ao que consta, não deixou dívidas.

A 2ª série do Poder Popular tem início em 23 de Julho de 1975, com o fim do Esquerda Socialista, anunciando que este jornal se havia de transformar na revista teórica do MES, da qual em breve sairia o primeiro número. Tal nunca viria a acontecer não passando de uma ideia que, embora sempre estivesse presente, nunca foi concretizada.

Esta série do PP atravessa todo o período mais conturbado da revolução, desde o «Verão Quente» de 1975 até à campanha presidencial de Otelo, sendo no nº 48, publicado em 21 de Julho de 1976, divulgados os resultados das eleições presidenciais. Até ao nº 29 o director foi Fernando Ribeiro Mendes sendo tal tarefa, na sequência do II Congresso, atribuída a Eduardo Ferro Rodrigues, que dirigiu o PP do nº 30 ao nº 48.

A 3ª série do PP foi dada à estampa entre Julho de 1976 e Fevereiro de 1978, com a edição de 16 números, a partir do nº 49, no qual se comemorava o 2º aniversário do jornal. O seu director, neste período, foi o subscritor destas linhas (até ao nº 61) que se viu a braços com uma situação política brevemente caracterizada, num relatório interno, nos seguintes termos:

«- o desânimo e o desencanto, pós-presidenciais, de largos sectores revolucionários, …; - o fracasso progressivo dos GDUPs/MUP; - a existência de fortes divergências internas que, pela 1ª vez na nossa história, se põem duma forma aberta e atravessam o Partido, a sua direcção e os quadros mais activos; são as tomadas de posição polémicas face ao MUP, e a saída (no nº 54) da famosa Resolução da 8ª Reunião do CC …».

A 4ª série do PP é publicada entre 1 de Fevereiro de 1978, (nº 65) e 13 Julho (nº 76) do mesmo ano, desde o nº 62, sob a direcção de Augusto Mateus, tendo sido o canto de cisne da imprensa do MES. No seu conjunto foram editados, entre 2 de Abril de 1975 e 13 de Julho de 1978, 83 números do Poder Popular.

O que estava em discussão, nesta última fase do MES, politicamente activo, era a urgente necessidade de romper com as ilusões revolucionárias, reconhecendo a legitimidade da democracia representativa, ou burguesa, na linguagem da época, orientação que, embora de forma mitigada, a Resolução da 8ª Reunião consagra, abandonando, ao mesmo tempo, a politica de alianças com os pequenos partidos da esquerda.

Só aquando das eleições legislativas intercalares de 1979, o MES assumiu publicamente esta nova política, com o anúncio de que não concorreria a essas eleições apelando, através de uma declaração de Vitor Wengorovius, ao voto no PS ou na APU.
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segunda-feira, janeiro 12

CRISTIANO RONALDO

Ronaldo ganhou o prémio maior da “arte” do futebol. Não é pequena coisa ganhar um prémio mundial atribuído ao mérito individual. É um jovem de origem humilde que, pelo talento e pelo trabalho, ascendeu na escala social. Já sei dos negócios que se perfilam nos bastidores. Na cerimónia falou em português, agradeceu a quem devia e no fim, surpreendentemente, disse “divirtam-se”. Interessante. Na entrevista final, de saída para o avião, de regresso ao trabalho, deu uma lição de humildade: não há tempo para celebrações que 4ª feira há jogo e todos os jogos são decisivos. Hoje a sua imagem correrá mundo elevando a notícia às manchetes em todas as línguas. O português Cristiano Ronaldo foi coroado como o melhor do mundo na sua arte. É pouco, é muito? Nenhum outro acontecimento é capaz de projectar com maior impacto a imagem de Portugal. Tenho muita pena. É o futebol!
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GALP - CONTRA A DEFLAÇÃO

Galp aumenta preços dos combustíveis – parece mentira mas é verdade! Na vertigem da queda do preço do petróleo a Galp consegue vislumbrar uma nesga para fazer um aumento intercalar. É obra!
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sábado, janeiro 10

MEDITEMOS

Acredito que Mário Crespo não tenha razão nenhuma mas o desmentido da PR é demasiado sério para a sem razão de Mário Crespo. O facto de o desmentido ter sido desmentido, logo no dia seguinte, pela manchete do Expresso não deixa de ser inquietante. A verdade é que se avoluma a sensação de que, no ano de todas as eleições, a oposição política ao governo se deslocou para a Presidência da República. Meditemos!
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