sábado, julho 17

Governo

O governo de Santana Lopes tomou posse. Discursos. Discursos. Parece um governo de um Partido imaginário (que não existe senão na cabeça do seu chefe) e experimentalista.

A ideia que fica a pairar é a de uma equipa que conhece pouco e mal a realidade do país e ainda pior os mecanismos da administração. Vai fazer, obrigatoriamente, várias leis orgânicas antes de as anteriores entrarem em vigor; vai rever legislação; vai refazer chefias e estruturas; vai meter pessoal; vai pensar para agir (seis meses) ou agir sem pensar (desperdício).

Acima de tudo vai preparar politicamente eleições: regionais dos Açores e Madeira (Outubro de 2004); autárquicas (Outubro de 2005); presidenciais (Fevereiro de 2006) e legislativas (Outubro de 2006). Tempo útil de governação? Pouco mais que nada. Um gabinete eleitoral que alia os interesses partidários dos dois partidos da coligação em favor dos interesses dos grandes grupos económicos. Nem dá para disfarçar. O governo está repleto de funcionários desses grupos. Mais nada.

Para o país anuncia-se o desastre. O PR disse hoje na tomada de posse, se bem entendi, que nada tem a ver com isso. Mas tem...

Regresso

Uma semana depois regresso ao absorto. Uma semana de férias no Algarve (a minha terra) que vão continuar agora junto ao ponto mais ocidental da Europa.

Vejam aí, os amigos do Brasil, no mapa de Portugal: Cabo da Roca, Praia das Maçãs, Azenhas do Mar. Estou por aqui. Esta semana das minhas férias foram uma espécie de "presidência aberta" pois esta semana foi muito especial para os portugueses.

Nos próximos dias eu conto o programa e as incidências da minha "presidência aberta" no Algarve.

sexta-feira, julho 9

Pausa Breve

Este é o anúncio de uma pausa breve. Uma semana de férias para descansar os olhos e, tanto quanto possível, a alma. Aqui vos deixo, entretanto, o texto inspirador do absorto.

Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,

nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,

atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,

observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,

louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou á lei da vida,

guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada á fronte do combatente irregular,

incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,

ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,

admirar a vista do mar azul frente á terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.














quinta-feira, julho 8

Bica do Sapato

Fui almoçar, um dia destes, à "Bica do Sapato". Um restaurante de referência de Lisboa e de Portugal.

À beira do Tejo, usufruindo da luz e da vista magnífica do estuário e da outra banda. Um caso de bom gosto e de qualidade em todas os aspectos. Não é um projecto que possa perdurar sem um conceito e sem muita persistência na cuidada atenção a todos os pormenores.

É um daqueles casos que devia ser o orgulho de uma cidade e dos seus responsáveis. Assisti, desde o início, ao percurso da "Bica do Sapato" assim como do "Pap´Açorda", no Bairro Alto, com a mesma gerência.

Mas, surpresa das surpresas, não é que a "Administração do Porto de Lisboa", entidade proprietária do espaço e que assume a gestão da área portuária, mandou colocar, entre o cais e o restaurante, uma grade de protecção que vai ao cúmulo de ser encimada por arame farpado. De repente a paisagem ganha os estranhos contornos de um filme da II Guerra Mundial.

O Sr. Fernando Fernandes estava desconsolado e dizia aquela frase que se ouve cada vez mais: "Assim não vale a pena…assim não vale a pena…"

quarta-feira, julho 7

Sophia

O que a morte alcança! A morte de Sophia de Mello, poeta maior, faz parecer que a poesia interessa a tantos aos quais não interessa absolutamente nada.

Cronistas, comentadores, editorialistas, políticos, fazem por aparecer, escrevem, citam e recitam. A poesia, em Portugal, na verdade, deve ter uns 500 leitores inveterados. Mais poetas haverão que leitores de poesia.

Mas dizem os entendidos que ler é mais difícil que escrever. De verdade a poesia não interessa quase nada a quase todos os que se mostram nos funerais dos poetas.

Alguns até usam o nome da poesia em vão: alguma ideia ousada ou arremedo de perfeição é coisa de poetas...não é?

terça-feira, julho 6

Opinião - "Semanário Económico"

Já está disponível, na versão online do "Semanário Económico", o artigo "Eleições Europeias - sinais de preocupação". Nas bancas na próxima sexta-feira.
Pode ler aqui.




Trapattoni

Digam o que disserem a grande notícia do dia é a contratação de Trapattoni para treinador do Benfica. Por ser o Benfica e por ser Trapattoni.

Para quem tenha dúvidas acerca do significado desta contratação para o futebol português e para Portugal leia o artigo "O omnipresente".

É um extraordinário texto da jornalista Andreia Schianchi, da "La Gazzeta Dello Sport", publicado hoje no Público.

Sonetos (V)

Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade,
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se duma outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que de uns e de outros olhos derivadas,
Se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela ouviu as palavras magoadas
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.

Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)


segunda-feira, julho 5

Marlon Brando

Ao observar as notícias da sua morte reparei que vi todos os seus filmes principais.

Um dia dei conta que os actores, que povoam o nosso imaginário, também morrem. Como os nossos pais. Foi uma desilusão. Sempre achei que os actores, meus heróis, eram imortais. Assim como os meus pais. E são mesmo imortais.

Alguns actores e actrizes - no cinema e no teatro - estão para a nossa formação de homens livres ao mesmo nível que a revolução - liberal - na qual tivemos a felicidade de participar. Uma raridade.

No caso de Brando acresce que nunca comiserou com as misérias do comércio do cinema. Sempre foi capaz de olhar para as misérias do mundo. Sentir o sofrimento dos outros com a grandeza dos autênticos heróis. Aliás se assim não fosse nunca seria o grande actor que foi. Isso sente-se.

domingo, julho 4

Vinhedos da ilha do Pico são Património Mundial

Não esqueço a paisagem do Pico. Os seus vinhedos e o resto. A viagem de barco a partir da cidade da Horta, no Faial. A passagem do canal mesmo com bom tempo. Assusta mas faz-nos lembrar a gesta heróica do povo açoriano peregrinando de ilha em ilha. A paisagem mais extraordinária de Portugal. O povo mais sofrido e acolhedor. Uma notícia que devia encher o coração dos portugueses de alegria. Viva!

"A paisagem da cultura da vinha na ilha do Pico passou hoje a ser Património Mundial, após a aprovação da candidatura pela agência das Nações Unidas UNESCO numa reunião na cidade japonesa de Suzhou, anunciou o Governo dos Açores."




Perdeeeemos

O futebol é isto. Ganha-se e perde-se. Perdemos contra uma equipa manhosa com dignidade. A selecção ganhou todos os jogos com excepção dos dois que disputou com a Grécia.

Perdeu o primeiro jogo (na véspera das eleições europeias) e o último (na véspera da demissão do primeiro ministro). Nos restantes fomos grandes vencedores.

O povo português teve razões para festejar. Mas amanhã os portugueses vão cair no real. E no centro desse real está um facto incontornável:

o José Manuel fugiu!

Domingo

As leituras de fim-de-semana:
a direita está cheia de medo de perder o governo.
O povo cheio de esperança de ganhar o Europeu de futebol.
No ar corre, finalmente, uma aragem da esperança.

Ganhaaaaamos (7)

O futebol é uma realidade que sempre me fascinou. Quando era criança ia, muitas vezes, ao Estádio de S. Luiz, em Faro, ver os treinos do Farense. O Estádio fica perto da casa onde vivia. Conhecia todos os jogadores.

O Benje na baliza era um lince. O Balela, agora treinador. O "Tarro" um espanhol goleador de primeira água. Num jogo de apuramento para a 1ª divisão, julgo que com o Salgueiros, no Porto, deu um murro no árbitro e foi irradiado. A injustiça às vezes é difícil de suportar.

O Reina, defesa lateral, duro entre os duros, vejo-o sempre na rua quando vou a Faro. O Simões de quem já ninguém se lembra. O Rato e o Isaurindo, guarda redes, de grande categoria, mais antigos. O Vinueza, espanhol, de primeira. O Ventura, defesa central, de personalidade vincada. O Gil, mais recente, internacional brasileiro.

Apanhei boladas atrás das balizas que nunca contei a ninguém e me fizeram andar tonto dias e dias. Ver o jogo perto dos jogadores tem uma respiração única e empolgante. O futebol é jogado com os pés, com a cabeça e todo o corpo, com excepção das mãos. O guarda- redes é o único que joga com todas as partes do corpo (mas só dentro da grande área). Vem de ser jogado com os pés o encanto do futebol. Os pés são uma das partes mais inábeis do corpo.

Hoje somos livres de pensar o que quisermos acerca da final de amanhã. Vamos ser campeões? Cuidado que os gregos são manhosos. Aconteça o que acontecer assinalo esta bonita frase de Maniche que diz quase tudo acerca do significado do EURO-2004: "Fala-se muito dos jogadores de forma negativa, que ganham muito dinheiro, mas, hoje, verificamos que o futebol é muito importante para as pessoas. Fico feliz por poder contribuir para que muitas famílias fiquem felizes".

sexta-feira, julho 2

Mentiras e mais mentiras

Leio no abrupto Pacheco Pereira fazer uma denúncia que me deixou petrificado. Afinal Manuela Ferreira Leite não disse no Conselho Nacional do PSD nada daquilo que a comunicação social disse que ela disse.

Onde vai chegar a manipulação da informação? De facto é preciso e urgente que as fontes destas notícias (e de outras) sejam denunciadas.

"TEMPOS NOVOS
Como se viu com a forma como foi "relatada" aos jornalistas a intervenção e o voto de Manuela Ferreira Leite no Conselho Nacional, já se percebeu como está a funcionar uma estratégia de "informação", ou seja, uma central de desinformação. Coordenada, organizada e intencional, destinada a obter efeitos políticos imediatos. Os jornais foram manipulados para contarem mentiras. Manuela Ferreira Leite nem pediu desculpas, nem votou Santana Lopes.

Está na altura dos jornalistas fazerem aquilo que sempre disseram que fariam quando as suas "fontes" deliberadamente mentem: denunciar os seus nomes."

Xeqmat

Do causa nossa transcrevo, com a devida vénia, este argumento do Dr. Silva Lopes que é um autêntico xeqmat no jogo das opções do PR para conjurar a actual crise política:

As eleições e a estabilidade
Silva Lopes apresentou um dos melhores argumentos que já ouvi a favor das eleições antecipadas: o de que só elas poderão garantir alguma estabilidade e consolidação financeira nos próximos anos. É caso para dizer que as aparências iludem!
Na verdade, fosse qual fosse o partido que viesse a ganhar agora as eleições, iniciar-se-ia uma nova legislatura de 4 anos e, por isso, o vencedor não teria a tentação de desenvolver de imediato políticas de tipo eleitoralista (que também já não tinha tempo de praticar antes do acto eleitoral). Pelo contrário, essa tendência será quase inevitável com o cenário de um governo da actual coligação, governando a dois anos de eleições. E não se adivinham meios de poder travar tal desvario. Promessas, como se ouviu ontem, não faltarão. Mas teria o Presidente da República algum instrumento para pôr o Governo "no sério", por exemplo, se este viesse, nos próximos meses, a libertar o endividamento das autarquias ou a subir o ordenado dos funcionários muito a cima do que o bom senso financeiro nos aconselha?

Maria Manuel Leitão Marques



Homenagem a Sofhia de Mello Breyner Andersen

Faleceu hoje a maior poeta portuguesa contemporânea. Eis o seu primeiro poema publicado em livro.

Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.

In "Poesia", 1944, Coimbra, edição da Autora.


Incêndios

Começaram a surgir as imagens terríveis do desespero dos incêndios. Numa zona que conheço do Algarve, pois é perto da terra dos meus avós, ardem largos hectares de mata e de floresta. As populações, em desespero, combatem o fogo com os seus escassos meios artesanais. As imagens são as do costume.

Pergunta inocente: que é feito da tropa que o Ministro Paulo Portas anunciou que estaria no terreno aos milhares de homens? Que é feito do Ministro Figueiredo Lopes? Quando acabar a euforia do EURO -2004 e a angústia da crise política, caso o calor aperte, como é de prever, seremos confrontados com uma nova calamidade de proporções semelhantes à do ano passado? Por enquanto as autoridades estão em silêncio.

quinta-feira, julho 1

DEZ ARGUMENTOS EM FAVOR DE ELEIÇÕES ANTECIPADAS

Aqui pode ver os dez argumentos do jumento, de que reproduzo os dois primeiros, e ainda uma pitoresca referência à tomada de posse clandestina do novo Director Geral de Contribuições e Impostos. Com a devida vénia.

Imagino que Sampaio não é leitor do Jumento, e nem acredito que um blogue anónimo seja para ele credível, mesmo quando quase todos os dez milhões de portugueses sejam cidadãos anónimos, e não é por isso que deixam de pensar ou de dizer o que pensam. Mesmo assim aqui ficam as razões porque neste palheiro se defende a realização de eleições antecipadas:

1. A ESTABILIDADE
Um governo que só existe para evitar eleições imediatas assente no mero desejo dois partidos que apenas desejam exercer o poder a qualquer custo é uma situação de instabilidade política mais grave do que a que resultaria da realização de eleições.

2. UM GOVERNO SEM PROGRAMA

O programa de governo de Durão não era mais do que a mistura de uma receita ultra-liberal com uma amálgama de promessas avulsas o até aqui primeiro-ministro havia feito na campanha eleitoral. Um novo governo seria dirigido por um primeiro ministro que o povo não escolheu cumprindo um programa que já não seria o proposto aos eleitores.

quarta-feira, junho 30

Ganhaaaaamos! (6)

Escrevo meia hora antes do início do jogo. Muita animação pelas ruas. Buzinas em alta antes do jogo: mau sinal. Nos anteriores não foi assim. Parece que se instalou um convencimento de vitória antecipada.

Desta vez quase não há governo. A bancada VIP vai ficar mais espaçosa para os verdadeiros responsáveis pelo sucesso do EURO - 2004 que, finalmente, vão poder sentar-se. Ufff!

Se passarmos à final e Durão Barroso apresentar a demissão, como prometido, no fim-de-semana, temos muitas hipóteses de ser campeões.

Este projecto foi uma iniciativa do governo do PS. O governo demissionário não conseguiu travar o EURO - 2004 como Santana Lopes acabou com os "Jogos de Lisboa".

Ficou provado, uma vez mais, que "Deus não dorme". É a "pesada herança" em todo o seu esplendor.

O jogo terminou. O coração aguentou. O povo festeja com mais intensidade. Foi sofrer até ao fim. Agora só falta um. Domingo pode ser a apoteose. Espero que a selecção nacional possa dar a grande alegria da conquista do título europeu ao povo português que tanto tem sofrido nestes últimos dois anos.


Sonetos (IV)

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)

terça-feira, junho 29

Freitas do Amaral

Freitas do Amaral é uma personalidade singular. Fundador do CDS o partido, criado no pós 25 de Abril, mais à direita do espectro partidário português, Freitas do Amaral tem mostrado uma extraordinária capacidade de independência e originalidade de pensamento.

Não é uma questão de direita ou de esquerda. É uma manifestação da mais pura liberdade de pensamento. Freitas do Amaral é um exemplo de cidadão que oferece à comunidade uma participação cultural, científica e política altamente qualificada, despida de preconceitos e mobilizadora da iniciativa cívica.

Sei do que falo pois fui responsável, em primeira linha, com o Carlos Fragateiro, por ter acolhido, no Teatro da Trindade/INATEL, as suas experiências de dramaturgo, permitindo que fossem representadas duas peças de sua autoria. Representações de grande sucesso pela única verdadeira medida do sucesso, em teatro, que é a adesão do público. Não foi tão fácil como possa parecer acolher a criação teatral de um homem como Freitas do Amaral. Mas valeu a pena.

O entusiasmo e a paixão pela novidade e iniciativa de Freitas do Amaral são um bálsamo para a alma daqueles que anseiam, contra as tendências ultra conservadoras, "andar para a frente", arriscar, reformar sem concessões aos interesses instalados, em suma, modernizar o país respeitando a tradição.

Assino de cruz a sua posição, divulgada, hoje, no Público, explicando as razões da bondade da convocação de eleições antecipadas. Bem haja, prof. Freitas do Amaral.

segunda-feira, junho 28

Vitorino Nemésio

Uns largos tempos andei, de livraria em livraria, em busca de um determinado livro de poesia de Vitorino Nemésio. Tinha lido de Nemésio um ou outro poema solto e guardava na memória as extraordinárias conversas que nos ofereceu na Televisão. Agora já entendo um pouco melhor este poema heterodoxo de Eugénio de Andrade.

A VITORINO NEMÉSIO,
ALGUNS ANOS DEPOIS

Ninguém te lê os versos, tão admiráveis
alguns, e a prosa não tem muitos leitores,
embora todos reconheçam, mesmos os que
nunca te leram, que é magnífica.
A moda é o Pessoa, coitado: dá para tudo;
e a culpa é dele, com aquela comovente
incapacidade para ser ele próprio.
De nada lhe serviu ter dito e redito
que a fama era para as actrizes.
Que vocação de carneiro têm as maiorias:
não há fúfia universitária ou machão
fardado que não diga que a pátria
é a língua ou a puta que os pariu.
Não, contigo isso não pegou. Durante anos
e anos arrumaram-te na prateleira:
eras o Cavaleiro das Tristes Figuras.
Conversão ao catolicismo, fretes ao estado
novo, prémios do sni não ajudavam muito
a que te lessem, além de haver outros poetas
a festejar, por sinal bem medíocres, mas
"democratas
convictos", coisa que dizem que não foste.
Isto de morrer pela pátria não é para
todos e tu, decididamente, para a morte
não tinhas nenhuma inclinação. Afinal,
além dos alçiões a quem davas os olhos,
só tinhas versos, e alguns bem maus,
coisa aliás de pequeníssima importância,
como exemplarmente, depois de morto, provou
Pessoa, que está, como se sabe, no paraíso.
Coitado, pensava ter tempo para por ordem
na arca, mas a morte veio antes da hora.
Contigo ao menos isso não aconteceu,
bebias menos, pudeste arrumar a casa.

Nada disto te importa já, e de resto
que lêem esses que lêem quando lêem?

1983

(In Poesia - Eugénio de Andrade. Edição
da Fundação Eugénio de Andrade, 2000)

A hipocrisia em estado puro

"O presidente da Câmara de Lisboa e vice-presidente do PSD, Pedro Santana Lopes, negou hoje ter sido convidado para substituir Durão Barroso no cargo de primeiro-ministro e estranhou as manifestações e comentários quanto a esta possibilidade."

Vejam aqui a notícia do desmentido das notícias.

domingo, junho 27

Durão - Presidente da Comissão Europeia (3)

O Correio da Manhã, um tablóide, diz abertamente o que outros afirmam em complicados discursos políticos. Durão Barroso vai embora. A maioria precisa de Santana Lopes porque tem medo de eleições. É isto simplesmente.

"Sucessão: Sociais-democratas com receio de antecipadas
SANTANA SEGURA COLIGAÇÃO
A estabilidade governativa e o receio de fracasso numas eleições antecipadas levaram os principais dirigentes sociais-democratas a cederam o seu aval a Santana Lopes." Correio da Manhã

Pacheco Pereira entendeu cedo o cenário do "golpe" . Desenha-se no horizonte uma solução populista, pura e dura, na qual o PP, de Paulo Portas, ganhará ainda maior influência e peso político. Não se deve menosprezar o populismo. Nem os perigos que as soluções populistas encerram.

Esperemos que o Presidente da República encontre uma solução equilibrada para a crise política. Haverá uma solução no quadro da actual maioria palamentar que dispense Santana Lopes? Os acontecimentos das últimas horas estreitaram a margem de manobra do PR. As soluções para esta crise gizadas no recato dos gabinetes são uma machadada na credibilidade do sistema político democrático.

Será que vai prevalecer o entendimento de que em democracia as eleições são um factor de instabilidade? A crise aberta pela demissão de Durão Barroso é muito grave. Para uma crise de tamanha gravidade, que envolve a legitimação do governo, não pode deixar de ser aplicada a medida mais eficaz, prevista na Constituição, que permite legitimar um novo governo. Eleições.


sábado, junho 26

Sonetos (III)

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)

Durão - Presidente da Comissão Europeia (2)

Vi ontem um debate na SIC Notícias - Expresso da Meia Noite - com um grupo de comentaristas divertidos. Para eles - sejam de simpatias da esquerda ou da direita - a crise política aberta com a demissão do primeiro-ministro é uma alegria.

Disseram muitos e variados disparates sem que algumas chamadas ao bom senso tivessem resultado. Hoje o Público fala de uma "remodelação profunda" do governo. Mas do que se trata é de um novo governo, com um novo primeiro-ministro. Não há remodelação nenhuma.

Se o PR não convocar eleições antecipadas, no fim do mandato deste novo governo os portugueses vão pedir contas a quem? A Durão Barroso, presidente da Comissão europeia (ex-primeiro ministro) ou a Santana Lopes, primeiro-ministro (ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa)?

E em Lisboa, no fim do mandato de Santana Lopes, os lisboetas vão pedir contas a quem? Só há uma maneira para legitimar politicamente uma mudança de primeiro-ministro e de governo: eleições antecipadas.

Não se trata de um cálculo político para dar o poder de volta à esquerda. Trata-se de uma questão de higiene democrática.

sexta-feira, junho 25

Durão - Presidente da Comissão Europeia

Faço um primeiro comentário, acerca deste magno assunto, na abébia vadia mas confesso que, depois do jogo de ontem, estou cansado e esta crise política foi bem pensada. É o dia certo.

"Pedro Santana Lopes, actual presidente da Câmara Municipal de Lisboa e vice-presidente do PSD, será o próximo primeiro-ministro de Portugal, após Durão Barroso ter decidido aceitar o cargo de presidente da Comissão Europeia. »

Se for verdade, como afiança o Expresso na sua versão online, cujo resumo reproduzo acima, o que pensar desta saída de Durão Barroso? O seu governo dura há pouco mais de 2 anos. A sua popularidade está em baixa. Não vai haver remodelação. Vai haver um novo governo. Certamente sem eleições e um novo primeiro-ministro - Pedro Santana Lopes?

Há muitas maneiras de fugir. Para cima, para baixo ou para o lado. Esta é uma dança. Se não houver eleições antecipadas tudo se resolve num círculo restrito. Depois admirem-se que haja cada vez mais desinteresse dos cidadãos pela política e pela participação cidadã.

Ganhaaaaamos (5)

Dei uma vista de olhos pela imprensa internacional buscando os relatos do Portugal-Inglaterra. Vejam aqui um exemplo.

É difícil imaginar o valor desta vitória para a imagem de Portugal no mundo. As notícias são todas de primeira página. Descrições de um jogo épico. Referências constantes a um herói: Ricardo. Pormenores: defendeu o penalty decisivo sem luvas e marcou o golo que nos deu a vitória facto invulgar para um guarda-redes.

Pormenores de um alcance para o imaginário colectivo que é difícil de interpretar. É um sinal de que os encantos da vida estão na assunção do risco, na novidade da descoberta, no afrontamento das dificuldades da vida com as mãos nuas.

Em realizar o que antes se considerava irrealizável. Muito do que o homem tem de bom em si próprio, e para oferecer aos outros, não se encontra, afinal, do lado da razão mas no lado da emoção. Não se encontra do lado do calculismo, mas do lado do expontâneo.

Afinal o "pequeno Portugal" venceu a "grande Inglaterra". Eram mesmo só 11 contra 11. O mundo tomou, com simpatia, conhecimento. Portugal, digo Portugal, surgiu aos olhos do mundo, através deste episódio, como um país vencedor.

Mas o povo não mudou, nem as dificuldades da vida foram atenuadas. Mas sempre é melhor vencer do que ser derrotado. Não é?

quinta-feira, junho 24

Ganhaaaaaamos (4)

Estou vivo. Nada mau. Foi um jogo raro. Daqueles que nos fazem acreditar na beleza de um combate travado frente a frente. Os ingleses não pertencem à categoria das turmas "manhosas".

Lutam com galhardia e sinto estima por eles. Podíamos ser nós os derrotados e mesmo se assim fosse teríamos merecido o aplauso geral. Mais uma festa e estamos cada vez mais próximos de alcançar um feito.

Scolari mostrou coragem e foi recompensado. Com ele a média de idades da selecção baixa de jogo para jogo. Não tem medo de substituir os "monstros sagrados". Olhem com atenção os nossos políticos como se faz uma reforma em acção.

Mas cuidado que os próximos adversários serão, porventura, ainda mais difíceis que os ingleses. Suécia ou Holanda. Na próxima quarta feira vou torcer para um novo Ganhaaaaamos. Um abraço especial ao respirar o mesmo ar e ao Joaquim Paulo.

Sonetos (II)

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha senhora.


Luís de Camões

(in Obras Completas, Círculo de Leitores,
Edição de Lobo Soropita, de 1595)

Ironia

"Beneficiários do RSI Sem Projectos de Inclusão"

A filosofia do "rendimento mínimo" assentava numa ideia de integração social. O "rendimento social de inserção" assumiu, na própria designação, a regeneração dessa ideia, pretensamente pervertida, pelo anterior governo.

Balanço: Os beneficiários do antigo "rendimento mínimo" recebem um subsídio. Os potenciais beneficiários do "RSI" não recebem subsídio, nem participam em projectos de integração.

quarta-feira, junho 23

CV-17

Regressando aos blogs do Brasil aqui têm o Papel de Pão. De tudo, nada

Sem apresentações. Assunto morto com o lema: "Tudo que eu possa dizer sobre mim está nos posts ao lado. O resto não importa"

Um dos mais belos blogs que tenho visitado nesta digressão. Na escrita e nas imagens. Vale a pena.

Vistas de Rua (6)

Rua Dr. Coelho de Melo, Faro, Algarve, Portugal

Quando olhava, da janela, aquela rua os meus olhos viam uma paisagem povoada de sonhos. Não era uma rua o que eles viam mas o espaço da liberdade. Ir à rua era sair em busca de sensações novas caminhando ao encontro do desconhecido. Ir à rua era buscar as diferenças que a disciplina da escola e as obrigações da casa tornavam grandiloquentes e imensas como o mar.

A rua em que eu nasci era de terra batida e nela era possível escavar buracos para jogar ao berlinde, desenhar, com o pé, figuras e olhar, curioso, os sulcos deixados pelas rodas do triciclo. A rua em que eu nasci era uma rua vulgar aos olhos do comum dos mortais mas, para mim, era uma avenida luminosa de sol e sombras desenhadas pelo calor da paixão de viver.

A rua em que eu nasci ainda lá está quase tal qual era na época da minha meninice. Uma rua de casas baixas, brancas de cal, com terraços mouriscos que, no verão, me queimavam os pés descalços. Nessa rua perdi a inocência. Aprendi tudo: a sonhar, a ler, a contar e a rezar. Nela conheci a beleza das mulheres e a cor da solidão. Aprendi a amar os que me amavam. A reconhecer a ausência e a partida. A morte e a vida. A doença e a miséria.

Tudo se aprende até aos 8 anos. Depois não se aprende nada.

terça-feira, junho 22

Sonetos (I)

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!

Luís de Camões

(Edição de Lobo Soropita, de 1595
In Obras Completas - Círculo de Leitores)
.

Ganhaaaaamos (3)

As reflexões acerca do fenómeno do futebol não podem deixar de fora a crítica às tentativas descaradas de instrumentalização do Euro - 2004 à estratégia da coligação governamental nas últimas eleições europeias.

Queria deixar aqui uma nota de repugnância pelas sucessivas e organizadas acções de premeditada colagem e confusão entre a realidade do futebol e os desígnios políticos de uma candidatura eleitoral. O post de Porfírio Silva hoje afixado no abébia vadia refere só uma manifestação extrema desta política de inominável apropriação do fenómeno desportivo pela maioria de direita.

As recentes vitórias da selecção portuguesa e os festejos que delas resultaram, esperados e legítimos, deram para perceber, em toda a plenitude, a ideia dos estrategos da coligação "Força Portugal". A colagem à imagem de um país em festa vitoriando a selecção na véspera de eleições. A vitória sobre a Grécia permitiria a saída para a rua de multidões de portugueses carregando às costas os símbolos nacionais que a Coligação "capturou" para a sua campanha.

A imagem de um povo feliz a que se associariam os lideres do governo e da coligação. Tal fúria desesperada de protagonismo, ilegítima e desproporcionada, levou até a uma "invasão" da bancada vip do Estádio do Dragão, por membros do governo e comitiva, a que não escapou nem o próprio responsável pela organização do Euro.

Depois, após a vitória sobre a Rússia e, ainda com mais evidência, com as manifestações suscitadas pela vitória sobre a Espanha, foi possível antever o que teria sido esse momento. O tiro saiu pela culatra. Portugal perdeu com a Grécia. Em boa medida essa derrota foi da responsabilidade daqueles que quiseram, a todo o custo, instrumentalizar a selecção aos seus desígnios partidários. (imagino as pressões - directas e indirectas - sobre a Federação, técnicos e jogadores!).

Os portugueses celebraram, com euforia, as vitórias fazendo o que seria de esperar. Agora será melhor acautelar esta euforia para a disputa com a Inglaterra que, verdade seja dita, passe a ironia, foi a potência determinante na vitória portuguesa na batalha de Aljubarrota. Depois de vencida a Espanha, uma "potência continental" é a vez de nos defrontarmos com a nossa aliada estratégica tradicional, a Inglaterra, uma "potência marítima" como nós, embora nós tenhamos vergonha, a mais das vezes, de o assumir.

Espero que todos tenhamos razões para festejar, na próxima quinta-feira, a vitória do "pequeno" Portugal contra a "grande" Inglaterra". Pois, neste caso, não há desproporção de forças: são só onze contra onze.

segunda-feira, junho 21

CV-16

Ouguela Com Vida - o blog

"Este blog será um espaço onde os alunos e a comunidade de Ouguela poderão partilhar com todos os amigos os seus sonhos..."

Este blog tem a particularidade de ser editado por uma escola do Concelho de Campo Maior, Alentejo, frequentada por 5 alunos. Não tenho abordado, por opção pessoal, de forma sistemática, as questões da educação mas esta experiência vale bem a abertura de uma excepção.

Ganhaaaamos (2)

O meu amigo Joaquim Paulo Nogueira no seu Respirar deu-me um cartão amarelo amigável. Aqui vai a minha réplica antes que se faça tarde.

O que está em causa nestas abordagens críticas do fenómeno do futebol é uma certa incapacidade de percepção das diversas vertentes do "ganhámos". O meu compromisso com a comunidade em que insiro a minha acção, criatividade, convicção, crença, saber,..., não se esgota na observação das facetas imbecis da paixão colectiva.

Se assim fosse estaria, no limite, a dar caução a um nacionalismo serôdio ("que está fora do seu tempo") e a uma fé irracional nas vitórias decididas pelo destino. Mas o meu compromisso com a comunidade exige de mim uma capacidade de compreender o entusiasmo e a paixão dos outros e, em particular, quando os outros somos, de facto, nós próprios, embora não o queiramos reconhecer.

Não quero ficar de fora nem por uma razão de exibicionismo nem por uma razão de sensibilidade. Desde sempre tenho uma paixão pelo futebol que não consigo esconder nem dominar. Por isso nunca poderia ficar de fora da paixão destes dias.

Tenho, ao mesmo tempo, a percepção de que o futebol é visto por alguns como um subtil factor da distorção (distracção) das penas dos dias difíceis a que certas políticas têm submetido o nosso povo. Mas esses manipuladores são perdedores à partida pois jogam um jogo que a multidão exultante, no nosso tempo, não aceita nem amplia.

O perigo de erosão da democracia não provem da paixão do povo pelo futebol mas da capacidade dos podesres democráticos e seus agentes (os eleitos) serem capazes de se manterem fiéis aos compromissos que assumiram quando se apresentaram a sufrágio. Tenho para mim que a qualidade da democracia depende, acima de tudo, da qualidade dos eleitos. E que, salvo em situações de extrema penúria, todos nos podemos deixar possuir livremente pelas nossas paixões que o poder não cai na rua.

Preocupante seria o contrário. Aliás como têm afirmado diversos sociólogos, no âmbito desta discussão, são inúmeras as manifestações de resistência às tiranias que se têm apoderado do fenómeno desportivo e, em particular, do futebol, assim como são conhecidos os casos de sentido contrário. Mas esse também é um jogo que os democratas não podem recusar-se a jogar.

Nada, de essencial, muda na vida de uma comunidade com uma vitória da selecção mas a força do contentamento de um povo jamais pode ser aprisionada pela reflexão crítica do fenómeno da paixão. Estou pois de ambas as margens deste rio caudaloso. Paixão pelas vitórias (ganhaaaaamos!), compaixão pelas penas da vida qua a paixão da vitória não amacia nem atenua.


Pina Moura

Julguei que Pina Moura estivesse afastado da vida política activa. Agora que foi contratado por uma grande empresa e tem a sua vida profissional "encaminhada" pensei que guardaria o recato próprio dos profissionais da gestão privada cujas energias não são demais na dedicação às suas empresas e seus patrões.

Pelos vistos as tarefas de Pina Moura são outras. Os seus patrões preferem um primeiro-ministro de Portugal com um "perfil reformador inequivoco" e uma especial "consciência e sensibildade pessoal". Entendi. Alguém mais "flexível", menos "rígido", mais sorridente do que Ferro Rodrigues. Estão a ver! Vem isto a propósito da tomada de posição crítica de Pina Moura acerca de Ferro Rodrigues.

Sem menosprezo pela liberdade de opinião de todos os cidadãos, lembrei-me de um episódio curioso: no último Congresso do PS da "era António Guterres" Pina Moura foi crucificado, em particular, pelo silêncio de todos. Durante o Congresso não se ouviu uma palavra de apoio e solidariedade pelo seu esforço no exercício da função de Ministro das Finanças e da Economia. A única voz que se fez ouvir, solidária com Pina Moura, imaginem de quem foi... foi de Ferro Rodrigues. Eu estava lá e assisti a tudo.

A memória de Pina Moura é fraca e caminha na razão inversa dos seus rendimentos e de interesses particulares que só ele poderá explicar.

"Pina Moura critica Ferro Rodrigues
Apesar do recente triunfo eleitoral do PS, Pina Moura mantém as reservas quanto à actual direcção do partido. Para o deputado socialista, o líder do PS não tem perfil para levar os socialistas de volta ao poder.
Em declarações ao programa da SIC "Negócios da Semana", o deputado socialista e antigo ministro de Guterres criticou Ferro Rodrigues, dizendo que ele não tem o perfil reformador para levar o PS de volta ao poder.
"Não é o candidato melhor colocado, em virtude das suas próprias características para personificar, com mais eficiência, junto do eleitorado, esta conjugação de um compromisso reformador inequívoco de mudança e de modernização da sociedade portuguesa, conjugado com consciência e sensibilidade pessoal", disse Pina Moura."

domingo, junho 20

Ganhaaaaaaaamos!

Começamos mal e acabamos bem. Com os espanhóis aconteceu o contrário. Escrevo aqui pertinho do Estádio de Alvalade e o bruáaaaaa de fundo quando Portugal marcou é algo de impressionante. Um grito que ecoou e fez tremer os edifícios. Como se tivesse havido uma explosão colectiva.

Depois o desfile interminável de carros a buzinar e de pessoas de todas as idades, empunhando bandeiras nacionais (e do Brasil), encenando uma festa autêntica. Portugal ganhou. Mas como dizem os actores principais desta festa, os jogadores, maduros e realistas (mesmo os mais jovens), é preciso acreditar mas ainda não ganhamos nada.

Só o direito a sonhar com mais uma festa, no próximo domingo. Já não é mau!

Fragmentos de Leituras

"O instrumento subtil

Programa duma vanguarda:
"O mundo está sem dúvida fora dos eixos, só os movimentos violentos podem repor tudo no seu lugar. Mas pode acontecer que haja, entre os instrumentos que sirvam para o efeito, um pequeno, frágil, que exija ser manipulado com leveza." (Brecht, A Compra do Cobre)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -18
(Fragmento 2 de 4, pag. 9)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Domingo - 20

Hoje é domingo. Este dia é um dia como outro qualquer. Com um acontecimento que o torna diferente. O jogo Portugal-Espanha do Euro-2004. Portugal precisa de ganhar para passar à fase seguinte.

Hoje é o dia da "missa de sétimo dia" pela derrota da coligação "Força Portugal" nas eleições europeias. Parece que poucos notaram como a colagem da propaganda da coligação governamental á selecção nacional a prejudicou na preparação para o jogo com a Grécia. Pelo que se viu em público imagino a pressão nos bastidores!

Hoje, derrotada a coligação nas urnas, a pressão política deixou de ter importância. A selecção ficou mais forte e tudo pode acontecer. Espero que Portugal jogue para ganhar. Mas mesmo no caso da selecção de Portugal ser eliminada é preciso não esquecer que outras grandes selecções correm o mesmo risco: desde logo a Espanha, a Itália, a Inglaterra, a Alemanha, a Holanda...

Hoje é domingo. Um dia como outro qualquer. Tudo o que possa acontecer no futebol não altera nada de essencial na vida dos portugueses. Se perdermos é mais do mesmo, se ganharmos fazemos uma festa e venha o próximo.

Mas, já agora, não ponham muitos ministros na tribuna VIP. Dá azar!

sábado, junho 19

SEIS MESES DE VIDA

O absorto completa hoje seis meses de vida. Foi criado em 19 de Dezembro de 2003. "Sem querer". Tinha a ideia mas, de súbito, dados os primeiros passos com sucesso, tive de inventar tudo. Não tenho estatísticas especiais nem programa social para apresentar. Não me parece importante e não me apetece. Só tenho uma certeza: por minha vontade a empresa vai continuar.

Saudações para o Brasil. Este blog tem uma "audiência" brasileira sempre superior a 15%. É bonito, pá! Um encorajamento à colombina (que bela escrita!) que me tem ajudado na série CVs. O mau tempo para ela vai passar.

Uma saudação à Miúda. Atenta ao quotidiano de Mogadouro, do Porto, de Portugal e do Mundo, com um sorriso doce.

Um abraço aos companheiros da abébia vadia. Como dizia Xico Buarque (60 anos de vida, não é?) a propósito da revolução dos cravos: "Um dia havemos de ser um grande Portugal".

Nós por cá estamos a pensar nisso.

sexta-feira, junho 18

CV-15

RAIN KING

Apenas mais um cara de 22 anos que mora em Fortaleza, tem 2 irmãs lindas, pais maravilhosos, um 206 cinza (ou prata - PC), muitos e bons amigos, ama música, Counting Crows, praia... e tenta, sempre que possível, ser feliz...

"One for sorrow
Two for joy
Three for girls and four for boys
Five for silver
Six for gold and
Seven for a secret never to be told..."

Adam Duritz


Rain King é um blog do Brasil que me foi revelado por Colombina que é apoiada por ele porque é assim que deve ser. Não os conheço. Mas é uma cultura individualista e solidária. Ao mesmo tempo. Perceberam? O conhecimento mútuo entre todos nós rompeu as fronteiras. O mundo deixou de ser dominado só pelos poderosos da finança, da guerra e dos negócios obscuros. Está nascendo todos os dias uma nova cultura entre os jovens de todas as idades que não aceitam ficar indiferentes perante as injustiças do mundo e de cada uma das nossas comunidades. Individualistas e solidários. Perceberam?



Educação Profissional - caminho do futuro

O artigo com o título em epígrafe já está disponível na versão electrónica do "Semanário Económico". Clique aqui.

Jorge Coelho

Todos os portugueses conhecem Jorge Coelho. Ele é um português como qualquer um de nós. Assumiu, a partir dos finais da década de 80, uma posição importante no PS.

Nos diversos papéis políticos que tem desempenhado, concordemos ou não com os seus alinhamentos, tem sido sempre um profissional com bom senso, competência, sentido de equilíbrio e realismo. Tenho um especial apreço por ele.

O resultado das eleições europeias parece ter surpreendido alguns dirigentes do PS. O PS obteve, para alguns deles, uma vitória demasiado expressiva. Esperavam uma vitória "tangencial" (uma "derrota" anunciada) que serviria para "deixar cair com honra" o secretário-geral Ferro Rodrigues.

Ficaram ácidos com o resultado. Os seus aplausos face à maior votação de sempre obtida pelo PS foram de cerimoniosa obrigação. Conheço-os. Mas se alguém não ficou surpreendido foi, certamente, Jorge Coelho. Não conheço o seu pensamento acerca do futuro do PS. Mas as suas palavras sensatas, publicadas no DN, merecem o meu sincero aplauso.

quinta-feira, junho 17

Open de Linhares é uma certeza. Será?!

Com este título recebi um email de António Aguiar acerca do "Open de Parapente" de Linhares da Beira. Um tema que muito me interessa não porque seja praticante mas porque á sua organização estive ligado 7 anos através do INATEL. Aqui, fica na íntegra, o texto de António Aguiar com um link para o jornal regional "O Interior".

Vejam aqui a notícia de "O Interior" de 9 de Junho

"Ao contrário do que diz a notícia, os instrutores e os directores de prova não foram contactados. Pelo contrário, estão a tratar de outros eventos noutro lado da Serra. Será que são os próprios autarcas que vão organizar o Open? Algum piloto foi convidado para dirigir a prova?

E a fpvl já se demarcou da afirmação "perante outras estruturas que neste momento estão a aparecer Linhares oferece as melhores condições porque a Escola de Parapente continua a assumir-se como a melhor do país que oferece óptimas condições de segurança"?

Ou o Autarca já fala em nome da FPVL? A fpvl que eu conheço nunca faria tal afirmação, mesmo que, noutro tempo, pudesse ser verdade. Agora,sem instrutores, onde está a escola? Já se pode dizer tudo, que os jornalistas publicam e... não investigam. A não ser que a autarquia esteja a pensar em cursos de parapente por correspondência...

Quero agradecer a todos os que, das mais variadas formas (protestando junto das autarquias e do Inatel, escrevendo para os jornais), se têm assumido na luta por Linhares. Mas ainda não chega.

Lembrem-se dos gloriosos voos realizados em Linhares, lembrem-se da Estrela vista acima dos 3000m e não parem de manifestar-se contra este abandono. Não vão em conversas de que "Linhares já é uma certeza".

Saibam conquistar os vossos
BONS VOOS!

Antº Aguiar"


O mentiroso insiste

Afinal parece que os estrategos de Bush ainda estão convencidos de que a repetição de uma mentira a torna verdade. Tentando desmentir o relatório da comissão independente aos atentados do 11 de Setembro Bush volta ao ataque. Quer fazer passar a ideia de que existência de "contactos" são, afinal, "ligações" ou "acordos". No fundo, quer fazer passar a mensagem de que havia uma conspiração contra os EUA com a participação empenhada de Saddam em aliança político/militar com a Al-Qaeda..

Ainda me lembro da disputa entre o chefe da missão de inspectores da ONU, que investigaram a questão da existência de armas de destruição maciça no Iraque, e a administração Bush. A guerra continua e não apareceram as armas.

Mas agora, que se saiba, os EUA têm Saddam preso. Se são democratas podem julgá-lo com todas as garantias próprias dos regimes democráticos e condená-lo se forem provados os seus crimes. Entre eles aqueles que a comissão de inquérito nega terem existido.

Não há paciência para aturar mentirosos ainda por cima burros… Desculpem lá a irritação... Isto passa...

"Bush insiste na existência de ligações entre Saddam e a Al-Qaeda

O Presidente norte-americano, George W. Bush, insistiu hoje na existência de ligações entre o regime iraquiano de Saddam Hussein e a rede Al-Qaeda, negadas ontem por um relatório preliminar da comissão independente que investiga os atentados do 11 de Setembro."

Uma mentira letal

Esta é uma conversa batida. Está aparentemente fora da actualidade actual. Todos já entendemos que os argumentos dos EUA para justificar a "guerra preventiva" no Iraque foram forjados. O assunto tornou-se vulgar.

Os estrategos da propaganda sabem que repetir muitas vezes uma mentira pode gerar uma verdade. A administração BUSH mentiu. Os seus aliados mentiram. Neste caso os estrategos da repetição da mentira perderam. A verdade sobreviveu nas opiniões públicas nacionais e mundial.

A própria lógica do sistema democrático se encarregou de restaurar a verdade. É uma grande vantagem do sistema democrático no cotejo com as tiranias. Agora falta que os mentirosos sejam removidos democraticamente do poder.

"11 de Setembro: "The New York Times" exige pedido de desculpas de Bush

O diário norte-americano "The New York Times" defende hoje, em editorial, que o Presidente George W. Bush deveria "pedir desculpas" por ter justificado a guerra contra o Iraque com base na alegada ligação entre o regime de Saddam Hussein e a rede terrorista Al-Qaeda - desmentida ontem pela comissão independente que investiga os atentados de 11 de Setembro."



Aristides de Sousa Mendes

Aristides de Sousa Mendes. Hoje é um dia de celebração da memória de Aristides Sousa Mendes. Um herói português.

O diplomata, cônsul português em Bordéus, no período da Segunda Guerra Mundial, emitiu "vistos" que salvaram a vida a milhares de refugiados, na sua maioria, judeus. Não era, no entanto, judeu.

A sua acção resultou de um imperativo de consciência. A 17 de Junho de 1940 tomou essa decisão. Foi perseguido e castigado por Salazar tendo falecido, desonrado e na miséria, em 1954.

INTERESSANTE!

"PSD e CDS-PP recusam audição do director da PJ sobre demissões no Porto

A maioria PSD/CDS-PP rejeitou hoje requerimentos da oposição a solicitar explicações do director nacional da Polícia Judiciária, Adelino Salvado, sobre os motivos das demissões de responsáveis daquela polícia no Porto envolvidos na operação "Apito Dourado"."

VEJAM A NOTÍCIA NA INTEGRA AQUI




Teus olhos entristecem

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa

quarta-feira, junho 16

Euro - 2004 (Continuação)

O jogo acabou. Parece que o Scolari, finalmente, perdeu os complexos a respeito das "vacas sagradas" da selacção. Fez muitas mudanças. Ganhamos à Rússia. Aqui ao lado as buzinas assinalam a vitória.

Sobrevivemos até domingo. Mas para continuar no torneio vai ser necessário, certamente, ganhar à Espanha.

A Rússia estava enfraquecida mas a Espanha é muito forte. A tarefa da selecção de Portugal vai ser muito difícil. Mas como não sou abstencionista do futebol vou sofrer. Neste jogo tudo é possível. Daí o seu encanto.

Euro - 2004

Tenho alguns amigos que não sabem nada de futebol nem lhes interessa saber. No princípio achava esse desinteresse estranho. Via-os como uma espécie de abstencionistas numa matéria que pensava ser de interesse universal.

No caso das mulheres era o contrário. O interesse delas era uma raridade num mundo masculino. Esta minha visão foi-se modificando ao longo do tempo. Descobri uma filha de uma amiga minha que era (é ?) praticante de futebol.

As mulheres amantes do futebol deixaram de ser uma raridade. Mas os abstencionistas do futebol têm uma vantagem: não correm o risco de se desiludir com a derrota do seu clube ou da selecção nacional. Hoje é um dia grande para eles.

Deus queira que seja também um dia grande para mim. Basta que Portugal ganhe à Rússia. Nem que seja por meio a zero como disse Scolari

terça-feira, junho 15

Habilidades retóricas

Os resultados das eleições europeias, em Portugal, tiveram dois vencedores indiscutíveis: o PS e Ferro Rodrigues. Toda a gente compreende esta realidade pois ela entra pelos olhos dentro. Nestas eleições os derrotados foram o PSD e Durão Barroso. Esta já é uma realidade um pouco mais difícil de compreender por toda a gente.

A coligação "Força Portugal" levava a bordo o PP de Paulo Portas o que a tornou, paradoaxalmente, mais fraca, no plano eleitoral, do que o PSD sózinho. Mas vejam o discurso político, pós-eleitoral, do PSD, através de Santana Lopes:

"Santana Lopes rejeita que união com CDS-PP tenha prejudicado PSD
Pedro Santana Lopes garante que o PSD e o primeiro-ministro vão saber interpretar a mensagem dos resultados das eleições europeias. Na comissão política do partido, o vice-presidente dos sociais-democratas garantiu que a coligação é intocável e rejeitou a relação entre a derrota eleitoral e a união com o CDS-PP." SIC on line


Ora o PSD passou a sua representação no Parlamento Europeu de 9 para 7 deputados. O PP manteve os dois de que dispunha. Se isto não é um prejuízo para o PSD!.... Pacheco Pereira, cabeça de lista do PSD nas eleições europeias de 1999, insuspeito de simpatias com o PS, explica tudo no abrupto.

Vistas de Rua (5)

Rua Prof. João Barreira

Uma rua do plano de urbanização original de Telheiras. Concebida e construída com uma visão moderna de cidade. Uma rua de vistas largas e escala humana. Uma rua concebida para viver e conviver.

De um lado prédios de habitação com diversos tipos de acessos aos apartamentos. Do outro lado vivendas com comércio nos baixos. Tudo em tons rosa. Os passeios têm espaços generosos e verde quanto baste. As vivendas dispõem de uma falsa frente pois a verdadeira dá para um jardim nas traseiras.

Ao longo da rua a área comercial é um centro de convívio luminoso e arejado. Nele têm lugar pequenas esplanadas com "snacks", cafés, florista, galeria de arte, bancos, loja de jornais, tudo o que se possa imaginar.

A circulação automóvel corre mas torna-se quase indiferente ao bem-estar do circunstante. Não utilizo esta palavra por acaso. Circunstante é um "participante ou espectador de algo."

Uma rua moderna que respira e que viu crescer, desde o primeiro dia, o meu filho.

segunda-feira, junho 14

Fragmentos de Leituras

O "dandy"

O uso desenfreado do paradoxo corre o risco de implicar (ou, simplesmente, implica) uma posição individualista e, se é que se pode dizer, uma espécie de "dandysmo". No entanto o "dandy", embora solitário, não está só: S., que é estudante, diz-lhe - com pena - que os estudantes são individualistas; numa situação histórica dada - de pessimismo e rejeição - toda a classe intelectual é virtualmente "dandy", se não for militante. (É "dandy" aquele cuja única filosofia é viageira: o tempo é o tempo da minha vida.)

"Roland Barthes por Roland Barthes" -17
(Fragmento 1 de 4, pag. 9)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Eleições europeias - notas

Ainda antes de saber os resultados definitivos das eleições europeias, ainda em fase final de apuramento, é certa a vitória do Partido Socialista. Nada que não fosse razoável esperar.

A abstenção andará em torno dos 61% - próxima dos níveis das eleições europeias de 1999 e inferior à que ocorreu, nas mesmas eleições, em 1994. O PSD e o PP coligados obterão um resultado de 33,2 - muito inferior ao somatório dos resultados dos dois partidos nas eleições de 1999.

O PS deverá atingir os 44,5%, o seu melhor resultado de sempre. A esquerda, no conjunto, vence folgadamente obtendo cerca de 58,6% dos votos expressos.

O que estes resultados provam e as suas consequências imediatas:

1) os portugueses estão muito descontentes com o governo;

2) as alternativas credíveis carecem de candidatos credíveis (caso de Sousa Franco);

3) o governo vai ser remodelado muito em breve, ou, menos provável, cairá por erosão dos fundamentos do acordo de coligação que o suporta;

4) o PS é a única alternativa credível de governo alternativo;

5) o regime democrático carece de um PS com capacidade para forjar, com autonomia, uma alternativa de governo realista e credível;

6) Ferro Rodrigues é candidato declarado à liderança do PS no próximo congresso do PS;

7) Ferro Rodrigues será, salvo qualquer acontecimento imprevisível, líder do PS para as próximas batalhas eleitorais: regionais, autárquicas, legislativas e presidenciais;

8) o PCP "aguenta" o seu eleitorado e o Bloco de Esquerda tende a crescer;

9) o que determina o sucesso das alternativas políticas não é o efeito de malabarismos de ocasião mas a persistência dos líderes na apresentação de projectos assentes em ideias claras e convicções fortes.


A partir do discurso de vitória desta noite é isso que a esquerda exige a Ferro Rodrigues: ideias claras e convicções fortes. O voto "de castigo" no governo é, ao mesmo tempo, um endosso de responsabilidades ao PS para forjar um projecto de governo alternativo capaz de assumir o poder, o mais tardar, em 2006.

Também publicado em abébia vadia

domingo, junho 13

A PALAVRA IMPOSSÍVEL

Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.

Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor de uma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim
A única palavra sem disfarce -
A palavra que nunca se profere.

Adolfo Casais Monteiro
(1908/1972)

In "Rosa do Mundo" - 2001 Poemas para o futuro
Assírio & Alvim

Eugénio de Andrade

Ouvi dizer, e é público, que estás muito doente. Não serve de nada glosar as doenças nem chorar a morte dos poetas. Eles quando são verdadeiros ficam sempre vivos. Quando são grandes tornam-se imortais.

Não sei se Portugal segue esta regra universal. Aqui somos mais dados à inveja e ao esquecimento. Quanto mais obra, e mais aprimorada, sem vénias, nem costas curvadas, pior para o artista.

Não são palavras amargas, suficientemente amargas, as que digo. São o menos que se pode dizer de um país que inverte em tudo a hierarquia da importância dos homens. Por isso não te admires se fores votado ao esquecimento. A tua glória já dura há muito tempo. És, graças a Deus, admirado em vida. Admirado por aqueles que merecem admirar-te. Vais agora ser publicado na China.

Tenho aqui na minha frente uns quantos poemas teus dedicados a heróis e amigos mortos: Guillaume Apollinaire, Augusto Gomes, Vicente Aleixandre, Kavafis, Che Guevara, José Dias Coelho, Casais Monteiro, Pier Paolo Pasolini, Jorge de Sena, Ruy Belo, Carlos Oliveira, Vitorino Nemésio e tantos mais. Teus heróis e amigos.

Um poema destes vale mais que todas as homenagens da praxe com regresso garantido ao baú das memórias. Ainda para mais quando sabemos que estão na fila de espera um ror de poetas vivos, e de saúde, para ser consagrados e, quiçá, condecorados.

E porque ao ler este poema me lembraste tantas coisas, porque é dia de Santo António, porque vamos a votos, porque "é a pátria que nos divide e mata/ antes de se morrer.", aqui te deixo a minha homenagem.

A CASAIS MONTEIRO,
PODENDO SERVIR DE EPITÁFIO

O que dói não é um álamo.
Não é a neve nem a raiz
da alegria apodrecendo nas colinas.
O que dói

não é sequer o brilho de um pulso
ter cessado,
e a música, que trazia
às vezes um suspiro, outras um barco.

O que dói é saber.
O que dói
é a pátria, que nos divide e mata
antes de se morrer.

Setembro, 72

sábado, junho 12

EURO-2004

"Dez estádios novinhos em folha ou quase, nove cidades-sede e muitas anfitriãs das equipas, 16 selecções, 1,2 milhões de lugares disponíveis para os espectadores nos 31 jogos, a maior operação de sempre em termos de segurança em Portugal..." Público

Começa hoje, em Portugal, o Campeonato da Europa de Futebol. A notícia completa é composta pelos múltiplos números e detalhes de um grande investimento. Sou um amante do futebol. Por isso considero positivo para Portugal a realização do EURO-2004.

Este projecto, paradoxalmente, foi obra do governo anterior. Choveram as críticas dos seus actuais propagandistas. É bom não esquecer que para um pequeno país europeu, com 10 milhões de habitantes, situado na ponta mais ocidental de uma Europa que, agora com 25 países, encontra o seu centro de gravidade cada vez mais a leste, conquistar a organização de um grande evento, como o EURO-2004, é um feito extraordinário.

Foi o governo anterior que assumiu os riscos. Esse governo ao qual se têm assacado as maiores desgraças e que tem sido apelidado, sem parança, pelo actual, de ter deixado "uma pesada herança". Estas palavras parecem banais. Mas não são. É que este é o único grande projecto português, com projecção internacional, que se vislumbra no horizonte.

Não é preciso Portugal ser campeão europeu para que o EURO-2004 seja um sucesso. O facto de ter sido possível conquistá-lo para Portugal, organizar os empreendimentos previstos: obras físicas e promoção de Portugal no Mundo, é uma vitória de Portugal que coloca problemas mas deixa, no essencial, marcas positivas para o futuro.

E, já agora, vamos fazer força para que Portugal seja campeão.

sexta-feira, junho 11

CV-15

SANATÓRIO GERAL

Um blog do Brasil. Bom gosto. Escrita perfeita. Um prazer de leitura. Como todos os outros que tenho dado a conhecer, neste série, são de autores que não conheço pessoalmente. Mas a sua qualidade não engana a sensibilidade. São trocas de emoções e reconhecimento de interesses comuns ou complementares.

Aqui está a breve biografia da autora: "Pessoa: jovem dama em terras maurícias, tem um bonito nome e cara de biscoito Maria"

O programa sintético do Blog: diarices, pensamentos e historinhas




Um funeral diferente para um homem diferente

Acabei de participar no funeral de um distinto homem público: Sousa Franco. Em Portugal, por muito mal que se fale da política, temos um escol de políticos sérios, competentes e dedicados à causa pública. Não vou enumerar nomes de políticos contemporâneos nem daqueles que no passado honraram com a sua acção o serviço público. Mas são muitos.

A caminhada foi, a pé, da Basílica da Estrela ao Cemitério dos Prazeres. Conheço aquele caminho. Não porque participe em muitos funerais. Só vou quando me obriga um profundo sentimento de amizade ou de gratidão.

Conheço o espaço público destes actos porque neles vivi boa parte da minha juventude. Morei na parte alta da Calçada da Estrela, ali ao lado da Basílica, e frequentei o majestoso jardim e a sua esplanada. A mesma que Sousa Franco tanto apreciava. Nela namorei, estudei, conspirei, desesperei, me despedi e reencontrei. É um lugar de referência na minha vida. Fui hoje visitá-la e estava quase tudo na mesma. Compreendo como poucos a razão do gosto de Sousa Franco por aquele lugar.

Depois sobe-se na direcção de Campo de Ourique. Um desfile de memórias. O Cinema Paris em ruínas. Nele vi os primeiros filmes da minha estadia, que nunca mais acabou, em Lisboa. Ao cimo da subida, a Tentadora, o "Correio", o "Canas". Frequentei esses lugares vezes sem conta. Ainda hoje ao sentar-me na esplanada da Tentadora, depois da última penosa caminhada de solidariedade com Sousa Franco, o empregado me dirigiu a palavra: "então há quanto tempo..."

Aqueles lugares são uma parte do meu percurso de vida. Têm o encanto dos caminhos que fiz, vezes sem conta, para casa do Xico Chaves (agora no Brasil, ói, como vais?) ou para a casa em que vivi na Rua Sampaio Bruno.

O Bairro de Campo de Ourique é uma preciosidade da cidade de Lisboa. Nele respira-se a luz mais brilhante, a urbanidade mais civilizada, o vozear mais cativante e os cheiros mais atraentes. A autêntica "Cidade Branca" de Tanner. Campo de Ourique faz-nos acreditar que vale a pena viver em comum. Que é possível a uma cidade manter a escala humana.

Paradoxalmente o acto de acompanhar Sousa Franco à "última morada" faz-nos acreditar na vida e no futuro. Sei que era isso que ele gostaria de ouvir. E toda a população que quis ver passar o cortejo fúnebre, no seu silêncio respeitoso, nas suas faces hirtas de comoção, nos seus olhos embaciados, mostrava como a política reassume a sua grandeza quando os protagonistas merecem o respeito e a confiança do povo.

Perdeu-se uma vida mas ficou uma lição de liberdade, cidadania e humanismo.

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (3)

Deixando de parte a discussão acerca da viabilidade e eficácia do ensino tecnológico, e das medidas que têm sido anunciadas, a sociedade portuguesa vive na expectativa de acolher jovens quadros técnicos formados nas diversas vias disponíveis da "educação profissional".

Nestas vias os jovens completam o ensino secundário, ou seja, o 12º ano e adquirem uma qualificação profissional de nível 3. Conheço essa realidade. A via da "educação profissional" não é uma alternativa menor. É uma alternativa maior. Este caminho já está descoberto e no terreno há muitos anos.

Para além de todas as alternativas que se queiram, legitimamente, implementar é preciso não perder de vista as realidades preexistentes da "educação profissional" e o apoio ao seu crescimento sustentado conjugando experiências, sinergias, recursos e inovação, desde os departamentos do estado, tantas vezes de costas voltadas, até à comunidade educativa, ao "mundo empresarial" e, em geral, à sociedade civil.

(Última parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)



Eleições Europeias mais importantes que nunca

Estas eleições são muito mais importantes do que muitos portugueses pensam. Manuel Villaverde Cabral diz tudo aquilo que me apetecia dizer.

Vejam a sua crónica no DN de hoje.


Ray Charles

Ray Charles, o músico norte-americano apelidado de "génio da soul", morreu hoje, aos 73 anos de idade.

Sempre me fascinou. Lembro-me de o ouvir nas "caixas de discos" e nas "audições clandestinas" que em grupo fazíamos dos cantores proibidos pela ditadura, em particular, José Afonso.

Ao longo do tempo, quando o ouvia, sempre me perguntava a mim próprio porque razão me parecia sempre melhor e exercia o mesmo fascínio das primeiras vezes.


quinta-feira, junho 10

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (2)

É necessário sublinhar que existe em Portugal, desde 1989, ensino tecnológico e profissional, criado no âmbito do Ministério da Educação, antecedido pela experiência pedagógica do técnico profissional, em 1983, cuja avaliação foi muito importante para o lançamento das escolas profissionais. Preferia chamar-lhe "educação profissional" mas isso é outra discussão. No entanto, para quem lê alguma comunicação social, parece que "agora" se está a inventar o já inventado.

De facto, em Portugal (Continente), 30% dos alunos do Ensino Secundário já frequentam cursos de ensino tecnológico e profissional. No ano lectivo de 2003/2004 frequentam o Ensino Secundário Regular 277.883 alunos; destes, 83.469 frequentam o ensino tecnológico e profissional, sendo que, deste universo, 31.702 frequentam as Escolas Profissionais.

O número de alunos, que frequentavam o ensino tecnológico e profissional, em 1989, era quase zero. A meta para 2010 é de 50%. Mas atingir os 30%, em 14 anos, é obra. Não sejamos masoquistas nem cedamos à tentação do "antes de nós o dilúvio".

O abandono escolar é outro assunto. Nos diversos percursos disponíveis no nosso sistema é curioso verificar que a taxa de abandono é superior no ensino tecnológico, face ao ensino regular. O mesmo não acontece nas escolas profissionais. Estas têm mostrado mais capacidade para gerar dinâmicas de empregabilidade e de sucesso na resposta aos desafios do combate ao abandono escolar.

(2ª parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)

Luís de Camões no Dia de Portugal

Duas Redondilhas (muito conhecidas)

I

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso passo tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.


II

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escalarta,
Sainho de chamalote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa, e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado,
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura


quarta-feira, junho 9

Sousa Franco - honra à sua memória


Quarta-feira 9 de Junho de 2004. Sousa Franco faleceu. Em campanha. Fui, desde a primeira hora, um entusiasta da sua candidatura.


Era um extraordinário candidato do PS na disputa das eleições europeias. Franco de nome como o meu pai. Franco de convicções como poucos. Um político de parte inteira. Podia não parecer eficaz pela sua imagem austera. Mas era um político fino. Lúcido e forte nas suas convicções, claro nas suas mensagens.


Era demasiado sério para a política portuguesa. Demasiado exigente para o nosso proverbial desleixo. Os adversários temiam o seu desabrimento. Quiseram pô-lo a falar mal do secretário-geral do PS mas ele saiu, com elevação, em sua defesa.


Quiseram pô-lo a falar mal de si próprio quando, no passado, exerceu as funções de Ministro das Finanças, mas ele defendeu a sua acção atacando, frontalmente, a hipocrisia dos seus adversários.


Sousa Franco disse, nesta campanha eleitoral, aquilo que os portugueses precisavam de ouvir: a actual maioria de governo defende os interesses dos poderosos, contra os interesses da maioria do povo. A actual maioria, afirmou, com uma ponta de ironia, faz o país andar para trás, a caminho do "Estado Novo".


Fizeram-lhe ataques miseráveis aos quais respondeu com firmeza. Combateu no terrreno político quando o quiseram arrastar para a lama do insulto pessoal.


Os portugueses não vão esquecer Sousa Franco. Espero que os seus adversários tenham uma iluminação de decência e não venham dizer que perderam as eleições porque Sousa Franco morreu.


Mal sabia eu que hoje diria de Sousa Franco o que ontem disse de Humberto Delgado: honra à sua memória.

(Também publicado no abébia vadia)

A palavra aos leitores

Recebi de E.B. este interessante comentário ao meu artigo hoje publicado no "Semanário Económico" e cuja primeira parte consta do post anterior.

"Realmente não sabia o que se passava neste domínio. É um artigo de grande utilidade informativa.

A título de piada acrescento que o ensino técnico, entre outras situações, foi grandemente responsável pelos complexos adquiridos pelo nosso ex-primeiro ministro e saudoso professor Doutor Cavaco Silva. Imagino que, ele, terá prometido a si próprio, com a cabeça enfiada nas grades da Escola Industrial e Comercial de Faro, do lado de dentro e vendo passar os “meninos” para o liceu, que um dia esses meninos iriam pagar caro a humilhação que lhe infligiam. Ajoelhar-se-iam a seus pés, implorando-lhe clemência, reclamando não ter culpa alguma do que acontecera. A isso ele responderia: mas assistiram a tudo, por isso têm que sofrer e reparar. É que embora como meros figurantes, constituíram todo o cenário da sua humilhação. Sendo agora humilhados, em parte contribuíam para que se fizesse justiça.

Na cadeira de Finanças 1, no ISCEF, já de certo modo cumpriu a sua “promessa”. Sentado, como 2º assistente, num pedestal, examinou os “meninos” que o humilharam. Eles entravam pela porta baixa, tolhidos pelo medo e sentavam-se no nível zero da sala, como que num banco de réus. Dava-lhes numa mesa um exemplar do Orçamento Geral do Estado. Três níveis acima, sobre o estrado, estava o antigo moço da Escola, agora recuperado na sua dignidade, desta vez como julgador. Dominando todos, quer examinandos, quer os assistentes seus ajudantes, quer o próprio catedrático, dirigia nervosas e curtas perguntas ao supostamente “menino” do Liceu, com solenidade e crispação. Sem paciência para esperar pelas respostas, conta-se que terá, uma vez, acabado o exame nos primeiros minutos, inferindo ignorância inultrapassável ao examinando por este ter aberto o gordo livro nas primeiras páginas. Realmente a Cordoaria como serviço autónomo estava nas últimas páginas do OGE.

Mas era generoso por vezes. Permitiu, por exemplo, ao professor titular da cadeira, dar 2 aulas por ano ( a primeira e a última), depois deste concordar que as matérias dessas 2 aulas não vinham para exame."



EDUCAÇÃO PROFISSIONAL - CAMINHO DO FUTURO (1)

O Presidente da República, na recente Presidência Aberta, disse aquilo que tem de ser dito acerca do abandono escolar: a dimensão do abandono escolar é uma tragédia nacional. O governo anunciou medidas, ainda bem.

Divulguei no Semanário Económico, tempos atrás, os dados desta tragédia. Dando um forte sinal público da gravidade da situação o Presidente da República cumpriu a preceito a sua função.

A mim, em particular, muito me apraz que o tenha feito numa escola profissional pois fui, de 1989 a 1993, coordenador da equipa de projecto que, no Ministério da Educação, dinamizou a criação do ensino profissional e das escolas profissionais.

As notícias da presidência aberta acerca do "estado da educação" foram pontuadas, aqui e ali, por manifestações de ignorância profunda, sugerindo que o ensino tecnológico e profissional está em fase de lançamento. A realidade resiste a ser descoberta desde que não esteja no terreno do interdito, ou seja, do socialmente escandaloso.

O estereotipo das antigas escolas técnicas substitui, no imaginário colectivo, a realidade do presente ensino tecnológico e profissional. Mas, de facto, o antigo "ensino técnico" já não existe em lado nenhum. Deixou marcas mas morreu. Não se recomenda. Era fruto de uma cultura elitista.

(1ª parte do artigo publicado no "Semanário Económico" em 9/6/2004)

terça-feira, junho 8

General Humberto Delgado

A 8 de Junho de 1958 tiveram lugar, em Portugal, as eleições presidenciais mais importantes dos 48 anos do Estado Novo.

O General Humberto Delgado atreveu-se a desafiar a ditadura.

A campanha eleitoral foi um momento de grande mobilização popular. O candidato do regime, Almirante Américo Tomáz, ganhou as eleições, como seria de esperar, mas o resultado nunca foi aceite pela oposição democrática.

Uma efeméride de que poucos se lembram. É pena. O General Humberto Delgado pagou caro a sua ousadia: foi assassinado pela polícia política da ditadura.

Honra à sua memória.

(Em simultâneo no absorto e na abébia vadia)

segunda-feira, junho 7

Uma política de poupança ao contrário.

"Aumento das Despesas com Medicamentos Pode Bater Record dos Últimos Seis Anos"- Público

A notícia parece bem fundamentada. E reacção do Ministro da Saúde assumiu um tom de vencido. Confirmou que a factura com medicamentos aumentou. Justificou com os "meses maus" do início do ano.

Afinal as poupanças previstas com a política dos genéricos já foram absorvidas por novos medicamentos, de marca, colocados no mercado. A indústria farmacêutica não deixa os seus créditos (lucros) por mãos alheias. O seu silêncio público quer dizer que os negócios estão a correr bem.

O Dr. Cordeiro, o boticário-mor do reino, também guarda prudente silêncio. O negócio da farmácias deve estar a correr bem. Então para quem é que corre mal? Aguardam-se esclarecimentos fundamentados e mais convincentes.

Para já estamos confrontados com uma política de poupança da despesa pública ao contrário. Interessante !