segunda-feira, maio 24

Fragmentos de Leituras

"Eros e o teatro

A função erótica do teatro não é acessória porque entre todas as artes figurativas (cinema, pintura) só ele oferece os corpos e não a sua representação. O corpo de teatro é ao mesmo tempo contingente e essencial: essencial, não podemos possuí-lo (é magnificado pelo prestígio do desejo nostálgico); contingente, seria possível, pois bastaria sermos loucos por um instante (o que está ao nosso alcance) para saltarmos para o palco e tocarmos o que quiséssemos. O cinema, pelo contrário, exclui, por uma fatalidade da natureza, toda e qualquer passagem ao acto; aqui a imagem é a ausência irremediável do corpo representado.
(O cinema seria semelhante a esses corpos que andam, no Verão, com a camisa amplamente aberta: vejam mas não toquem, dizem esses corpos e o cinema, ambos, literalmente, fictícios.)"


"Roland Barthes por Roland Barthes" - 12
(Fragmento 1 de 3, pag. 7)

Edição portuguesa: "Edições 70"

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