domingo, março 12

GOVERNO - UM ANO (III)

Posted by Picasa Scarlett Johansson

Um ano de governo socialista não me faz esquecer os três anos que o antecederam. Desde as eleições legislativas de Março de 2002 até Março de 2005, data da entrada em funções do governo socialista, ocorreram um conjunto de acontecimentos que, ao menos politicamente, deveriam ser muito bem explicados.

Como foi possível Santana Lopes ter sido primeiro-ministro de Portugal? Como foi possível ter deixado o governo cair nas mãos de um grupo de gente – para ser elegante – sem escrúpulos nem sentido de estado.

Como foi possível permitir que o PP tenha ocupado, nas coligações dos governos de direita, as pastas ministeriais da Defesa, da Justiça e das Finanças! Para não falar da Segurança Social! Paulo Portas, Celeste Cardona e Bagão Félix. O que aconteceu, de verdade, na gestão dessas pastas durante aqueles três anos? Qual o balanço? Quem o fez? Quem o fará? Ninguém!

Muitos de nós sabemos, por experiência própria, a tragédia da governação de direita. Sabemos dos desmandos praticados, a todos os níveis da administração, que ainda hoje estão por reparar sendo que muitos são irreparáveis.

Celebrando um ano de governo o primeiro-ministro Sócrates afirmou não querer jogar o jogo do discurso da “pesada herança”. Faz bem. Mas não adianta empurrar para debaixo do tapete as sequelas dos três anos de governação de direita pois elas são bem evidentes como, por exemplo, no chamado caso do “envelope 9”.

Um dia destes, mais breve do que muitos possam pensar, os mesmos que agora são poupados não pouparão aqueles que os protegem pelo silêncio e inacção. As políticas injustas, as acções persecutórias, as vinganças pessoais, venham de onde vierem não podem ficar impunes.

Trata-se de uma questão de justiça e, antes de mais, de salvaguarda da liberdade. Pela minha parte continuo, tranquilamente, à espera.

(A imagem, aparentemente, nada tem a ver com o texto mas é para ser assim mesmo. É preciso manter a aspiração à sedução e à beleza para manter a esperança de entender mesmo os acontecimentos, à primeira vista, mais intrigantes e absurdos e, dessa forma, a nossa própria capacidade de ser cidadãos de parte inteira.)

4 comentários:

Anónimo disse...

Como o compreendo... Mas a minha maior perplexidade reside
no longo arrastar da imunidade de certas pesonagens do que propriamente a ausência da impunidade pelos actos praticados e, pelos vistos,permanecem deslumbrados com o poder nos mesmos lugares que o anterior governo lhes fez o favor de os nomear!
RB

hfm disse...

Como foi possível? diz bem. Talvez pela nossa falta de empenhamento e acima de tudo da formação de uma verdadeira opinião pública.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Ao mesmo tempo que o governo do engº Sócrates reafirma repetidas vezes a necessiddae de modernização do país, de valorização do mérito e da competência (profissional, mas também moral, acrescento eu)as hordas de "cascas grossas", convencidos a cada hora de estarem a inventar a "pólvora" já inventada antes de nascerem,multiplicam-se por tudo o que é lugar de poderes intermédios como uma praga de cucarachas, sedentos de ódio contra o que é "diferente" , corajoso e culturalmente bem formado.A imunidade e impunidade de que gozam, cumplicemente, dá-lhes a ilusão embriagada de que podem sempre ir mais além nos abusos porque se sentem detentores de uma protecção desmesurada que lhes apara todo o tipo de "golpes" e "expedientes" para atingir os fins.Até um dia... .
Dir-se-á que vivemos tempos dificeis, que a crise só agora vai verdadeiramente ter inicio e será brutal. Dir-se-á que o momento que se vive é do tipo sauve qui peut la vie, que enquanto uns tratam de tratar das suas vidinhas (como diria o O'Neil)outros,os mais capazes e impolutos devem deixar-se conduzir -de preferência sem resistência-para o "martírio" da exclusão e limitarem-se a habitar a margem, o limbo. Dir-se-á porventura que não vale a pena ir contra o sistema, que blá,blá,blá, as coisas sempre assim foram e continuarão a ser. Se eu aceitasse essa "velha nova" verdade suprema estava a condenar-me à resignação e a sucumbir ao irracionalismo em voga (para isso já basta o cromo do Bush); estaria também a condenar aqueles que sempre se ergueram contra o nepotismo e se entregaram aos combates diários pela liberdade e o progresso da Humanidade.Evidentemente, não lhes dou esse prazer!Tenham paciência, vão bater a outra porta.
O simbolismo da imagem de Scarlett Johansson vejo-o como prova de força contra as adversidades: só o belo nos amacia o olhar e fortalece a mente. E dá alento para as lutas que se avizinham.
É por isso também que não me tenho cansado de (re)ver Tarkovsky, Truffaut ou as sagas sociais fordianas, ou (re)ler Ramos Rosa,Carlos de Oliveira, O'Neil,nem Duras,Camus ou Musil -um grupo de companheiros que também muito prezo e não me têm "faltado" à chamada por estes dias.