sábado, junho 16

CAMUS/CHAR - CORRESPONDÊNCIA

Posted by PicasaA Peste

Avanço na leitura da correspondência entre Camus e Char na qual avultam as referências a encontros, desencontros, viagens, amigos, obras próprias e alheias, manuscritos, dedicatórias, referências a lugares, pedidos de ajuda e, nesta primeira parte, as manifestações de uma amizade absolutamente apaixonada entre dois homens declaradamente heterossexuais.

No livro assume particular relevo as notas cheias de referências a pessoas e acontecimentos que se ligam entre si e me conduzem a anteriores leituras dando coerência aos acontecimentos e ao papel dos dois homens no seu tempo.

Duas referências interessantes:

Na carta de Char para Camus, em 22 de Junho de 1947, Char dá conta da sua primeira impressão da leitura da “A Peste” somente 12 dias após a sua publicação: “Vous avez écrit un très grand livre. Les enfants vont pouvoir à nouveau grandir, les chimère respirer.” Uma nota de rodapé chama-me a atenção para o facto de “A Peste” ter sido publicada, nas “Edições Gallimard” em 10 de Junho de 1947 (passaram 60 anos). O próprio Camus foi surpreendido pelo sucesso do livro que achou desconcertante. Em três meses “A Peste” vendeu 96 000 exemplares.

Na carta de Camus a Char, de 8 de Agosto de 1948, enviada de S. Paulo, Camus informa Char que tem feito a promoção da sua obra no Brasil: “Je pense à vous ici et parle de vous”. Numa nota de rodapé o excerto de uma noticia do “Diário de S.
Paulo”, de 6 de Agosto, com o título seguinte: “Afirma Albert Camus: É a liberdade o problema mais grave do mundo contemporâneo. René Char o acontecimento da nova poesia francesa”.

Nessa mesma carta Camus envia a Char o endereço de dois escritores brasileiros que conheceu e se manifestaram conhecedores e admiradores da obra de Char. São eles: Murilo Mendes e Oswald de Andrade.
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2 comentários:

P disse...

Excelente leitura 'La Peste'! Reli há uns meses, por acaso.
Blog muito interessante.
Cumprimentos

Anónimo disse...

Muito interessante! Ainda fico nessa de querer retornar a Camus.

Interessante o fato de Foucault chamar Camus de um "humanista frouxo", enquanto admira profundamente a poesia de Char. Mas muito curioso o que pode saltar de elementos das obras de Camus e Char, dada essa amizade e admiração mútua.

Quanto a Camus no Brasil, uma das traduções de A Peste foi feita por Graciliano Ramos. A mesma cidade em que Graciliano foi prefeito é uma das que hoje se investigam irregularidades relativas ao presidente do senado atual, Renan Calheiros.

Não sei, mas ainda espero crer que no Brasil o poder político da literatura não está separado de possibilidades emancipadoras concretas...